Felicito a Fundação Perseu Abramo pela edição do importante livro Revolução e Contrarrevolução na Alemanha de Leon Trotsky. Quando o li pela primeira vez, com Introdução e Tradução de Mário Pedrosa, de janeiro de 1933, me impressionei com a agudeza da análise política de Trotsky diante da situação mundial e em particular da Alemanha.
Relançar este livro, agora com Introdução de Dainis Karepovs e Prefácio de Mario Pedrosa, nos fornece elementos importantes para analisar a presente situação mundial e brasileira. Dainis ressalta o relevante trabalho de Mário Pedrosa em traduzir e organizar esta obra em sua primeira edição e este, em seu Prefácio, ressalta a clara ligação entre os artigos que compõem o livro de Trotsky.
Hoje muito se fala sobre o crescimento da extrema direita fascista no mundo, mas o que de fato acontece? A meu ver o povo anda desiludido com os governos que se alinham às políticas neoliberais, de privatizações e austeridades, e, sem perspectivas, abraçam os que se apresentam como governos com propostas fortes, autoritárias.
A financeirização é a nova cara do capitalismo, com o domínio total do capital financeiro. Nessa fase cada vez mais o capital se apoia em governos autoritários, protofascistas. Na mesma medida cada vez mais a defesa da democracia, com o fortalecimento da participação popular, se coloca como antídoto ao fascismo, ao autoritarismo. Mas, plagiando o texto, não se trata de “salvar o capitalismo” tornando-o mais civilizado e mais brando, mas de como salvar a humanidade do capitalismo. A defesa da democracia participativa deve ser só o começo.
Hoje os partidos tradicionais, que se constituíram a partir da Segunda e da Terceira Internacional não tem mais a relevância do passado. A social-democracia europeia se fragilizou na medida em que adotou como prática de governo o neoliberalismo, frustrando as expectativas populares. Os partidos comunistas, desde o fim da União Soviética, definharam e perderam espaço. Os partidos políticos ou organizações que se reivindicam da esquerda, nem todos eles se reivindicam do marxismo e, em geral, apresentam programas “rebaixados”. Então fica evidente que o nosso caminho será longo e de muita construção.
A presente obra nos indica um caminho: a construção de uma frente única de partidos e organizações de esquerda. As recentes experiências de Portugal e Espanha precisam ser por nós analisadas, como a Frente Amplia do Uruguai. A França está diante dessa possibilidade, a construção do NUPES (Nova União Popular Ecológica e Social) é um ensaio para, quem sabe, se realize a frente de esquerda nas próximas eleições presidenciais.
A experiência recente do nosso partido em construir uma Federação com o PV e o PCdoB tem que ser estendida na busca de uma frente com a Federação PSOL/Rede, o PDT e o PSB. Não é simples, são muitas as contradições, mas é uma necessidade.
A importantíssima vitória do Lula nas últimas eleições precisa estar sintonizada com esta perspectiva. O nosso governo precisa dar certo, com aprofundamento da democracia participativa, com amplo diálogo com a população, mas buscando fortalecer o polo político e social que avance na perspectiva da consolidação de uma frente de esquerda de partidos e organizações sociais. Isso só é possível ser colocarmos em prática nosso programa antineoliberal e de atendimento das demandas de nosso povo.
Aprender com as experiências do passado, mas ancorados na “análise concreta de situações concretas” é um desafio para todos nós. A FPA tem um papel fundamental na contribuição que pode dar ao nosso partido para que possamos trilhar os melhores caminhos na busca de alcançarmos os objetivos, por nós definidos desde a nossa construção: a transformação do nosso país, a retomada da luta pela construção do socialismo democrático no Brasil e no mundo.
Arlete Sampaio foi deputada distrital e vice-governadora do Distrito Federal, integrou o Conselho Curador da FPA