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No campo da centro-direita, o grande-vitorioso das últimas eleições é o PFL

Qualquer análise a respeito das eleições deve partir de uma caracterização, aparentemente óbvia, mas necessária, dos três grandes blocos político-ideológicos existentes no país.

O primeiro deles é aquele que reúne partidos de centro e de direita e que estão atualmente, no governo federal, com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Reúne quase todo o PMDB, o PSDB - partidos considerados de centro - e o PPL, partido conservador de direita. Esses são os três grandes sustentáculos do atual governo. É claro que há outros partidos, mas que atuam como coadjuvantes, a exemplo do PL e do PTB.

O segundo bloco, de pura direita, hoje tem como carro-chefe o PPB. E, finalmente, há um terceiro bloco que reúne os partidos de esquerda, socialistas, comunistas (PT, PSB, PC do B, PDT, PPS) e franjas de centro-esquerda formadas por descontentes do PMDB e do PSDB.

No bloco do governo, o PSDB dificilmente pode se classificar co mo vencedor das eleições. Para um partido que tem a Presidência da República e os governadores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais três estados-eixos do país -, colher os resultados magros que colheu nas grandes cidades e se conformar com as vitórias em cidades pequenas do interior e algumas poucas capitais, evidentemente não,é um resultado que possa ser considerado vitorioso.

O PMDB, o outro partido de centro nessa coligação, pode ter registrado o maior número de vitórias, mas foi também o partido que mais perdeu prefeituras. E perdeu também, como o PSDB, nos grandes centros, nos mais populosos, nos mais politizados, tendo que se conformar com a vitória, em algumas capitais de estados distantes do centro político e econômico do país. Então, o PMDB foi derrotado.

Nesse bloco, o grande vencedor, evidentemente, é o PFL. O fato de um partido dos grotões, do fisiologismo das cidades do interior, controlado pelo poder do Estado e pelo clientelismo ter vencido em cidades de caráter independente, nitidamente, oposicionistas e populares como Rio de Janeiro, Recife e Salvador, não pode deixar, a bem da verdade, de ser registrado como uma vitória importante desse partido de direita. Essa é a realidade do bloco de centro- direita: uma derrota relativa do PSDB e do PMDB e o fortalecimento do PFL. Isso é importante registrar, para que esse alardeado, alimentado e artificial prestígio que o presidente Fernando Henrique Cardoso pensa ter seja relativizado. Na verdade, o presidente, mais que nunca, com este resultado eleitoral sai refém do PFL nas suas posturas, nas suas decisões de governo na República.

Qualquer análise a respeito das eleições deve partir de uma caracterização, aparentemente óbvia, mas necessária, dos três grandes blocos político-ideológicos existentes no país.

O primeiro deles é aquele que reúne partidos de centro e de direita e que estão atualmente, no governo federal, com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Reúne quase todo o PMDB, o PSDB - partidos considerados de centro - e o PPL, partido conservador de direita. Esses são os três grandes sustentáculos do atual governo. É claro que há outros partidos, mas que atuam como coadjuvantes, a exemplo do PL e do PTB.

O segundo bloco, de pura direita, hoje tem como carro-chefe o PPB. E, finalmente, há um terceiro bloco que reúne os partidos de esquerda, socialistas, comunistas (PT, PSB, PC do B, PDT, PPS) e franjas de centro-esquerda formadas por descontentes do PMDB e do PSDB.

No bloco do governo, o PSDB dificilmente pode se classificar co mo vencedor das eleições. Para um partido que tem a Presidência da República e os governadores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais três estados-eixos do país -, colher os resultados magros que colheu nas grandes cidades e se conformar com as vitórias em cidades pequenas do interior e algumas poucas capitais, evidentemente não,é um resultado que possa ser considerado vitorioso.

O PMDB, o outro partido de centro nessa coligação, pode ter registrado o maior número de vitórias, mas foi também o partido que mais perdeu prefeituras. E perdeu também, como o PSDB, nos grandes centros, nos mais populosos, nos mais politizados, tendo que se conformar com a vitória, em algumas capitais de estados distantes do centro político e econômico do país. Então, o PMDB foi derrotado.

