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Filmes de Antonioni e Bergman

A AventuraA Aventura  - Direção: Michelangelo Antonioni (Itália), 1960, 143 min - Distribuidora: Continental Home Video - Filme que, graças ao prêmio em Cannes, lançou Michelangelo Antonioni; com A Noite e O Eclipse, que vieram depois, formaria a “Trilogia da incomunicabilidade”. O diretor, embora fruto do neo-realismo italiano do pós-guerra, imprimiu-lhe um viés pessoal, esmiuçando a prosperidade, a alienação, a falta de comunicação e principalmente “la noia”, o tédio que consome essas vidas condicionadas por ambições materiais. Marcam sua filmografia os espaços vazios, os silêncios, as longas caminhadas sem rumo, a auto-suficiência dos cenários naturais e arquitetônicos sem presença humana. Como Ingmar Bergman, praticou um cinema autoral, intelectual e de alta reflexão.

Blow-up (Depois Daquele Beijo)Depois Daquele Beijo (Blowup) -  Direção: Michelangelo Antonioni (Inglaterra), 1966, 111 min. - Distribuidora: Warner Home Video - O maior sucesso de Antonioni, já em cores. A swinging London dos anos 60, ponta-de-lança da revolução comportamental, dava a nota da contracultura. É a Londres dos Beatles, da minissaia, dos hippies. Um fotógrafo assiste casualmente a um assassinato num parque e, ao procurar investigá-lo, vai-se distanciando cada vez mais, e o espectador também, de seu intuito. O tema é a crescente predominância do visual na civilização, quando o imperialismo da imagem impõe o que parece, não o que é. Anunciava-se “a sociedade do espetáculo” (o livro de Guy Debord é de 1967), com sua subserviência à mídia e às imagens: ambas pressagiam 68.

 

O passageiroPassageiro: Profissão Repórter -  Direção: Michelangelo Antonioni (Itália/EUA/França/Espanha), 1975, 125 min. -  Distribuidora: Sony Pictures -  Um repórter em missão na África assume a identidade e os papéis de um traficante de armas, que aparece morto. Numa trama enredada, ele vai perdendo a fé na objetividade de sua profissão ao ver que nada se sustenta ante as identidades fluidas e intercambiáveis. O filme, do melhor Antonioni, ficou célebre pela cena final, uma das mais invulgares da história do cinema. Num plano-seqüência interminável, a câmera filma o interior de um quarto – onde possivelmente o protagonista seja naquele momento vítima de assassinato –, sai pelas grades da janela e filma a praça defronte. Ou seja, a câmera privilegia o que é irrelevante. Magistral.

 

O sétimo seloO sétimo selo -  Roteiro e direção: Ingmar Bergman, baseado em peça de Ingmar Bergman (Suécia), 1956, 100 min., Distribuidora: Janus Films -  Exemplar do cinema de closes de Bergman. Passa-se na Idade Média, em meio à peste negra, heresias, queima de bruxas, ubiqüidade do diabo. O Cavaleiro volta das cruzadas que o retiveram por dez anos e joga xadrez com a Morte, na ilusão de vencer. A partida, nunca concluída, a toda hora é retomada, pontuando o filme. A indagação premente do Cavaleiro é a interpelação a Deus: se existe, por que permite tanta ignomínia, tanta crueldade, tanta falta de sentido? As imagens, no contraste brutal do preto-e-branco, são insuperáveis. Um filme, como talvez todos os deste autor, de sondagem existencial, impregnado de angústia.

 

Morangos SilvestresMorangos Silvestres -  Direção: Ingmar Bergman (Suécia), 1957, 95 min. Distribuição: Versátil Home Video  - Embora não figure entre os três Oscars para melhor filme estrangeiro que o diretor recebeu, se há um “filme perfeito”, é este. Um idoso e eminente professor de medicina viaja para receber honraria numa universidade, enquanto medita sobre sua vida, a futilidade da fama, a morte próxima e a velhice, em alternância com a rememoração idílica dos verdes anos. Acompanha-o sua nora, insatisfeita com o casamento; um grupo de jovens fornece o contraste esperançoso da pouca idade. A destacar, a homenagem de Bergman a seu mestre Viktor Sjöström, o grande diretor sueco que o precedeu, aqui trabalhando como protagonista aos 78 anos, num desempenho inesquecível.

 

Gritos e sussurrosGritos e Sussurros -  Direção: Ingmar Bergman (Suécia), 1972, 90 min. - Distribuição: New World Pictures - Mais uma vez os homens desalmados e a frieza de coração dos ricos, recorrentes nos filmes de Bergman, cedem lugar a seu fascínio pelo universo feminino. Quatro mulheres, três irmãs e uma ama, reúnem-se numa casa de campo, dando assistência a uma delas, que está morrendo de câncer. É neste filme que se encontra a magnífica Pietà, em que a ama sustenta a agonizante nos braços, enquanto ressoa no ar o brado de dor escandindo seu nome. Está tudo concentrado ali, desde o assunto e os motivos temáticos do filme até sua inserção na grande arte do Ocidente, pela presença de um ícone que é ao mesmo tempo um arquétipo religioso e pictórico-escultural. Esplêndidas tomadas bucólicas e belo uso da cor.