Nacional

Presença forte do PT deu e dá o tom das mudanças que vêm ocorrendo ao longo dos dois mandatos do governo Lula

Em meados dos anos 1970, escrevi uma carta a Alceu Amoroso Lima na qual, a certa altura, comentava: "Só acredito na reconciliação com o povo, na liberdade e na justiça, como o senhor não cansa de pregar. Perigosa a reconciliação das elites. O grande fosso que separa os brasileiros é social. Não poderá haver reconciliação política duradoura sem a participação do povo sem personalismos e sem populismos". Escrevi a carta na ocasião de um grave e doloroso acidente com um ônibus escolar numa área pobre de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, na qual morreram mais de vinte crianças. Mas penso que, além de uma indignação pessoal, esse comentário refletia um sentimento coletivo, compartilhado por muitas pessoas envolvidas e empenhadas em descobrir alternativas políticas para o país.

Esse mesmo sentimento nos mobilizava na luta contra a ditadura. Mas traduzia também parte fundamental do que nos mobilizou na construção do PT, em 1980: o desejo de romper com o pacto feito pelas elites e implantar um novo, feito com o povo, que nos permitisse construir um Estado brasileiro em sintonia com sua nação e valorizasse o melhor de nossa tradição política em sua perspectiva mais libertária.

Em torno desse ideal, o partido nasceu e cresceu plural. Amadureceu. Amadurecemos com ele, num processo que nos permitiu ampliar nossa representação pelo país, demonstrar a viabilidade do nosso projeto em prefeituras e governos estaduais e eleger o primeiro presidente de origem operária na história do país. A eleição e a reeleição do presidente Lula se viabilizaram a partir de um leque de alianças que foi se ampliando na mesma medida em que ampliávamos nossas pontes de diálogo com variados setores da sociedade, construindo dois mandatos amplos, com participação de vários partidos. O PT não chegou ao poder sozinho, mas, com certeza, é a presença forte que está dando o tom das mudanças. Um balanço político, ainda que breve, dos dois mandatos do governo Lula nos permite perceber a alma petista em muitas ações, em muitos programas, em muitas orientações de políticas.

Não há dúvidas de que estamos conseguindo mudar o país, embora não seja ainda o país de nossos sonhos. Temos muitos desafios para os quais ainda devemos muitas respostas, até para ficarmos à altura dos compromissos que nos trouxeram até aqui. Em nossas conquistas, ainda precisamos avançar mais em muitas áreas, como na questão urbana, principalmente nos grandes centros e em suas regiões pobres da periferia. Devemos respostas mais incisivas para a juventude, com ênfase para a juventude pobre. A questão da segurança pública é um complexo desafio que nos impõe novas reflexões. Esses e outros desafios compõem uma lista de questões e temos de pensar como será nosso acerto com o futuro. Como queremos chegar a 2022, ano do bicentenário de nossa independência, da formação de nossa nação? Desse modo, sabendo que nosso caminho ainda longo nos exige constantes reexames de consciência, podemos ter certeza de que já estamos vivendo realidades com as quais já sonhamos. Os nossos princípios que se mantêm vivos em muitas ações do governo do presidente Lula e em muitas outras administrações petistas indicam: a isso viemos. E em nome disso devemos prosseguir nosso caminho e aperfeiçoá-lo. Sempre.

Um ponto que impulsionou o crescimento do PT e que podemos identificar claramente no governo do presidente Lula é seu compromisso ético no sentido mais amplo. Ética traduzida como transparência e rigor no trato com a coisa pública. Mas também a ética na condução de políticas que defendem a vida, a ética que se traduz na dimensão social, no que chamamos de "inversão de prioridades": governar para todos, mas priorizando os recursos onde a vida humana esteja mais ameaçada.

As ações do governo Lula são pautadas por esses princípios. Princípios da transparência, o respeito rigoroso ao pacto federativo na condução de nossas políticas e programas, que chegam a todas as prefeituras e governos estaduais de maneira republicana e suprapartidária, sem discriminação partidária. A transparência das contas públicas expressas, por exemplo, no Portal Transparência, na valorização da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União (CGU). A participação popular é aliada do governo que mais estimulou a criação e funcionamento dos conselhos e a realização de conferências temáticas. De 2003 a 2009, foram 60 conferências, que mobilizaram aproximadamente 4 milhões de pessoas nas etapas municipais, estaduais e nacionais, dentro da boa tradição da democracia participativa, defendida pelo partido e valorizada desde as primeiras administrações petistas, como em Porto Alegre, que principiou no país as experiências de Orçamento Participativo, com bons desdobramentos em outras cidades.

