Política

É praticamente consenso que esta revista é uma das iniciativas mais bem-sucedidas do PT. O que salvou Teoria & Debate da linha poverela-amadorística e do realismo soviético foi a decisão de ter uma redação de profissionais. A bagunça pluralista é muito bem organizadinha, mas faltam alguns ajustes.

A vida se apura em sábia mistura: gandaia e cultura.
Haikai troncho para A.C., de Betty Mindlin e Walnice N. Galvão

 

Dezenove edições, uma relação de mais de cinco anos de amor com suas leitoras e seus leitores.

Na cidade de Senador Guiomar, no Acre, a revista tem um assinante. Tem outro em Limoeiro do Anadia, em Alagoas, e um outro em Iraquara, na Bahia. Em Piranhas, Goiás, só uma pessoa assina a revista e mais uma em Curvelo, Minas. Mas no total, tenho uns 25 mil companheiros e companheiras de leitura espalhados por esse Brasil. Desses, mais de seis mil são assinantes. É um número fantástico, para uma revista como essa.

É praticamente consenso dentro do Partido dos Trabalhadores que a revista Teoria & Debate é a sua publicação mais bem-sucedida: sai regularmente e, apesar de todas as diferenças internas, detém uma grande concordância sobre sua qualidade e sobre os rumos que tem escolhido para se manter pluralista, crítica e de amplitude nacional.

Olho para a minha coleção da revista com uma objetividade amorosa impregnada de viéses. Viés de petista, viés de militante feminista, viés de estudiosa de comunicação impressa, viés de profissional de editoração.

Teoria & Debate é mesmo uma idéia que deu certo? Parece que sim.

O partido prestigia, tiragem e assinaturas estão em patamares ótimos para uma revista desse tipo e para os tempos de dificuldades econômicas que vivemos, enquete entre assinantes aponta altos níveis de aprovação. Além disso, o Conselho Editorial funciona e o Conselho de Redação parece bastante afinado e capaz de manter a linha proposta para a revista.

O que salvou a revista da linha poverela-amadorística e do realismo soviético foi a decisão de ter uma redação de profissionais, em vez de amadores, e uma redação profissionalizada, em vez de uma brigada de voluntários. A equipe de profissionais tem, quase toda, uma história de longa permanência na revista, o que atesta as qualidades individuais e azeita o funcionamento coletivo. Eugênio Bucci e Mario Sabino, anterior e atual editores da revista, são profissionais de algumas das revistas convencionais mais bem-sucedidas do país.

Tem quebra-pau? Tem. De vez em quando o Conselho Editorial (aquele mundão de gente importante e/ou capa-preta) tem que fincar pé nas suas atribuições e defender a revista. De extinção, mudança de trajetória ou sufoco financeiro, como aconteceu agora em novembro de 1992.

A questão do dinheiro

Que a revista não é rica, logo se vê. Ela não vive de publicidade, vive de vendas de números avulsos e de assinaturas. Cada número sai impresso num tipo de papel: tem dos mais brancos e dos mais alisados, mas tem também uns bem amarelinhos. Isso não prejudica a qualidade da revista, mas denuncia a pesquisa de preços a cada edição. A tentativa inicial de vender assinaturas por intermédio dos diretórios do partido não resultou satisfatória. Agora o caminho é mais profissional: 150 representantes, em 110 municípios do país. Criar e manter essa estrutura é uma tarefa dura e importantíssima do pessoal da revista. Dela depende a autonomia financeira da publicação.

Atualmente o partido cede à T&D uma sala na sede estadual, um ramal de telefone, o uso de um computador simples, para mala direta e digitação de textos, e o acesso a um outro computador mais sofisticado para a programação visual. Mas a revista paga sua própria conta de telefone, remunera todos os funcionários fixos e os trabalhos avulsos encomendados a profissionais, paga traduções, transcrição de fitas. artes das capas etc.

A linha da revista

Teoria & Debate nasceu de uma mal notada moção apresentada ao 6º Encontro Estadual do PT, em 1986. Ficou de ser desenvolvida no âmbito da Secretaria de Formação Política, coordenada na época por Rui Falcão. Ricardo Azevedo era funcionário da secretaria e encarregou-se do anteprojeto, produzido em seis meses. Depois de outros dez meses, saiu o nº 1 de T&D, em dezembro de 1987.

Os contornos da revista foram delineados por Rui Falcão, Paulo de Tarso Venceslau, João Machado, Eugênio Bucci e Ricardo Azevedo, que se tornou diretor da publicação. Ricardo criou as seções "Memória" e "Debate". Eugênio, à época jornalista da Veja, foi defensor da primeira capa abstrata e da poesia da quarta capa.

