Cultura

Comemorar é lembrar junto a conflitante saga do descobrimento que nos constituiu como massa que deve virar povo

"A História nada tem a ver com as celebrações: ela é somente esforço de compreensão. Os centenários só são úteis quando permitem estudar problemas, meditar diretrizes, criticar certezas dogmáticas. Caso contrário, mumificam os vivos sem ressuscitar os mortos".
(José Jobson Arruda e Magalhães Godinho)

Comemorar é, literalmente, lembrar junto. É recordar – pensando com o coração – a conflitante saga do cobrimento que nos constituiu como massa que deve virar povo, superando a ninguendade... E como país que deve virar nação, superando a subordinação.

Nenhuma celebração, portanto. Mas reflexão, entendimento, ação transformadora, que a balela do "fim da história" é cantilena neoliberal de quem nos quer passivos, mais clientes do que cidadãos. Basta de encobrimento! Somos indo-afro-europeus (ou bugres-negros-lusos), nesta ordem, inversa à da dominação colonialista. Como gente brasileira, somos ainda um vir a ser, na contramão da epopéia lusitana que realizava a profecia pós-camoniana de Fernando Pessoa: "a busca de quem somos na distância de nós, e com febre de ânsia".

Pessoas nascidas ou viventes nesse pedaço do planeta, buscamos febrilmente nossa realização com a ansiedade de quem suportou cinco séculos de escravidão e exclusão. Procuramos em rezas, passes, mandingas, gingas e gritos de gol a consciência, a justiça, a solidariedade e a República (que, na verdade, ainda não foi proclamada). Buscamos tudo isso não na distância, mas dentro de nós.

Ainda assim, é pouco. Os que mandam desde 1500 nos querem isolados, individualistas, dispersos na caravela-presídio do "cada um por si". Egoísmo como virtude foi a legenda cruzmaltada, e é ainda o auriverde e cinzento pendão.

É preciso redescobrir o Brasil bem além dos marcos do oficialismo e mesmo dos critérios da razão histórica. A sociedade patriarcal ("só os homens cruzaram o oceano, a conquista foi um assunto exclusivamente masculino", lembra o psicanalista Roberto Gambini), excludente, pluriétnica e policultural que aqui começou a se montar, há 500 anos, é mais complexa do que supõe nossa vã filosofia – e exige rimar amor e dor...

Nativas estupradas por degredados (os primeiros "brasileiros") na pátria de párias e só de pais, somos um tanto sem-mãe. Mas mesmo longe das classes escolares, ouvimos a Mama-África. Ela tem o lamento da escravidão, é plena de macumba e de religião. E percussão na senzala e na angolajanga – quilombola repercutindo a resistência à opressão. "O samba é pai do prazer, o samba é filho da dor, o grande poder transformador".

Na passarela, o desenredo
Num hipotético carnaval temporão, que tal fazer desfilar sempre a nossa história, espécie de enredo único sobre os 500 anos da conquista européia da nossa terra? Pela repercussão e pela força cultural que o samba ainda tem, apesar da mercantilização desmedida do chamado "maior espetáculo da terra", a festa das avenidas dos desfiles conteria enorme conteúdo pedagógico. Dos acadêmicos de Momo para as escolas, a cultura popular e a educação estarão em feliz casamento: escolas de samba e samba nas escolas. Sambas despertando o agudo interesse dos estudantes e prestando auxílio ritmado aos professores, ao contar a saga do povo brasileiro.

Surgem, entretanto, alguns saudáveis problemas. Como cantar, na grande festa popular, os sombrios períodos da nossa história? Como defender com garbo e graça aquelas "páginas infelizes da nossa história"?

