A atuação de militantes ligados a partidos de esquerda no movimento GLBT não é um fato novo.
A atuação de militantes ligados a partidos de esquerda no movimento GLBT não é um fato novo.
A atuação de militantes ligados a partidos de esquerda no movimento GLBT não é um fato novo. Antes mesmo da revolta de StonewallFrequentadores do bar Stonewall Inn, numa região de boemia homossexual de Nova York, na noite de 28 de junho de 1969, enfrentaram a polícia, que tentava interditar o bar. O confronto durou toda a madrugada. Os protestos de Stonewall marcam o surgimento do dia do orgulho gay e lésbico., ocorrida nos Estados Unidos em 1969, esses homens e mulheres defenderam propostas coerentes e necessárias na luta pelos direitos humanos de GLBT. No entanto, a aceitação de suas proposições dentro do movimento e, principalmente, na sociedade, foi quase nula.
Foi em Paris, Barcelona e Londres, na década de 1970, que as participações desses militantes no movimento foram mais marcantes. O Groupe de Libération Homosexuel Politique et Quotidien (GLHPQ), por parte dos franceses, a Front d’Alliberament Gai de Catalunya (FAGC) no Estado Espanhol e o Collective Gay Left (CGL) londrino faziam uma análise da natureza da discriminação sofrida pelos homossexuais e discutiam, dessa maneira, as raízes ideológicas da opressão, mostrando que um único sistema é culpado dessa e de outras idéias excludentes: o sistema capitalista.
Esses grupos eram contra o gueto homossexual e faziam uma severa crítica às relações sociais burguesas, além de unir suas lutas com as propostas de outros segmentos da sociedade igualmente explorados e oprimidos sexualmente, como as mulheres, as crianças e os idosos. Criticavam o modelo de família nuclear e patriarcal, eram contra o matrimônio e reivindicavam a aceitação dos homossexuais. Isso tudo só seria possível numa sociedade de transição ao socialismo.
No Brasil, os socialistas se destacaram num curto período, no fim da década de 1970, quando a esquerda lutava pela anistia e contra a ditadura militar, coincidindo com as lutas dos operários do ABC paulista, que culminou com a formação do PT. Até hoje, alguns militantes gays brasileiros da época culpam os socialistas por terem desarticulado o movimento GLBT no Brasil naquele período. Uma acusação, no mínimo, equivocada.
Doze anos após a criação do PT, um grupo de gays e lésbicas resolveu romper a resistência das instâncias partidárias e deu início ao primeiro núcleo GLBT dentro de um partido político. O primeiro nome dado a esse grupo foi Grupo Homossexual do Partido dos Trabalhadores (GHPT). Houve uma mudança da nomenclatura após o 7º Encontro Brasileiro de Homossexuais, ocorrido em 1993, passando a denominar-se Grupo de Gays e Lésbicas do PT (GGLPT). A mudança do nome do grupo petista acompanhou a reivindicação das militantes lésbicas feministas.
O impacto da formação desse grupo no interior do PT foi tão grande que, nas eleições de 1994, foram formados oito setoriais estaduais, com propostas bem definidas no programa de governo de combate à discriminação e ao preconceito contra GLBTs.
Hoje em dia, felizmente, os grupos GLBT não se limitam apenas ao PT. Porém, ainda é dentro dele que esses segmentos mantêm um nível de organização interna bem definido, com representações setoriais nos municípios e nos estados. As propostas desses militantes do PT ainda têm a ver com aquelas expostas pelos franceses e espanhóis.
Foram os militantes petistas da capital paulistana que tiveram a iniciativa de fazer, em meados de 1990, uma passeata na Praça da República, que, mais tarde, se transformaria na maior manifestação política do mundo: a Parada GLBT de São Paulo. Essa é uma história que, apesar dos esforços para que ela seja recontada de outra maneira, não será apagada. Sem medo, pode-se afirmar que= os méritos da reformulação do pensamento militante atual no Brasil se devem à atuaçã o desses homens e mulheres, que ousaram defender os direitos GLBT dentro de um partido político.
*William Aguiar, militante do PT-DF e do movimento GLBT.