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Expectativa no Congresso é de renovação. Na Presidência, embora o ambiente seja de continuidade, com mudança de estilo, o resultado ainda se encontra em aberto
 

O resultado das eleições gerais de 2014 dependerá muito da capacidade do governo e do Congresso de responder às demandas dos protestos de junho e julho de 2013. Nessa perspectiva, são muitos os aspectos que os estrategistas de campanha terão de analisar e processar para obter um bom diagnóstico e projetar um bom prognóstico para seus candidatos.

O ponto central consiste em compreender as motivações da explosão de indignação que tomou conta das ruas, levando milhares de pessoas a protestar, e responder minimamente a essas demandas. Embora a agenda fosse difusa, percebe-se que o cidadão protestou em quatro das suas cinco dimensões, e não o fez contra este ou aquele governante em particular.

A primeira dimensão foi a de eleitor, por não se sentir plenamente representado pelos partidos e pelas instituições governamentais. Como regra, não há, de parte dos eleitos, respeito aos programas nem prestação de contas aos representados.

A segunda foi a de contribuinte, por entender que os recursos que paga de imposto não são bem aplicados. A percepção geral, estimulada pela mídia, é de que as receitas tributárias são destinadas à construção de megaestádios, são desviadas ou servem para apoiar empresários como Eike Batista.

A terceira foi a de usuário de serviço público, pela notória má qualidade desses serviços, especialmente nas áreas de educação, saúde, segurança e transporte, tendo sido este o motivo do chamamento às ruas.

A quarta foi a de consumidor, pelo medo do retorno da inflação e também pela perda de renda decorrente do aumento das taxas de juros e dos spreads bancários.

A quinta dimensão do cidadão, que é a de trabalhador enquanto classe, mesmo com o baixo crescimento da economia, não se fez presente nos protestos, entre outras razões, porque ainda está satisfeita com a geração de emprego e o aumento da renda, como comprovam as pesquisas do mundo do trabalho.

Se os trabalhadores e suas entidades tivessem ido às ruas, certamente as manifestações teriam tido um caráter mais estrutural. É que sempre que os trabalhadores protestam, de forma organizada e com caráter classista, há grandes transformações. Foi assim no combate à ditadura, na campanha da anistia e das eleições diretas, na Constituinte, no impeachment de um e na eleição de dois presidentes da República, entre outros.

Nas manifestações não houve, por exemplo, questionamentos explícitos dos fundamentos da política econômica nem proposta para destituição de governos, o que levaria a mudanças estruturais. Com a classe trabalhadora nos protestos, esses pontos certamente estariam entre os primeiros.

Frente a esse quadro, e diante das até aqui tímidas respostas às reclamações apontadas, governantes e parlamentares precisam acelerar o passo, sob pena de 2014, além do retorno dos protestos, ser considerado o ano da maior taxa de abstenção e votos brancos e nulos da história do país.

A chamada classe média, a mais indignada, tende majoritariamente a anular seu voto, dado o grau de desilusão com a política, em especial pela percepção de escândalos de corrupção, claramente hiperdimensionados pela grande imprensa brasileira com o nítido propósito de prejudicar o PT nas eleições de 2014.

Os movimentos sociais, em particular o sindical, considerando os avanços havidos nas relações de trabalho nos últimos anos, tende a continuar, em sua maioria, apoiando a reeleição do atual projeto, com a presidenta Dilma.

Para esse apoio, entretanto, o movimento sindical exigirá da presidenta o atendimento a duas de suas demandas mais imediatas: a mudança no fator previdenciário e uma nova política para a correção da tabela do imposto de renda.

Na eleição presidencial, embora o ambiente seja de continuidade, porém com mudança de estilo e método, o resultado ainda se encontra em aberto. E no caso do Congresso a expectativa é de grande renovação nas duas Casas: na Câmara deverá passar de 45% e no Senado, que elegerá um terço das cadeiras (27), a estimativa de reeleição está entre seis e oito senadores, com renovação, portanto, superior a 70% em relação às vagas em disputa.

Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap