Especial do Golpe

Uma das missões da revista Teoria e Debate (TD), desde a sua criação em 1987, é traduzir para os seus leitores e leitoras temas considerados complexos e que estão sempre sujeitos a interpretações parciais ou equivocadas.

A tarefa nem sempre é fácil, já que propor novas reflexões sobre fatos consumados nos obriga a pesquisar, checar informações e dar voz a quem testemunhou in loco tais acontecimentos.

É por isso que a TD não se limita a relatar o passado. Há, também, a preocupação de mostrar, a partir do que já aconteceu, como chegamos até aqui e para onde iremos no futuro.

Desta vez não foi diferente. Nas páginas a seguir, você terá em mãos um vasto material sobre uma das passagens mais tristes e marcantes da história do país: o golpe ocorrido em 1º de abril de 1964.

Com o zelo editorial de sempre, todos os textos são norteados pela premissa de que é preciso recordar o período para que ele jamais se repita.

A partir do marco de 60 anos do início da ditadura militar (1964-1985), todos os artigos desta edição abordam um recorte específico, em especial os escritos por quem sentiu na pele os horrores do regime.

Nomes como os de José Dirceu, Matilde Ribeiro, Frei Chico e Eleonora Menicucci nos mostram como é importante preservar a memória, mas principalmente como usá-la para jamais deixar que a Democracia do país volte a ficar sob ameaça.

Ainda que algumas das mudanças ocorridas durante aqueles 21 anos, principalmente no campo da industrialização, sejam usadas pela extrema-direita para validar o período, é indispensável insistir: democracia e liberdade serão sempre inegociáveis.

A maioria do povo sabe disso. E, ao eleger Lula (PT) pela terceira vez, deixou evidente a sua insatisfação com o projeto autoritário de Jair Bolsonaro, que tem como herói o coronel Ustra, o responsável pelo setor de torturas do Doi-Codi.

A ditadura militar nunca promoveu milagres. Pelo contrário. A saúde pública era precária, com mortalidade infantil nas alturas, e mais de 80% da população sem acesso a atendimento universal e gratuito; as escolas tinham grade curricular adaptada para exaltar tanto o regime quanto símbolos nacionais hoje questionados; o salário mínimo caiu pela metade em duas décadas; e mesmo com aumento do Produto Interno Bruto (PIB), a pobreza e a concentração de renda bateram recorde.

Fatos como estes, que interferiam na vida de pessoas comuns, muitas delas avessas à política, também precisam ser relembrados. Assim como a trajetória de quem, de um jeito ou de outro, enfrentou o regime militar.

Portanto, enquanto houver quem defenda aqueles tempos sombrios, também haverá luta para que a verdade prevaleça.

E cabe a nós, da Fundação Perseu Abramo (FPA), contribuir para que você se informe e esteja preparado ou preparada para participar ativamente das transformações em curso.

Boa leitura!

Paulo Okamotto

Presidente da Fundação Perseu Abramo