Mas a ética defendida pelo partido se manifesta de forma ainda mais contundente na prioridade dada às políticas sociais, consolidando o que considero uma característica marcante de qualquer governo que se forma no campo democrático popular: o combate prioritário à desigualdade, em todas as suas dimensões. É a ética que se traduz na reorientação das políticas. Nesse sentido, não há dúvidas de que uma das marcas do governo do presidente Lula é a defesa de um projeto nacional pautado pelo conceito de justiça social, que promova a verdadeira conciliação com os pobres. O mesmo projeto que vemos se desenhar em torno de um conceito de desenvolvimento integral e integrado, com fortes impactos na realidade brasileira.

A ideia e a prática desse projeto têm nos permitido desvendar falsas dicotomias que por longos anos inviabilizaram a implantação de um projeto nacional inclusivo. Uma delas sustentava que o aumento do salário mínimo provocaria inflação. O governo do presidente Lula assumiu com os trabalhadores uma política de valorização permanente do salário mínimo, que acumulou ganho real de 53,46% entre 2003 e 2010, segundo cálculos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Tamanho crescimento, longe de abalar as estruturas da economia, foi justamente um dos fatores do desempenho exemplar do Brasil durante a crise econômica internacional, pois manteve aquecido o mercado interno.

Na mesma linha estão as políticas sociais, que em nosso projeto de desenvolvimento integral e integrado têm papel estratégico, e aí se manifesta um forte traço da alma petista do governo. Quando o presidente Lula apresentou, já no primeiro dia de seu primeiro mandato, o combate à fome como prioridade, fez mais do que uma promessa. Naquele momento, confirmou um desafio ético, moral e político que se impõe à nossa geração. Esse desafio, que está na origem da estratégia de articular ações e programas de governo em vários ministérios em torno do Fome Zero, desdobrou-se na forma de um vigoroso conceito de desenvolvimento social, que se firmou em seus mandatos. Estamos combatendo e vencendo a fome, a pobreza e a desigualdade, por meio de uma articulação de programas, políticas e ações, tendo o Bolsa Família como carro-chefe. O programa está presente em 12,5 milhões de lares pobres do país, com impactos positivos nos hábitos alimentares dessas famílias, na redução da taxa de desigualdade e na dinamização de economias regionais. Vamos perceber investimentos expressivos em todas as áreas sociais, em especial saúde e educação. Chamam atenção ações voltadas para valorização do ensino fundamental por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Básico (Fundeb), a retomada, em bases consistentes, do ensino médio profissionalizante e o aumento das vagas no ensino superior.

Acredito que a inversão de prioridades expressa-se na destinação de recursos, mas sobretudo na concepção mais integrada das políticas. A própria criação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome sinaliza fortemente nessa direção, porque ele surge a partir da integração de três áreas: segurança alimentar, assistência social e transferência de renda. São muitas as áreas com programas voltados aos mais pobres. Na agricultura familiar, uma área forte no governo do presidente Lula, destaca-se o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que já atingiu o orçamento de R$ 13 bilhões. Temos o Luz para Todos, os Territórios da Cidadania, que articulam ações e programas na região do semiárido, entre outros. Até mesmo as ações de infraestrutura guardam forte interlocução com a questão social ao enfatizar investimentos que beneficiam os mais pobres, como o programa Minha Casa, Minha Vida. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), além de promover geração de trabalho e emprego, as obras de saneamento, transporte, melhoria em vilas e favelas estão voltadas para que haja mais qualidade de vida para todos.

O econômico se integra com o social, no governo do presidente Lula, ao contrário do que vinha sendo pregado ao longo de nossa história. Superamos mais esse dualismo. Por muito tempo quiseram nos fazer acreditar que era necessário fazer o bolo crescer para depois dividir. Mas, na verdade, como conseguimos comprovar, o bolo, para crescer com consistência, precisa estar dividido.

Mas há outros traços da alma petista que se fazem forte no governo do presidente Lula. O PT tem uma forte tradição internacionalista, e isso se expressa na vigorosa política internacional do governo, que reposicionou o Brasil no cenário internacional, pondo fim a uma posição submissa e estabelecendo uma nova pauta baseada na solidariedade entre os povos. O Brasil assume uma posição de destaque na América Latina, com reconhecimento nos outros continentes, e tem o que dizer e o que apresentar em processos de negociação de políticas para construir a paz no mundo.

O PT também é o PT plural, que sempre discutiu e incorporou direitos de setores e segmentos mais marginalizados da sociedade, e isso tem repercussão no governo do presidente Lula. A questão da mulher e a do negro, por exemplo, estão tratadas em secretarias especiais, com status de ministério. Mas também as questões indígena, das populações ribeirinhas, entre outras, encontram representatividade e estão incorporadas nas discussões das políticas públicas.

