EM DEBATE

Os jovens petistas realizam o II Congresso da Juventude do PT, de 12 a 15 de novembro de 2011, em Brasília, e debatem, entre outros temas, as mobilizações que ocorrem em diversas regiões do mundo, a organização para as eleições 2012, a elaboração de políticas públicas para o segmento e a relação com a sociedade. Os(as) candidatos(as) à Secretaria Nacional de Juventude do PT expõem suas propostas para a próxima gestão

É preciso agitar a bandeira do socialismo

O momento é de afirmação

A JPT e a revolução democrática

O contexto é de transformações

É preciso agitar a bandeira do socialismo

A realização do 2º Congresso da Juventude do Partidos dos Trabalhadores, entre os dias 12 e 15 de novembro, deve apontar caminhos para uma nova organização de juventude e um programa que dispute corações e mentes da juventude brasileira.

No rastro da atual crise capitalista, mobilizações populares e juvenis foram deflagradas em países árabes, na Europa, nos EUA e também em países vizinhos, como o Chile. Em um momento como o atual, em que o capitalismo apresenta toda sua vocação para a barbárie, a juventude do PT precisa agitar bem alto a bandeira do socialismo.

Nossa defesa do socialismo baseia-se na crítica ao capitalismo, aos seus efeitos destruidores sobre a natureza e sobre a humanidade. A destruição ambiental, a barbárie social, as guerras, a incompatibilidade cada vez maior entre o capitalismo e as liberdades democráticas são alguns dos motivos que tornam urgente a luta e a construção do socialismo como alternativa tanto aos grandes problemas da humanidade, como aos grandes dilemas do Brasil.

Alternativa democrática e popular

No Brasil e na América Latina, vivemos um tempo de grandes possibilidades. Partidos de esquerda governam para grande parte da população da região, garantindo mais democracia, igualdade,  soberania nacional e integração continental. No Brasil, oito anos de governo Lula e os primeiros meses de governo Dilma vão deixando para trás o neoliberalismo.

Os avanços, no entanto, ainda não se tornaram estruturais, não se converteram em um outro modelo de desenvolvimento. Portanto, é necessário mais partido e mais luta social em defesa de uma plataforma que aprofunde a democratização da sociedade, a partir de uma reforma política e do marco regulatório da comunicação. Por sua vez, a alteração da matriz econômica do país deve viabilizar por meio de uma reforma tributária um fundo público capaz de ampliar o gasto social e a participação do trabalho na distribuição da renda e riqueza.

Um projeto de desenvolvimento democrático e popular deve considerar o processo de incorporação das novas gerações. É preciso criar as condições para formar uma geração capaz de disputar e dar continuidade aos avanços políticos, sociais e econômicos que o país necessita.

Esta é a maior geração de jovens da histórica do Brasil, aproximadamente 50 milhões com 15 a 29 anos, ou pouco mais de 25% da população do país. Tal bônus demográfico é um ativo importantíssimo no desenvolvimento das forças produtivas do país possibilitando, desde que bem aproveitado por ação planejada do Estado, um aumento da produção e da renda per capita, a elevação da capacidade de poupança e de investimento e uma otimização dos gastos sociais demandados pela população dependente.

Nova geração de políticas e direitos

A orientação geral do governo Dilma em trabalhar a erradicação da pobreza extrema como meta fundamental de governo demandará a implementação de políticas públicas de juventude abrangentes e em escala que colaborem na superação do ciclo de reprodução da pobreza que atinge as novas gerações.

Nessa perspectiva, a ampliação da cobertura das políticas sociais deve compreender também uma nova geração de políticas públicas de juventude e a criação de novos direitos sociais. O recorte conceitual que deve organizar estas políticas é o da emancipação dos jovens, passando pela afirmação de novos direitos específicos como ao financiamento público do tempo livre, à experimentação, à redução obrigatória da jornada de trabalho durante os estudos, ao trabalho decente, dentre outros.

Ademais, uma nova abordagem programática da articulação entre o mundo do trabalho e a educação para os jovens também se faz necessária.