Nesse bloco, o grande vencedor, evidentemente, é o PFL. O fato de um partido dos grotões, do fisiologismo das cidades do interior, controlado pelo poder do Estado e pelo clientelismo ter vencido em cidades de caráter independente, nitidamente, oposicionistas e populares como Rio de Janeiro, Recife e Salvador, não pode deixar, a bem da verdade, de ser registrado como uma vitória importante desse partido de direita. Essa é a realidade do bloco de centro- direita: uma derrota relativa do PSDB e do PMDB e o fortalecimento do PFL. Isso é importante registrar, para que esse alardeado, alimentado e artificial prestígio que o presidente Fernando Henrique Cardoso pensa ter seja relativizado. Na verdade, o presidente, mais que nunca, com este resultado eleitoral sai refém do PFL nas suas posturas, nas suas decisões de governo na República.

O bloco de direita, que tem como sustentáculo o PPB, obteve vitórias em São Paulo - terceiro maior orçamento do país -, Manaus, Florianópolis, em cidades importantes como Santos e Campinas e outras de peso no interior de alguns estados. Isto significa evidentemente um fortalecimento marcante desse setor de direita, o qual ocasionalmente também faz parte do governo Fernando Henrique Cardoso, mas com um pé dentro e outro fora, pois é praticamente de oposição. Oportunista, é verdade, porque mantém'um pé no governo, mas o discurso e a postura do PPB representam nítida oposição de direita.

Quem se dá ao trabalho de acompanhar eleições em vários países pode verificar e registrar o aparecimento de uma direita agressiva e forte, cujo apoio eleitoral está em crescimento visível. Agora mesmo, na Inglaterra, onde há anos predominam dois partidos - um conservador, tradicional, e outro trabalhista - apareceu, pela primeira vez, um grande milionário que pretende organizar um partido alternativo para se opor à união européia, com um discurso nitidamente direitista, conservador e nacionalista. A mesma coisa ocorre em países como a França, onde há o renascimento da direita com Le Pen, em países estáveis e democracias sólidas, como a Áustria, onde a ultradireita, por meio de um partido nacionalista e xenófobo, teve um terço dos votos nas últimas eleições.

E, diante do processo de globalização sem preocupação social que acentua o desemprego, a exclusão dos trabalhadores, dos camponeses e dos setores da classe média - ao lado de uma oposição tradicional de esquerda, surge em vários países uma oposição de direita que, roubando bandeiras alheias, revestindo-as de conceitos xenófobos e de componentes preconceituosos contra os operários e empresários de outros países, tenta se firmar.

Esse nicho da política foi detectado pelo senhor Paulo Maluf e por seus marketeiros, fazedores de eleitos via mídia eletrônica. E é com este nicho de oposição pela direita que o senhor Paulo Maluf pretende sair de São Paulo, seu tradicional reduto, e alcançar apoios mais amplos, capazes de tornar o PPB um pólo alternativo ao governo Fernando Henrique Cardoso e, ao mesmo tempo, ao terceiro bloco, o de esquerda.

Na Folha de S. Paulo de 24 de novembro de 96, Maluf lançou seu Credo, verdadeiro manifesto de candidato à Presidência da República. Lá, Maluf se coloca como um crítico à abertura econômica, querendo aparecer como o campeão dos operários e dos empresários brasileiros atingidos por esse processo. Sua atuação será marcada por uma política clientelista, a partir do uso do aparelho de Estado, para atingir os extratos populares mais desvalidos com programas azeitados com clientelismo, como opção ao discurso tradicional da esquerda, da generalização dos direitos humanos e da cidadania.

Portanto, Paulo Maluf é um perigo para o país, porque não representa apenas um simples candidato da direita tradicional. Ele continua sendo um candidato da direita, na essência, na alma e na estrutura, mas surge com uma roupagem e com um discurso roubado dos candidatos dos partidos de centro e até da esquerda para tentar,arrebanhar votos populares.

O bloco da esquerda é evidentemente heterogêneo, - porque se sabe muito bem que ela maximiza suas divergências para manter-se dividida, o que representa sua maior fraqueza.

Mas, analisando de forma separada, podemos verificar, por exemplo, que o PDT - apesar do enfraquecimento nos últimos anos - conseguiu resistir a essa eleição. Venceu em Porto Velho, teve uma brilhante vitória em São Luís e venceu em Curitiba, cidade economicamente importante. Elegeu mais de quatrocentos prefeitos em todo o Brasil.

O PSB é uma grata surpresa e nós da esquerda devemos ficar muito felizes com o seu desempenho. O partido conseguiu vitórias importantes em capitais como Maceió, Natal e, principalmente, Belo Horizonte. A vitória esmagadora de Célio de Castro o coloca, inegavelmente, como uma importante liderança nos próximos anos para o Brasil.

