O PT, em seus 26 anos, passou por três crises. A primeira foi no período de sua viabilização enquanto partido, com toda a sua saudável diversidade interna; a segunda, no processo de implantação da estratégia de formação do bloco democrático e popular, tendo em vista os processos eleitorais; e, a terceira, a experiência de governo no âmbito federal.
A superação dessas crises foi o que nos levou à condição de principal partido do Brasil. Basta ver pela nossa trajetória. O PT se consolida como ferramenta política para milhares de militantes que dedicam a vida às lutas sociais, enraizando, cada vez mais, nosso partido nos corações e mentes de milhões de brasileiros. A expressão disso está na votação que obtivemos agora, com a reeleição do presidente da República e uma expressiva bancada de parlamentares eleitos.
Esta terceira crise é conseqüência da confusão entre o papel do governo e o papel do partido. Explica-se, também, pelo deslumbramento de alguns menos avisados, o que resvala em comportamento não muito republicano misturado com arrogância, nem sempre digno de quem pensa em ter uma sociedade justa, fraterna e solidária.
A vitória eleitoral contribui para que a crise seja superada a partir de um intenso debate interno em que denunciados por supostos problemas de conduta ética tenham assegurado amplo direito de defesa. Uma vez caracterizado e comprovado eventual desvio ético, a punição se coloca inevitável.
Reais mudanças
O III Congresso deve, primeiro, propor uma política estratégica ao governo que represente os anseios de reais mudanças na sociedade, como a taxação das grandes fortunas para que a diferença entre ricos e pobres não seja tão desproporcional; mudança na estrutura agrária mexendo para valer no latifúndio; a efetiva democratização e descentralização dos meios de comunicação. No plano da política partidária, abrir o debate sobre questões organizacionais, definição de regras da atuação de nossos militantes, parlamentares e dirigentes, para que erros cometidos por pessoas com responsabilidades políticas não afetem o conjunto do nosso partido; e, por último, apontar para uma nova direção que dê conta das tarefas e desafios para o próximo período.
Falsa acusação
A acusação de que o PT é paulista é falsa. O PT precisa incorporar novas lideranças que estão surgindo no movimento social, na bancada de parlamentares, prefeitos e governadores em todas as regiões do país. Dessa forma, afirmamos o caráter nacional de nossa legenda. A profissionalização, ou não, do dirigente deve ser decidida a partir de critérios e necessidades do partido. O fundamental é que sejam pessoas capazes, com responsabilidade, respeitabilidade, representatividade na sociedade, no movimento social e no partido. Se a organização em tendências é satisfatória ou não, é a que temos. Não acredito em soluções mágicas. Penso que devemos incorporar novos atores em nosso funcionamento orgânico, envolvendo as bancadas, os governadores, ministros, secretários, prefeitos, lideranças do movimento social, intelectuais, de maneira que seja um retrato da realidade do partido.
Jilmar Tatto, deputado federal eleito (PT-SP)