Economia

A redução de spreads e de juros e o aumento de prazos oferecem oportunidades concretas para reestruturar o sistema financeiro nacional

A negação histórica da existência de um povo palestino, necessária para afirmar o status da terra como res nullius, como uma terra sem povo destinada ao povo a que fora prometida, mantém-se constante até hoje e é acompanhada da vilificação daqueles que estão “do outro lado”, daqueles menos civilizados, dos radicais, dos amantes da morte

Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal atuam em diversos segmentos, auxiliand

Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal atuam em diversos segmentos, auxiliando no desenvolvimento do país. Foto: Valter Campanato/ABr

O sistema bancário é um setor altamente oligopolizado não homogêneo. A diferenciação constitui a principal estratégia empresarial para conquistar maior participação no mercado.

Quanto maior a eficácia dos bancos estatais como instrumentos de governo, maior sua eficiência empresarial. Na medida em que reduzem spreads e juros, expandem prazos, mas aumentam a escala de suas operações, elevam sua participação no mercado e obtêm ganhos de eficiência empresarial, o que pode compensar possíveis quedas de lucros. Cabe enfatizar que as instituições bancárias auferem as maiores taxas de lucros comparadas à maioria de outros setores no Brasil.

O sucesso de estratégias de diferenciação exige, no entanto, qualificação, envolvimento e comprometimento de seus recursos humanos. Desde a crise de 2008, os bancos públicos têm sido intensamente convocados pelo governo, o que lhes possibilita avançar e conquistar novas fatias do mercado. Em 2008 o Banco do Brasil conseguiu ampliar de 17% para 21% sua participação no setor, mas ainda inferior aos 23% conquistados em 1989, quando deu início a acelerado processo de estruturação como Banco Universal Contemporâneo (BUC).

A portabilidade, recentemente aprovada, estimula os bancos a atrair novos clientes pela cobrança de menores tarifas pela prestação de serviços (abertura de contas, talões de cheques, extratos, ordens de pagamentos, cobranças de recebíveis, transferências bancárias etc.) e menores taxas de administração de aplicações em CDBs, fundos de investimentos etc., mas também, e principalmente, oferecer linhas de crédito com menores juros e maiores prazos, acompanhados de melhor atendimento ao cliente.

Assim, ao contrário dos bancos privados, que vêm anunciando aumento de tarifas pelos serviços prestados para compensar reduções das taxas de juros de empréstimos, os públicos devem implementar medidas para diminuir a cobrança de tarifas pelos serviços, o que induzirá os demais ao mesmo comportamento.

Para minimizar a inadimplência, os bancos estatais podem tomar a iniciativa de negociações tanto com seus clientes quanto, via portabilidade, com clientes de outros bancos, para analisar, com maior profundidade, as razões que provocaram a fragilidade financeira, seja das pessoas físicas, seja de empresas, especialmente pequenas e médias.

No caso das pessoas físicas, alguns exercícios mostram que a mudança de prazos de um financiamento, de doze para sessenta meses, reduz em mais de 15% o custo da dívida e a diminuição de 1% na taxa de juros resulta em uma redução de aproximadamente 6% do custo da dívida de mutuários. Particularmente no cheque especial, cartões de créditos, com encargos de 8% ao mês, uma vez renegociados para 2,5%, podem aumentar em mais de três vezes a capacidade de pagamento do devedor. É necessário chamar a atenção que é de grande relevância que essas renegociações sejam acompanhadas de educação financeira para os clientes beneficiários.

É perfeitamente factível, também, aumentar a capacidade de pagamento de empresas para minimizar a inadimplência no Brasil, seja por meio de refinanciamentos com maiores prazos e menores juros, seja via capitalização para reduzir seu endividamento e adequar a relação de capital próprio para capital de terceiros, seja para apoiar investimentos visando ao emparelhamento tecnológico de inovações necessárias para recuperar e elevar a competitividade, e assim garantir a capacidade de pagamento de empresas inadimplentes.

A redução de spreads e de juros e o aumento de prazos oferecem oportunidades concretas para reestruturar o sistema financeiro nacional para o exercício de financiamento de longo prazo, complementar ao BNDES, e para o fortalecimento do mercado de capitais.

