A realização do 2º Congresso da Juventude do Partidos dos Trabalhadores, entre os dias 12 e 15 de novembro, deve apontar caminhos para uma nova organização de juventude e um programa que dispute corações e mentes da juventude brasileira.
No rastro da atual crise capitalista, mobilizações populares e juvenis foram deflagradas em países árabes, na Europa, nos EUA e também em países vizinhos, como o Chile. Em um momento como o atual, em que o capitalismo apresenta toda sua vocação para a barbárie, a juventude do PT precisa agitar bem alto a bandeira do socialismo.
Nossa defesa do socialismo baseia-se na crítica ao capitalismo, aos seus efeitos destruidores sobre a natureza e sobre a humanidade. A destruição ambiental, a barbárie social, as guerras, a incompatibilidade cada vez maior entre o capitalismo e as liberdades democráticas são alguns dos motivos que tornam urgente a luta e a construção do socialismo como alternativa tanto aos grandes problemas da humanidade, como aos grandes dilemas do Brasil.
Alternativa democrática e popular
No Brasil e na América Latina, vivemos um tempo de grandes possibilidades. Partidos de esquerda governam para grande parte da população da região, garantindo mais democracia, igualdade, soberania nacional e integração continental. No Brasil, oito anos de governo Lula e os primeiros meses de governo Dilma vão deixando para trás o neoliberalismo.
Os avanços, no entanto, ainda não se tornaram estruturais, não se converteram em um outro modelo de desenvolvimento. Portanto, é necessário mais partido e mais luta social em defesa de uma plataforma que aprofunde a democratização da sociedade, a partir de uma reforma política e do marco regulatório da comunicação. Por sua vez, a alteração da matriz econômica do país deve viabilizar por meio de uma reforma tributária um fundo público capaz de ampliar o gasto social e a participação do trabalho na distribuição da renda e riqueza.
Um projeto de desenvolvimento democrático e popular deve considerar o processo de incorporação das novas gerações. É preciso criar as condições para formar uma geração capaz de disputar e dar continuidade aos avanços políticos, sociais e econômicos que o país necessita.
Esta é a maior geração de jovens da histórica do Brasil, aproximadamente 50 milhões com 15 a 29 anos, ou pouco mais de 25% da população do país. Tal bônus demográfico é um ativo importantíssimo no desenvolvimento das forças produtivas do país possibilitando, desde que bem aproveitado por ação planejada do Estado, um aumento da produção e da renda per capita, a elevação da capacidade de poupança e de investimento e uma otimização dos gastos sociais demandados pela população dependente.
Nova geração de políticas e direitos
A orientação geral do governo Dilma em trabalhar a erradicação da pobreza extrema como meta fundamental de governo demandará a implementação de políticas públicas de juventude abrangentes e em escala que colaborem na superação do ciclo de reprodução da pobreza que atinge as novas gerações.
Nessa perspectiva, a ampliação da cobertura das políticas sociais deve compreender também uma nova geração de políticas públicas de juventude e a criação de novos direitos sociais. O recorte conceitual que deve organizar estas políticas é o da emancipação dos jovens, passando pela afirmação de novos direitos específicos como ao financiamento público do tempo livre, à experimentação, à redução obrigatória da jornada de trabalho durante os estudos, ao trabalho decente, dentre outros.
Ademais, uma nova abordagem programática da articulação entre o mundo do trabalho e a educação para os jovens também se faz necessária.
Apontar uma inserção social e produtiva da juventude diferenciada da atual passa por enfrentar a situação do trabalho juvenil no país – precoce, precarizado, mal remunerado, com longas jornadas, incompatível com a continuidade dos estudos etc. O desafio passa a ser combinar a criação de postos de trabalho decente para a juventude com o financiamento de programas que integrem políticas de transferência de renda, elevação continuada e qualitativa da escolaridade, tempo livre, formação científica e tecnológica e mobilização em serviços comunitários.
De igual maneira, a política educacional deve dar um salto de qualidade. Além da ampliação do acesso a todas as modalidades de ensino e a erradicação do analfabetismo, será preciso empreender uma restruturação profunda do Ensino Médio em sua articulação com os distintos campos do saber e iniciação científica, na integração com o ensino técnico e profissional e nos seus instrumentos de ensino-aprendizagem, gestão democrática e política pedagógica.
O PT e a juventude
Apesar de ter sempre contado com muitos jovens em suas fileiras, o PT nunca considerou o tema e a organização dos jovens como prioridade. Por vezes, inclusive, relegou a outros partidos da esquerda brasileira a referência do projeto democrático e popular na juventude.
Precisamos superar em nosso partido a visão instrumental que encara os jovens como “tarefeiros” ou apenas como quadros “inexperientes” a serem formados para o futuro. A compreensão do jovem como sujeito político do presente, capaz de participar da renovação do projeto político do partido, permanece como um grande desafio.
São por esses e outros motivos que o PT, mesmo com quase 30% da preferência do eleitorado nacional, tem perdido apoio nas novas gerações. Para grande parte dos jovens, o partido já é visto como igual aos demais partidos tradicionais. A crescente institucionalização, o refluxo do debate ideológico e a ausência de discurso e diálogo com os movimentos juvenis reforçam este estigma.
Na luta política dos próximos anos, a mera estratégia de comparar os governos petistas com os governos tucanos, apesar de importante, não será suficiente. Aos jovens será fundamental que os partidos apresentem uma agenda de conquistas e mudanças para o futuro, já que muitos pela idade não vivenciaram com tanta nitidez o contraste entre um e outro modo de governar.
Nova fase
Do ponto de vista organizativo, a próxima gestão da juventude do PT terá grandes tarefas. A ação municipal deve ser uma das prioridades, sobretudo em uma gestão que coordenará a mobilização dos jovens petistas nas eleições municipais de 2012 e deve consolidar seu novo modelo organizativo desde a base.
Nesse sentido, propomos a realização de um primeiro Encontro Nacional de Secretarias Municipais de Juventude do PT, no primeiro semestre de 2012, para planejar a intervenção da JPT nos próximos dois anos e convocar uma 2ª Caravana Nacional da JPT, a percorrer os estados de todo o país, debatendo o programa de juventude para as eleições.
Outra importante frente de atuação é a dos movimentos juvenis. A JPT deve construir um trabalho setorial nas mais diversas frentes de atuação e participação da juventude. Esses setoriais devem ser espaços mais livres e flexíveis de atuação dos jovens petistas, aglutinando simpatizantes e militantes do movimento juvenil, a exemplo da JN13, coletivos de jovens feministas, de diversidade sexual, meio ambiente, cultural, estudantil, entre outros.
Bruno Elias é coordenador de Relações Internacionais da JPT, candidato a secretário Nacional de Juventude do PT pela tese A Esperança é Vermelha