Internacional

Os EUA precisam do óleo iraquiano por razões de segurança econômica, mas, por motivos de segurança militar, não podem permitir que Saddam desenvolva sua produção

É muito difícil apanhar um gato preto num quarto escuro, principalmente quando lá dentro não existe nenhum gato. Esta frase de Confúcio foi lembrada pelo jornalista francês Ignacio Ramonet1, editor do Le Monde Diplomatique, para ironizar a busca infrutífera do presidente George W. Bush de uma justificativa convincente para a ação militar dos Estados Unidos contra o Iraque.

Os argumentos para liquidar pela força o regime de Saddam Hussein resumiam-se a três:

1. A ameaça aos EUA e aos países vizinhos representada pelas armas de destruição em massa (químicas, bio­lógicas e nucleares) que Saddam supostamente manteria em seu poder, em desafio às resoluções adotadas pelas Nações Unidas depois da Guerra do Golfo, em 1991;

2. A necessidade de estender a campanha antiterrorista – iniciada com a intervenção militar que eliminou o regime do Talibã, no Afeganistão, em represália aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 – aos chamados Estados “delinqüentes”, como o Iraque, acusado de cumplicidade com a Al-Qaeda e outras organizações extremistas;

3. Implantar a democracia no Iraque, como primeiro passo de um processo de abertura polí­tica e modernização cultural no Oriente Médio.

O próprio Bush deu a largada para a ofensiva retórica anti-Saddam. Em seu famoso discurso sobre o “Estado da União” em janeiro de 2002, ele incluiu o Iraque, ao lado do Irã e da Coréia do Norte, no que batizou de “eixo do mal”, uma trinca de países perigosos à segurança internacional. Desde então, o foco da propaganda norte-americana foi, aos poucos, se deslocando da chamada “guerra ao terrorismo” para a tarefa de “desarmar” o Iraque – algo que, segundo se deixou claro desde o início, só poderia ocorrer pela força.

Martelado durante mais de um ano, o discurso belicista de Bush se mostrou incapaz de convencer o mundo da necessidade de resolver a questão pela guerra. Pior: boa parte dos alia­dos dos EUA – tanto os tradicionais, como a França e a Alemanha, quanto às potências outrora comunistas, Rússia e China, que se alinharam a Washington na reação militar ao 11 de setembro – acabou por formar, na ONU, uma frente de resistência aos planos de invasão do Iraque, no que se tornou a mais grave crise internacional desde o final da Guerra Fria. Foi só com muita relutância que Bush se deixou persuadir pelo seu secretário de Estado, Colin Powell, a levar o assunto ao Conselho de Segurança da ONU, em busca de legitimidade para a ação militar.

Numa das raras vezes em que contrariou o grupo de assessores de extrema-direita que dá as cartas na política externa, Bush pediu à ONU, no dia 12 de setembro do ano passado, que tomasse providências contra Saddam. Os inspetores de armas deveriam retornar ao Iraque, de onde foram expulsos há mais de três anos, e concluir seu trabalho. Bush esperava que Saddam dissesse “não” à volta dos inspetores, dando o motivo para o ataque. Mas o regime iraquiano não só aceitou a missão da ONU como cedeu a todas as exigências que lhe foram feitas ao longo da investigação – vistoria dos palácios, entrevistas com cientistas, inspeções aéreas com aviões-espiões e até a destruição dos seus melhores mísseis. O incidente ansiado pela Casa Branca e pelos falcões do Pentágono para servir de estopim à ação militar não se produziu. No início de março, quando as forças anglo-americanas despachadas para o Golfo Pérsico já somavam mais de 200 mil combatentes, o chefe dos inspetores, Hans Blix, elogiava a cooperação das autoridades iraquianas e pedia mais alguns meses, no mínimo, para apresentar um veredicto final. Seu colega Mohamed El-Baradei, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, foi ainda mais assertivo, ao afirmar, repetidas vezes, que “não há evidência de que o Iraque tenha retomado seu programa nuclear desde a década de 90”.

