O PT que ajudamos a criar há três décadas enfrentará, neste ano, um dos maiores desafios de sua história: contribuir para uma vitória dos setores progressistas, democrático-populares e socialistas nas eleições de 2010, especialmente na disputa presidencial. Assim, qualquer balanço de nossa trajetória é por definição provisório, pois estamos no curso de uma batalha que vai não apenas definir o futuro do país, mas também mudar bastante a forma como vemos nosso passado.
Feita essa ressalva, há algumas coisas que podem ser ditas.
Primeiro, que conseguimos enfrentar conjunturas muito diferentes e sair delas maiores, porque soubemos mudar, sem perder os laços que nos definem, ou seja, os laços com as classes trabalhadoras. Foi por isso que, nos anos 1980, enfrentamos a ditadura e a transição conservadora; nos anos 1990, nos opusemos ao neoliberalismo; e, agora, implementamos um programa desenvolvimentista com viés popular. Nesses trinta anos, organizamos o partido, participamos das lutas sociais, impulsionamos mobilizações políticas, disputamos eleições, exercemos mandatos parlamentares e executivos, levamos nossa experiência a outros países do mundo. E ao contrário de outros partidos, inclusive mais antigos que nós, nunca renegamos nosso compromisso com o socialismo.
Trinta anos depois da fundação, podemos dizer que a maioria dos militantes sociais do Brasil é petista, ou pelo menos simpatiza com o PT e vota em suas candidaturas. Só isso explica termos conseguido eleger, apesar do sistema político-eleitoral, 1.644 prefeitos e prefeitas, 1.710 vices e 31.974 vereadores, além de contarmos com a segunda maior bancada da Câmara onze senadores, dezenas de deputados estaduais , quatro governadores, uma governadora e o presidente da República. Sem esse apoio popular, Lula não teria vencido em 2002, o PT e o governo não teriam resistido à crise de 2005 e vencido novamente as eleições em 2006.
O Brasil de hoje é melhor do que aquele que recebemos em 2002: 23 milhões de pessoas saíram da linha de pobreza, foram criados 12 milhões de postos de trabalho. Investimentos pesado em infraestrutura, em educação, com a criação de dez universidades federais e 214 escolas técnicas, o fim das privatizações e a valorização de empresas nacionais, como a Petrobras.
Os desafios que se colocam para o PT no futuro são de dois tipos. O primeiro é político: queremos que nosso terceiro mandato presidencial aprofunde as mudanças estruturais no país, num sentido democrático-popular e socialista, que realize as reformas política, agrária, urbana e tributária, a democratização da comunicação,acentue o desenvolvimento com base social e respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente.
O segundo grande desafio: aumentar a organização do povo, inclusive a do próprio PT. Precisamos de um partido maior, mais democrático, mais ativo, mais politizado, mais comprometido com nossos objetivos de médio e longo prazo, especialmente com o socialismo.
O PT que ajudamos a construir antes de 1989 mudou, cresceu em número e em experiência, mas a Carta de Princípios que antecedeu sua fundação tem de continuar valendo. Ela é seu compromisso com o povo brasileiro, com suas lutas, sua história. E isso deve continuar a ser a cara do PT mesmo daqui a trinta anos.
Iriny Lopes, deputada federal (PT-ES) e vice-líder do partido na Câmara