Nacional

21 de janeiro de 1921 – 30 de agosto de 2005

Sobressaíam em Jacques Breyton a vitalidade, o otimismo e a jovialidade, que o faziam privilegiar o bom lado das coisas, contagiando quem o cercava. Sua hospitalidade tornou-se legendária, mostrando-se no calor com que acolhia a todos e na largueza com que distribuía benesses

Faleceu no dia 30 de agosto, aos 84 anos, nosso querido companheiro Jacques Breyton. De longa tradição no Partido dos Trabalhadores, de que foi fundador, apresenta um percurso original, de verdadeiro combatente pela liberdade, variando apenas as oportunidades históricas em que se manifestou. Francês de nascimento, participou da Resistência, quando da ocupação nazista de seu país. Pela dedicação e feitos extraordinários com que atuou na área de Lyon, tinha a patente de capitão quando a França foi liberada, recebendo então a Cruz de Guerra, a Medalha da Resistência e a Legião de Honra – tudo isso aos 23 anos.

Temendo que outro conflito viesse a conflagrar a Europa, fez uma viagem de prospecção pelo Novo Mundo, examinando as perspectivas de negócios em sua especialidade, que já desenvolvia no país de origem. Emigrando para o Brasil em 1958, no bojo do período de euforia desenvolvimentista do governo Kubitschek, assentaria as bases de futura prosperidade ao ingressar na Telem, empresa de telecomunicações e eletricidade, que posteriormente cresceria sob seu comando.

Durante toda a gestão militar instaurada pelo golpe de 1964, faria oposição ao regime. Colaborou, entre 1968 e 1969, com muitas iniciativas do movimento estudantil, inclusive o congresso da UNE em Ibiúna. Em 1970, foi preso como membro da ALN, por ter hospedado Carlos Marighella em sua casa e participado de várias ações. Entre 1970 e 1971 passaria um período no presídio Tiradentes, onde conquistou a amizade, que manteria pelo resto da vida, dos demais presos políticos. A cada um que era solto, seu primeiro cuidado era levá-lo para uma temporada de recuperação em sua casa de Parati, onde era muito querido, como em toda parte. Assim, à medida que aumentava o número de soltos e as fileiras iam engrossando, desfilava pelas ruas aquilo que logo seria carinhosamente alcunhado de jacqueries, as revoltas populares medievais francesas: todos revolucionários, todos encabeçados pelo Jacques.

No ocaso da ditadura, passaria a contribuir para o processo de democratização. Integraria as primeiras reuniões dos metalúrgicos e do ascendente sindicalismo do ABC no final da década, que levariam à fundação do PT, ocasiões em que selou com Lula uma relação que sobreviveria à passagem do tempo. E continuaria na linha de frente da militância, nas várias metamorfoses pelas quais o partido passaria.

Sobressaíam nele a vitalidade, o otimismo e a jovialidade, que o faziam privilegiar o bom lado das coisas, contagiando quem o cercava. Sua hospitalidade tornou-se legendária, mostrando-se no calor com que acolhia a todos e na largueza com que distribuía benesses. Sua bonomia, distinguindo-se pela capacidade de congregar pessoas, ampliava o círculo de amigos e os tornava amigos uns dos outros: era ponto de encontro a festa de aniversário que oferecia todo ano. Certamente, o cultivo do convívio humano era para ele prioridade que praticava, espontaneamente, a cada minuto do dia.

Militante inquebrantável, que nenhum revés conseguia esmorecer, poucos dias antes de morrer ainda compareceu a duas reuniões, a do diretório de seu bairro e a da Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania (Cives), discutindo com afinco e animação.

Afora incontáveis amigos, pertencentes a várias gerações, deixa seis filhos e sete netos.

Walnice Nogueira Galvão integra o Conselho de Redação de Teoria e Debate