Se o discurso do “desarmamento” levou alguns meses para se mostrar plenamente uma falácia, os demais argumentos revelaram fôlego bem mais curto. As anunciadas provas sobre vínculos de Bagdá com Osama bin Laden – que reprova o caráter secular do regime iraquiano e já xingou Saddam de “in­fiel” e “apóstata” – jamais apareceram. As boas intenções democratizantes dos EUA sequer chegaram a ser levadas a sério. Afinal, foram os próprios norte-americanos que, na década de 80, deram apoio político e material a Saddam quando este era visto como um aliado contra o Irã dos aiatolás. Washington se omitiu quando os militares do Iraque lançaram armas químicas para esmagar uma rebelião curda. Ainda hoje, a diplomacia norte-americana cultiva laços estreitos de amizade com as ditaduras pós-soviéticas em países da Ásia Central como o Azerbaijão, o Cazaquistão e o Usbequistão, todos eles governados, com mãos-de-ferro, por antigos caciques comunistas. Mesmo os melhores aliados dos EUA no mundo muçulmano ostentam, nos quesitos da democracia e dos direitos humanos, credenciais apenas ligeiramente melhores que as de Saddam. É o caso, entre outros, do Kuwait, da Jordânia e do Egito, sem falar no Paquistão do general Pervez Musharraf, um regime autoritário que possui armas nucleares e já ameaçou lançá-las contra a Índia.

Em lugar dos motivos invocados pelos EUA, vistos cada vez mais como simples pretextos, ganha corpo, entre os diplomatas, acadêmicos e jornalistas que acompanham a crise, outro conjunto de explicações, todas elas ligadas ao controle do petróleo do Golfo Pérsico e à afirmação dos EUA como potência dominante no planeta.

Não é preciso endossar nenhuma teoria conspiratória para perceber que, de todos os governos norte-americanos, nenhum é tão intimamente ligado à indústria petroleira quanto o atual. Bush começou sua carreira de empresário nesse ramo, como diretor da Harken Energy Corporation, repetindo a trajetória do pai, também um homem do petróleo. O vice-presidente Dick Cheney chefiou até sua candidatura, em 2000, a Halliburton, enquanto a Chevron ostentava no seu corpo de diretores a assessora de segurança nacional, Condoleeza Rice. A indústria do petróleo contribuiu com 26,7 milhões de dólares para a campanha presidencial de Bush e, nas eleições do ano passado, suas doações para os republicanos, que conquistaram o controle do Senado, somaram 18 milhões de dólares. Com a implantação de um regime pró-americano no Iraque, as fabulosas reservas de petróleo do país, hoje inacessíveis às empresas ocidentais, serão abertas às empresas estrangeiras. De acordo com o Departamento de Energia dos EUA, o Iraque possui 200 bilhões de barris em reservas ainda não mapeadas, além do estoque já conhecido de 112 bilhões. Se esse potencial se confirmar, equivale à capacidade atual de produção da Arábia Saudita (que, por sua vez, também abriga imensas reservas potenciais). Das cinco maiores companhias petroleiras, duas são americanas (ExxonMobil e ChevronTexaco) e outras duas, britânicas (Shell e BP-Amoco). Todas elas já se assanham para explorar o petróleo iraquiano, que será, provavelmente, privatizado, revertendo-se a nacionalização de 1972. Menos sorte terão suas concorrentes da França (ElfAquitaineTotal) e da Rússia (Lukhoil), cujos contratos assinados sob Saddam correm o risco de ser anulados. Será o preço pela recusa dos respectivos governos em colaborar na “mudança de regime”, o eufemismo da Casa Branca para a intervenção.

Evidentemente, os EUA jamais se aventurariam numa guerra só para beneficiar os antigos parceiros de negó­cios de um presidente. Interesses muito superiores estão em jogo. A invasão do Iraque marcará a estréia mundial da nova estratégia de segurança dos EUA, anunciada por Bush, pela primeira vez, no seu discurso aos cadetes da Academia Militar de West Point no dia 1º de junho de 2002. De acordo com a Doutrina Bush, oficializada em setembro no documento A Estratégia de Segurança Nacional dos EUA2, o governo norte-americano arroga para si o direito de usar a força contra qualquer país que possa representar um risco à sua segurança.

