Política

Quais são as possibilidades de um novo desenvolvimento da unidade internacionalista dos explorados e dos oprimidos de todos os países, 150 anos depois da conclamação de Karl Marx no Manifesto Comunista?

Proletários de todo o mundo, uni-vos! Para Marx, esta palavra de ordem que conclui o Manifesto era ao mesmo tempo uma necessidade objetiva correspondente à unificação do mundo pelo capital e um imperativo ético, resultante de sua visão do mundo humanista-revolucionária.

O internacionalismo se definia portanto como um eixo central do programa histórico de emancipação da classe trabalhadora: por um lado, como estratégia unitária de luta contra o inimigo comum (o sistema capitalista) e, por outro lado, pela natureza universal (isto é, mundial) da sociedade socialista sem classes e sem exploração.

A fundação da Primeira Internacional e a da Segunda foram as primeiras tentativas dos setores mais avançados do movimento operário (com a ajuda de Marx e Engels) de dar uma expressão orgânica e ativa ao programa internacionalista.

Um século depois da fundação da Segunda Internacional (1889), setenta anos depois da fundação da Terceira (1919) e mais de cinqüenta anos depois da fundação da Quarta (1938), como está o internacionalismo hoje? Quais são as possibilidades de um novo desenvolvimento da unidade internacionalista dos explorados e oprimidos de todos os países? Sob quais formas o renascimento do socialismo internacional tal como foi sonhado por Marx, Engels, Rosa Luxemburg, Lenin, Trotsky e "Che" Guevara é possível na nossa época?

Três obstáculos consideráveis se erguem no caminho do internacionalismo, cuja temível eficácia seria inútil subestimar:

1. O descrédito do internacionalismo pelas suas caricaturas autoritárias e burocráticas, das quais a invasão da Tchecoslováquia em 1968 em nome do "internacionalismo proletário" é apenas um dos exemplos mais gritantes. Hoje, a própria idéia do internacionalismo comunista tornou-se suspeita aos olhos de amplos setores do movimento operário e popular - uma desconfiança agravada pelas trágicas decepções com as revoluções do Terceiro Mundo: guerra entre a China e o Vietnã, massacres cambojanos de Pol Pot, fuga massiva dos boat people etc.

2. O espírito de guerra fria, isto é, a subordinação dos interesses dos trabalhadores aos Estados e blocos de Estados que supostamente representam o "mundo livre" ou o "campo socialista". Em muitos países o movimento operário continua a se dividir em função destes dois blocos, e o internacionalismo socialista é substituído pelo alinhamento mais ou menos direto com a URSS ou, o que é pior, com o imperialismo.

3. O nacionalismo, o chauvinismo e a xenofobia, que continuam a fazer seus estragos (inclusive no seio das classes populares), seja na Europa - com o desenvolvimento de movimentos racistas e antiimigrantes - ou no Terceiro Mundo, onde assistimos, com a guerra entre o Irã e o Iraque, a um dos massacres mais mortíferos e absurdos deste fim do século XX.

A essência do nacionalismo é a afirmação da nação como valor supremo, ao qual qualquer outro interesse social ou político deve se subordinar. o internacionalismo marxista opõe-se irreconciliavelmente ao nacionalismo, na medida em que: a) seu valor supremo é a humanidade inteira; b) seus fins políticos e sociais - a sociedade sem classes, o fim da exploração e da opressão - só podem se realizar em escala mundial; e c) o sujeito histórico da luta emancipadora é ele mesmo internacional.

Isto posto, a distinção leninista clássica entre o nacionalismo dos oprimidos e o dos opressores continua atual: o internacionalismo implica a igualdade de direitos entre as nações e logo o apoio às lutas de libertação das nações oprimidas - que são hoje os negros da América do Sul, os eritreus1, os curdos2, os canacas3, os bascos, os irlandeses, os palestinos, e em geral todos os povos do Terceiro Mundo em luta contra a dominação imperialista. Este apoio não implica de nenhuma forma a adesão dos marxistas ao nacionalismo; ao contrário, ele é a precondição para o desenvolvimento, no seio destas lutas, de uma corrente socialista e internacionalista.

Se de um lado recusa categoricamente a ideologia nacionalista, o internacionalismo não se opõe por outro lado à cultura e à identidade nacionais. Seu objetivo não são a assimilação e a homogeneização das línguas e das culturas nacionais, ou sua substituição por uma cultura internacionalista abstrata, mas antes a interação, a "mestiçagem" entre a mensagem universal do movimento revolucionário socialista e as formas culturais específicas de cada povo. Marx e Engels sempre insistiram para que seus partidários se apropriassem das tradições de luta locais (ver, a este respeito, O lugar do marxismo na história, de Ernest Mandel).