Apontar uma inserção social e produtiva da juventude diferenciada da atual passa por enfrentar a situação do trabalho juvenil no país – precoce, precarizado, mal remunerado, com longas jornadas, incompatível com a continuidade dos estudos etc. O desafio passa a ser combinar a criação de postos de trabalho decente para a juventude com o financiamento de programas que integrem políticas de transferência de renda, elevação continuada e qualitativa da escolaridade, tempo livre, formação científica e tecnológica e mobilização em serviços comunitários.

De igual maneira, a política educacional deve dar um salto de qualidade. Além da ampliação do acesso a todas as modalidades de ensino e a erradicação do analfabetismo, será preciso empreender uma restruturação profunda do Ensino Médio em sua articulação com os distintos campos do saber e iniciação científica, na integração com o ensino técnico e profissional e nos seus instrumentos de ensino-aprendizagem, gestão democrática e política pedagógica.

O PT e a juventude

Apesar de ter sempre contado com muitos jovens em suas fileiras, o PT nunca considerou o tema e a organização dos jovens como prioridade. Por vezes, inclusive, relegou a outros partidos da esquerda brasileira a referência do projeto democrático e popular na juventude.

Precisamos superar em nosso partido a visão instrumental que encara os jovens como “tarefeiros” ou apenas como quadros “inexperientes” a serem formados para o futuro. A compreensão do jovem como sujeito político do presente, capaz de participar da renovação do projeto político do partido, permanece como um grande desafio.

São por esses e outros motivos que o PT, mesmo com quase 30% da preferência do eleitorado nacional, tem perdido apoio nas novas gerações. Para grande parte dos jovens, o partido já é visto como igual aos demais partidos tradicionais. A crescente institucionalização, o refluxo do debate ideológico e a ausência de discurso e diálogo com os movimentos juvenis reforçam este estigma.

Na luta política dos próximos anos, a mera estratégia de comparar os governos petistas com os governos tucanos, apesar de importante, não será suficiente. Aos jovens será fundamental que os partidos apresentem uma agenda de conquistas e mudanças para o futuro, já que muitos pela idade não vivenciaram com tanta nitidez o contraste entre um e outro modo de governar.

Nova fase

Do ponto de vista organizativo, a próxima gestão da juventude do PT terá grandes tarefas. A ação municipal deve ser uma das prioridades, sobretudo em uma gestão que coordenará a mobilização dos jovens petistas nas eleições municipais de 2012 e deve consolidar seu novo modelo organizativo desde a base.

Nesse sentido, propomos a realização de um primeiro Encontro Nacional de Secretarias Municipais de Juventude do PT, no primeiro semestre de 2012, para planejar a intervenção da JPT nos próximos dois anos e convocar uma 2ª Caravana Nacional da JPT, a percorrer os estados de todo o país, debatendo o programa de juventude para as eleições.

Outra importante frente de atuação é a dos movimentos juvenis. A JPT deve construir um trabalho setorial nas mais diversas frentes de atuação e participação da juventude. Esses setoriais devem ser espaços mais livres e flexíveis de atuação dos jovens petistas, aglutinando simpatizantes e militantes do movimento juvenil, a exemplo da JN13, coletivos de jovens feministas, de diversidade sexual, meio ambiente, cultural, estudantil, entre outros.

Bruno Elias é coordenador de Relações Internacionais da JPT, candidato a secretário Nacional de Juventude do PT pela tese A Esperança é Vermelha

O momento é de afirmação

No I Congresso da Juventude do Partido dos Trabalhadores em 2008 surgiram novos desafios para nossa atuação política, ficando explícito que o modelo de setorial até então vigente, não nos é suficiente. Por isso avançamos na última gestão na formação do modelo de secretaria, e este processo está em pleno vapor.

Já fizemos história, fomos a primeira instância do partido a ter paridade de gêneros e étnico racial na direção, com ampla representatividade regional. Fortalecemos relação com movimentos, com a JN13, as jovens feministas, a juventude trabalhadora, gestores de juventude. Temos atuação nas relações internacionais, realizamos Caravana pelo Brasil a dentro, campanhas, debates e formação política.

