EM DEBATE

Até o início da década de 70, o movimento socialista no mundo cultivava a imagem do militante quase como a de um super-homem. Abnegado, totalmente dedicado à causa, disciplinado, este ser secundarizava completamente sua vida pessoal (quando não abria mão totalmente dela) em função de um ideal mais amplo: a vitória da revolução, que abriria o caminho para a emancipação da humanidade. Não é à-toa que os grandes heróis cultuados eram homens como Che Guevara, o argentino que fez a revolução em Cuba, vitorioso, foi ministro da Economia e depois voltou à luta (quando poderia ter gozado de uma paradisíaca aposentadoria nas praias do Caribe pelo resto de seus dias), indo lutar no Congo e morrer na Bolívia. Tudo autenticamente pela revolução mundial!

Com a crise mais ampla do movimento e do pensamento socialistas e as novas relações sociais e culturais predominantes no fim de século, este paradigma de militante caiu em desuso, sobrevivendo apenas quase que caricaturalmente em pequenos grupos de extrema-esquerda.

O antípoda deste modelo de militante revolucionário é o do burocrata acomodado dos sindicatos e partidos mais envelhecidos, ainda que socialistas. Encarando tudo como uma função dentro de uma carreira profissional, este está mais interessado em receber, ao fim do mês, seu salário do partido ou sindicato e, no fundo, já nem se lembra mais direito dos motivos últimos pelos quais se luta...

Haverá uma alternativa para a militância hoje além destes dois modelos? Como combinar a subjetividade do indivíduo com as necessidades de um coletivo mais amplo? Como articular liberdade e disciplina neste novo contexto de final de século na luta socialista?

T&D promove neste número um debate sobre a militância socialista no final do século com textos elaborados por dois antigos (embora não velhos) militantes da esquerda no Brasil.

Em busca da militância perdida

Metamorfoses na militância

Em busca da militância perdida

 

O problema da militância, num mundo marcado pelo aparente triunfo definitivo do capitalismo e derrota do socialismo, merece ser tratado de forma menos aligeirada pelos que ainda acreditam na possibilidade da ação política, no milagre da intervenção generosa do homem em busca de novos patamares de existência, contrapostos aos que hoje desumanizam a Terra. A euforia capitalista confere sustentação ao crescimento de um feroz individualismo, tendente a desconsiderar quaisquer proposições que valorizem o coletivo ou, dito de outra forma, que vejam o indivíduo como parte de um todo complexo e do qual ele depende para se realizar como humano.(1)Unknown Object

Não se desconheça que o espaço da militância tradicional se reduziu face, entre outros aspectos, às profundas mudanças políticas dos anos recentes, cujo marco mais reluzente é a queda do Muro de Berlim, em 1989, embora os fundamentos de tais mudanças possam ser encontrados muito antes, mais exatamente a partir das alterações ocorridas na base produtiva com a revolução científica e tecnológica, que deslancha já no final dos anos 70. O fenômeno de uma intensa globalização da economia modificou muito a noção de Estado herdada da revolução burguesa, obrigando todos a repensar a atividade política, hoje sob a mão de ferro da economia. (2)Unknown Object

A impressionante explosão dos meios de comunicação de massa nos últimos anos e sua imbricação com a informática, transformando tudo em redes telemáticas, por intermédio das quais o homem contemporâneo passa a se comunicar com o outro pela tela - diretamente, teclando, ou assistindo - modificou profundamente os padrões de sociabilidade, diminuindo muito o peso das ruas, das assembléias, dificultando a mobilização direta(3)Unknown Object. Se se considera, ainda, o fato de que o desenvolvimento econômico hoje, ao invés de concentrar trabalhadores, dispersa-os, deixando-nos distantes do proletariado concentrado em grandes unidades, tem-se um cenário nada favorável ao desenvolvimento e crescimento da militância.

Esse cenário, em seu conjunto, implodiu a fórmula clássica de partido, sem que se tenha encontrado, ainda, uma outra que a substitua de modo inteiramente apropriado. Os meios de comunicação, em especial os televisivos, denominados aqui e acolá, com mais ou menos propriedade, de partidos eletrônicos(4),Unknown Object exercem a função, mais que tudo, de provocar a aclamação da agenda dominante, não sendo, claro, instrumentos de transformações, senão daquelas requeridas pelo modo de produção capitalista, das permanentes mutações de suas mercadorias, de obsolescências cada vez mais curtas e mais planejadas. Afirma-se isso com o propósito de fixar o que é essencial, dominante, em relação ao papel desses meios. Não se pretende, no entanto, reduzi-los a tal papel. É evidente que sentidos diversos dos da agenda dominante são veiculados por eles, tanto como decorrência do fato de lidarem com uma mercadoria muito explosiva, a notícia, como porque não podem simplesmente ignorar a presença dos de baixo, da esfera pública plebéia, sobretudo quando esta se mostra ativa.<--break->

Tais meios conflitam, até certo ponto, inclusive com os partidos da ordem, pois, de alguma forma, lhes são roubadas algumas prerrogativas de representação. Muitas vezes, o partido eletrônico, positiva ou negativamente, se antecipa aos partidos e ao Parlamento, assumindo-se como porta-voz de demandas antes da competência estrita da esfera política. Os partidos clássicos ocidentais estão em xeque, e tanto mais quando o neoliberalismo superestima e deifica o mundo das trocas - o mercado, oligopolizado evidentemente - e condena ao mínimo o Estado, ao menos momentaneamente, enfraquecendo a política.