Temos ainda muitos desafios, como os que já citei, além de tantos outros. Entre eles, posso destacar, por exemplo, a tarefa de fortalecer, de maneira mais veemente, o conceito de desenvolvimento ambiental, incorporando-o às outras áreas. Mas acredito que já reunimos condições para isso, porque está na base de nosso projeto nacional o conceito de desenvolvimento sustentável, que implica trabalhar o desenvolvimento em cinco dimensões: econômica, social, ambiental, cultural e regional. Essa preocupação está presente no governo do presidente Lula, como esteve em todas as administrações petistas. O que fizemos no passado tem reflexos no presente e se projeta no futuro. Recentemente, a World Future Council Award, uma ONG da Alemanha, premiou a experiência de segurança alimentar que implantamos em Belo Horizonte nos anos 1990. Reconheceram nessas políticas o embrião do Fome Zero e de programas que hoje estão sendo implementados em escala nacional.

Trabalhos assim nos fizeram crescer, mostraram nossa capacidade de governar e de governar com o povo. Não foi um começo fácil para o partido, que teve de enfrentar muitas dificuldades e até mesmo descrédito. Lembro-me em Minas, na eleição de 1982, quando fizemos apenas 14 vereadores. Nenhum prefeito. Só um deputado estadual e outro federal. Mas o partido seguiu em frente, marcado pela esperança e pela perseverança. Hoje, são 559 prefeitos, cinco governadores, as assembleias legislativas somam 131 deputados petistas e no Congresso nossos 87 parlamentares formam uma bancada plural, multifacetada, representando a sociedade no que tem de mais vivo. E, finalmente, em dois mandatos do presidente Lula, preservamos essa história, também dentro de um governo plural e multifacetado, no qual a alma petista amplia-se, desdobra-se e aponta caminhos novos e revigorados.

Patrus Ananias é ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Em meados dos anos 1970, escrevi uma carta a Alceu Amoroso Lima na qual, a certa altura, comentava: "Só acredito na reconciliação com o povo, na liberdade e na justiça, como o senhor não cansa de pregar. Perigosa a reconciliação das elites. O grande fosso que separa os brasileiros é social. Não poderá haver reconciliação política duradoura sem a participação do povo sem personalismos e sem populismos". Escrevi a carta na ocasião de um grave e doloroso acidente com um ônibus escolar numa área pobre de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, na qual morreram mais de vinte crianças. Mas penso que, além de uma indignação pessoal, esse comentário refletia um sentimento coletivo, compartilhado por muitas pessoas envolvidas e empenhadas em descobrir alternativas políticas para o país.

Esse mesmo sentimento nos mobilizava na luta contra a ditadura. Mas traduzia também parte fundamental do que nos mobilizou na construção do PT, em 1980: o desejo de romper com o pacto feito pelas elites e implantar um novo, feito com o povo, que nos permitisse construir um Estado brasileiro em sintonia com sua nação e valorizasse o melhor de nossa tradição política em sua perspectiva mais libertária.

Em torno desse ideal, o partido nasceu e cresceu plural. Amadureceu. Amadurecemos com ele, num processo que nos permitiu ampliar nossa representação pelo país, demonstrar a viabilidade do nosso projeto em prefeituras e governos estaduais e eleger o primeiro presidente de origem operária na história do país. A eleição e a reeleição do presidente Lula se viabilizaram a partir de um leque de alianças que foi se ampliando na mesma medida em que ampliávamos nossas pontes de diálogo com variados setores da sociedade, construindo dois mandatos amplos, com participação de vários partidos. O PT não chegou ao poder sozinho, mas, com certeza, é a presença forte que está dando o tom das mudanças. Um balanço político, ainda que breve, dos dois mandatos do governo Lula nos permite perceber a alma petista em muitas ações, em muitos programas, em muitas orientações de políticas.

Não há dúvidas de que estamos conseguindo mudar o país, embora não seja ainda o país de nossos sonhos. Temos muitos desafios para os quais ainda devemos muitas respostas, até para ficarmos à altura dos compromissos que nos trouxeram até aqui. Em nossas conquistas, ainda precisamos avançar mais em muitas áreas, como na questão urbana, principalmente nos grandes centros e em suas regiões pobres da periferia. Devemos respostas mais incisivas para a juventude, com ênfase para a juventude pobre. A questão da segurança pública é um complexo desafio que nos impõe novas reflexões. Esses e outros desafios compõem uma lista de questões e temos de pensar como será nosso acerto com o futuro. Como queremos chegar a 2022, ano do bicentenário de nossa independência, da formação de nossa nação? Desse modo, sabendo que nosso caminho ainda longo nos exige constantes reexames de consciência, podemos ter certeza de que já estamos vivendo realidades com as quais já sonhamos. Os nossos princípios que se mantêm vivos em muitas ações do governo do presidente Lula e em muitas outras administrações petistas indicam: a isso viemos. E em nome disso devemos prosseguir nosso caminho e aperfeiçoá-lo. Sempre.