Sinal dos tempos! Está surgindo uma nova visão do que seja história. Ela nunca tem um lado só. Tanto é assim que memoráveis desfiles tematizaram a força negra do Brasil. E essa presença, que nos moldou, formou e define (com 80% de não brancos, somos o país de maior população negra do planeta, depois da Nigéria) foi construída em meio à opressão da escravidão, da tortura e da discriminação, ainda em vigor. Cantamos nossa luminosa negritude a despeito da imposição dominadora que transformou os afro-brasileiros em "peças de ébano", "fôlegos vivos", "pés e mãos dos senhores de engenho". Isso não é bonito nem suave, mas é cantável e dançável, inclusive como quilombo e capoeira, protesto e libertação. A resistência ao autoritarismo também tem poesia e lirismo. E nos constitui como um povo peculiar, sofrido e brincante. A cultura, síntese de emoção, tem esta função: desvelar os mil aspectos da realidade e recriá-la.

História não é peça de museu para estática contemplação. É o ontem e o agora, o remoto e o recente, o multiforme movimento das gentes. Sim, do golpe de 64 até a eleição indireta de um presidente civil, Tancredo Neves, vinte anos depois, houve perseguição política, censura, tortura e ditadura. Mas é igualmente verdadeiro que nessa quadra do arbítrio militar mais recente aconteceu também uma belíssima resistência cívica e cultural. Não só a da estudantada nas ruas contra o regime neofascista tupiniquim, mas a de artistas, como os jovens Nara Leão, Milton Nascimento, Elis Regina, Geraldo Vandré, Paulinho da Viola, Edu Lobo, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e tantos outros, nos festivais de música.

Há muito o que se contar, na ética dos que deram a vida pela liberdade e pelo socialismo, armas guerrilheiras na mão contra o tanque e o canhão, e na estética de opinião das arenas dos teatros, com Boal, Vianinha, Guarnieri e Paulo Pontes driblando os censores. Há plasticidade também na bonita e irreverente insolência dos jornalistas na imprensa chamada "nanica", na arte de vanguarda de um Rubens Gerchman, de um Carlos Vergara, de um Hélio Oiticica. E na "geração mimeógrafo" de grandes poetas como Chacal e Ana Cristina César. E na câmera na mão e idéia na cabeça do novo cinema de Glauber Rocha, Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos e Zelito Viana.

Aquele Brasil não era só trevas: havia luz nas conferências de religiosos, colocando suas igrejas em defesa dos humilhados, nas greves operárias de Contagem e Osasco, na luta camponesa retomada, apesar do latifúndio ter listado tantos "cabras marcados para morrer", de Canudos a Corumbiara e Carajás.

Há o que destacar até na política permitida, com o velho MDB incorporando, pouco a pouco, o descontentamento, e destoando, doutor Ulysses à frente, do papel de "oposição consentida". O regime murchou, com as crescentes e generosas campanhas pela anistia ampla, geral e irrestrita – "To voltando!", avisaram Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, e muita gente sonhou, acompanhando João Bosco e Aldir Blanc, "com a volta do irmão do Henfil". Betinho voltou mesmo, para denunciar que "a alma da fome é política" e incentivar uma "ação da cidadania contra a miséria e pela vida". O regime perdeu a pose com as maiores manifestações de massa de nossa história, num Brasil bonito e amarelo da campanha pelas "Diretas Já!" Emoção, política e razão democrática eram o começo do fim do túnel. Ditadura nunca mais!

Na nossa história, há muito o que cantar e contar, não só sobre o período da mais recente ditadura militar. É preciso que não sejam "esquecidos", como a história oficial costuma fazer, o Brasil que não era Brasil, das comunidades nativas, do período pré-cabralino até hoje, celebrado por Martinho da Vila no índio que "cantou o seu canto de guerra, não se escravizou mas está sumindo da face da terra". 970 povos com 1200 línguas diferentes! Diversidade nunca reconhecida pelo conquistador, que com suas pesadas botas e seus letais arcabuzes colocou todos os nativos como "gentio" e "bárbaros". É verdade que, naquela época, a humanidade ainda não acumulara conhecimentos antropológicos que estimulassem o respeito a culturas "estranhas". O eurocentrismo dominava. Isso explica, mas jamais justificará o genocídio.