O sistema financeiro vem experimentando alguns movimentos no Brasil. O primeiro caracteriza-se pelo processo de concentração bancária – expansão vertical do sistema –, visando a economias de escala, maior eficiência, redução dos custos financeiros e barateamento do crédito; acompanhado do processo de conglomeração financeira (expansão horizontal do sistema), que, além de consolidar a concentração bancária, cria um ambiente propício para a estruturação de Bancos Universais Contemporâneos – atuação das instituições financeiras em todos os segmentos do mercado financeiro (monetário e não monetário). Esse movimento viabilizou o aproveitamento de sinergias entre as empresas financeiras e não financeiras. Do ponto de vista concorrencial, a conglomeração passou a ser o caminho institucional tanto das organizações bancárias quanto de grandes corporações empresariais. Ao contrário, a não conglomeração significa redução da competitividade.

O segundo movimento diz respeito ao processo denominado “bancarização empresarial”, que corresponde à criação de instituições financeiras pelas grandes empresas, como Banco Votorantim, Banco Fiat e outras montadoras, o que resulta no terceiro movimento, que diz respeito à participação de bancos no capital de empresas.

O BB e a Caixa Econômica Federal, assim como os grandes bancos privados, também atuam em diversos segmentos: banco comercial, financeira, leasing, capitalização, seguradora, administradora de planos de previdência complementar e de consórcios, financiamentos imobiliários, corretora e distribuidora de valores mobiliários, banco de investimentos e empresas de participações. Em parceria com a Previ, a Funcef e outros fundos de pensão, poderão, portanto, reorientar e acelerar movimentos de mão dupla em pleno andamento no Brasil desde meados da década de 1980 (Medeiros).

Esse conjunto, em um cenário de reduções da taxa Selic, de spreads e de juros nominais, do processo de certa desindexação da poupança, a qual deve ser estendida a outros indexadores, poderá viabilizar a dinamização e a criação de instrumentos capazes de captar recursos com compromissos de longo prazo (letras financeiras, FIPs, FDICs, CRIs etc.), o que proporcionará gerar a estruturação de novas linhas de crédito de longo prazo e, ao mesmo tempo, o fortalecimento, expansão e diversificação da indústria de fundos de investimentos. Entre outros, cabe salientar os de maior interesse estratégico para grandes empresas, tais como fundos de investimentos corporativos e/ou interempresariais e intersetoriais.

Nesse contexto, as grandes empresas poderão criar fundos de investimentos com o objetivo de melhorar o desempenho tanto de fornecedores estratégicos quanto de clientes, também estratégicos, visando expandir seus mercados. A propósito, a Petrobras (fundo Progredir), a Companhia Vale, o Grupo Votorantim, entre outras empresas, já estão experimentando essa alternativa para financiar fornecedores estratégicos.

Além de fundos corporativos e/ou interempresariais, cabe sugerir a criação de fundos de investimentos setoriais e intersetoriais, baseados em empresas que participam de uma mesma cadeia produtiva (adensamento, enobrecimento e avanços tecnológicos de elos de cadeias produtivas, as quais o Brasil reúne vantagens competitivas), fundos de investimentos regionais alavancados com participação financeira de estados e municípios, fundos específicos para estruturar plataformas logísticas integradas capazes de otimizar a distribuição e a comercialização de produtos e serviços, letras hipotecárias etc.

Os bancos gestores de fundos de investimentos poderão contar com a gestão compartilhada dos próprios aplicadores de recursos, cujos resultados serão, com certeza, menores custos para administração de fundos, bem como o aproveitamento de complementaridades, de sinergias e da elevação da competitividade, além de melhoria das relações entre grandes, médias e pequenas empresas.

O governo poderá contar com a CEF Participações (em funcionamento), o BNDES Participações e o BB Participações (a ser criado através da integralização de capital com ativos do próprio Banco do Brasil), em parcerias ou não com bancos privados, fundos de pensão, investidores institucionais nacionais e estrangeiros, empresas estatais e privadas, visando estruturar Sociedades para Propósitos Específicos (SPE) para viabilizar a aceleração de prioridades do PAC, da Estratégia Nacional de Defesa, do Brasil Maior, da Unasul, do adensamento e enobrecimento de cadeias intersetoriais envolvidas na exploração do pré-sal e de terras raras.

Cézar Manoel de Medeiros é doutor em Economia pelo IE/UFRJ