A palavra-de-ordem é atacar preventivamente, mesmo na inexistência de qualquer agressão prévia ou, sequer, de um risco iminente de ataque. É como nos filmes policiais: disparar primeiro e fazer as perguntas depois. “Temos que combater o inimigo, destroçar seus planos e enfrentar as piores ameaças antes que elas se concretizem”, proclamou Bush. O mundo, segundo ele, está entrando em uma nova era, em que o fator determinante é a esmagadora superioridade das Forças Armadas dos EUA. “Os Estados Unidos possuem, e pretendem manter, uma força militar acima de qualquer possibilidade de desafio”, afirmou. Portanto, “deixam de fazer sentido as desestabilizadoras corridas armamentistas de outras épocas, e as rivalidades entre os países ficam limitadas ao comércio e outros empreendimentos pacíficos.”

O objetivo é ambicioso. Trata-se de impedir o surgimento de qualquer potência que venha a concorrer com os EUA num patamar ainda que remotamente comparável. Nesse novo contexto, o sistema internacional de tratados (como o Protocolo de Kyoto sobre o meio-ambiente, que Bush renegou logo no início do mandato) e as organizações multilaterais (como o Tribunal Penal Internacional, boicotado pelos EUA, e a própria ONU) perdem importância, subordinados à defesa dos interesses norte-americanos de modo unilateral, se necessário. A soberania dos EUA se torna mais absoluta que nunca, ao passo que a dos demais países, sobretudo daqueles que desafiem os padrões de conduta interna e externa traçados em Washington, fica condicionada a critérios dos próprios EUA, que podem revogar esse direito por conta própria3.

Essa mudança, que Henry Kissinger classificou de “revolucionária”, já estava em gestação desde o governo de George Bush (pai). Em 1991, no clima de euforia que sucedeu o final da Guerra Fria e o triunfo americano na Guerra do Golfo, Cheney, o então secretário da Defesa, criou uma força-tarefa para pensar a posição dos EUA no novo cenário mundial. Participavam vários integrantes da atual administração, como Donald Rumsfeld (hoje secretário da Defesa) e Paul Wolfowitz (secretário-assistente de Segurança Nacional). O relatório, divulgado no ano seguinte, propunha um rompimento com as diretrizes que nortearam a política externa norte-americana na maior parte do século XX. Desde a década de 1940, os EUA pautavam seu comportamento por uma combinação entre duas estraté­gias de longo alcance. Uma delas, moldada pela queda-de-braço com a União Soviética, tinha como base a contenção do inimigo comunista e o equilíbrio de poder. A outra, de inspiração liberal, privilegia a abertura dos mercados, a disseminação da democracia e as instituições políticas internacionais4.

A nova estratégia corresponde ao panorama global do pós-Guerra Fria, que deixou os EUA como a única superpotência, numa posição sem equivalente em toda a História. Nenhuma outra nação conseguiu abarcar o mundo inteiro em sua esfera de influência. Roma, no seu apogeu, controlava apenas o Mediterrâneo e adjacências, e coexistiu com dois outros grandes impérios, a Pérsia e a China. O Império Britânico, no século XIX, tinha um exército infe­rior aos dos principais países da Europa continental, apesar da sua hegemonia marítima, e enfrentou o surgimento de um rival poderoso, a Alemanha. Já o horizonte dos EUA não comporta, num futuro previsível, nenhum adversário capaz de questionar sua supremacia. Seus dois competidores econômicos, os europeus e os japoneses, são aliados militares, de poder de fogo incomparavelmente inferior. A Rússia, humilhada pela crise, foi reduzida a uma decadente potência regional e a China, o mais provável candidato a desafiar a hegemonia norte-americana, ficará à margem do jogo pela próxima década, enquanto conduz a delicada transição de sua economia estatizada para o capitalismo moderno.

