Sociedade

O cruzamento da questão ecológica à luta sindical pode constituir uma das mais férteis lutas políticas já encaminhadas

O cruzamento da questão ecológica à luta sindical pode constituir uma das mais férteis lutas políticas já encaminhadas, propícia a apresentar um salto qualitativo que apenas a união de lutas isoladas pode promover.

No entanto, não se trata de uma união artificial. No Brasil e no mundo, em geral, a depredação dos recursos naturais, a violência contra o meio ambiente são questões que se colocam pela própria especificidade do capitalismo na periferia, no qual a Divisão Internacional do Trabalho impõe um "modelo de desenvolvimento" em que convivem de maneira explosiva a miséria e a degradação sem precedentes da Natureza.

Na Amazônia, a última fronteira de expansão do capitalismo no Brasil, a devastação acelerada da Natureza pelos mega-projetos - como o Projeto Grande Carajás (PGC) –, a construção de grandes hidroelétricas - como Balbina e Tucuruí -, a poluição mercurial e a implantação de projetos agropecuários têm se traduzido não apenas em danos ao meio ambiente como também em agressões de todo gênero contra as populações rurais e povos indígenas. As condições para que a crítica e a resistência a este "modelo de desenvolvimento" sejam colocadas pela classe trabalhadora estão, pois, postas concretamente.

É desta forma que se explica que a partir da experiência desenvolvida pelos seringueiros do Acre no combate à devastação da floresta amazônica, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, presidido por Chico Mendes, tenha apresentado no III Congresso Nacional da CUT (setembro de 1988) a tese "Em defesa da natureza e dos povos da floresta", aprovada para a satisfação de todos os que acompanharam a trajetória de Chico Mendes e de seus liderados.

O cruzamento da questão ecológica à luta sindical pode constituir uma das mais férteis lutas políticas já encaminhadas, propícia a apresentar um salto qualitativo que apenas a união de lutas isoladas pode promover.

No entanto, não se trata de uma união artificial. No Brasil e no mundo, em geral, a depredação dos recursos naturais, a violência contra o meio ambiente são questões que se colocam pela própria especificidade do capitalismo na periferia, no qual a Divisão Internacional do Trabalho impõe um "modelo de desenvolvimento" em que convivem de maneira explosiva a miséria e a degradação sem precedentes da Natureza.

Na Amazônia, a última fronteira de expansão do capitalismo no Brasil, a devastação acelerada da Natureza pelos mega-projetos - como o Projeto Grande Carajás (PGC) –, a construção de grandes hidroelétricas - como Balbina e Tucuruí -, a poluição mercurial e a implantação de projetos agropecuários têm se traduzido não apenas em danos ao meio ambiente como também em agressões de todo gênero contra as populações rurais e povos indígenas. As condições para que a crítica e a resistência a este "modelo de desenvolvimento" sejam colocadas pela classe trabalhadora estão, pois, postas concretamente.

É desta forma que se explica que a partir da experiência desenvolvida pelos seringueiros do Acre no combate à devastação da floresta amazônica, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, presidido por Chico Mendes, tenha apresentado no III Congresso Nacional da CUT (setembro de 1988) a tese "Em defesa da natureza e dos povos da floresta", aprovada para a satisfação de todos os que acompanharam a trajetória de Chico Mendes e de seus liderados.

A enorme publicidade desoriente recente assassinato de Chico Mendes trouxe, para muitos, o conhecimento de que os trabalhadores rurais estão, em muitos momentos, na dianteira da luta pela Natureza, uma luta de vital interesse para o conjunto da sociedade. Na Amazônia, os seringueiros iniciam uma luta popular contra os desmatamentos (os "empates"), processo que se alarga, abarcando populações que antes eram hostis entre si - seringueiros, ribeirinhos, castanheiros e populações indígenas - e agora se unem para que os seus direitos, enquanto habitantes com secular ou mesmo milenar conhecimento da mata, sejam respeitados e utilizados como base de uma nova forma de interação com a Natureza. A união dos "Povos da Floresta", que realizam em março o seu I Congresso, constitui um marco sem precedentes da força da organização popular, que em alguns momentos não conta com a compreensão das populações urbanas do Centro-Sul, cujo afastamento da realidade amazônica não predispõe ao entendimento correto da questão. Não apenas os seringueiros do Acre, Pará, são igualmente os trabalhadores rurais que vêm aprofundando a sua luta política contra o carvoejamento da floresta, ônus ambiental desastroso para a Amazônia, resultado de uma política que beneficia apenas os grandes ,grupos econômicos. As preocupações do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabá (PA) quanto ao impacto ambiental provocado pelo Projeto Grande Carajás são também acompanhadas pelas populações indígenas, cuja forma de relacionamento tradicional com o meio ambiente está igualmente ameaçada.

Fora do âmbito amazônico, a questão ecológica surge em todo o meio rural, ainda que em muitos momentos não receba este "rótulo". Preocupados com a ação dos agrotóxicos, dos "defensivos" agrícolas, com o monocultura e de tecnologia nada adequadas ao nosso meio ambiente tropical, os trabalhadores levantam propostas que reportam aos conceitos de ecodesenvolvimento, reciclagem, ecotécnicas, etc. (IV Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais, da Contag, 1985). A preocupação com a questão ecológicas centrada num primeiro momento no chamado "mundo do trabalho", expande-se e é vista cada vez mais como uma questão do mais profundo interesse pela classe trabalhadora. Esta compreensão certamente pressionará os setores progressistas, que consideram a ecologia puro diversionismo, para que refaçam a sua leitura do movimento ecológico, injustamente definido, em muitos momentos, como uma preocupação típica dos setores "pequeno-burgueses", "alienados das questões realmente importantes para a classe operária".

Através dos seus sindicatos, a classe operária internacional tem respondido positivamente ao apelo dos que entendem que a biosfera terrestre está em sério perigo. Os sindicatos, ao incorporar o meio ambiente na pauta de suas preocupações fundamentais, estarão, no final das contas, protegendo um patrimônio que é de posse legítima dos trabalhadores, dádiva que deve ser de usufruto harmonioso de todos os homens.

Maurício Waldman é ecologista membro do Comitê de Apoio aos Povos da Floresta, da Coordenação Nacional dos Ecologistas do PT e da Subsecretaria de Ecologistas do Diretório Regional de São Paulo.