No caso do PT, a nossa expectativa de vitória no segundo turno não se confirmou. Mas, é simplista querer classificá-lo, apenas pelo resultado do segundo turno, como derrotado. O PT conseguiu, sendo oposição numa situação difícil para os ideais socialistas em todo o mundo, firmar-se como um partido nacional. Hoje, ele consegue obter cerca de 20% dos votos, do Amapá ao Rio Grande do Sul, nas cem maiores cidades do Brasil. Inegavelmente isso é uma proeza, um fato digno de nota que ninguém deve menosprezar. E conseguiu importantes vitórias, como em Porto Alegre, Belém e outras cidades de grande influência política em suas regiões.

O fato de, no segundo turno, não termos conseguido confirmar as votações em várias capitais e perder em algumas cidades fundamentais do estado de São Paulo empana o crescimento e o enraizamento do PT. Querer negar isso é tapar o sol com a peneira. Mas, mesmo nessas grandes cidades onde o PT perdeu as eleições no segundo turno, ele sempre atingiu um patamar elevado de votos, o que demonstra respaldo da opinião pública, dos trabalhadores e da classe média do Brasil, patrimônio muito importante não só para o PT, mas para todo o campo centro-progressista e de esquerda do país.

Não podemos, no entanto, deixar de analisar alguns aspectos negativos: a disputa interna fratricida que, em alguns casos, levou a derrotas tidas como impossíveis de acontecer. Nós perdemos eleições consideradas ganhas devido a lutas internas.

Também é importante analisar outro comportamento do PT. Hoje, passadas as eleições, muitos criticam o PT dizendo que em algumas cidades, como Campo Grande, Maceió, Aracaju, Florianópolis e Caxias do Sul, o partido foi buscar apoio - aberta ou disfarçadamente - de partidos considerados de direita, até mesmo do PFL e do PPB. Isso é verdade. E aconteceu porque nos anos que precedem às eleições, os aliados naturais, do ponto de vista ideológico, que são os partidos de esquerda - PSB, PCdoB, PPS, PDT -, e os de centro, como PMDB e PSDB, não foram procurados. Assim, não sendo feitas as alianças no momento certo, com antecedência, nos confrontamos com candidatos desse campo, que deveriam ser nossos aliados. Daí a busca desesperada de alianças de última hora, com a direita, que prejudicam e descaracterizam o Partido dos Trabalhadores.

Esta análise tem de ser feita, e não pretender condenar simplesmente os candidatos de Campo Grande, Maceió, Aracaju etc. Não feitas as alianças no campo da esquerda e do centro na hora certa, em eleições do segundo turno fatalmente veremos candidatos de esquerda contra candidatos de centro ou, às vezes, os candidatos de esquerda contra outros também de esquerda, buscando aliança com a direita para ganhar de qualquer jeito.

O desafio é fazer com que a esquerda, a centro-esquerda e setores de centro articulem um projeto que possibilite à Nação sentir sua força, que permita enfrentar o projeto de Paulo Maluf/PPB ou o de Fernando Henrique/PFL. Isso inclusive deve influir na nossa atuação na Câmara dos Deputados. Enquanto os setores dos blocos de centro-direita e de direita dão demonstrações repetidas de capacidade de unidade à sua maneira, nós da esquerda damos repetidas demonstrações de capacidade de desunião. Esse projeto democrático, nacional, progressista, pode ser iniciado com a nossa obrigação de apresentar ao país uma proposta de entendimento, de articulação, de atuação conjunta na própria Câmara, até para que setores do centro democrático e de centro-esquerda, que equivocadamente aderiram ao projeto Fernando Henrique/PFL, venham para o nosso lado. Há força, há possibilidade de união entre nós. Somos capazes de atraí-los para o nosso campo. Não devemos somente marcar posição e continuar eternamente dizendo que crescemos 2% ou 3%. Esse é um jogo para ganhar, para derrotar o bloco da direita de Maluf/PPB e o bloco de centro-direita Fernando Henrique/PFL.

Espero que partidos como o PV, PMN, PCdoB, PPS, PDT, PT, PSB e setores do PMDB e do PSDB tenham capacidade de se entender e se unam na Câmara dos Deputados, formalizando um bloco parlamentar de esquerda e centro-esquerda, sinalizando que este é um caminho alternativo real para o Brasil.

Eduardo Jorge é deputado federal pelo PT-SP.