O Brasil é negro, mulato, mestiço: "quem descobriu o Brasil foi o negro que viu a crueldade bem de frente e ainda assim produziu milagres de fé no extremo-ocidente" (Caetano, Milagres do povo). Brasil da saga violenta e ambiciosa dos bandeirantes, "vergando a vertical de Tordesilhas", na "sede do ouro sem cura" versejada por Cecília Meireles.

Brasil das casas-grandes e senzalas, dos sobrados e mocambos, do patriarcalismo autoritário e da etnia sertaneja e cabocla, rebelde e resignada, de Gilberto Freyre. Brasil dos brancos pobres, arraia miúda herdeira das lágrimas do pessoal dos porões das naus e das galés: "ó mar salgado, quanto de teu sal são lágrimas de Portugal".

Lembremos do Brasil da independência que não foi, dos conspiradores mineiros, baianos e pernambucanos, de um lado, e dos monarcas e da aristocracia, de outro. E do Brasil das insurreições populares do século XIX – Balaiada, Cabanagem, Farroupilha, Sabinada, Praieira – e do generoso e ousado abolicionismo. Lutas que iam minando a escravidão. Do outro lado, nos salões do baronato, "macaqueando a sintaxe lusíada", no dizer de Manuel Bandeira, o longo império do "rei café". Quem sustentava o trono? Quem abanava a princesa Isabel e depois foi "ensinando" a chamá-la de "Redentora"?

Que desfile também o Brasil romântico das Iracemas, I-Juca Piramas, Navios Negreiros, Espumas Flutuantes, e o Brasil de Machado de Assis, a sós com o seu enigma das Capitus num mundo em transição do agrário para o urbano-industrial. Transição que, completada no fim dos anos 70 do século XX, nos deu mais um título: ninguém cresceu como nós, desde l930. E também tão injustamente, cristalizando o secular fosso entre os poucos muito ricos e a massa muito pobre. Brasil com fome, gordo na contradição. Nação do pós-cidadão, acima de qualquer suspeita. E do pré-cidadão, a quem se nega qualquer direito. "O Brasil é uma foto do Betinho ou um vídeo da Favela Naval? São os trens da alegria de Brasília ou os trens de subúrbio da Central?", perguntam Celso Viáfora e Vicente Barreto, na música A cara do Brasil.

Brasil da República sem povo, que a assistiu chegar "bestializado", e da industrialização retardatária, na qual coronéis oligarcas viravam capitães de fábricas emergentes. O Brasil da revolta contra as chicotadas ("salve o almirante negro!"), dos anarco-sindicalistas, dos tenentes que se rebelam e dos artistas modernistas que se revelam ("tupi or not tupi, that’s the question!"). Pátria-macunaíma que procura o seu destino, lutando contra as carreiras de saúva e contra a falta de saúde. De todos e nenhum caráter: brasileiro que nem quem?

Vai passar o Brasil da era Vargas, quando o samba começou a ser disciplinado, com a ascensão do eixo nazi-fascista na Europa dando os contornos da disputa política aqui e inspirando o Estado Novo do velho centralismo; o Brasil-raiz brotando na pena de Mário de Andrade, Graciliano Ramos, Lins do Rego, Jorge Amado, Carlos Drummond, Oswald de Andrade, Mário Palmério, Guimarães Rosa, Antonio Callado, João Ubaldo e muitos mais. Regionalismos, nações dentro da nação.

O Brasil marmiteiro e candango, dos trabalhadores que produziram bens de consumo, estradas e cidades. O Brasil dos "anos dourados", nacional-populista e transnacional-desenvolvimentista, que ia substituindo o jegue pelo jipe e tinha a ilusão sorridente de avançar "cinqüenta anos em cinco"... O Brasil contemporâneo diante da encruzilhada: mancha consumidora no globalitarismo autoritário ou Nação reconquistada em igualdade, dignidade, justiça e paz?

Derrubando estátuas

1992: nos "500 Anos de América", estudantes do México, em passeata no dia 12 de outubro, tentaram pôr abaixo a estátua de Cristóvão Colombo, no Paseo de La Reforma, a principal avenida da imensa capital. A manifestação acabou em golpes de cassetete e gases lacrimogêneos.

Não fiquemos amarrados a Pedro Álvares Cabral, que aliás não foi figura histórica das mais proeminentes, navegador secundário perto de Vasco da Gama, Américo Vespúcio e Gonçalo Coelho. E que depois do "achamento do Brasil" só voltou a circular naquelas nossas antigas notas de mil cruzeiros, as "abobrinhas"... Bem mais pioneira foi Luzia, a mulher de Lagoa Santa, que pisou com sua tribo em nossa querência há 11.500 anos. Com Luzia – pelo menos até que se encontrem vestígios ainda mais antigos – fez-se a humana luz!

Desmontemos outros mitos, além deste do "descobridor Cabral" – a porta falsa de entrada do conhecimento de uma história narrativa, heróica e meramente acontecimental, embolorado museu de efemérides e figurões. Denunciemos que o propalado "cadinho de raças" foi uma mestiçagem imposta, com o poder de mando do procriador branco determinando o rumo dos corpos submetidos e fecundados sem escolha. "Mestiço é que é bom", mestre Darcy, e você sempre indignou-se com a conversa dos que falam do "encontro de raças", como se os três elementos tivessem se integrado harmoniosamente. Fusão, confusão em conflitos, luta de classes.

Repudiemos também o "erro de colonizador", que falseia a noção de que se fossem franceses os nossos donos coloniais, por exemplo, tudo aqui iria melhor. O Haiti é aqui, aqui é o Haiti! Não importa tanto quem coloniza quanto o como coloniza. Guiana, Martinica e Congo Belga bem o sabem, talvez o sintam melhor. Colônias de exploração, muito mais que de povoamento. Não há colonialismo-imperialismo brando.

Lembremos também aos patriotas de plantão que Nação é uma construção temporal, que nem sempre existiu e nem sempre existirá (Lennon: "imagine no countries"). Sejamos sonhadores, brasileiros que aspiram um governo planetário cooperativo que eliminará as diferenças entre o primeiro, o segundo e o terceiro mundos. Patriotas, sim, mas cidadãos da terra sobretudo. Vem da antiga Pérsia a sapiência: "que o ser humano não se ufane por amor a seu país, e sim por amor à sua espécie". Nacionalismo relativo.

Por que não trabalhar com os "redescobridores" do Brasil, isto é, com aqueles "grandes vultos" que marcaram a nossa cultura e contribuíram para a formação de nossa sociedade multirracial, pluriétnica, polifônica, híbrida, "ruidosa e festeira", singularíssima? Que tal exaltar na passarela o "povo da raça brasil", que não é "xinfrim" nem genial, apenas original? Pessoas que, nascendo ou tendo vivido e trabalhado em nossa terra, ajudaram e ajudam a fazer um novo Brasil, bem brasileiro? Personagens ainda pouco homenageados não faltam, inesquecíveis e/ou bem vivos, marcantes nesses últimos 500 anos, cada qual no seu campo, cada um reinventando o país de um belo ponto de vista: Vinícius de Moraes, Cipriano Barata, Clarice Lispector, Mário Lago, Cecília Meirelles, Barbosa Lima Sobrinho, Maria Quitéria, Sérgio Porto, Henfil, Clara Nunes, Sobral Pinto, Fernanda Montenegro, Ari Barroso, Alceu de Amoroso Lima, Lima Barreto, Nise da Silveira, Noel Rosa, Chiquinha Gonzaga, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, João Saldanha, Helio Pellegrino, Garrincha, Nelson Rodrigues, Leila Diniz, D. Helder Câmara. Gonzaguinha e Gonzagão, o rei do baião. Nostalgia: o que passou é sempre melhor. Mas ter saudades do futuro impulsiona: o que será que será? Utopia brasílica: o lugar polifônico e solidário que haveremos de fazer florir.