É em meio a essa moldura que se assiste à decadência, quando não ao fim, de um tipo especial de militante, aquele em torno do qual Hobsbawm(5) disse que, sem ele, a história do século XX poderia ser outra.Unknown Object Ele tem origem, grosso modo, em Lenin e seu partido centralizado, extremamente disciplinado, unido em torno de um programa e de algumas máximas simplificadas(6).Unknown Object Sem a pretensão de provocar polêmicas estéreis, arrisco-me a dizer que esse extraordinário militante, nascido em meio à preparação da Revolução Russa de 1917, esteve muito mais próximo da religião do que imaginava, sem que se dê a ela qualificativo de laica.

Naquele militante vivia não só o ente racional, herdeiro das Luzes Francesas, da Filosofia Alemã, da Economia Política Inglesa. Ali convivia um outro, positivamente quem sabe, o crente, o difusor de um novo e distante mundo, de um paraíso sem formato nítido, de uma terra de homens felizes, de um tempo de harmonia, e só não digo sem pecado para não exagerar na comparação e comprar brigas gratuitas. Digo mais: talvez predominasse mais o homem religioso, esse estranho ser que renegava Deus sendo praticante de um tipo especial de religião, do que o partidário do socialismo científico. Digo tudo isso não para tentar encontrar qualquer essência religiosa em todo homem - não sendo crente, não me considero competente para realizar essa discussão -, mas para buscar as razões que levaram esse militante a ser o que foi.

Ele era, antes de tudo, o soldado de uma causa, o homem do partido, pretensamente o protótipo do homem novo. Extremamente ideologizado, sempre dava razão ao partido ou, no mais das vezes, ao homem que o encamasse - Lenin, Stalin, Mao, Prestes, Togliatti, tantos outros. O espírito polêmico, contraditório, universalista, libertário de Marx submergia sob o peso da ideologia da Organização ou do homem que se pretendia a encarnação do espírito da razão revolucionária que, naturalmente, não podia errar.

Este homem, herdeiro, para pensar mais remotamente, da intrepidez do assalto aos céus dos combatentes da Comuna de Paris ou das barricadas européias de meados do século XIX, e mais próximo de nós, de Sierra Maestra, de Fidel, de Guevara, ou do Vietnã, de Ho Chi Minh, só podia ser o que foi, defendesse a via pacífica ou armada, se movido por uma certeza: o futuro não reservava surpresas, não importavam as dificuldades do presente. Talvez por isso tenha se desenvolvido, ou sido aceito, o princípio de que o fim - a revolução, a nova sociedade - justificava os meios, quaisquer que fossem. Com esta concepção ele foi educado para o sacrifício, não só para aquele específico que circunstâncias históricas inevitavelmente exigem e que a luta suscita, mas para outro, que podia implicar a aceitação passiva de sua morte.

<--break->Morte, aqui, pode ser entendida tanto literalmente quanto no plano simbólico, uma e outra ligadas parcialmente ao auto-sacrifício. São variados os testemunhos que dão conta da aceitação passiva de fuzilamento sob Stalin, o nº1, porque, acreditava-se, ele não podia errar. O suicídio foi outro caminho para muitos dos que se viram renegados pelo partido na URSS stalinista. "Para que viver se o partido nos recusa o direito de servir?"(6)Unknown Object. Menos conhecidas, porque não tão trágicas, são as mortes em vida, como a daquele militante que, sem meios, coragem ou clareza política para mudar o curso dogmático e autoritário da Organização, refugia-se em sua dor solitária, muitas vezes no pretenso universo da não-política, da inação, que lhe retira o élan vital, o brilho nos olhos, a alegria de viver. Não nos ocuparemos aqui dos que ressuscitam do outro lado, dos que descobrem as delícias e facilidades do poder conservador, dos que, tardiamente ou não, revelam-se insuspeitados liberais, dado o objetivo do nosso texto, voltado para a compreensão do fenômeno do tradicional militante de esquerda do século XX e seu ocaso neste final de milênio.