Agora, no II Congresso, é o momento de consolidação e afirmação da Juventude do PT na construção interna do partido, no diálogo com as juventudes partidárias, com os movimentos sociais e no desenvolvimento de políticas públicas para a juventude no Brasil.

Aliás, II Congresso Nacional da JPT já é um sucesso. Organizado em mais de 1.500 municípios, com a presença de mais de 15 mil jovens petistas em todo Brasil debatendo e formulando políticas para dentro e fora do PT.

Estamos vivendo no país um período especial de bônus demográfico da juventude brasileira, em breve atingiremos um momento culminante na pirâmide etária. Provavelmente em curto espaço de tempo não se repetirá. Por isso, temos o dever de disputar politicamente os atuais 52 milhões de jovens.

Para que isso aconteça é prioritário que a juventude do PT estreite cada vez mais o diálogo com a Secretaria Nacional de Juventude do governo Dilma. É com esse diálogo e o fortalecimento da JPT para dentro e fora do partido que criaremos condições para a formulação e execução de políticas públicas cada vez mais antenadas com as necessidades da nossa juventude.

O Brasil que pensamos para a juventude é um país comprometido com o desenvolvimento articulando, justiça social e investimento geracional. Portanto é necessário o avanço da participação política dos jovens nos conselhos municipais, estaduais, e Nacional de Juventude (Conjuve), nas conferências, no debate legislativo, enfim nos espaços públicos de formulação e execução das políticas para jovens. Caberá também à juventude do PT estimular e fortalecer as candidaturas jovens no pleito de 2012, como também no PED de 2013. O fortalecimento da juventude passa pela ocupação de importantes espaços no PT, no Legislativo e no Executivo.

No 4º Congresso do PT, conseguimos uma vitória com a aprovação da cota de 20% de jovens nas direções partidárias. A abertura desse espaço deve servir para que JPT se torne, efetivamente, a juventude dirigente da consciência das massas juvenis, promovendo ao mesmo tempo uma forte política de interiorização e de municipalização da JPT e de suas ações.

Precisamos conquistar os jovens que ainda não são filiados, mas que fazem a defesa do nosso projeto nas redes sociais, nos bairros, nas escolas, nos povoados em todos os cantos do país, precisamos conquistar os jovens para a política, para a importância de se fazer e de se discutir política. Precisamos urgentemente ampliar a participação política das diversas juventudes brasileiras.

Deve ser prioridade da próxima gestão, fortalecer a organização da JPT em todos os níveis. As secretarias de juventude têm um importante papel de articulação dos militantes jovens, mobilização e diálogo com os jovens dos mais diversos segmentos, e de formação de novos quadros partidários.

Para atingirmos o objetivo de alteração dos eixos da sociedade com compromisso geracional, é necessário reaproximar os jovens da política. E, mais do um instrumento, o PT tem a obrigação de se constituir em uma seara de formulação e formação, que dialogue com a sociedade, com os movimentos, trazendo seus filiados(as) ao centro do processo ideológico, e trate a juventude enquanto agentes da transformação cultural e social do país.

Convictos de nosso papel, convidamos a todos os jovens do PT a marcharem conosco nas trincheiras da Juventude do Partido dos Trabalhadores, venha conosco formar esta Nova Geração Construindo Um Novo Brasil.

Jefferson Lima é secretário de Juventude do PT-SE, e candidato a secretário Nacional da JPT pela Juventude da CNB

A JPT e a revolução democrática

O II Congresso da Juventude do Partido dos Trabalhadores está inserido em um cenário de importantes mudanças globais e em um momento em que a juventude retoma a centralidade para as necessárias transformações. Situamos o congresso nesse contexto, pois acreditamos que ele não deva ser apenas um evento interno do PT, mas um espaço que pode contribuir globalmente com o fortalecimento do partido nesta segunda década do século 21.

