Cultura

Ao ouvir uma canção xhosa, Mandela começou a dançar, sem sair do lugar, balançando o corpo e os braços e toda a congregação entrou no clima, quebrando o protocolo

Em cerimônia no Magdalen College, ao ouvir uma canção xhosa, Mandela começou a dançar, sem sair do lugar, balançando o corpo e os braços e toda a congregação entrou no clima, quebrando o protocolo

Na cerimônia formal, Mandela usava roupas típicas africanas embaixo da toga

Na cerimônia formal, Mandela usava roupas típicas africanas embaixo da toga. Foto: Reuters

A Universidade de Cambridge (Inglaterra), uma das mais antigas e tradicionais do mundo, além de ser das mais formosas e perpétua rival de Oxford, conferiu o título de doutor honoris causa a Nelson Mandela.

À cerimônia, realizada em maio de 2001, no salão nobre em arquitetura gótica do Magdalen College, na presença do corpo docente enfarpelado formalmente em togas pretas, portanto ante um auditório reduzido, acorreu Mandela com suas roupas típicas africanas, visíveis por baixo da toga de rigor que também ele usava. Enquanto isso, as pessoas o esperavam na rua, para cumprimentá-lo na entrada e na saída.

Recebeu de um membro da congregação, também negro e de toga, uma saudação xhosa, língua de seu clã, que consiste numa arenga declamada, cantada e dançada. Depois, no mezanino, um pequeno conjunto vocal branco executou a capella uma canção xhosa. Ao ouvi-la, Mandela começou a dançar sem sair do lugar, como faz nas ocasiões públicas em seu país, balançando o corpo e os braços. É assim que se comporta o povo sul-africano para celebrar tanto o júbilo, como nessa ocasião, quanto a revolta. Nós, os espectadores, já estamos acostumados a assistir essa impressionante manifestação, cheia de vitalidade e beleza.

Ao vê-lo, um por um, toda a colenda congregação – branca, é óbvio - foi sucessivamente entrando no clima, imitando-o e quebrando o protocolo, de tal modo que a certa altura toda a população do salão nobre do Magdalen College dançava. Foi uma coisa nunca vista, foi a primeira vez que uma coisa como essa aconteceu em Cambridge, de estritos ritos quase milenares.

Walnice Nogueira Galvão é professora emérita da FFLCH da Universidade de São Paulo, integra o Conselho de Redação de Teoria e Debate