Focou-se assim, no interior de partidos quase militarizados, e tanto por circunstâncias históricas adversas quanto por um modelo que se copiava rigidamente, uma espécie de homem de aço. Determinado, capaz de a tudo suportar, de não se incomodar com o sofrimento, de jogar todas as suas fichas no futuro, de se imolar em favor do porvir, de sufocar a individualidade - seus gostos, seus prazeres, seus amores, seu tempo livre, tudo - em nome de um coletivo construído teoricamente pelo partido. Que classifica como pequeno-burguês ou burguês tudo aquilo que não seja capaz de se dissolver no universo da coletividade.

Claro que estamos falando de um modelo ou, quem sabe, de um mito, que pode ser, e era, exemplificado num Lenin, numa Rosa Luxemburgo, num Stalin - este, por mais que estranhemos hoje, já foi o guia genial dos povos. Mas era atrás desse mito que se corria. Não seguir os passos dele era pecado mortal. Mirando-o, era possível ser um bom militante: humilde, disciplinado, ousado para levar adiante as tarefas que lhe eram confiadas, capaz de guardar para si as feridas internas da Organização.

Nesse militante conviviam tanto o lado sacrifical quanto uma perspectiva heróica, que eram irmãos siameses. A Revolução Russa, uma revolução contra O Capital, no dizer de Gramsci, pelo fato de ser feita num país de precário desenvolvimento das forças produtivas, deu ênfase à noção de que os homens é que fazem a história e estimulou uma visão profundamente voluntarista no sentido de conferir à vontade dos homens um extraordinário poder demiúrgico.

Marx, quando disse que os homens fazem a sua história, acrescentou que eles faziam-na sob determinadas circunstâncias(7)Unknown Object. A Revolução Russa só na aparência é resultado da vontade e determinação exclusivas dos revolucionários profissionais dirigidos por Lenin. Na verdade, a principal virtude deles foi a de ter aproveitado as circunstâncias favoráveis que se lhes eram oferecidas. Pode-se dizer que desde 1905 aquela era a crônica de uma revolução anunciada. Lenin, com seu gênio de político, soube compreender a oportunidade que se punha à sua frente e não deixou passá-la.

Tais considerações teóricas, no entanto, seriam absolutamente inoportunas para a necessidade que se tinha de um tipo de militante que visse em si mesmo, sem qualquer dúvida, o agente da história que, de alguma forma, ele acabou sendo neste século XX, o militante capaz do heroísmo extremado de dar a própria vida em nome da causa justa. Não se pretende, obviamente, desdenhar do inegável heroísmo dos revolucionários, da dignidade que milhares deles tiveram diante dos carrascos e torturadores de todo o mundo. Apenas se tenta traçar um perfil deste homem de aço que se tentou formar ao longo deste século, este homem capaz de colocar a história a seus pés, ou ao menos que cultivava tal pretensão.

O partido de revolucionários profissionais, nascido, da experiência da Rússia czarista, gestou uma burocracia autocrática e capaz de todos os golpes e horrores para se manter no poder. Registro que me refiro, nem que de passagem, à Rússia dos Czares, o faço com pretensão de deixar assinalada a existência de uma sólida base cultural e política para o autoritarismo, fortemente entranhado na sociedade russa. Stalin foi apenas o lado mais trágico e paroxístico desse modelo de partido. Antes que ele surgisse com sua face violenta e totalitária, Rosa Luxemburgo já alertara os bolcheviques, Lenin à frente, para os perigos da exclusão do pensamento divergente. Isso em 1918, sem que lhe dessem ouvidos(9)Unknown Object . Nos demais partidos de extração leninista, essa burocracia não fez por menos. Reproduzia-se no poder da máquina partidária à custa de golpes, autoritarismo, exclusões, anátemas. A massa de militantes, cujo senso crítico era pouco desenvolvido e nunca estimulado, em geral seguia os dirigentes sempre na perspectiva de que era melhor "errar com o partido do que acertar sem ele" e o partido, naturalmente, eram os burocratas que se encastelavam no poder. E esse burocrata afastava-se da realidade política e social que o cercava, e o seu mundo era apenas a Organização, a cujo poder ele se agarrava sob quaisquer argumentos. Há, assim, um modelo que gera tanto o burocrata dirigente como uma massa de militantes que o segue sem muita discussão.

Este militante, este revolucionário profissional, está a caminho da extinção neste fim de século. A rigor, os que sobrevivem são fantasmas dele, que ainda perambulam pelas ruas a acreditar na possibilidade da manutenção daquele modelo. Às vezes grita, dá ordem unida, recorre a uma espécie de disciplina avessa à política. Pensa ainda numa organização leninista ou, no limite extremo, stalinista. Imagina-se numa época que já passou. Saudoso, quer as massas na rua, o partido a guiá-las. E elas, insubmissas, não o obedecem. Quando o fazem, é por conta própria.<--break->

Seria pouco consequente, no entanto, fazer tábula rasa daquele militante. Sua dedicação à política, por caminhos ásperos e tortuosos, não pode ser esquecida. A política, ontem e hoje, só pode ser feita se contar com o ingrediente da paixão. Mas, para pensar o já de por si problemático conceito de vanguarda política que a existência do partido pressupõe, é essencial repensar a militância. Evidente que não dá para pensar a política, a esfera da vida pública, sem luta, sem conflitos. O militante de hoje terá, assim, que ter a coragem, como os gregos, de se lançar na vida política, correr os seus riscos - estes existirão sempre, salvo se acreditarmos na ficção do fim da história(10)Unknown Object. A opção pela política, no entanto, não pode mais significar um esmagamento da individualidade, mas a sua afirmação. O indivíduo pode realizar-se no território do público, contribuindo para transformá-lo.

