Cultura

Uma seleção gratificante de filmes da vida de Celso Marcondes para os 15 anos do PT

Para lembrar os "100 Anos do Cinema", eles me pediram para escrever sobre os "cinco filmes da minha vida". Tarefa gratificante, mas dificílima. Comecei pesquisando uma lista extensa, por ordem cronológica, de tudo de bom que ficou na memória até aqui. Depois, usei a tesoura sem medo. Sobraram 85 filmes! Precisava cortar só 80. Era preciso um método, estabelecer critérios.

Critério 1: tem que estar disponível em vídeo
Evidentemente. Afinal, esta seção chama-se "videvídeo". Mas, fique de olho na sua locadora e não vacilei quando saírem estes dois clássicos: As Vinhas da Ira, de John Ford, rodado em 1940, e Ladrões de Bicicletas, de Vitório De Sicca, feito em 1949. Fique bem atento também para o melhor de Stanley Kubrick, Glória Feita de Sangue, rodado em 1957 e que ficou proibido na França durante vários anos, por relatar a história de um oficial francês que foi parar na Corte Marcial. Outros três: Os Companheiros, de Mario Monicelli (1963); Queimada, de Gilio Pontecorvo (1969) e Estado de Sítio, de Costa-Gravas (1973), todos bem políticos, indicados para discussões entre militantes em mesa de bar. Um que está em todas as listas "dos mais" é O Leopardo, de Luchino Visconti. Dizem que já saiu em vídeo, mas eu não achei em lugar nenhum.

Critério 2: eliminar os clássicos que estão em todas as listas dos "mais"
Claro. Não tem sentido eu ficar dizendo aqui que não sabe sorrir quem ainda não viu os filmes do Chaplin. Ou falar que o suspense que vivemos na campanha eleitoral de 89 é fichinha perto dos filmes do Hitchcock. Também é bobeira repetir que clássico não é só São Paulo e Corinthians. Tem também O Encouraçado Potenkin (1925), Metrópolis (1926), M, o Vampiro de Dusseldorf (1931), E o Vento Levou (1939), No Tempo das Diligências (1939), Cidadão Kane (1941 ), Casablanca (1943) e Crepúsculo dos Deuses (1950), sempre citados. Ou outros menos falados, mas bárbaros, como O Falcão Maltês (1941), Roma, Cidade Aberta (1945), Gilda (1946), 0 Tesouro de Sierra Madre (1947), A Malvada (1950), A Montanha dos Sete Abutres (1951 ), Cantando na Chuva (1952), O Salário do Medo (1953), A Condessa Descalça (1954), Sindicato de Ladrões (1954), Rastros de ódio (1956) e O que Teria Acontecido com Baby Jane (1962).
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Critério 3: eliminar outros muito conhecidos dos anos 60 a 80
O PT fez 15 anos e tem muito militante entre 30 e 45 anos. Gente que começou a ir ao cinema na década de 60 e que com certeza assistiu nos marcantes anos 1968/69 (quando eu tinha 16, 17 anos e falsificava carteirinha de estudante para entrarem "filme proibido") obras "eróticas", como A Primeira Noite de um Homem, de Mike Nichols. A Bela da Tarde, de Buñel. Um faroeste magistral, como Era uma Vez no Oeste, de Sergio Leone. Ou, ainda, 2001, Uma Odisséia no Espaço (Stanley Kubrick), Sem Destino (Dennis Hopper), Perdidos na Noite (John Schlesinger), Butch Cassidy (George Hiil), A Noite dos Desesperados (Sydney Pollack) e Os Deuses Malditos (Visconti).Também seria covardia lembrar, já nos anos 70, de M.A.S.H. (Robert Altman), de Sob o Domínio do Medo (Sam Peckinpah), de Roma (Felini), de Golpe de Mestre (George Hill), de Um Estranho no Ninho (Milos Forman), de 1900 (Bertolucci) e de Apocalypse Now (Coppola).

Já na década de 80, quando o PT começava a participar de eleições, sobrava tempo entre uma reunião e outra para ver O Iluminado, de Kubrick (novamente!) ou delirar com Blade Runner, de Ridley Scott e E.T, de Spielberg. Ficaram também bem registrados na memória filmes, digamos, "mais sensíveis" de alguns cineastas europeus, como Fanny e Alexandre, de Bergman; O Baile, de Ettore Scola; Paris, Texas, de Win Wenders; Minha Vida de Cachorro, de Lasse Halstrom; Adeus, Meninos, de Louis Malle; A Festa de Babette, de Gabriel Axel, e Pelle, o Conquistador, de Bille August. Mas, voltando ao velho e bom cinema norte-americano, quem perdeu Era Uma Vez na América, de Sergio Leone? E Ironweed, de Hector Babenco?

