Política

Nós nordestinos aceitamos as felicitações, mas sabemos que somos insuficientes, pois o centro da disputa nacional não está Nordeste, está Sul-Sudeste, centro político e econômico do país

Lula em Salvador (BA). Foto: Ricardo Stuckert

Mais uma vez o Nordeste foi decisivo e definidor para o triunfo do nosso projeto no país.

Vencemos nos quatro estados governados pelo PT seja para governador ou presidente, Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, e da mesma forma no Maranhão, onde temos o vice. A região deu uma larga margem de frente na faixa de 12 milhões de votos. Vencemos em mais de 90% das cidades nordestinas... E aí tem a liderança popular do Lula e a força do seu legado de governo que transformou o Nordeste, mas também a força política dos governos estaduais petistas bem-sucedidos com lideranças de expressão, como Jaques Wagner, Rui Costa, Camilo Santana, Wellington Dias, Fátima Bezerra e Flávio Dino.

A força política nesses estados é tão expressiva que elegeram os sucessores, figuras que ascenderam nos processos de governo, e reelegeu a governadora do Rio Grande do Norte.

Se considerarmos que só elegemos governadores no Nordeste e ainda temos 80% da bancada do PT no Senado composta por nordestinos, é sem dúvidas notável o papel do PT da região na disputa nacional e garantidor inquestionável da vitória de Lula a presidente no país.

O sucesso do PT e da esquerda no Nordeste não se deve apenas à força espiritual do Senhor do Bonfim, do Padim Ciço, dos Orixás da Bahia ou dos Vudus no Maranhão.

Há uma construção correta de alianças protagonizadas pela esquerda que atrai e dirige as forças de centro e conduz uma estratégia programática que fortalece o papel indutor do Estado no processo de desenvolvimento, no qual as parcerias com agentes econômicos privados e cooperados e consorciados é realizada sob uma pactuação federativa cuidadosa com os diferentes, além de uma busca obstinada da diminuição das desigualdades sociais e regionais com a territorialização das ações de governo e a universalização do acesso aos serviços essenciais à cidadania, lastreada por uma extensa trajetória de lutas sociais sustentada por movimentos sociais, pelo sindicalismo de base rural e urbana, por ONGs e entidades de educação popular e comunitária somadas ao inegável aporte das pastorais sociais da Igreja progressista.

Esse "modo de fazer política e governar" inspirado na "Escola do Professor Luiz Inácio" ainda não atingiu os corações sulistas e sudestinos, mesmo os vermelhinhos petistas e de esquerda que não entendem a necessidade de atrair e liderar também os azulzinhos como condição inexorável do presidencialismo de coalizão que tem força determinante no sistema político brasileiro.

Perdemos todas as eleições majoritárias nos estados do Sul e Sudeste e apenas empatamos a presidencial em Minas Gerais.

O centro político e econômico do país é no Sudeste-Sul e insistimos em velhas táticas da esquerda ortodoxa ensimesmada que não nos ajudam a conquistar a hegemonia política de esquerda e seus valores humanísticos no país; ao contrário, foi aí que cresceu política e eleitoralmente a excrescência do bolsonarismo; apesar da nossa resistência heroica e da inegável força e garra da nossa militância petista e de esquerda nesses grandes centros.

Mas para dirigirmos e mudarmos o país precisamos reinventar e reposicionar o PT, sair da resistência e passarmos ao protagonismo político. Nós nordestinos humildemente aceitamos as felicitações, mas sabemos que somos insuficientes, pois o centro da disputa nacional não está aqui no nosso querido Nordeste.

A Luta Continua!

PT Saudações!

Jonas Paulo é coordenador do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Bahia (CodEs); ex-presidente do PT Bahia