De maneira geral, as respostas ultraliberais à crise mundial têm prevalecido nos países centrais. A ausência de alternativas à esquerda reflete o duro golpe sofrido pelos trabalhadores e a desorganização dos partidos socialistas nesses países. Também não seria errado afirmar que a manutenção de um cenário diferente na América do Sul e no Brasil, em particular, está diretamente relacionado à presença do campo democrático e popular, dirigido pelo PT, no governo do nosso país.

Após a terceira vitória consecutiva sobre os conservadoras no país, o PT precisa se revitalizar, reforçando a sua opção pelo socialismo democrático e recompondo laços com a juventude brasileira. Acreditamos que as gerações constroem sua identidade apropriando-se das lutas latentes do período, conduzindo eventos marcantes e constituindo uma memória coletiva. Isto é, formar a geração da revolução democrática exige o fortalecimento cada vez maior dos laços do PT com a luta democrática e socialista.

Em todo o mundo a juventude, mais uma vez, tem demonstrado ser a ponta de lança das grandes lutas contra o capitalismo. No Brasil vivemos ainda uma situação nova. As conquistas vivenciadas nos últimos anos está formando uma geração diferente que está recompondo os sonhos aniquilados pelo neoliberalismo ao mesmo tempo em que constrói uma intervenção mais realista e pragmática. Soma-se a isso o fator demográfico do país, os jovens representam 25% da população brasileira, a juventude adquire uma dimensão estratégica para o PT e para o sucesso do nosso projeto no Brasil.

Fortalecer uma organização partidária que dê conta de dialogar com a juventude brasileira é fundamental nesse contexto. Conquistar definitivamente essa nova geração significa manter vivo o projeto petista por pelo menos mais 30 anos. Por isso, acreditamos que os desafios do II Congresso da JPT não são apenas da juventude petista, mas do conjunto do partido.

Internamente, precisamos cada vez mais de um partido democrático e militante, e de uma juventude mais fortalecida para disputar seus rumos. O 4º Congresso do PT sinalizou com a renovação como necessidade na nossa organização partidária. Não só os 20% de jovens, mas também a decisão de paridade entre homens e mulheres nos espaços de direção caminharam nesse sentido. A formalização, no Estatuto, do entendimento da JPT como instância e a importância de valorizá-la política e materialmente, abre muitas possibilidades para os próximos anos.

Precisamos instituir direções municipais que disseminem as discussões encaminhadas nas instâncias estaduais e nacional e dê vida ativa à nossa juventude. Nessa gestão que se encerra, tivemos bons momentos de mobilização, como a Caravana Nacional nas eleições de 2008 e o Encontro Nacional em 2010. Entretanto, no conjunto das atividades, acumulamos pouco para a construção política da JPT. Para além do modelo organizativo, é preciso pensar uma diretriz política que organize a próxima gestão e faça o diálogo com os estados e municípios.

A JPT, tanto na sua tarefa partidária como na militância cotidiana no movimento social e na esfera institucional, não deve titubear na defesa radical do programa socialista. Isso significa unificar as agendas e construir mobilização popular. O governo Dilma precisa aprofundar as mudanças promovidas nos últimos oito anos. Por exemplo, a inclusão social deve ser combinada com mais distribuição de renda e construção de autonomia. No bojo das Políticas Públicas de Juventude (PPJs), é necessário desenvolver uma Política de Estado, com marcos legais e planejamento, além de reforçar o conjunto de políticas que indiretamente impactam a vida dos/as jovens.

Para a juventude trabalhadora, em específico, o maior dilema é o de conciliar o tempo de trabalho e estudo. É preciso mais políticas públicas que valorizem o direito ao tempo livre e acesso ao lazer e bens culturais para as juventudes. Em paralelo, é necessário fortalecer a agenda do trabalho decente, combatendo mecanismos de precarização e flexibilização das relações de trabalho que afetam duramente a vida dos jovens. Deve ser assegurado o direito ao acesso e permanência na sala de aula, nos Ensinos Médio e Superior, evitando a entrada precoce do/da jovem no mundo do trabalho.

