Nacional

Caravana da Cidadania: traçar diagnóstico de cada região e conhecer as razões da pobreza que atinge milhões de brasileiros

Na cidade de Brasiléia, conhecemos o projeto de colonização daquela área e participamos de discussões sobre a proposta de se transformar ou não a cidade em zona franca. Em Xapuri, na reserva extrativista Chico Mendes, tivemos um exemplo de como os trabalhadores conseguiram se organizar em cooperativas para serem auto-sustentáveis mediante um tipo de procedimento que leva em conta as lições de Chico Mendes, sua preocupação de preservar as reservas extrativistas, e, ao mesmo tempo, permite a sobrevivência dos que lidam com as castanhas por meio da renovação racional das matas.

A caravana nos levou também a Senador Guiomard, onde visitamos o projeto Alcobrás, um exemplo negativo de aplicação de recursos públicos aprovados pelo Banco do Brasil e pela Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), que muito nos impressionou. Conhecemos de perto a história de um projeto inaugurado em 1989, com festa que incluiu churrasco para 5 mil pessoas de Rio Branco, distante 26 quilômetros da destilaria. Apresentado como a redenção do Acre, o empreendimento foi abandonado dois meses após a inauguração e até hoje encontram-se em desuso equipamentos comparáveis aos das destilarias das regiões de Sertãozinho e Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

Por intermédio do fiel depositário e responsável pelos equipamentos, Jorge Moura, fomos informados que o Banco do Brasil destinou de US$ 25 a 35 milhões ao empresário José Alves Pereira Neto que, com apoio de políticos locais, conquistou mais tarde o título de cidadão acreano. Aí está um exemplo de falta de responsabilidade. Diante disso, encaminhei aos Ministérios da Fazenda e da Integração Regional requerimentos solicitando informações sobre o projeto Alcobrás.

Em Nova Califórnia conhecemos o contraste. Visitamos o projeto Reca, o reflorestamento econômico consorciado envolvendo cerca de 270 famílias de pequenos agricultores com o apoio da Igreja. Constatamos em Extrema a aflição de seus moradores que ainda aguardam do Supremo Tribunal Federal decisão sobre a qual estado pertencem os moradores do município, Rondônia ou Acre. Lula propôs um plebiscito entre os moradores.

No terminal pesqueiro de Porto Velho constatamos que, apesar de lei aprovada pelo Congresso Nacional, os pescadores até hoje não receberam o benefício do seguro desemprego por ocasião da época da desova.

Ao visitarmos a estrada de ferro Madeira-Mamoré, refletimos sobre a questão de uma melhor integração entre o Brasil e a Bolívia. Obviamente, a ligação com o Pacífico veio à tona nas diversas discussões. Percorremos ainda a usina Samuel, o Centro de Medicina Tropical de Rondônia (Cemetron) e o bairro Tancredo Neves.

Acredito que um dos pontos altos dessa caminhada com Lula pelos dois estados tenha sido o encontro com cerca de duzentos empresários de Rondônia. Naquela ocasião, eles questionaram a opinião de Lula sobre os mais variados assuntos, atitude diferente do que ocorreu em 1989. Essa atitude me leva a crer que estamos avançando na direção de se construir uma sociedade mais civilizada. Hoje, já há exemplos no mundo que sinalizam esse caminho, como o acordo entre o Estado de Israel e países da comunidade árabe.

Eduardo Suplicy é senador da República pelo PT/SP.