Parece não haver mais espaço para se reclamar a existência de homens de aço, de militantes portadores da crença de que, ao lado de uma pequena minoria, fazem a história. Não há mais espaço para cobrar sacrifícios. O que se acredita possível é a continuidade da ação política visando a modificação do mundo para melhor. Este novo militante certamente não tem as certezas do homem de aço. Não pode ter tanta convicção quanto ao futuro, pois o final do século demonstrou o quanto as indiscutíveis verdades de ontem eram discutíveis e frágeis. Sabe que o que há à frente são alternativas e não um inevitável porto paradisíaco a esperá-lo.

Felizmente, esse novo militante não crê mais cegamente em seus líderes, estabelecendo com eles um diálogo permanente, quando não até o confronto aberto. Sabe que terá que descobrir novos caminhos de mobilização, que seu partido não poderá mais insistir simplesmente em colocar o povo nas ruas. A sociedade da televivência - com a expansão não só da televisão como das rodovias de informação - suscita novos problemas para a política e para seus novos militantes, que ensinarão os velhos a transitar politicamente nesses meios, o que ainda não está claro. A conexão da guerrilha de Chiapas, no México, com a Internet, por meio da qual o movimento, com o subcomandante Marcos à frente, enviava suas mensagens políticas para o mundo, é um indício do que pode e deve ser feito com os novos meios no exercício da política na contemporaneidade.

Estamos falando do militante em geral, sequer nos arriscamos a tratar do partido de novo tipo que deve surgir das novas circunstâncias mundiais e locais. Imagina-se a existência de uma consciência a respeito da inadequação das velhas fórmulas partidárias à situação atual. Pode-se argumentar que a repulsa à política é estimulada pelos meios de comunicação, mas isso é só parcialmente verdadeiro e não modifica um cenário bastante desfavorável aos partidos. Se deixarmos de lado o Oriente e o fundamentalismo, essa crise dos partidos no Ocidente é mais ou menos generalizada.

A emergência de uma sociedade civil densa e plural, que vai se tornando um pressuposto da vida democrática nas sociedades ocidentais, coloca em xeque a pretensão partidária de representar todos os anseios e demandas sociais. No mínimo, os partidos deveriam perguntar-se por que as ações militantes mais radicais nos dias que correm são as desenvolvidas pelos movimentos ecológicos, como o Greenpeace, organizações bastante heterodoxas para os padrões partidários usuais. Ou por militantes preocupados com um adequado atendimento aos aidéticos, por exemplo. Isso revela que há um militante novo procurando o seu habitat. A mobilização promovida no Brasil por um Betinho, sujeita naturalmente a muitas discussões no que se refere à campanha contra a fome, mas positivamente muito ampla, indica o potencial de um novo tipo de militante, submetido não à disciplina da Organização clássica, mas a uma específica idéia mobilizadora, capaz de aqui e agora mitigar a fome dos miseráveis. Se isso é possível ou não, é outra história. O que se discute aqui é a emergência de um novo tipo de agente político.

Não há como desconhecer, ainda, a militância de milhares de pessoas nas organizações não-governamentais. Mesmo que surjam aqui e acolá sérios questionamentos sobre o papel que elas desempenham, especialmente na América Latina(11)Unknown Object não há dúvida de que há homens e mulheres, nessas organizações, empenhados em modificar o cenário de pobreza e miséria em que vive um gigantesco contingente da humanidade.<--break->

É preciso ter olhos para ver esse novo militante que surge. Só com os olhos abertos, com uma visão muito ampla, avessa a dogmatismos, a fórmulas prontas, é que os partidos de esquerda poderão também tê-lo em suas fileiras. Ou, o que é essencial nesses tempos plurais que vivemos, saber dialogar e atuar conjuntamente com essa nova militância sem necessariamente tê-la no interior do ou dos partidos. A militância de esquerda, pensada aqui de modo bastante amplo, não está mais circunscrita aos partidos, como já se disse. Estes precisam reencontrar-se, redefinir seus programas de acordo com as novas realidades mundial e local, repensar inteiramente o conceito de revolução nascido em 1917 e, com ele, o de uma organização centralizada e autoritária que dali emergiu. Se não o fizerem - e este texto não pretende dar conta da complexidade da formulação teórica em torno de novo partido (na verdade, partidos, já que se descarta por completo a visão do partido único, também uma ideia nascida a partir da experiência bolchevique) - então correm o risco não só de dividir os novos militantes com outras instâncias organizativas, o que é natural, como até mesmo experimentar um esvaziamento significativo, que hoje já não é pequeno.