Critério 4: nada dos anos 90 já está amadurecido para virar "inesquecível"
Vamos dar tempo ao tempo. É cedo para colocar na lista os filmes mais recentes. Mas, será que algum leitor não gostou de Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore? Com menor unanimidade, mas imperdíveis, cheque esta relação: Traídos pelo Desejo, de Neil Jordan; O Silêncio dos Inocentes, de Jonathan Demme; Em Nome do Pai, de Jim Sheridan; O Piano, de Jane Campion; A Lista de Schíndler, de Spielberg; Lanternas Vermelhas, de Zhang Yimou (para não deixar de citar o novo cinema chinês); ou a trilogia do polonês Kieslowski, em particular a Fraternidade é Vermelha. Para rir, se identificar e ficar preocupado na saída? Parente é Serpente, de Monicelli, é um arraso, mas seguramente você já assistiu, como também viu o último do Woody Allen (finalmente, ele apareceu!), Um Misterioso Assassinato em Manhattan, de 1993. Um francês?Fico com a Rainha Margot, de Patrice Chéreau.

Finalmente, os cinco (que na verdade são oito): os que sobraram e não estão em nenhuma "lista dos mais" e você pode ter perdido (ou deve ver de novo, como eu fiz) e são de gêneros diferentes.

Um faroeste. Afinal, o que seria do Velho Oeste sem o cinema? Não perca Meu ódio Será sua Herança, de Sam Peckinpah, feito em 1969. Willian Holden, Ernest Borgnine e Robert Ryan em meio a muita ação e câmera lenta, Pancho Villa e tropas federais mexicanas, explosões de pontes e assaltos a trem, caçadores de recompensa e bandos de crianças. Sol, miséria, sujeira e tiroteio (lançado pela Breno Rossi).

Um "político". A Batalha de Argel, dirigido por Gillo Pontecorvo, feito em 1965. É quase um documentário relatando a luta pela libertação nacional dos argelinos contra os franceses. Sessões de tortura e aulas de desmantelamento de organizações de esquerda fazem arrepiar qualquer democrata (Globo Vídeo).

Um suspense. Veja Uma Vida por um Fio, do russo Anatole Litvak, feito nos Estados Unidos, em 1948, com Barbara Stanwyck e Burt Lancaster. Ela é uma senhora muito doente, atada a uma cama que se comunica com o mundo exterior basicamente pelo telefone. Até que pega uma linha cruzada aterrorizante ... (CIC Vídeo).

Um terror. O Bebê de Rosemary é imbatível. Nada a ver com os Freddy Krugger da vida. É o próprio diabo que entra na vida do bebê de Mia Farrow. O melhor filme de Polanski, feito em 1968 (CIC Vídeo).

Um filme de guerra. Entre tantos Vietnãs, fico com o épico japonês Ran, de Akira Kurosawa. A velha fórmula da briga de família, só que entre senhores feudais. Batalhas com imagens fantásticas e muito simbolismo. Foi feito em 1985 (Alvorada Vídeo).

Um drama. Na verdade, três: a saga dos Corleone, O Poderoso Chefão I, II e III (1972/74 e 90). Muita família, traição, vingança. Marlon Brando, Al Pacino e Robert De Niro, belíssima trilha sonora, ritmo e ação, flash-backs, Sicília e Nova Iorque. Coppola genial. Você pode ver de novo e começar por onde quiser. Apenas grave bem quando Al Pacino fala no "II" a seguinte frase: "Eu não quero acabar com todos, eu só quero acabar com meus inimigos". Vale para a política? (CIC Vídeo).

Ficção, musical, romance, aventura, comédia, épicos? Fica para daqui a 100 anos, não tem mais espaço. Afinal, petista é assim: quando a mesa diz que ele só pode falar por 5 minutos, ele fala por meia-hora. Quando pedem para falar de 5 filmes, eles falam de 75. E sempre tem reclamação.

*Celso Marcondes é jornalista, ex-militante full-time, petista convicto, cinemaníaco nas horas vagas.