Essas cinco pessoas, mais Eder Sader e Perseu Abramo, compuseram o Conselho de Redação da revista. E era um pessoal que queria que a revista fosse bem resolvida em termos visuais. No editorial do n° 2 diziam que a beleza não é fundamental, mas completavam: "A feiúra é que talvez seja dispensável". Foi uma forma tortuosa, mas eficiente, de dizer que queriam mesmo a beleza.

Eu acho lindas as capas da Teoria & Debate. E bastante bom o projeto gráfico das páginas internas. Mas quem lesse o projeto da revista não poderia imaginar como ela ia ficar bonita, pois ali se dizia apenas que era para ser moderna, agradável e de fácil leitura.

Em 1989 a T&D passou a ser departamento do Diretório Regional do PT de São Paulo, separada da Secretaria de Formação Política. Em 1990, Alípio Freire veio para o lugar de Eder Sader, no Conselho de Redação, Maria Rita ficou no lugar de Perseu Abramo, e Renato Simões substituiu Rui Falcão.

Em 1987, o projeto da T&D avaliava que a hegemonia das classes dominantes sobre os trabalhadores acontecia principalmente através da manipulação mais dirigida das informações, pela produção intelectual dessas classes, pela propaganda, pelos produtos culturais dos meios de comunicação de massas e do conjunto da indústria cultural. Na disputa pela hegemonia, o PT teria uma tarefa de desvendamento sistemático dos "mecanismos de dominação e funcionamento da ordem burguesa, apontando novos horizontes".

A revista contribuiria com a preparação do PT para o enfrentamento ideológico, sem perder de vista a existência de tendências de opinião diferenciadas no partido. Espinhosa tarefa essa, de preservar o método democrático de debate de idéias, debater o socialismo e a democracia dos trabalhadores, entender a diversidade e a controvérsia como meios para estabelecer a unidade de ação partidária. E manter, como referencial permanente da revista, as questões apresentadas pela conjuntura e pela luta de, classes.

O mínimo que se pode dizer da revista, nesses cinco anos, é que ela não correu da raia. Os amaríssimos abacaxis internacionais foram descascados: União Soviética, queda do muro de Berlim, massacre na praça da Paz Celestial, Nicarágua, Cuba, espécies diversas de socialismo real.

Em âmbito nacional, os debates foram muitos e pegaram questões importantes. Rumos e estratégias do partido foram dissecados, a questão da permanência/exclusão de tendências também ganhou bom espaço, erros e acertos da CUT foram expostos. Que socialismo defende o PT? Que reforma agrária? Que sistema de governo? Que forma de organização da economia? Que congresso foi esse que realizamos?

Quanto mais polêmico o tema, mais a seção de cartas engorda. Tem leitor que rebate as posturas do Conselho de Redação. Um ou outro deixa de assinar, quando fica muito contrariado.

Muitas vezes faltaram mesmo opiniões contrastantes. Por exemplo, a avaliação do Congresso do PT não podia ter ficado só com o artigo do Augusto de Franco (n° 17). A política de cotas de mulheres nas direções teve vitória apertada no Congresso: será que, entre tanta gente contrária, não se achou uma pessoa para argumentar num sentido diferente do proposto por Tatau Godinho (n° 14)? O que é que se pode fazer em situações assim, em que há polêmica, mas as pessoas não querem se "queimar", expondo seus pontos de vista? Deixar o leitor desavisado supor que tudo são flores?

Chama a atenção no editorial da revista, a constante repetição dos propósitos do Conselho de Redação apresentados no n° 1: instigar o debate, acirrar a polêmica.

Algumas frases são muito bonitas. Encarar a polêmica de desfazer erros históricos do socialismo real é "fazer um pacto com a procura da verdade, a aliada mais forte dos revolucionários" (n° 8), "pensar livremente talvez seja a condição primeira da grande utopia às vezes arrefecida, às vezes tímida que nos torna profundamente iguais em nossas formidáveis diferenças" (n° 10). Outras são igualmente bonitas, mas carecem de uma definição de termos, sem o que, não se pode saber de fato o que significam. Como esta, do nº 7: "É com o pensamento livre que se pode combater a barbárie e caminhar para o socialismo moderno, democrático e revolucionário".

Em certos momentos cheguei a pensar que tanta redefinição das tarefas da revista estava apontando para muita pressão em cima do Conselho de Redação. Verdade?

