Política

A questão decisiva será nossa capacidade de formular e implementar uma estratégia que nos mantenha como principal expressão político-partidária dos que lutam pelo socialismo no Brasil

Em dezembro de 2007, 326 mil filiados escolheram quem dirigirá o PT em 2008 e 2009. O processo eleitoral e seu resultado podem ser analisados de vários ângulos; optamos aqui por tratar das distorções e dos impactos estratégicos.

As eleições internas (PED) de 2007, 2005 e 2001 foram contaminadas pela desigualdade material entre as chapas e candidaturas concorrentes, filiações em massa e cotizações anti-regimentais, exercício do voto sem conhecimento prévio das teses apresentadas pelas chapas e candidaturas, abuso de poder econômico e compra de votos, "uso da máquina" e interferência de outros partidos, governos e mídia no processo eleitoral petista.

Problemas similares também contaminam os encontros partidários, reforçando a necessidade de uma reforma política interna, que inclua medidas como: criar o financiamento partidário exclusivo no PED e prévias; extinguir o segundo turno, cabendo a presidência ao encabeçados da chapa mais votada; impedir o acerto coletivo e o transporte de filiados por chapas; acabar com o "exército de filiados de reserva" (quem não comparece ao PED, nem justifica sua ausência, deve ser automaticamente desfiliado). Alterações desse tipo, somadas ao jornal e à escola de formação, ajudarão a preservar a democracia e a organicidade militante indispensáveis a um partido socialista de massas.

Os novos dirigentes eleitos em 2007 têm, entre suas tarefas, vencer as eleições municipais, reaproximar-se dos movimentos sociais e dos partidos democrático-populares, girar à esquerda o governo Lula, orientar nossos executivos e bancadas, organizar o PED 2009 e as eleições quase gerais de 2010, construir uma candidatura petista capaz de disputar e vencer a próxima eleição presidencial, constituir a escola nacional de formação e lançar o jornal da militância, realizar o congresso da juventude, viabilizar o financiamento partidário.

O sucesso nessas tarefas imediatas ajudará na transição política, organizativa e geracional que o PT vive desde a crise de 2005. Mas a questão decisiva será nossa capacidade de formular e implementar uma estratégia que nos mantenha como principal expressão político-partidária dos que lutam pelo socialismo no Brasil, numa conjuntura internacional, latino-americana e brasileira completamente diferente da segunda metade dos anos 90, quando o partido caiu sob a hegemonia do falecido "campo majoritário" e sua "estratégia de centro-esquerda."

Desse ângulo, o processo do PED e seu resultado final não construíram soluções. A correlação de forças interna radicalizou-se em direção ao "centro" (em suas variadas expressões internas), o debate político foi inferior ao realizado em 2005, não se produziu solução para a equação lulismo/petismo.

A resultante agrada aos que encaram o PT como "o passado da esquerda" ou como uma "legenda de futuro". Mas continua complexa a situação dos que defendemos um PT com "p" maiúsculo, capaz de aproveitar as enormes oportunidades abertas no Brasil e na América Latina para os que lutam pelo socialismo.

Valter Pomar é Secretário de Relações Internacionais do PT e candidato à presidência nacional pela chapa A Esperança É Vermelha.