Nada de saudosismos, de saudades de um tempo que não volta mais. O desafio, para os partidos, é o de, a partir de uma profunda reformulação programática e organizativa, oferecer aos novos militantes a redescoberta da aventura inigualável da política, a alegria de transformar o mundo em um território mais justo para todos em meio à sociedade informacional, que já está aí com suas ilimitadas possibilidades e seus extraordinários problemas. Aproveitar as potencialidades dessa nova realidade só será possível se houver entes políticos dispostos a tanto, sobretudo se por isso se entender trazer para dentro aqueles que estão sendo excluídos numa proporção cada vez mais assustadora. Só a reinvenção da política, só a redescoberta da paixão política, só a generosidade de uma nova militância pode assegurar que tal sociedade possa também significar um passo adiante na melhoria das condições de existência das maiorias e, quem sabe, criar aí, no interior dela, a base político-cultural de sua própria superação.

Emiliano José é jornalista, professor da Faculdade de Comunicação da UFBA, um dos autores de Lamarca - O Capitão da Guerrilha e militante político.

Notas

1. A este respeito ver Hobsbawm, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, pg. 24.

2.Artigo de Renato Janine Ribeiro capta com impressionante acuidade esta realidade (Folha de S. Paulo, "Mais!", 15/10/95).

3.Esses novos padrões de sociabilidade são analisados em Rubim, Antônio Albino Canelas. "Sociabilidade, comunicação e política contemporâneas: sugestões para uma alternativa teórica." Textos de Cultura e Comunicação, Salvador, nº 27, pgs. 3-23, 1992.

4.Rocha Filho, Aloísio da Franca. "O espaço público eletrônico na transição e na democracia". Textos de Cultura e Comunicação, Salvador, nº 27 pgs.24-41, 1992.

5. Hobsbawm, obra citada, pgs.78-84.

6. A este respeito, a literatura é vasta. Recordo, no entanto, como referência básica o clássico O que fazer?, de Lenin, como ponto de partida para a compreensão deste partido de vanguarda, que marcou de modo impressionante o breve século XX. (ver Obras Escolhidas, vol. 1. São Paulo: Editora Alfa Ômega, pgs. 79-214)

7. Aqui a remissão é ao livro de Vietor Serge (Memórias de um Revolucionário. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, pg.224).

8. Conferir Marx, Karl. O 18 Brumário. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974, pg. 17.

9. "O socialismo, por sua própria natureza, não pode ser ditado, introduzido pelo comando (...) (Lenin), está completamente equivocado nos meios que emprega: decretos, o poder ditatorial do supervisor da fábrica (...), o governo através do terror. (...) Na realidade, o poder é executado por uma dúzia de mentes destacadas, enquanto a elite da classe trabalhadora é ocasionalmente convidada para as reuniões a fim de aplaudir os discursos dos líderes e aprovar por unanimidade as resoluções propostas. (...) A liberdade é sempre a daquele que pensa diferente". (ver Ettinger, Elzbieta. Rosa Luxemburgo: uma vida. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor, 1989, pg.243).

10. Hannah, Arendt, no seu A condição humana (Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993, pg. 45) considera a virtude da coragem como uma das atitudes políticas mais elementares. Sobre o fim da história ver Anderson, Perry. O fim da história de Hegel a Fukuyama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1992.

11. James Petras (Ensaios contra a ordem. São Paulo, 1995) tece ácidas críticas às ONGs, dando-as como ajustadas perfeitamente aos interesses dos ajustes neoliberais, como as meninas dos olhos do Banco Mundial. Ver especialmente as páginas 229-232.

Metamorfoses na militância

A militância vem sendo muito questionada. É visível, entre os socialistas, o ceticismo de parte dos ativistas quanto à efetividade de formas de engajamento prático antes dominantes. Há um sentimento de que muitas delas são inadequadas ou erradas. A militância é um tema central para a esquerda que adentra o novo século.

Sempre existiu e existirá o engajamento voluntário em uma causa ou luta, visando mudar as relações de poder. Essa atividade recebe o nome de política e vem sendo debatida desde os gregos. Porém, o que discutimos aqui é a atividade política voltada para realizar uma transformação profunda no mundo, partindo de um compromisso com a emancipação humana, orientando-se para o combate à exploração e à opressão, à injustiça e à violência.

A militância socialista tem três dimensões, que nem sempre se relacionam harmonicamente. A primeira é a atividade de negação do sistema, de rejeição da sociedade capitalista. A atuação socialista representa uma inserção contraditória na sociedade, conflituosa com a ordem burguesa, já que visa a sua subversão. A negação da ordem é decisiva para evitar o risco da integração e da cooptação.

