O PT aprovou uma deliberação coerente com a concepção do partido que defendemos. Ou seja, tratamos a reforma política a partir da posição do PT, e não da posição de cada corrente, e afunilamos para uma posição unitária da Comissão Executiva Nacional em relação ao voto em lista e financiamento público de campanha.
Discutir com a bancada foi um pouco mais complicado, pois havia um grupo de deputados que achava que a bancada poderia realizar encaminhamentos prevalecendo sobre a posição do partido. Alguns parlamentares questionavam o próprio processo deliberativo do PT, que não havia debate suficiente, que ainda havia muita divergência.
É evidente que há divergências. Ao mesmo tempo, temos convicção de que o PT sempre lutou para ter uma política voltada para a questão programática, o fortalecimento da vida partidária, a visibilidade nas eleições de projetos políticos para o país, e não de projetos individuais de mandatos. Então tivemos bastante firmeza para, resguardado o direito da bancada de discutir, encaminhar a posição sobre o rumo que deve prevalecer como orientação para o partido.
Agora temos um problema concreto: nem a proposta bastante flexibilizada na negociação parlamentar acabou por se viabilizar como possível de ser aprovada no Congresso Nacional. Tanto o voto em lista quanto o financiamento público sofrem ataques pesados daqueles que querem manter a política brasileira como está e que se beneficiam do atual modelo político. Para nós do PT agora é a hora de reorganizar nossas forças com o Congresso partidário, cujo objetivo principal é estabelecer diretrizes e estratégias para o próximo período. Esse encontro deve tirar como uma de suas principais deliberações a posição clara do PT sobre a reforma política e não só com relação a essa agenda que está para ser votada na Câmara, mas ampliar para outras discussões da estrutura política do país, como, por exemplo, o papel do Senado e a relação dos meios de comunicação com as campanhas.
Sobre a agenda política que está em votação no Congresso Nacional, a CEN deliberou que encaminhará um texto para o Congresso como ponto de debate. É preciso discuti-la com a população por meio das organizações populares, movimentos sociais, sindicatos, que representam setores da sociedade, para que possamos de fato ter uma mobilização.
É muito difícil que a atual ou mesmo uma futura composição do Congresso Nacional aprove uma reforma política progressista com traços programáticos, sem sustentação de uma mobilização popular. São os políticos votando regras para eles próprios. Financiamento público de campanha, por exemplo, é visto pela população como uma forma de gastar dinheiro público com interesse privado. Quanto ao voto em lista, muita gente acha que tem o direito de escolher o parlamentar, até por não conhecer as regras do atual sistema. Essas questões precisam ser aprofundadas. Não adianta, só pelo acúmulo que temos na direção do PT, achar que teremos apoio popular porque é uma boa proposta. É uma boa proposta, mas precisa ser explicada, debatida e construída para ter apoio popular e ser aprovada.
Ricardo Berzoini, deputado federal (PT-SP), presidente nacional do Partido dos Trabalhadores.