O visual da revista

Em matéria de capa, acho que acertaram bastante. Mas vou me apoiar também nas conceituações de mestre Jan White, que não há de me deixar errar sozinha.

Teoria & Debate mantém o mesmo formato desde o início e esse é um elemento importante por seu valor de reconhecimento, por estabelecer uma desejável familiaridade do leitor com a publicação.

O logotipo consegue ser a imagem da revista, a marca registrada, que todo mundo reconhece, lembrando-se imediatamente da estrelinha que o compõe, junto com as letras e os fios. É positivo que o logo tenha permanecido inalterado desde o nº 2 e que apareça sempre na mesma posição no alto da página. Penso que há uma solução de cores menos feliz no n° 14: a cor do logo está tão próxima do fundo que só a estrelinha aparece! E a arte da capa da n° 10 descuidou-se de deixar a área do logo em pouco mais desafogada-desastre de pequeno porte... A linha de informações logo abaixo do logo está plenamente resolvida.

Agora, acerto mesmo na primeira capa é a escolha de um padrão de ilustração abstrata. As produções artísticas garantem a necessária variação de número para número, dão boa visibilidade para a capa, facilitam o reconhecimento e são relativamente fáceis de obter, não criando problemas a mais para a direção de arte. Mas há outras vantagens talvez mais importantes.

Para começar, capas abstratas evitam encrencas desnecessárias que fotos, por exemplo, têm o condão de atrair. Dá para imaginar o tanto de descontentes que iam ficar se queixando de não estarem contemplados (literalmente) na capa da revista?

Depois, essa revista não é descartável. É quase como livro, para guardar, colecionar, consultar de vez em quando, reler pedaços, ler mais tarde coisas que não se leu quando a revista saiu. Por isso também é muito bom que a capa não tenha um valor jornalístico imediatista, mas sim um caráter de permanência, de provocação estética sempre renovada.

E, por último, mas não de menor importância, essa capa permite delicadezas comoventes, como a de homenagear (no n° 12) Antonio Benetazzo, morto pela ditadura em 1972. O desenho do artista possível é quase adolescente quando lembra o delicado exercício escolar de pintar mapas de geografia. E quase adulto, quando grosseiramente uma área demarcada do suposto mapa.

Agora pegue a sua Teoria & Debate n° 8 (dezembro de 1989) e abra sobre a mesa, de modo a poder ver a primeira e a quarta capas ao mesmo tempo. Olhe para o vulto que aparece. O que é isso nos céus? Um avião? Um buraco negro? Não companheiro não é o Super-Homem. É apenas um singelo disco voador.

Depois do massacre da praça da Paz Celestial e da queda do muro de Berlim, o disco não podia mais conter uma canção romântica de Caetano, para tocar depois do carnaval. Ele perguntava, das profundas do espaço sideral, a nós todos siderados, o que desfazer no socialismo real, trocadilhando com o sagrado O que fazer? do bom e velho Lenin. Histórias dos bastidores dão conta de que duas reuniões do Conselho de Redação não foram suficientes para se conseguir uma concordância de todos os membros com os dizeres dessa capa. Aí, o editor resolveu bancar, por sua conta e risco.

Em toda sua existência, Teoria & Debate apresentou chamadas de capa corretas, bem arrumadinhas, descritivas, vá lá. De tempos em tempos, um belo tranco: a delícia de colocar perguntas cabeludas na capa. No n° 1 perguntava: "Quem são os aliados do PT?". No nº 8, saiu a famosa "O que desfazer?". Em julho de 1992, a capa do n° 18 questiona: "Cuba: ditadura do proletariado ou de Fidel?". Dessa maneira., a revista mostra que está sempre atenta aos trancos que o próprio partido leva, trazendo contribuições importantes para ajudar a exorcizar a perplexidade e a pasmaceira.

Um belo achado, esses poemas na capa. Refresco intuitivo e instantâneo, no meio de tanto esforço de reflexão e compreensão. Um reparo: tão poucas vozes de mulheres.

Quero comentar quatro elementos de importância dramática nas páginas internas de uma revista: o tipo e o tamanho das letras dos textos, e a disposição visual do sumário, do editorial e das páginas de abertura dos artigos.

De acordo com especialistas em legibilidade visual, especialmente François Richaudeau, o melhor tipo de letra para um texto é o que pareça mais familiar ao leitor. Este deve ler sem notar o tipo de letra, sem ter sua atenção desviada para o desenho das letras.

