Cultura

O brasileiro Lasar Segall (1891-1957), judeu russo foi um dos fundadores do expressionismo alemão.

Lasar Segall nasceu a 21 de julho de 1891, na comunidade judaica de Vilna, capital da Lituânia, na época domínio da Rússia czarista. É o sexto dos oito filhos de Esther e Abel Segall. Freqüenta a Escola de Desenho de Vilna, mas em 1906, aos 15 anos, vai para Berlim, ingressando na Imperial Academia Superior de Belas Artes. Em 1909, rompe com a Academia, ao expor com a Secessão Livre de Berlim, ali recebendo o Prêmio Max Liebermann. Muda-se, em 1910, para Dresden, onde freqüenta a Academia de Belas Artes como aluno-mestre, com direito a atelier próprio e maior liberdade de criação. Faz sua primeira individual na Galeria Gurlitt de Dresden. Passa a integrar o movimento expressionista alemão, ao lado de artistas como Otto Dix e Schmidt-Rottluff. Em 1912, viaja para a Holanda, e em seguida para o Brasil, onde já residiam familiares seus. Expõe, em 1913, em São Paulo e Campinas - cujo Centro de Ciências, Letras e Artes adquire a pintura Cabeça de Menina Russa, de 1908. Regressa no final do ano à Alemanha, deixando obras em coleções brasileiras, entre as quais a do senador José de Freitas Valle. Com o início da Primeira Guerra Mundial, Alemanha e Rússia entram em conflito. Segall, cidadão russo, é expulso da Academia e confinado na cidade de Meissen, onde permanece até o início de 1916. Vai a Vilna pela última vez, encontrando a cidade destruída pela guerra. Em 1918, casa-se em Dresden com Margarete Quäck. Publica o álbum Cinco Litografias sobre uma Doce Criatura, inspirado em conto de Dostoievski. Funda com outros artistas a Secessão de Dresden - Grupo 1919. É um dos intelectuais que responde ao questionário do Conselho dos Trabalhadores da Arte, sobre o papel do artista e as relações da arte com o Estado. Em 1920, grande exposição sua no Folkwang Museum, em Hagen, é inaugurada com conferência de Will Grohmann. Obras suas começam a ser adquiridas pelos museus alemães. Publica com Otto Dix, Will Heckrott, Otto Lange, Mitschke-Collande e Eugen Hoffmann, o álbum Secessão de Dresden - Grupo 1919, contendo duas gravuras de cada artista. Conhece Paul Klee. No ano seguinte, participa da Exposição de Arte Russa, na Galeria von Garvens, de Hannover, quando se torna amigo de Wassily Kandinsky. Convive ainda com os artistas El Lissitzki, Naum Gabo e Archipenko. Publica o álbum de litografias Bubu, inspirado no romance de Charles Louis Philippe. Em 1922, muda-se para Berlim. Participa da Exposição Internacional de Düsseldorf, e conhece os pintores Max Ernst, Yankel Adler e Arthur Kaufmann. Publica o álbum Recordação de Vilna, em 1917.

Em dezembro de 1923, vem para o Brasil, residindo em São Paulo, à rua Oscar Porto, 31. Integra-se ao grupo dos modernistas. Mário de Andrade publica seu primeiro artigo sobre Segall na revista A Idéia. Em São Paulo, expõe as obras produzidas na Alemanha, e executa trabalhos de decoração para o Baile Futurista do Automóvel Club. Ainda em 1924, faz conferência na Villa Kyrial, residência do senador Freitas Valle, local de reunião de artistas e intelectuais. Separa-se de Margarete, que retorna a Berlim.

No ano seguinte, decora com pinturas murais o Pavilhão Modernista de Olívia Guedes Penteado. Casado com Jenny Klabin, no final do ano vai à Europa. Em 1926, expõe em Berlim e em Dresden suas obras produzidas no Brasil. Em abril desse ano, nasce em Berlim Mauricio, seu primeiro filho. Em 1927, de volta ao Brasil, naturaliza-se brasileiro. Em dezembro, expõe em São Paulo e, no ano seguinte, no Rio de Janeiro. A Pinacoteca do Estado de São Paulo adquire a pintura Bananal, de 1927. Entre 1928 e 1932, reside em Paris. É quando começa a esculpir. Em fevereiro de 1930, nasce em Paris Oscar, seu segundo filho. Waldemar George publica a monografia Lasar Segall.

Retorna ao Brasil em 1932, fixando residência em São Paulo, à Rua Afonso Celso. Ao lado da casa, projeto de Gregori Warchavchik, Segall constrói seu atelier. É um dos sócios-fundadores da Spam (Sociedade Pró-Arte Moderna). Realiza o projeto e a decoração dos dois bailes carnavalescos dessa sociedade, que congregava os modernistas. Conhece, em 1935, a pintora Lucy Citti Ferreira, que se torna sua modelo e colaboradora. Começa a freqüentar Campos do Jordão, realizando uma série de paisagens da região. Participa da Exposição Internacional de Pinturas, no Carnegie Institute, Pittsburgh. Em 1937, três pinturas e sete gravuras suas são incluídas na Exposição de Arte Degenerada, organizada pelos nazistas em Munique para desqualificar a Arte Moderna. Participa dos três Salões de Maio (1937, 38 e 39), em São Paulo, e, em 1938, expõe na Galeria Renou et Colle, de Paris. O Museu Jeu de Paumme, de Paris, adquire a tela Retrato de Lucy V, de 1936, e o Museu de Arte de Grenoble a tela Jovem com Acordeão II, de 1937. Realiza cenários para o balé Sonhos de uma Noite de Verão, encenado pela Companhia de Chinita Ullman, no Teatro Municipal de São Paulo. É publicado em Paris o livro Lasar Segall, do crítico Paul Fierens. Em 1940, expõe na Neumann Williard Gallery, Nova York.

Ruy Santos produz, em 1942, o filme O Artista e a Paisagem. Em 1943, há uma grande retrospectiva sua no Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Publica o álbum Mangue, com textos de Jorge de Lima, Mário de Andrade e Manuel Bandeira. Em junho de 1944, número especial da Revista Acadêmica é dedicado a Segall. Faz vários trabalhos de ilustração, e os cenários e figurinos para a peça A Sorte Grande, de Sholem Aleichem. Em 1948, expõe na Associated American Artists Galleries, Nova York. Sua pintura Êxodo I, de 1947, é doada ao Museu Judaico dessa cidade. Em 1951, é inaugurada grande retrospectiva sua no Museu de Arte de São Paulo, e Pietro Maria Bardi publica a monografia Lasar Segall. É homenageado com Sala Especial na I (1951) e na III (1955) Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Conhece Myra Perlov, modelo de uma série de retratos. Realiza, em 1954, os cenários e figurinos para o balé O Mandarim Maravilhoso, encenado pelo Ballet IV Centenário. Marcos Margulies produz o documentário A Esperança É Eterna, sobre a pintura de Segall. O crítico Jean Cassou, conservador chefe do Museu Nacional de Arte Moderna de Paris, começava a organizar uma grande retrospectiva de Segall, que só se realiza em 1959, após a morte do artista. Nos últimos anos de vida retoma, em vários trabalhos, as séries das Favelas, Erradias e Florestas. Vitimado por moléstia cardíaca, Lasar Segall falece a 2 de agosto de 1957, em sua casa da Rua Afonso Celso, em São Paulo.

Vera d'Horta é historiadora de arte e pesquisadora do Departamento de Museologia do Museu Lasar Segall.