Quem melhor resumiu o projeto dos “neoconservadores”, como ficou conhecida a corrente que hoje dá as cartas em Washington, foi o colunista Charles Krauthammer, num famoso artigo na revista Foreign Affairs, em 1991. “O século XVIII foi francês, o XIX foi inglês e o XX, americano”, escreveu. “O próximo século será igualmente americano.” A perpetuação desse “momento unipolar”, como definiu Krauthammer, tornou-se a pedra de toque da estratégia neoconservadora5. Como era previsível, o relatório de Cheney causou um escarcéu quando alguns trechos vieram a público na imprensa. Os críticos, na maioria europeus, mostraram indignação com o papel autoatribuído pelos EUA como “polícia do mundo” e com a subordinação dos alia­dos a uma posição de segunda classe numa ordem mundial dominada pelos norte-americanos.

A surpreendente vitória eleitoral dos democratas de Bill Clinton, em 1992, pôs fim a essa discussão – e o documento da linha-dura ficou engavetado durante os oito anos do seu mandato. Clinton se opunha ao “unilateralismo” dos republicanos, ou seja, a inclinação a tomar decisões em política externa sem levar em conta os efeitos em outros países. Como um legítimo “multilateralista”, ele apostava na criação de um sistema mundial de segurança coletiva, sob liderança americana. Esse seria, na sua opinião, o ambiente mais propício à difusão universal dos princípios do liberalismo econômico. Clinton bem que tentou diminuir o orçamento das Forças Armadas, levando em conta o fim da bipolaridade e dos perigos da Guerra Fria. Mas, sem o controle do Congresso, perdeu a queda de braço com o Pentágono. Os gastos militares continuaram a subir, mesmo na ausência de um inimigo claramente definido.

Com a chegada do Bush-filho à Casa Branca, em janeiro de 2001, os guerreiros-frios passam a dar as cartas em política externa. Cheney, Rumsfeld e Wolfowitz, entre muitos outros, ganharam postos de destaque. Já na campanha eleitoral, os assessores do atual presidente expunham, sem sutileza, suas intenções: acabar com os “Estados delinqüentes”, torcer o braço dos russos, cortar as pretensões dos chineses e mostrar aos europeus o seu verdadeiro – e modesto – lugar. No governo, Bush adotou uma linha de conduta coerente, em que trata de recolher todos os dividendos da supremacia norte-americana. Na sua visão maniqueísta do mundo, julga-se capacitado a fazer uma triagem entre o “bem” e o “mal”, entre os “civilizados” e os “bárbaros”. A atrocidade terrorista de 11 de setembro apenas catalisou esse sentimento de guerra permanente, removendo as inibições que ainda ­tolhiam o exercício pleno do poderio norte-americano. Uma nova divisão de trabalho se impôs entre os EUA e seus aliados. “Nós combatemos, a ONU alimenta e a Europa reconstrói”, afirmou um alto funcionário do Pentágono, ao explicar a atuação dos ocidentais no Afeganistão, após a imposição de um governo marionete em Cabul.

Mas essa estratégia ostenta um calcanhar-de-aquiles: a dependência norte-americana em relação às importações de petróleo. Responsáveis por 25% de todo o consumo de petróleo do mundo, os EUA dispõem em seu território de apenas 2% das reservas globais. O crescimento da demanda de energia, ano após ano, agrava esse quadro de dependência externa. Cerca de 55% do petróleo dos EUA vêm de fora e essa proporção deve chegar a 65% em 2020, aumentando ainda mais pelas décadas seguintes. Diante do risco da escassez, as autoridades têm dado ênfase à necessidade de diversificar as fontes de abastecimento, ao mesmo tempo em que defendem a ampliação da oferta pelos países produtores.

Hoje os EUA se vêem obrigados a se voltar para o Oriente Médio, onde se concentram 66% dos estoques mundiais conhecidos. Nenhuma outra região, até agora, mostrou-se capaz de suprir o crescente apetite norte-americano. Cerca de 40% da energia consumida nos EUA provém do petróleo, mais do que de qualquer outra fonte. A importância dessa matéria-prima tende a crescer, por maior que seja o sucesso dos EUA em ampliar sua produção doméstica (enfrentando a resistência de ambientalistas contrários às prospecções em reservas ecológicas no Alasca) e em aumentar o aporte de novos fornecedores como a Rússia, as ex-repúblicas soviéticas do Mar Cáspio e a costa ocidental da África.