Em segundo lugar, esta atividade tem que ser eficaz na construção de outro regime social, superior pelos critérios que defendemos. Isso remete à organização da prática socialista a partir do que, simplificadamente, chamaríamos de racionalidade instrumental, da eficiência no trato com as relações sociais e de poder estabelecidas. Quaisquer que sejam os perigos que nos espreitam na dialética entre meios e fins, temos que buscar a eficácia prática na afirmação de uma alternativa global, se queremos evitar o risco do isolamento.

A militância também tem uma terceira dimensão, a práxis. "Atividade livre, universal, criativa e autocriativa, por meio da qual o homem cria (faz, produz) e transforma (conforma) seu mundo humano e histórico e a si mesmo" (segundo o Dicionário do Pensamento Marxista), a práxis remete aos objetivos mais nobres e libertários do projeto socialista. Atividade consciente que permitiria aos seres humanos se assenhorearem do controle de seu próprio destino, a práxis eliminaria as causas sociais das injustiças e sofrimentos e possibilitaria o pleno desenvolvimento das potencialidades humanas. Esta compreensão foi enriquecida, nas últimas décadas, por movimentos que procuram alterar as relações de poder de gênero, raça e opção sexual.

<--break->A combinação destas três dimensões da militância é variada. Porém, em todos os casos contribui para moldar identidades pessoais, articulando-se com outros papéis sociais, definindo os estilos e os compromissos de vida dos ativistas de esquerda. Estas dimensões variaram conforme os modelos de ação revolucionária adotados e as conjunturas: do militantismo exacerbado das situações de crise à atuação quase rotineira nos momentos de calmaria.

Tendo estes parâmetros, quero tratar de quatro desafios da militância socialista hoje.

Expressões das lutas sociais

A esquerda nasceu vinculada à luta de setores sociais excluídos do poder: pequenos proprietários rurais na Revolução Inglesa, pobres da cidade na Revolução Francesa, assalariados explorados pelo capital no século XIX. Foi como expressão das aspirações dos assalariados que o socialismo se desenvolveu. Foi a partir da idéia de que o proletariado seria uma classe universal e poderia unificar ao redor de si o conjunto dos explorados e oprimidos que o socialismo se constituiu num grande movimento político.

A militância socialista está, assim, estreitamente vinculada ao movimento dos explorados e oprimidos na defesa de seus interesses. É como atividade prática, fruto da mobilização e conscientização de amplas parcelas da população, que a atividade militante se expande. Ela é parte do aprendizado político de classes e setores que pretendem mudar sua situação na sociedade, dos operários às mulheres, dos negros aos camponeses.

Não podemos, à luz do debate contemporâneo, sustentar a existência de uma classe social universal, destinada a fazer a revolução em uma história dotada de sentido imanente. Além disso, o atual aumento da heterogeneidade do proletariado torna a unificação de seus interesses mais difícil. Os dois aspectos reforçam a importância de outros setores na luta socialista, mas sem a mobilização da maioria dos assalariados não podemos visualizar avanços decisivos na direção de algo que possa ser chamado de socialismo.

Porém, no atual contexto de crise do imaginário socialista, o movimento vivo de todos os setores capazes de desenvolverem lutas radicais contra o sistema constitui uma bússola insubstituível para a revitalização da esquerda. As energias aí gestadas alimentam o caráter contestador não apenas destes movimentos, mas também dos projetos políticos que buscam expressá-los e dar-lhes uma dimensão globalizadora, constituindo-se no contrapeso mais efetivo às tendências integradoras da democracia liberal e da economia de mercado.

A resistência ao neoliberalismo estabelece disputas em torno de questões de sociedade, em geral vinculadas à universalização das condições para o exercício da cidadania. Elas abarcam trabalhadores, mulheres, negros, jovens, sem-terra, homossexuais, aposentados, ecologistas, grupos de defesa dos direitos humanos e do consumidor e vinculados à luta antimanicomial. A esquerda necessita ter uma relação não-instrumental com estes setores, buscando incorporar suas perspectivas em um movimento e uma visão política de oposição ao capitalismo, desdobrando-as em ação partidária, solidariedade entre os vários movimentos e intervenção institucional.

Esta é a militância que tende a fornecer a energia crítica e o impulso radical decisivos para o questionamento da sociedade atual e a construção de uma alternativa estratégica socialista nos anos vindouros.

Atividade partidária

Os movimentos dos excluídos ou subordinados não ganha por si só um caráter anti-sistema, isto é, não leva à formulação de uma alternativa global de organização social, fora da luta pelo poder político.

A instituição pela qual os grupos sociais intervieram na esfera política e disputaram, nos últimos séculos, projetos parciais ou globais, recebeu o nome de partido. No cerne da disputa de poder na sociedade esteve a ação da militância de partidos políticos.