Um movimento sem passado não tem futuro: trata-se de encontrar, em cada país, a tradição dos oprimidos (segundo Walter Benjamin) e fazer da rememoração dos combatentes e das vítimas do passado uma poderosa fonte espiritual das lutas de libertação presentes. Alguns exemplos latino-americanos ilustram esta idéia: os revolucionários nicaragüenses dificilmente teriam triunfado se não tivessem a intuição profunda (por iniciativa de Carlos Fonseca) de retomar a bandeira do sandinismo, fundindo sua cultura, marxista internacionalista com a tradição e o exemplo do General dos Homens Livres, cujo combate antiimperialista tinha permanecido vivo na memória, na imaginação e na consciência do povo. O mesmo vale para José Martí em Cuba e Farabundo Martí em El Salvador - e valerá, no futuro, para Mariátegui no Peru. Tupac Amaru em diversos países andinos e sul-americanos, Camilo Torres na Colômbia, Emiliano Zapata no México: estas figuras indígenas, cristãs, democráticas, antiimperialistas ou comunistas representam, com sua mensagem rebelde e seu martírio pela causa da libertação dos oprimidos, a cultura nacional-popular no que ela tem de mais avançado. Um internacionalismo abstrato que ignore esta cultura, cujas únicas referências sejam européias (Marx, Engels, Lenin, Trotsky e outros), corre o risco de se isolar e de ficar completamente incompreensível para as amplas massas populares da América Latina. É preciso saber, por uma ampla mestiçagem político-cultural, combinar, associar, articular, integrar a visão internacionalista, o programa internacionalista e a cultura internacionalista do marxismo com esta tradição nacional. E isto não apenas por razões táticas ou pedagógicas, mas porque cada uma destas tradições contribui para enriquecer a cultura proletária internacional: como nos ensina a dialética, o universal concreto não é a simples negação mas a integração (Aufhebung) de toda a riqueza das particularidades.

O internacionalismo é a expressão revolucionária e prática do humanismo. Como dizia um dos representantes mais conseqüentes do internacionalismo em nossa época, "Che" Guevara, sem o amor pela humanidade é impossível imaginar um revolucionário autêntico. Para "Che", o verdadeiro comunista deve considerar sempre os grandes problemas da humanidade como se fossem pessoais e sentir como uma afronta pessoal toda agressão à dignidade e à felicidade dos seres humanos, não importa em qual lugar do mundo. Uma das idéias-força do marxismo é precisamente a perspectiva de uma revolução humana/universal, cujo sujeito histórico mundial são os explorados e os oprimidos.

Mas o internacionalismo é também a consciência de uma realidade material: a unificação do mundo pelo imperialismo, o extraordinário crescimento do proletariado em todo o planeta, e a comunidade de interesses dos trabalhadores de todos os países. Daí a dialética entre os três setores da revolução mundial: a revolução socialista das metrópoles capitalistas avançadas, a revolução permanente dos países capitalistas dependentes, a revolução antiburocrática dos países pós-capitalistas. Malgrado as diferenças evidentes em condições de vida e formas de luta, um fim histórico comum cria a possibilidade objetiva para sua unidade internacionalista: a democracia socialista, o poder dos trabalhadores, a abolição de todas as formas de exploração e de opressão (de classe, sexo, raça ou nação).

É por estas razões tanto objetivas quanto subjetivas que o internacionalismo sempre acaba renascendo, apesar das traições, das decepções e das derrotas. Nosso século conheceu três grandes momentos de internacionalismo ativo: a fundação da Internacional Comunista (e seus primeiros anos), as Brigadas Internacionais na Espanha e a "Primavera dos Povos" de maio de 1968. Durante os períodos de declínio da solidariedade internacional - e de ascenso das ondas nacionalistas, belicosas e chauvinistas - só alguns pequenos núcleos salvaguardaram a centelha do internacionalismo socialista: Zimmerwald4, a Oposição de Esquerda5, a Quarta Internacional etc.

O que ocorre hoje com o internacionalismo? As posturas acríticas e as ilusões líricas sobre os movimentos nacionalistas (ou "nacional-comunistas") do Terceiro Mundo não têm mais credibilidade. E sobretudo é evidente que a velha cultura internacionalista autoritária ("stalinista"), orientada antes de mais nada para a defesa da URSS - e em seguida canalizada também para outras "pátrias do socialismo" (China, Albânia etc.) -, está em crise. Os modelos internacionais, os Estados guias do movimento operário mundial, faliram, e esta crise alimenta uma retomada do nacionalismo. Mas ao mesmo tempo ela cria também a possibilidade de uma nova partida, de renascimento da fraternidade internacional em bases distintas, em uma palavra, do aparecimento de um novo internacionalismo.

Vemos atualmente surgirem os primeiros elementos de uma nova cultura internacionalista. Estes elementos ainda são limitados, parciais, fragmentários, dispersos, mas constituem uma promessa e uma possibilidade para o futuro. É no seio desta cultura em formação que podem agir os marxistas, contribuindo para fazê-la avançar para uma consciência revolucionária universal, anticapitalista e antiburocrática, humanista e democrática, socialista e libertária.

No Terceiro Mundo o internacionalismo permaneceu mais vivo e ativo que nas metrópoles ocidentais. Mas ele com freqüência se limita a um quadro regional - África, Ásia, Oriente Médio, América Latina - ou então à solidariedade antiimperialista dos povos dos países dependentes. Conhece freqüentemente a tentação do "campismo", isto é, a tendência de idealizar de maneira acrítica o "campo socialista". Mas assistimos também ao desenvolvimento de correntes revolucionárias que manifestam autêntica sensibilidade internacional e que se recusam a se alinhar cegamente com tal ou qual Estado do "socialismo real".

Isto acontece especialmente na América Latina, onde aparece uma cultura internacionalista nova que bebe na fonte tanto da tradição marxista quanto do socialismo cristão ligado à teologia da libertação. A dimensão humanista universal ("católica" no sentido originário da palavra) do cristianismo se funde com o internacionalismo proletário dos marxistas, produzindo um resultado bastante inesperado e suscitando amplo eco nas massas populares. O sandinismo na Nicarágua, o mariateguismo no Peru e o camilismo na Colômbia são expressões - ainda parciais e limitadas - deste fenômeno; mas é o Partido dos Trabalhadores do Brasil (no qual a influência dos marxistas revolucionários não é de modo algum negligenciável) que constitui a manifestação mais avançada, como testemunham suas tomadas de posição apoiando ao mesmo tempo o combate dos trabalhadores poloneses e a revolução centro-americana, o Solidariedade e a FSLN (Frente Sandinista de Libertação Nacional). Se a Revolução Cubana permanece como referência fundamental para todas estas correntes, daí não se segue, como no passado, um alinhamento incondicional ao modelo cubano de transição ao socialismo ou à política internacional da direção cubana. Uma sensibilidade democrático-socialista (e pluralista) nova inspira a busca de uma posição internacional independente, no quadro da solidariedade necessária de todas as forças antiimperialistas.

Na Europa, a nova cultura internacionalista em vias de formação é o produto de diversos componentes, que se desenvolvem de modo paralelo e desigual, e que às vezes se combinam ou se fundem:

– A velha tradição do internacionalismo proletário (livre de toda ligação com Estados), que apesar de tudo continua viva nos socialistas de esquerda, os comunistas críticos, nos anarquistas em certas correntes da extrema esquerda (entre as quais a Quarta Internacional).

– O que resta do espírito internacionalista de maio de 1968, naqueles - mais numerosos do que se pensa - que não renegaram seus ideais de juventude e que tentam torná-los atuais sob novas formas. Não é por acaso que se encontram muitos militantes da geração de 68 entre os animadores dos movimentos sociais contemporâneos - sobretudo na Alemanha e na Inglaterra, mas às vezes também na França e em outros lugares.

– O pacifismo e a ecologia, cujo desenvolvimento - tanto na Europa Ocidental quanto na Oriental - testemunha uma luta comum, além das fronteiras nacionais ou dos blocos militares, contra a ameaça nuclear, o nacionalismo militarista, a lógica da guerra fria e a destruição da natureza. Ultrapassando o quadro do movimento operário, estas correntes enriquecem o internacionalismo socialista, introduzem nele novas dimensões (a defesa do meio ambiente), ou dão novas fórmulas a algumas de suas preocupações tradicionais (a paz). Contribuem também para a radicalização de novas camadas sociais e seu engajamento em uma luta internacionalista contra a ordem estabelecida. Todavia, estes movimentos - que têm expressão organizada em escala européia, em estruturas como o END (Comitê Europeu para o Desarmamento Nuclear), a delegação verde no Parlamento europeu etc. - permanecem ainda muito heterogêneos do ponto de vista político e social (como, por exemplo, a incrível diferença entre os verdes franceses e alemães).

– O anti-racismo, o amplo movimento de solidariedade para com os imigrantes (árabes, africanos, asiáticos, turcos, curdos etc.) e de combate ativo contra as tendências nacionalistas, xenófobas e racistas. Motivado sobretudo por um sentimento moral e humanista, este movimento não deixou de ser por isso - especialmente na França, com o SOS Racismo - a principal expressão concreta do internacionalismo de toda uma nova geração de jovens estudantes e trabalhadores. Isto é ainda mais importante porque a oposição em cada país entre "nacionais" e "imigrantes" (ou "estrangeiros") sempre foi uma das principais causas da divisão dos explorados e dominados - desde a época de Marx até nossos dias - e de sua impotência para levar um combate comum contra as classes dominantes.

– A solidariedade operária em escala européia. Mesmo se ainda é embrionária, a luta comum pela jornada de 35 horas, ou contra as demissões e o desemprego, começa a tomar forma, senão em nível de massa, pelo menos nas correntes sindicais mais avançadas. É provável que a unificação econômica da Europa nos próximos anos contribua para intensificar a coordenação, a convergência e a unificação das lutas.

– A defesa dos direitos do homem no mundo. Se é verdade que esta sensibilidade foi manipulada com demasiada freqüência pelos ideólogos "ocidentalistas" da guerra fria, ela constitui entretanto, nas suas formas mais autênticas - como por exemplo a Anistia Internacional -, uma manifestação eficaz de solidariedade internacional. Apesar de seus limites evidentes, traz uma dimensão importante à luta internacionalista revolucionária.

– O feminismo, que subverte a cultura patriarcal tradicional do nacionalismo agressivo, do culto "viril" da violência e do militarismo patriótico. Quebrando as barreiras nacionais, os movimentos feministas - de orientação socialista, pacifista ou radical começam a se coordenar em escala européia (ou latino-americana) e mesmo mundial, para um combate cujo contexto é eminentemente internacional.

– A solidariedade para o Terceiro Mundo, isto é, para com as lutas dos povos dos países dependentes para se libertarem da opressão imperialista, das ditaduras locais, da fome e da miséria. Se deixamos de lado as instituições puramente "caricativas" – ou as que só se interessam pela vítima do "totalitarismo" –, existe uma vasta rede de solidariedade internacionalista, que vai de certas ONG (Organizações Não Governamentais religiosas) - o Conselho Ecumênico das igrejas, CIMADE (Centro Ecumênico de Ajuda ao Desenvolvimento Econômico), Terra dos Homens etc. - até os comitês de solidariedade aos povos em luta (América Central, Filipinas, África do Sul etc.). Apesar da diferença entre o enfoque mais humanitário dos primeiros ou diretamente político dos segundos, partilham o mesmo engajamento sincero ao lado dos oprimidos do Terceiro Mundo, e se recrutam amplamente em um mesmo meio cristão radicalizado. Uma das manifestações mais importantes destes movimentos de solidariedade são as brigadas de voluntários que partem todos os anos da Europa e do mundo inteiro para ajudar o povo nicaragüense a defender sua revolução e a desenvolver a sua economia.

Os marxistas internacionalistas estão presentes na maioria destes movimentos e freqüentemente desempenham um papel importante como animadores e ativistas. É evidente que um mundo separa estas formas fragmentadas, parciais, dispersas de internacionalismo, de humanismo, de solidariedade da Internacional Revolucionária de Massas que seria necessária para enfrentar as ofensivas do imperialismo (ou as manobras da burocracia), para coordenar e unificar o combate dos trabalhadores e de toda a humanidade contra a ameaça nuclear, o desastre ecológico, a exploração de classe, as ditaduras militares, os regimes burocráticos, a discriminação racial ou nacional e a opressão das mulheres. Mas é a convergência entre a herança marxista revolucionária e esta cultura internacionalista em formação (assim como a libertação das energias internacionalistas ainda presas e desviadas no que sobra do "movimento comunista mundial") que poderá ser o próximo passo nesta direção...

O Partido dos Trabalhadores brasileiro representa hoje na América Latina uma das formas mais avançadas no processo de formação de um novo internacionalismo com base de massas. É verdade que existe a este respeito grande heterogeneidade no PT: não só o nível de compromisso (ou mesmo de conhecimento) internacionalista dos militantes é bastante desigual como existem ainda muitos companheiros influenciados por uma visão "campista". Mas em seu conjunto o PT soube manter uma postura internacionalista independente, recusando os impasses tradicionais da esquerda no Brasil (e em toda a América Latina): o nacionalismo ideológico (de origem populista), o anticomunismo (de origem social-democrata ou democrata-cristã), e a subordinação cega a um Estado "farol do socialismo" (de origem stalinista).

Desenvolvendo uma diversidade pluralista de vínculos internacionais, e solidário com as lutas dos trabalhadores do mundo inteiro - seja na Polônia ou em El Salvador, na França ou na Coréia, nos EUA ou no México -, o PT busca orientar sua política internacional a partir de uma opção classista e socialista autônoma - dentro do que o apoio à revolução sandinista na Nicarágua ocupa, de forma justificada, um lugar central.

Se esta orientação se consolida e se aprofunda, o PT poderá contribuir de maneira significativa para a renovação do espírito e da prática internacionalistas, tornando-se um pólo de referência não só no Brasil mas também em toda a América Latina e mesmo em outras regiões do mundo.

Michael Löwy é ensaísta brasileiro, diretor de pesquisas do Centre National de Recherches Scientifiques na França.

Primeira Internacional
Em 1879 aparece pela primeira vez em dicionário o termo "internacionalismo". Embora o fenômeno já se manifestasse antes, sua acepção atual define-se a partir do surto revolucionária de 1848 na Europa, concomitantemente com a publicação do Manifesto do Partido Comunista, que terminava com o célebre "Proletários de todo o mundo, uni-vos!". No bojo desse processo, é fundada em Londres a Associação Internacional dos Trabalhadores, em 1864, com ação basicamente restrita à Europa. Entre seus principais dirigentes estão Marx, Engels e Bakunin. Após o esmagamento da Comuna de Paris, em 1871, inicia-se violenta perseguição à Primeira Internacional por toda a Europa. Ao mesmo tempo ocorre um acirrado debate entre marxistas e anarquistas, resultando na sua dissolução em 1876.

Segunda Internacional
A expansão do movimento operário, do sindicalismo e do socialismo organizado em partidos impõe o surgimento da Segunda Internacional, ou Internacional Socialista, em Paris, em 1889. Evitando a estrutura centralizada de sua antecessora, a Internacional Socialista é uma federação de partidos que mantém suas relações internacionais por meio de reuniões periódicas. Entre seus principais dirigentes destacam-se Engels, Kautsky, Bernstein e Plekhanov. O crescimento, eleitoral inclusive, dos partidos socialistas colocou a questão de como chegar ao poder: pela reforma ou revolução? A definição pelo reformismo, somada ao apoio dado pelos partidos socialistas à entrada dos seus respectivos países na Primeira Guerra Mundial, molda-lhes o perfil. Continua existindo até hoje, apoiada nos principais partidos socialistas europeus. O PDT de Brizola é seu representante no Brasil.

Terceira Internacional
A Revolução Russa de 1917 será o elemento aglutinador da formação e crescimento da Terceira Internacional, ou Internacional Comunista, fundada em 1919 em Moscou. Estruturada num rígido centralismo, a Internacional Comunista teve como principais dirigentes Lenin, Trotsky, Bukharin e Stalin. Foi presidida por Zinoviev. Em 1924, com a morte de Lenin, inicia-se o processo de consolidação da predominância dos interesses da seção soviética na orientação da Internacional Comunista além da ascensão de Stalin. A partir daí, esta adotará uma política que oscilará de ultra-esquerda ao centro. Em 1943, num gesto de "boa vontade" para com os Aliados, é dissolvida por Stalin.

Quarta Internacional
Lutando desde meados dos anos 20 pela reorientação política da Internacional Comunista, Trotsky (expulso da URSS em 1929) atribui à linha da Terceira Internacional a responsabilidade na vitória de Hitler em 1933. Isto o faz decidir-se pela necessidade da criação de um nova Internacional. Fundada em Paris, em 1938, a Quarta Internacional reivindicava para si a continuidade dos posicionamentos da Internacional Comunista até a morte de Lenin. A partir dos anos 50 sucessivas cisões minaram seu caráter de organismo internacional. Há hoje três principais correntes que se reivindicam da Quarta Internacional representadas no Brasil: Liga Internacional dos Trabalhadores, Quarta Internacional (Centro Internacional de Reconstrução) e Secretariado Unificado – Quarta Internacional.

Dainis Karepovs é diretor do CEMAP (Centro de Documentação do Movimento Operário Mário Pedrosa).