Internacional

As entrevistas que hoje apresento são fruto dessa perspectiva que gosto de chamar de "mercosulina"

Volto a Argentina duas vezes por ano. Viver no Brasil durante as últimas duas décadas criou em mim raízes muito fortes e a certeza de que meu lugar no mundo é este onde minhas ações estão ancoradas há tanto tempo. Por que então esse retorno quase obrigatório? O exílio, cicatrizadas as feridas, manifestou-se como a oportunidade de estender a idéia de pátria e atravessar a fronteira sem saudades. Além de rever amigos e lugares e comprar os últimos livros e discos, os ganhos da aproximação de pessoas e projetos, de lá e de cá, constituem a razão dessas viagens periódicas. A criação de uma identidade regional será possível se houver caminhos comuns e também atalhos que permitam a compreensão de realidades tão complexas. As entrevistas que hoje apresento são fruto dessa perspectiva que gosto de chamar de "mercosulina". As questões surgiram de um olhar brasileiro, mas elas carregam a perplexidade de quem, a cada regresso, encontra uma paisagem social mais e mais deteriorada. Uma coisa é ler estatísticas sobre o aumento da pobreza e da exclusão social; outra, ver essa realidade transformando o país num outro diferente daquele onde nasci e morei até 1978. O que aconteceu? A ditadura? A hiperinflação? A implantação das políticas neoliberais na década Menem? Por que o continuísmo desse governo de uma Aliança que foi esperança e hoje é pura frustração? Levei essas indagações para dois dos mais lúcidos pensadores da realidade argentina contemporânea: Atilio Borón e Beatriz Sarlo.

Ana Maria Stuart, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais (NUPRI)-USP e Membro do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional (GACINT)–USP. Assessora da Secretaria de Relações Internacionais do PT.