O tipo de letra escolhido para T&D é um tipo romano com serifas, muito familiar ao leitor, pois é o que predomina em livros e jornais. (Serifas são pequenos traços que rematam as letras dos dois lados, como nos efes minúsculos, ou de um lado só, como nos tes minúsculos.) O tamanho das letras (ou o corpo do tipo, como se diz tecnicamente) está adequado aos leitores com alguma experiência de leitura. As páginas com duas ou três colunas de texto estão igualmente legíveis, mas as letrinhas das cartas estão miudinhas demais. Enfim, nós todos, esforçados leitores desses textos às vezes tão difíceis, agradecemos a gentileza de vocês usarem o mesmo tipo de letra do começo ao fim da revista. A nossa sorte é que vocês não sucumbiram à tentação de fazer uma festa da laranja, uma mistureba de tipos de letras como a que está em moda em revistas que têm outros propósitos.

Festa do abacate

Já que falei em festa da laranja, vou explicar a festa do abacate do título. Festa da laranja é uma expressão que significa uma coisa ou evento em que tudo pode acontecer, em que cada um faz o que acha melhor.

Quem vai para cidades em dia de festa da laranja (ou da uva, ou do figo) sabe que nessas festas de exibição da produção impera a fartura, o exagero, o alusivo, o nonsense e a sensação de liberdade. São exibidas montanhas de frutas, todos os objetos têm a marca da festa e tudo parece solto e desconexo. Tem desfile de carro alegórico, concurso de miss, premiação de produtores, maçã do amor, rodeio, quermesse, sorteios, barraquinhas de comidas, feira de lembrancinhas, paqueras, duplas caipiras. Parece tudo uma bagunça mas, na verdade, é tudo muitíssimo bem organizado.

Pois é. A Teoria & Debate parece uma festa dessas. Sai na data certa, tem cara de coisa familiar. Tem de tudo, parece tudo solto, uma coisa não bate com a outra, o que está dito numa página está do avesso na outra, parece que o pessoal não se entende, ou não se decide. Isso tudo dá um enorme sentimento de liberdade para as minhocas da cabeça. Os macaquinhos do sótão e suas dúvidas atrozes podem examinar calmamente as idéias mais contraditórias, refletir sem pressa, antes de fazer suas escolhas. Penso que é por isso que a T&D é igual à festa da laranja: quase todo mundo lê, gosta e renova a assinatura. E estejam certos: a bagunça toda é muito bem organizadinha. Por isso, a cada ano de vida da Teoria & Debate, mais uma festa do abacate.

A apresentação visual do editorial vacilou um pouco nos dois primeiros anos, mas acabou encontrando um padrão interessante a partir do n° 10. Como manda o figurino, o editorial aparece sempre na mesma página (1), com título "Apresentação", em coluna de largura diferente das usadas nas outras páginas, com texto alinhado à esquerda. Em resumo, fácil de identificar.

O sumário também precisa ser fácil de achar, precisa estar sempre no mesmo lugar. E tem que ser muito simples, bem fácil de consultar. Mas, sobretudo, precisa atender a tipos diferentes de leitores. Para o leitor que sabe bem o que quer, o sumário precisa dizer apenas onde estão as coisas. Outros leitores receberiam bem uma espécie de resuminho do artigo, a fim de avaliar a importância do assunto para seus interesses.

Até o nº 9 a T&D trazia o sumário (estranhamente chamado de índice) na segunda capa. Destacava bem o número da página e as seções e dava um título, que parecia o título do artigo. Na revista n° 8, por exemplo, o artigo de "Nacional" aparecia como "A solidariedade de classe a partir da Frente Brasil Popular: da aliança à solidariedade" e "Clara Charf: duas histórias de luta, uma história de amor".

A partir do n° 10 os verdadeiros títulos dos artigos começaram a aparecer no sumário. Muito bom. Só que o sumário foi parar na página um, feito uma tripinha magricela do lado do editorial. Tudo bem que se queira desocupar espaço na segunda capa, para promover as publicações do partido, mas obrigar os pobres leitores a encostar a revista no nariz para ler o sumário, isso já é demais.

Como, meu senhor, o número de artigos aumentou? As páginas passaram de 48 para 80? Quando a revista tiver 120 páginas, então, só vamos poder ler o sumário com lupa, não é?

Questões técnicas

Antes e depois das reformas do n° 10, as páginas de abertura dos artigos têm cumprido sua função: anunciar claramente que outro artigo vai começar. Antes as letras dos títulos eram todas maiúsculas, com uma pincelada clara nas hastes mais grossas. Depois, as letras ficaram totalmente negras, suavizadas pelo uso de minúsculas e maiúsculas: duas soluções bonitas.