Movimentos populares de afirmação da nossa dignidade, contra os podres poderes, também sobram, e bem que poderiam ser lembrados: da Conspiração do Rio de Janeiro, também chamada de "Inconfidência Carioca", no final do século XVIII, às revoltas do Quebra-Lampiões e da Chibata, já no nosso século. Século do operariado constituído, do campesinato em marcha (das Ligas ao MST), das mulheres conquistando voz e voto, dos moradores das cidades que crescem partidas reivindicando equipamentos urbanos iguais aos dos bairros das mansões. Celebremos sim a reiteração da verdade histórica: onde há opressão, há resistência!

Viva o Brasil!
Não 14, mas 140, 1.400 brasis, para escolas de todos os grupos e, depois, na pedagogia da alegria, para todos os grupos escolares! Não um descobridor, mas muitos que, com engenho e arte, recriaram e reinventam nossa civilização. Vá lá: Pedrr’Álvares e Pedros imperadores, mas, principalmente, Pedros pedreiros, colocando, anônimos, os alicerces de nossa sociedade. Brasil da terra e da música, das literaturas, dos esportes, do rádio, cinema e TV. De preferência sem manipulação. Terra do sol, das cores, luz e calor. Brasil da cidadania dura e parcialmente conquistada, a preço de sangue e lágrimas. Saga de uma gente ferida e alegre, excluída e malemolente, que tem tudo para se constituir numa civilização peculiar e também exemplar num futuro próximo, se as elites deixarem. Abram alas para esta histórica esperança nos carnavais do terceiro milênio!

Mas a hora é já. Hora de fazer a nova data. Da virada, do redescobrimento ("o Brazil não conhece o Brasil", garantem Aldir Blanc e Maurício Tapajós). No lugar do macho, branco, dono de gado e gente, o sujeito coletivo – feminino, masculino, plural – que se revela e reconhece na longa caminhada, ao som das violas caipiras, dos atabaques vigorosos, na defesa do direito à dignidade, caetaneando Maiakovski: "gente é pra brilhar, não pra morrer de fome". Celebremos o grande dia, do cotidiano de quem abriu estradas, alargou pastos, semeou cana, café, laranja e feijão. De quem ergueu igrejas para rezar pelos seus senhores, cidades para ficar na periferia, casas onde não moraria. De quem botou a mesa onde jamais comeria. Cinco séculos de dizimação dos povos nativos e escravização dos povos da África, mas também de engenho, arte e suor negro, indígena e popular: teimosa, malandra e esperançosa resistência! João Ninguém, Maria Maria, Zé das Couves, Ana que ama a terra em que nasceu. Construtores anônimos do Brasil!

Dando nome: Pindorama, a terra das palmeiras, a terra sem males ("antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade", proclamou Oswald de Andrade, um século depois da pseudo-independência anunciada à beira-riacho pelo príncipe absolutista português). Com a conquista, as denominações dd’além-mar: em 30 anos, fomos Ilha de Vera Cruz, Terra Nova, Terra dos Papagaios, Terra de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Terra de Santa Cruz do Brasil, Terra do Brasil e – ufa! – Brasil. Crise de identidade? Talvez. O certo é que são muitos nomes para uma só realidade: latifúndio, monocultura, escravidão, patriarcalismo, dependência externa, exploração, chacinas. Melhor seria, agora, nos rebatizarmos: Terra de Tanta Cruz...

Por isso não cabem os festejos balofos e bolorentos, que entediam os vivos e não reanimam os mortos! Esqueçamos o relojão que determina aos videotas, com enorme atraso, a descoberta que devemos fazer desde que nascemos! Viva a comemoração na batalha (razão de vida) pelo bolo repartido e pela diversidade respeitada. Salve a soberania popular reconquistada! Esta "grande pátria desimportante" ainda será um lugar bom e justo e fraterno de se nascer e existir.

Chico Alencar é professor de História e deputado estadual (PT/RJ).