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Para Ibrahim Al Zeben, embaixador da Autoridade Nacional Palestina no Brasil, cabe ao povo israelense eleger um governo que corresponda ao clamor internacional

 

Todo o mundo está votando a favor da paz. Com o renascimento da Palestina, espera-se que renasça um novo Israel, sem agressores, sem ocupações, sem opressão a outros povos. Segundo Al Zeben, embaixador da Autoridade Nacional Palestina no Brasil, existe uma iniciativa de 57 países árabes e islâmicos que oferecem a paz a Israel

Ibrahim Al Zeben durante o Fórum Social Palestina Livre

Ibrahim Al Zeben durante o Fórum Social Palestina Livre. Foto: Caco Argemi/Palácio Piratini

Embaixador da Autoridade Nacional Palestina no Brasil, Ibrahim Al Zeben avalia o que muda com o reconhecimento pelas Nações Unidas da Palestina como Estado observador não membro. “Veremos que a luta vai entrar em outra etapa”, afirma o embaixador, em entrevista concedida durante o Fórum Social Palestina Livre. Al Zeben pondera, no entanto, que haverá dificuldades em relação ao atual governo de Israel. “A palavra agora está com o povo de Israel, cabe a ele decidir se quer seguir com este governo e continuar contra o mundo, ou eleger outro governo que corresponda ao clamor internacional”, destaca.

O que muda com o reconhecimento pelas Nações Unidas?
Nosso território ocupado é de um Estado soberano. Portanto, não é um território disputado, como Israel e os colonos querem fazer parecer. É a ocupação de um Estado já reconhecido pelas Nações Unidas, e para isso existe arbitragem e muitos organismos internacionais que tratarão desse tema. A luta entrará em outra etapa. Iremos trabalhar com toda a comunidade para que se faça valer o direito internacional, não o direito da força.

Quais são os próximos passos da Autoridade Nacional Palestina na busca pelo reconhecimento pleno do Estado palestino?
Para nós, foi um dia histórico. No mesmo Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, e 65 anos após a partilha da Palestina, reconhecem que somos um Estado. Mesmo sendo observador, para nós trata-se de um passo avançado na luta pela reconquista de nossos direitos nacionais inalienáveis. Cumprimos essa meta e buscaremos outra, até alcançar um país livre, sem ocupação, sem conflitos, e tratar de alcançar um Estado de justiça que permita a israelenses e palestinos compartilhar o território, em convivência harmônica.

Algum tipo de retaliação é esperado por parte de Israel?
Pode haver retaliações do atual governo. A palavra agora está com o povo de Israel, se quer seguir com este governo e continuar contra o mundo, ou eleger outro governo que corresponda ao clamor internacional. Todo o mundo está votando a favor da paz. Com o renascimento da Palestina, esperamos que isso dê espaço para o renascimento de um novo Israel, sem agressores, sem ocupações, sem opressão a outros povos – um Estado de Israel que quer conviver em paz com seus vizinhos. Nossas mãos estão estendidas para o diálogo e para a paz. E não apenas os palestinos, existe uma iniciativa de 57 países árabes e islâmicos que oferecem a paz a Israel, a normalização das relações, em troca do cumprimento do direito internacional. O povo de Israel tem de decidir. Há israelenses inteligentes e pacifistas que querem viver em paz.

Com base em que principais condições a Autoridade Palestina negocia com Israel?
O fundamental, em um futuro próximo, é alcançar a criação do Estado da Palestina em território palestino, e desocupar o território. O restante são detalhes importantes, como o tema do direito ao retorno dos refugiados, as relações bilaterais, a questão de Jerusalém, o uso da água, o muro, os assentamentos.

Como fica, por exemplo, a questão dos cidadãos palestinos que vivem no território de Israel?
A criação do Estado da Palestina é um passo para resolver os outros temas, negociar lado a lado, entre dois Estados. Tudo a ser negociado será com base no direito internacional. Isso não é matéria para negociar com Israel, se somos ou não somos Estado. Trata-se de soberania, de direito internacional. Israel precisa negociar todos os temas pendentes, para podermos alcançar uma paz aceitável e duradoura.

Qual a importância da participação do Brasil e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a causa palestina?
O Brasil tem sido um país muito importante nessa questão, há 65 anos. Teve sempre uma incidência importante na questão palestina e do Oriente Médio. Com o empenho do ex-presidente Lula, o papel do Brasil foi decisivo. Estamos muito gratos e seguros de que o Brasil, sob o comando da presidenta Dilma Rousseff e do chanceler Antônio Patriota, está dando seguimento bastante criativo e sua contribuição é importante. É um país amigo dos dois lados e pode influenciar. Confiamos plenamente no Brasil.

Em que medida as relações bilaterais com o Brasil têm contribuído para o fortalecimento da causa palestina?
Assinamos seis convênios, em abril de 2010, quando o presidente Lula visitou a Palestina. Eles cobrem vários temas, como educação, esporte, cultura, economia. O Brasil, a partir desses acordos, está ajudando de maneira tangível na reconstrução da infraestrutura. Confiamos na capacidade do Brasil de ajudar.

Uma das consequências do ataque de Israel a Gaza pode ser a unidade entre Fatah e Hamas?
Não haverá a paz sem a desocupação do território palestino. E não haverá Estado sem unidade nacional na Palestina. É uma tarefa imediata e esperamos que o Hamas se incorpore à Organização para a Libertação da Palestina e participe das eleições presidenciais e legislativas, e o povo é quem vai dar sua última palavra.

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Daniel Cassol é jornalista