Há diferentes formas de poder e esferas do seu exercício, que se alteram e entrecruzam. As relações entre Estado, economia e ideologia se modificaram na história do capitalismo. Hoje, o poder da mídia cresce e a disputa de idéias na sociedade torna-se mais importante; a disputa política tem agora que ser travada com muito mais peso em marcos continentais e mundiais. Mas se a sociedade se torna mais complexa, isso aumenta e não diminui o papel objetivo da política. As mudanças nas relações do Estado com a mídia e a economia não vão no sentido de esvaziá-lo de seu papel na articulação das formações sociais e sim no de esvaziar os já limitados mecanismos de controle da sociedade sobre o pessoal dirigente do Estado.

A ruptura das relações de poder estabelecidas e a constituição de novas continua passando pela luta política, cuja catalização permanece função dos partidos e de sua militância.

<--break->Um parênteses sobre Lenin

Aqui cabe um parênteses sobre Lenin, que surge em qualquer debate sobre o tema. Ele está atualmente com muito má fama, apontado como pai do stalinismo ou mesmo como um pensador totalitário.

Mas quais são os traços distintivos da visão de ação política de Lenin face à tradição socialista anterior? Primeiro, o reconhecimento efetivo da autonomia e especificidade da esfera política. No centro de sua concepção estão idéias como as de acontecimento político, da necessidade de uma estratégia, de acumulação de forças na luta para disputar o poder e de atualidade da revolução. Segundo, que o partido deve ser claramente delimitado da classe, que a atividade política não decorre naturalmente da atividade social ou econômica.

A idéia da delimitação entre classe e partido é democrática e não totalitária. Ela não é clara em Marx ou Rosa Luxemburgo. Como poderiam os trabalhadores (ou os oprimidos) terem diferentes partidos, igualmente legítimos, sem que esta distinção se estabeleça? Como poderíamos, de outra forma, construir um bloco de forças sociais heterogêneas ao redor de um projeto revolucionário sem que nenhuma destas forças fosse intrinsecamente revolucionária?

Retomo esse tema não para idealizar Lenin, nem para minimizar os limites da visão de mundo que organizou sua leitura do marxismo, nem tampouco para secundarizar o papel que a substituição da atividade da classe trabalhadora pela ação do partido, depois de 1917, teve na burocratização da URSS e na formação do stalinismo, inclusive quando o próprio Lenin esteve à frente do poder. Retomo para destacar uma problemática, introduzida no pensamento socialista por Lenin, com a qual nossos objetivos emancipadores não podem ter uma relação fácil, sem contradições, mas da qual também não podemos fugir. Afinal, a crueza com que ele lidou com as dimensões da política como luta pelo poder só encontra paralelo nas reflexões de Maquiavel.

Todo partido socialista que almeja o poder - rechaçando o espontaneísmo, de um lado, e não reduzindo sua atividade à respeitosa atuação parlamentar, de outro - está se movendo num espaço onde a ação tem que levar em conta a lógica própria da esfera política. Lidar com a necessária unilateralidade da eficácia instrumental aí presente faz parte da luta pela mudança das relações de poder na nossa sociedade. As situações ideais de comunicação apontadas por Habermas, onde um interlocutor respeita o outro e o que vale são os argumentos levantados, não é um modelo para explicar o que se passa no mundo real da política; aí, infelizmente, estamos no universo instaurado pelas reflexões de Lenin, com todos os riscos que isso implica.

Se a obra de Lenin tem um alcance mais geral não é, pois, porque fornece um modelo de partido (qual? o legal e massivo ou o clandestino e conspirativo?) ou um modelo de militante (qual? o revolucionário profissional ou o tribuno do povo?). É por isso que a sua obra foi apropriada por doutrinas tão diferentes, da mesma forma que proliferaram diferentes marxismos. A forma como Lenin é normalmente invocado na discussão sobre partido e militância mais confunde que esclarece.

As questões que definem o sentido da militância partidária são muito concretas: a ação política se restringe ao parlamento ou tem aí o seu centro de gravidade? ou, pelo contrário, o centro de uma política transformadora está fora daí? O militante de um partido deve defender suas posições em um sindicato ou movimento? caso derrotado, deve respeitar as decisões democráticas destas entidades? A atuação dos dirigentes de um partido socialista deve ser submetida ao controle do conjunto dos membros do partido? Deve existir solidariedade coletiva no encaminhamento das decisões democráticas tomadas por um partido? As fronteiras que separam um partido dos demais e da sociedade devem ser abolidas?

São respostas a essas e outras questões que o PT debate desde sua formação, que delimitam um partido como uma instituição onde a militância tem sentido enquanto adesão a um programa e a um projeto político.