Por fim, é importante formular uma política que conduza a organização de base da JPT, pautada no fortalecimento do processo de formação dos filiados e militantes juvenis e da importância da discussão feminista na nossa juventude. Somado a isso, a juventude deve ser o setor de vanguarda no PT, articulando pautas que dialogam com a dimensão das liberdades individuais: respeito à diversidade como estruturante das relações sociais, luta pela legalização do aborto e autonomia das mulheres. Para isso, é preciso sair do II Congresso com uma campanha pública, que em nossa opinião deve ter o mote dos “Direitos da Juventude”, que cumpra o papel de mobilizar a juventude petista militante e disputar os valores do conjunto da juventude brasileira.

Joanna Paroli é ex-diretora da UNE e militante do partido na Bahia, candidata à secretária Nacional de Juventude do PT pela tese Avante!

O contexto é de transformações

O mundo vivencia um momento especial e a juventude petista não pode se omitir diante de tantas transformações e oportunidades. Insurreições são vistas na África e no Oriente Médio; na Europa novos movimentos antiglobalização e anticapitalistas se consolidam; e nos Estados Unidos pessoas vão às ruas protestar contra Wall Street e o capitalismo financeiro que esta representa.

Na América Latina temos, de um lado, jovens que se rebelam de maneira irreverente contra o governo conservador do chileno Sebastián Piñera e clamam por seus direitos, e, de outro, novas oportunidades advindas do combate intenso à pobreza empreendido por governos de esquerda na última década, que nos permitem lutar por outros direitos e recolocar o socialismo democrático como perspectiva concreta.

Nesse contexto a juventude petista deve ter como tarefa central organizar os mais de 200 mil jovens filiados ao Partido dos Trabalhadores, bem como transformar o sentimento petista presente na sociedade em uma força motriz que tenha capacidade de impulsionar as mudanças que queremos para o nosso país.

Para tal, é preciso que a Juventude do Partido dos Trabalhadores (JPT) tenha clareza de que o partido está à frente de um governo de coalizão e que, apesar da importância da disputa institucional, nossa força real não está nos gabinetes e sim nas ruas. A adaptação do PT à institucionalidade e o seu distanciamento dos movimentos sociais e das lutas diárias da juventude devem ser vistos de maneira crítica. É necessário que o partido se reaproxime desses movimentos e pressione o governo para a esquerda, caso contrário a mídia hegemônica e os setores conservadores que compõem o governo não medirão esforços para conter os avanços que estamos trabalhando para obter.

Por acreditar que o benefício das políticas públicas implementadas pelo governo federal são suficientes para legitimar o PT, nosso partido tem se omitido cada vez mais da disputa de segmentos historicamente excluídos que foram contemplados por esse conjunto de políticas. Tal postura é perigosa, ainda mais se tratando da juventude, que não viveu o cerceamento de direitos e o conservadorismo exacerbado da ditadura, a hiperinflação, o desemprego em massa, a fome e a ausência de perspectiva, e que em geral veem em programas como o Bolsa Família, o Prouni, bem como na ampliação das escolas técnicas e de vagas nas universidades federais, direitos adquiridos.

Depois de quase nove anos de governo do PT, existe um desgaste material de toda essa geração que não viu o governo anterior e só tem como elemento de avaliação o  próprio governo. A visão que esse segmento tem do PT foi forjada por uma mídia que, desde que Lula chegou a Palácio do Planalto, trabalha para manchar nossa história e reduzir a repercussão das transformações que estamos promovendo no país. Imaginem nossa situação em 2014, depois de doze anos de governo do PT?

Sabemos que o PT foi e é um grande instrumento da classe trabalhadora, prova disso é que não conseguimos olhar para os últimos trinta anos da história brasileira e encontrar uma luta do nosso povo na qual o partido não foi protagonista ou ao menos a  encampou. Diante dessa constatação precisamos lutar para que nos próximos trinta anos o PT continue sendo um instrumento de transformação da sociedade. Tal tarefa não é simples.

