Nacional

Entrevista com Wanderley Guilherme dos Santos

Para o cientista político, governo Lula deve apropriar-se de suas bandeiras

Wanderley Guilherme dos Santos. Foto: Marcelo Carnaval

Em que medida, na sua leitura, estas eleições municipais foram condicionadas pela conjuntura nacional de forte aprovação do governo Lula ? É possível extrair delas algumas indicações para o cenário eleitoral de 2010?

Não creio que, em geral, as eleições municipais tenham sido condicionadas pela conjuntura nacional. A forte aprovação do governo Lula não impediu derrotas inesperadas, não obstante o apoio presidencial aos candidatos. Por exemplo: nas cidades do Rio de Janeiro (Marcelo Crivella), São Paulo e Santo André. Se há alguma lição a ser tirada é que o candidato governista em 2010 deverá persuadir o eleitorado de que o apoio do presidente Lula não está mal empregado.

O apoio só, sem a ajuda do candidato, creio que seja insuficiente.

Há uma leitura, mais ou menos generalizada na mídia, afirmada por vários colunistas, de que o governador José Serra, em função da vitória do DEM em São Paulo e pelos resultados gerais no estado, é o grande vitorioso nestas eleições. Você concorda total ou parcialmente com esta avaliação?

Eleitoralmente, não concordo. Mas é necessário prestar atenção à capacidade da mídia em fazer com que os leitores acreditem nisso. Por aí é que pode ocorrer um efeito “manada”, como o que ocorreu no Rio em relação a Fernando Gabeira.

Nos anos 90, em torno da coalizão liderada por Fernando Henrique Cardoso, houve um crescimento dos partidos conservadores, em particular do antigo PFL. Como interpretar o fortalecimento do PMDB nestas eleições?

Não houve fortalecimento do PMDB nestas eleições. Ele voltou mais ou menos aos resultados de 2000, depois de ligeiro declínio em 2004, oscilações perfeitamente normais. Outra vez, o interesse da mídia me parece estar muito menos em prestigiar o PMDB do que em minimizar o PT, obrigando-o a se submeter às demandas do PMDB, o que, então, servirá de pretexto, em 2010, para acusar o PT de lotear o governo.

Em sua opinião, qual deve ser o centro da agenda política nas eleições presidenciais de 2010?

Creio que a oposição tentará sobrepor ao desempenho do governo, em todos os setores, um suposto problema de ética política e de capacidade de gestão. Acho que o governo devia, desde já, apropriar-se dessas bandeiras em seu discurso, nos considerandos dos projetos enviados ao Congresso, bem como em todas as manifestações públicas dos parlamentares, governadores e figuras emblemáticas. Acho crucial impedir que, em 2010, o eleitor pense que está diante da alternativa: crescimento ou moralidade pública. Para evitá-la é necessário apropriar-se daquelas bandeiras, desde já.

Juarez Guimarães é cientista político e membro do Conselho de Redação de Teoria e Debate