Livre expressão da subjetividade

Os modelos de militância que marcaram os setores mais radicais da esquerda no século XX se esgotaram. Eram figuras como o bolchevique, o agitador anarquista, o guerrilheiro (à imagem do Che), o comunista soldado do partido. As regras que permitiam o funcionamento de coletivos que constituíam estas figuras foram sendo corroídas. Uma explicação corrente é que foram derrubadas em nome da democracia e da defesa dos indivíduos, antes asfixiados por estruturas onde imperava a disciplina ou por ideais tão absorventes e grandiosos que hoje são vistos como religiosos.

Estes são aspectos do problema, mas como explicação isso é insuficiente. As personalidades, necessidades e comportamentos dos indivíduos são socialmente constituídas por relações que se alteram na história. As figuras acima eram possíveis no contexto de sociedades cuja reprodução ainda era, em grande parte, moldada pela tradição, onde a disciplina era um valor positivo compartilhado por diferentes camadas, o espaço para os indivíduos fazerem suas escolhas de vida muito reduzido, o sentimento de continuidade com a cultura do passado muito mais forte, a separação entre o público e o privado bastante rígida. Tudo isso propiciava a formação de subjetividades referenciadas num universalismo prometéico que mesclava ideais iluministas e românticos.

As transformações na constituição das personalidades foram profundas. Autores como Norbert Elias, Louis Dumont, Christopher Lasch, Anthony Giddens e outros já se detiveram sobre elas. Alguns vêem estas mudanças como negativas: individualismo exacerbado, narcisismo, crise do sujeito; outros como positivas: democratização da vida pessoal, possibilidade dos indivíduos moldarem cada vez mais aspectos de sua existência, terem um projeto reflexivo do eu. De qualquer forma, aquilo que para gerações passadas aparecia como normal, para nós surge como opressivo e inaceitável.

É a forma como se articulam hoje indivíduo e sociedade que faz com que o direito à diferença seja valorizado. Praticamente todos os aspectos que constituem os estilos de vida, da profissão à vida afetiva, da sexualidade às opções políticas, são encarados, por setores cada vez mais amplos, como decisões a serem autonomamente tomadas por cada pessoa.

Neste quadro, a militância só pode se desenvolver como a expressão de subjetividades mais autônomas, mais conscientes das forças sociais que atuam sobre elas. O peso de Foucault no pensamento social contemporâneo não é fortuito. As regras de convivência coletiva na militância têm que ser mais negociadas e flexíveis, aptas a lidarem com uma margem de liberdade individual muito maior. E a militância tem que ser integrada de forma mais coerente na definição do conjunto dos estilos de vida que conformam a identidade pessoal.

Luta por uma utopia

Nenhum movimento de mudança profunda avança sem um horizonte utópico e um discurso que o perfile. O marxismo, como interpretado pelo movimento socialista do início do século, funcionou como o discurso constitutivo da esquerda radical, como uma constelação básica de referências que se manteve bastante estável.

Este marxismo era marcado por um cientificismo positivista, onde se destacava uma concepção evolucionista da história, o determinismo econômico, a idéia do domínio da natureza pela sociedade, a razão igualada à consciência e expressa como técnica. Isso convivia com uma utopia: a promessa de uma adequação da existência humana com sua essência. Como ressalta Henri Maler em Cobiçar o impossível, "a emancipação humana deveria ser total; isto é, completa (superando a totalidade das alienações), universal (superando a alienação da totalidade dos homens) e integral (superando a totalidade das alienações de cada indivíduo) - a realização do homem total em cada indivíduo singular".

A política emancipadora na atualidade exige a revisão profunda destas concepções, a começar por reflexões do próprio Marx, embora ele não saia de foco - sua análise do capitalismo é mais atual do que nunca - e que ainda tenhamos que explorar diversas vias abertas por ele e até hoje pouco percorridas.

Mas a reestruturação da visão de mundo e a conformação de uma nova utopia socialistas independem de qualquer debate teórico sobre Marx e o marxismo. Os indivíduos procuram sempre dar forma às suas esperanças de um mundo melhor. Estas alterações já estão hoje se processando nos debates políticos e nas reflexões teóricas, reorganizando os horizontes de cada militante. Ecologia, feminismo, anti-racismo, internacionalismo, valorização da diferença e da democracia participativa são núcleos temáticos desta reestruturação. Na medida em que para novas gerações de militantes este repertório represente não uma ruptura com o passado, mas referências normais para organizar a ação política coletiva e sua inserção pessoal nelas, uma nova utopia emergirá dando forma a um amanhã pelo qual vale a pena lutar.

Todas estas faces da militância têm que se expressar numa compreensão comum dos acontecimentos, das tarefas presentes e de uma estratégia política, bem como no engajamento em instituições que propiciem a organização e ação política dos interessados em mudar a sociedade presente.

José Corrêa Leite é editor do jornal Em Tempo e membro do Conselho de Redação de Teoria&Debate.

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