Política

Juntamente com as contradições do neoliberalismo surgem espaços e possibilidades, e uma delas continua sendo o esforço de unidade latino-americana

No Brasil, com maior autonomia de desenvolvimento, cabe pensar mais radicalmente na superação do neoliberalismo em todas as suas dimensões

A vitória de Dilma é a nossa terceira conquista presidencial consecutiva. Não se trata de uma vitória apenas eleitoral, mas resultado de acúmulos progressivos desde 2003. Nos últimos oito anos interrompemos o projeto neoliberal e iniciamos uma alternativa de desenvolvimento nacional. Incompleta, com muitos desafios pela frente, mas uma alternativa que retirou milhões da miséria, que fortaleceu econômica e socialmente a classe trabalhadora, que reduziu a dependência externa do Brasil e vem permitindo que seu desdobramento seja disputado vitoriosamente pela esquerda. Dilma venceu porque o Brasil está mais à esquerda.

É importante assinalar uma quarta vitória estratégica contra o neoliberalismo no Brasil. Foi o enfrentamento da crise internacional de 2008-2009 com uma intensa atuação anticíclica do governo, que, podemos dizer, ultrapassou os limites do keynesianismo.

A política de elevação do salário mínimo foi mantida, assim como as políticas sociais. Os bancos públicos foram fortalecidos e ganharam mais espaço face aos bancos privados. O BC, ainda que com enorme atraso, ficou menos autônomo. Com isso, o Brasil retomou o crescimento – e de forma menos dependente em relação à globalização neoliberal.

Nesse contexto, a oposição liberal, Serra, perdeu antes das eleições. Acabou adotando um mix de reacionarismo com demagogia que só aprofundou sua derrota. Isso não quer dizer que a direita seja fraca, ao contrário.Conquistou parcela expressiva do poder regional, mas não tem projeto nacional hoje. E é razoável suporque deverá passar por uma reorganização programática e partidária, para que volte a ter capacidade dedisputa nacional.

O neoliberalismo, como longa hegemonia específica do capitalismo tardio, vem produzindo crises cada vez mais difíceis de administrar, especialmente nos chamados países centrais. Seu caráter terminal não vem significando, infelizmente, saídas à esquerda, mas um processo desigual (e pouco combinado, por enquanto) de um mundo mais caótico e com poucas expectativas. O Brasil tem sido uma exceção. Mas não é razoável supor apenas um quadro de isolamento. Junto com as contradições do neoliberalismo surgem espaços e possibilidades, e uma delas continua sendo o esforço de unidade latino-americana.

No Brasil, com maior autonomia de desenvolvimento, cabe pensar mais radicalmente na superação do neoliberalismo em todas as suas dimensões. A mais significativa, porque tem um caráter estruturante, é a revolução democrática que deve orientar nosso programa. Uma revolução democrática é a incorporação ativa do povo, e especialmente da classe trabalhadora, nos processos de decisão política. É a reforma política e eleitoral e a democracia participativa.

É a mudança a favor dos trabalhadores nas relações de trabalho. É a emancipação das mulheres e a igualdade racial. É a questão ambiental sem subterfúgios.

O neoliberalismo só será plenamente derrotado com a construção de uma nova hegemonia. Esse é o momento histórico que temos pela frente.

Carlos Henrique Árabe, secretário Nacional de Formação e diretor da Escola Nacional de Formação do PT