Tive o privilégio de compartilhar com Perseu a infância e a adolescência, como irmã única e mais nova, assim como tivemos o privilégio de sermos filhos de Athos e Atea Abramo.
Deles Perseu herdou entre outras coisas o equilíbrio de julgamento e o autocontrole. Por intermédio deles e de outros membros da família, tivemos o primeiro conhecimento da luta contra as grandes injustiças e as grandes perseguições sociais e políticas.
Ele teve cedo a consciência da necessidade de participação no pobre orçamento familiar e seu primeiro emprego foi na loja de consertos de rádio de um tio materno, quando tinha em torno de 14 anos. Aos 15 entrou na luta política pelas portas do Grêmio Estudantil do Ginásio de Estado Presidente Roosevelt, ainda no Parque D. Pedro II.
Ele e seus entusiasmados amigos de escola formaram uma chapa e organizaram, depois de tantos anos de ditadura getulista, as primeiras eleições da escola: picharam paredes e o asfalto da avenida Rangel Pestana, fizeram toda a propaganda possível com os parcos meios que estavam à disposição de alunos de um ginásio estadual.
Paralelamente, Perseu organizou o Clube Arapuã, meio encontrado para manter unido aquele grupo. A sede do Clube era na casa de um deles, onde havia espaço para bailinhos e campeonatos de pingue-pongue e xadrez, grandes oportunidades para os conchavos políticos do Grêmio.
Mas a principal atividade do Clube era o jornal Arapuã, cuja sede era nossa pequena e modesta casa. Nossos pais olhavam com bom humor aquela invasão de jovens, munidos de papel e uma lata de tinta preta grudenta, usada na impressão do jornalzinho em um velho mimeógrafo manual.
Durante uns dois anos o jornal foi regularmente editado. Perseu organizava finanças, definia seções, escolhia as matérias, selecionava as notícias, diagramava e escrevia seus próprios artigos na velha máquina de escrever Remington, que meu pai havia pedido emprestada e deixava à disposição do grupo, ao qual oferecia também orientação e sugestões.
A casa virava uma redação de jornal, com reuniões de pauta, grandes discussões, muitas gargalhadas e muita sujeira de tinta por toda a parte. Nossa mãe acabou limitando a atividade jornalística ao quintal, liberando um muro para as expansões irrefreáveis. Mas o jornal saía, e todos os envolvidos achavam que era o maior sucesso.
Entre os 17 e 18 anos, Perseu escreveu roteiros de cinema. O objetivo era produzir o primeiro filme da Apex Films, companhia cinematográfica que meu pai e seus irmãos idealizaram e tentaram criar, mas que nunca chegou a produzir, por falta de verbas.
Ainda nesse setor, Perseu passou algum tempo como assistente de produção na Companhia Cinematográfica Vera Cruz, que então em Ilha Bela filmava o Caiçara.
Seu primeiro emprego em jornal foi no Jornal de S. Paulo, onde foi assistente de conferente de revisor.
Entrou para o Partido Socialista Brasileiro e mergulhou na tarefa de feitura do jornal do partido, o Folha Socialista, além de participar de toda a vida partidária. Em 1950 começou a trabalhar no jornal A Hora, onde iniciou seu aprendizado verdadeiramente profissional.
A partir daí, sua trajetória pertence ao mundo.
Alcione Abramo, irmã do Perseu.