Quem comanda o rio?
O mito?
A lei?
A lenda?
Onde se perde o mapa,
o portulano?
Em que meridiano, norte ou sul,
ou em que pólo?
Amazônia
Amazônia
quem te ama?
Quantas vezes, no tempo, o rio encheu-se,
E, quantas outras, vazou?
O rio não tem consciência
de si mesmo
e sua existência é ser corrente.
O rio-em-si não é
nem bom, nem mau.
É rio.
É, sendo rio
inunda a seca,
pois, inundar e secar
é o ser do rio
e sua inconsciência de si mesmo.
O poema ovula-se notícia
E nem se quer
ou canto ou melopéia.
Quer olhar e dar voz ao que se mostra.
Pois, Tirésias atônito pergunta
aos pálidos pajés sobreviventes:
se o rio nada sabe se si mesmo,
quem saberá do rio
e de seus homens?