O maior motivo de preocupação em Washington é a posição estratégica da Arábia Saudita, dona de 27% das reservas mundiais. Na opinião de muitos analistas, a inexistência de um exportador com volume de produção comparável acarreta um duplo problema de segurança para os EUA. Em primeiro lugar, temem-se as graves conse­qüências no caso de desestabilização política da monarquia saudita, como ficou evidente ao se tornarem públicos os laços familiares e financeiros de uma parte da elite dirigente do país e entidades assistenciais ligadas ao terrorismo islâmico. Além disso, há o risco de que a Arábia Saudita venha a utilizar seu controle sobre o mercado de petróleo para pressionar os EUA a alterar algumas de suas políticas – em particular, em relação ao conflito entre Israel e os palestinos. Os sauditas, aliás, já deram uma mostra do que são capazes em 1973/74, quando lideraram o boicote da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) em represália pelo apoio ocidental a Israel na Guerra do Yom Kippur, provocando uma recessão mundial. Para complicar, há ainda a situação política volátil na Venezuela, o maior fornecedor dos EUA. Segundo Daniel Yergin, consultor do governo norte-americano e um dos maiores especialistas mundiais em energia, “a Venezuela já deixou de ser um fornecedor confiável”6.

A sensação de vulnerabilidade dos EUA se acentua com as projeções sobre o crescimento mundial do consumo nas próximas décadas. De acordo com a Agência Internacional de Energia, o consumo global de petróleo saltará dos atuais 77 milhões de barris diários para 110 milhões de barris em 2020, um aumento de 43%. Se essa estimativa é exata, o mundo consumirá 670 bilhões de barris até 2020, ou seja, ao redor de dois terços dos estoques comprovados atuais. É claro que nesse período serão descobertas novas reservas. Tecnolo­gias mais modernas permitirão extrair petróleo de campos de acesso hoje muito difíceis, como o extremo norte da Sibéria e as profundezas do Atlântico. Mas é improvável que a produção consiga acompanhar o ritmo acelerado da demanda. Mesmo que fontes alternativas de energia venham a se desenvolver, a maioria dos pesquisadores não acredita que cheguem a substituir o petróleo nos próximos vinte ou trinta anos7.

Na opinião de analistas norte-americanos como o economista Jeffrey Sachs e o cientista político Michael Klare, a garantia do acesso irrestrito ao petróleo do Iraque, único fornecedor capaz de oferecer uma alternativa aos sauditas, deixaria os EUA a salvo de uma crise de abastecimento ao menos por mais uma década. Esse interesse é expresso, com todas as letras, em documentos escritos pela administração Bush ou sob sua encomenda. Um dos textos mais reveladores é o estudo intitulado Desafios Estratégicos da Política Energética do Século XXI, produzido para o Departamento de Energia pelo Instituto James Baker III de Política Pública da Universidade Rice, no Texas. Segundo o relatório, os EUA precisam do óleo iraquiano por razões de segurança econômica, mas, por motivos de segurança militar, não podem permitir que Saddam desenvolva sua produção.

Para Michael Klare, é impossível dissociar esses dois elementos da estratégia de segurança americana – poderio militar e energia. Em seu livro Resource Wars – The New Landscape of Global Conflict (Guerras por Recursos, o Novo Panorama do Conflito Global), Klare enquadra a crise entre os EUA e o Iraque num modelo de conflito que, segundo ele, deverá proliferar pelo mundo afora nas próximas décadas – as guerras por recursos naturais estratégicos, cada vez mais escassos e cobiçados. “Como qualquer interrupção no abastecimento de recursos vitais teria graves conseqüências econômicas”, argumenta o autor, “os principais países importadores consideram hoje que a proteção desse fluxo é uma questão de segurança nacional. Isso significa que estão dispostos a ir à guerra caso achem que seus suprimentos correm perigo.”

Os motivos apregoados por Bush para invadir o Iraque podem ser furados, mas as verdadeiras razões não têm nada de irracionais.

Igor Fuser é editor de assuntos internacionais da revista Época e professor de jornalismo na Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, em São Paulo