Para dar conta desse desafio é preciso fazer da JPT uma organização de massas com autonomia política que lhe dê condições para questionar posicionamentos conformistas do partido, bem como alertar para os riscos que determinadas decisões nos colocam. Se nós não cumprirmos essa tarefa histórica o resultado final será não apenas uma derrota eleitoral em 2014, mas a derrota do projeto político que construímos quando o PT foi fundado.

A direita já atentou para a centralidade do jovem na construção de hegemonia política para o próximo período. O DEM colocou um jovem negro da periferia em sua inserção partidária na TV e o PSDB faz uma caravana nacional com os seus jovens,  apresentando um FHC repaginado, como um intelectual moderno que defende a legalização das drogas. Enquanto isso o PT segue vacilante no que se refere à priorização da juventude, prova disso é que mesmo diante dessas grandes tarefas não conseguimos aprovar a autonomia financeira da JPT no 4º Congresso do PT.

A permanência dos mesmos dirigentes na estrutura partidária durante vários anos estagna a visão do PT sobre a sociedade e por isso devemos encampar um processo de renovação de quadros e dessa forma oxigenar o partido. Nesse sentido o 4º Congresso nos abriu uma grande janela com a aprovação de 20% de cotas de jovens nas direções. Cabe às próximas gestões da JPT garantirem formação política para esses que muito em breve serão dirigentes partidários e pressionar para que em 2013 a cota seja cumprida.

Momentos de disputa interna são necessários e denotam o caráter democrático do nosso partido, no entanto não podemos esquecer que nossa disputa real está na sociedade. Precisamos girar nossas forças para travar um debate aprofundado com a juventude brasileira e apresentar um projeto alternativo ao modelo capitalista e neoliberal que a cada dia mais demonstra sua capacidade para a barbárie. Para tanto precisamos enraizar a nossa organização em todos os estados da federação, e garantir que os mais de 1.500 municípios em que recentemente realizamos congressos se tornem direções municipais da JPT com vida ativa e pujante.

Outra tarefa central da juventude petista é modificar a forma de fazer política para torná-la mais atrativa para os jovens. Precisamos investir mais em cultura e nos inspirar nos exemplos dos movimentos feministas, no Movimento dos Sem Terra e tantos outros, que há tempos estabeleceram uma dinâmica interna diferenciada que nos ensina que é possível discutir política de forma dinâmica e agradável. A juventude petista deve transformar novamente o partido em um espaço de convivência, que vá além dos momentos de disputa interna e externa, promovendo debates, festivais, cineclubes e campanhas políticas em todo país.

Não podemos cair no “conto da sereia” em que caíram a maior parte dos partidos social-democratas europeus. Estes equivocadamente acreditaram que seria possível a chegar ao socialismo partir dos governos e do Parlamento, sem a mobilização das massas. O PT nasceu se contrapondo a essa ideia e não pode esquecer seus princípios, se adaptando à sociedade capitalista e promovendo apenas reformas pontuais que não alteram as bases estruturais do sistema. Acreditamos que, apesar dos avanços, não conseguimos transformar em realidade muitas de nossas bandeiras e que nosso partido se aproxima de uma encruzilhada histórica em que experimentaremos os limites da política de conciliação de classes.

Nesse sentido, o II Congresso Nacional da JPT tem papel central não apenas para consolidar nossa organização, mas principalmente para retomar o debate estratégico e provocar o conjunto do partido para debater nossa trajetória e se reposicionar no cenário político nacional e internacional. É importante que, passado o congresso, a direção nacional da JPT referende nossos companheiros dirigentes dos movimentos sociais e do governo, independentemente das forças políticas a que pertençam, e dialogue com as secretarias estaduais como um todo. Só dessa forma poderemos dar uma real contribuição para a construção de um Brasil e de um outro mundo possível.

Tássia Rabelo é militante do Fora da Ordem, candidata à secretária Nacional de Juventude do PT

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