A melhor reforma foi a das capitulares, aquelas letras enormes que iniciam os textos. Ficaram mais bonitas contra o fundo branco, sem aquela caixinha cinzenta por baixo.

Lá pelo n° 8, o Conselho de Redação dizia que o desafio da revista era descobrir como editar uma publicação não-acadêmica que não rebaixasse a discussão, mas cuja forma e estilo facilitassem sua leitura por todos. Preveniam que "a tola pretensão de `popularizar' idéias e linguagens através de discursos considerados mais `acessíveis' muitas vezes esconde uma subestimação da capacidade crítica do leitor, ou escancara o paternalismo cultural".

Muito bem, moçada, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Vou dar uma sugestão que entendo como facilitação, que o leitor merece e não como subestimação ou paternalismo.

Penso que os textos da revista vêm sendo apresentados, quase sempre, em forma de tijolaços desanimadores. Aqui e ali tem umas ilustrações bonitas para arejar. Em alguns artigos há aquelas chamadinhas pelo meio, pedacinhos do texto que nos seduzem para a leitura completa. Mas mal se encontra um subtítulo para remédio. É um sufoco folhear quatro, cinco páginas de texto corrido sem subtítulos que nos contem do que é que se está falando.

Tenham piedade dos leitores! Alguns autores escrevem difícil mesmo, isso não tem jeito. Mas sempre dá para colocar uns subtítulos para arejar e orientar a leitura.

E, por fim, uma outra reclamação e dois elogios.

Reclamação: fica mais fácil achar o número de página nos cantos externos da página, em vez de no meio, como está agora. Não quero levar vantagem em tudo, mas continuo funcionando pela moderna, competente e minimalista lei do mínimo esforço.

Um dos elogios vai para a nova diagramação das páginas de entrevista. Ficou bem melhor sem a repetição o tempo todo de T&D na pergunta e do nome do/a entrevistado/a na resposta. Ficou mais elegante a pergunta separada por espaços e destacada em versalete (letras maiúsculas com altura de letras minúsculas).

E tem o uso parcimonioso e comovente das fotos. As da seção "Memória", por seu próprio valor de documento, são sempre carregadas de muita informação histórica e afetiva. O despojamento, quase miséria, das fotos das cidadezinhas administradas pelo PT (no n° 18 da revista) as torna deslumbrantes. Quer coisa mais tocante do que o trêiler "Unidade Móvel de Saúde Odontomédica", de Jaguaquara, ocupando praticamente toda a foto? Ou que o orçamento municipal na parede externa da casa do prefeito petista de Icapuí?

O meu editorial favorito é o do n° 14, que conclui com uma espécie de mote da revista: muito explica, quem confunde. Gosto dele também por todas as licenças poéticas.

Mas o que essa revista confundiu até agora eu acho é pouco. Ainda está muito bem comportada, demais. Vamos lá.

Faltou repetir, muitas vezes, aquele jeito de produzir material teórico mostrado no nº 2, que associava a vivência revolucionária de um trabalhador (Avelino Ganzer) com a técnica jornalística (de Paulo de Tarso Venceslau), para a produção de um texto a partir daí disponível para nós todos.

Faltou espaço suficiente para as mulheres na primeira capa, na quarta capa, na seção "Memória", e na autoria de todas as outras seções. Essa falta empobrece a revista.

Faltou trabalhar sobre questões da comunicação televisiva e impressa, dentro e fora do partido. A seção "Cultura" fez bem de tratar da minissérie Anos Rebeldes, da Globo. Mas não podia ter deixado em branco, por exemplo, as implicações culturais e políticas do episódio Miriam Cordeiro e Lurian nos programas eleitorais de 1989.

Faltou dar nomes aos bois. Identificar a tendência dos autores de textos, entrevistadores, membros dos conselhos. Custava? Seria uma providência simples, que desobrigaria o leitor de adivinhar e forneceria uma documentação muito útil para o futuro.

Faltou discutir a educação, o projeto de educação (?) do PT. T&D ouviu Paulo Freire e Esther Pinar Grossi. Faltou, por exemplo, ouvir Magda Soares para confundir a nós todos com a questão do ensino bidialetal do português.

Espero que a revista continue dando certo. E que a experimentação de publicar os "Cadernos de Teoria & Debate" evolua logo para uma editora de verdade, com uma equipe tão profissionalizada no ramo quanto a da revista. E torço para que uma hora dessas se faça uma boa discussão sobre as publicações do partido.

Maria Otília Bocchini é professora na Escola de Comunicação e Artes da USP.