Um ponto que impulsionou o crescimento do PT e que podemos identificar claramente no governo do presidente Lula é seu compromisso ético no sentido mais amplo. Ética traduzida como transparência e rigor no trato com a coisa pública. Mas também a ética na condução de políticas que defendem a vida, a ética que se traduz na dimensão social, no que chamamos de "inversão de prioridades": governar para todos, mas priorizando os recursos onde a vida humana esteja mais ameaçada.

As ações do governo Lula são pautadas por esses princípios. Princípios da transparência, o respeito rigoroso ao pacto federativo na condução de nossas políticas e programas, que chegam a todas as prefeituras e governos estaduais de maneira republicana e suprapartidária, sem discriminação partidária. A transparência das contas públicas expressas, por exemplo, no Portal Transparência, na valorização da Polícia Federal e da ControladoriaGeral da União (CGU). A participação popular é aliada do governo que mais estimulou a criação e funcionamento dos conselhos e a realização de conferências temáticas. De 2003 a 2009, foram 60 conferências, que mobilizaram aproximadamente 4 milhões de pessoas nas etapas municipais, estaduais e nacionais, dentro da boa tradição da democracia participativa, defendida pelo partido e valorizada desde as primeiras administrações petistas, como em Porto Alegre, que principiou no país as experiências de Orçamento Participativo, com bons desdobramentos em outras cidades.

Mas a ética defendida pelo partido se manifesta de forma ainda mais contundente na prioridade dada às políticas sociais, consolidando o que considero uma característica marcante de qualquer governo que se forma no campo democrático popular: o combate prioritário à desigualdade, em todas as suas dimensões. É a ética que se traduz na reorientação das políticas. Nesse sentido, não há dúvidas de que uma das marcas do governo do presidente Lula é a defesa de um projeto nacional pautado pelo conceito de justiça social, que promova a verdadeira conciliação com os pobres. O mesmo projeto que vemos se desenhar em torno de um conceito de desenvolvimento integral e integrado, com fortes impactos na realidade brasileira.

Continua

Em meados dos anos 1970, escrevi uma carta a Alceu Amoroso Lima na qual, a certa altura, comentava: "Só acredito na reconciliação com o povo, na liberdade e na justiça, como o senhor não cansa de pregar. Perigosa a reconciliação das elites. O grande fosso que separa os brasileiros é social. Não poderá haver reconciliação política duradoura sem a participação do povo sem personalismos e sem populismos". Escrevi a carta na ocasião de um grave e doloroso acidente com um ônibus escolar numa área pobre de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, na qual morreram mais de vinte crianças. Mas penso que, além de uma indignação pessoal, esse comentário refletia um sentimento coletivo, compartilhado por muitas pessoas envolvidas e empenhadas em descobrir alternativas políticas para o país.

Esse mesmo sentimento nos mobilizava na luta contra a ditadura. Mas traduzia também parte fundamental do que nos mobilizou na construção do PT, em 1980: o desejo de romper com o pacto feito pelas elites e implantar um novo, feito com o povo, que nos permitisse construir um Estado brasileiro em sintonia com sua nação e valorizasse o melhor de nossa tradição política em sua perspectiva mais libertária.

Em torno desse ideal, o partido nasceu e cresceu plural. Amadureceu. Amadurecemos com ele, num processo que nos permitiu ampliar nossa representação pelo país, demonstrar a viabilidade do nosso projeto em prefeituras e governos estaduais e eleger o primeiro presidente de origem operária na história do país. A eleição e a reeleição do presidente Lula se viabilizaram a partir de um leque de alianças que foi se ampliando na mesma medida em que ampliávamos nossas pontes de diálogo com variados setores da sociedade, construindo dois mandatos amplos, com participação de vários partidos. O PT não chegou ao poder sozinho, mas, com certeza, é a presença forte que está dando o tom das mudanças. Um balanço político, ainda que breve, dos dois mandatos do governo Lula nos permite perceber a alma petista em muitas ações, em muitos programas, em muitas orientações de políticas.

Não há dúvidas de que estamos conseguindo mudar o país, embora não seja ainda o país de nossos sonhos. Temos muitos desafios para os quais ainda devemos muitas respostas, até para ficarmos à altura dos compromissos que nos trouxeram até aqui. Em nossas conquistas, ainda precisamos avançar mais em muitas áreas, como na questão urbana, principalmente nos grandes centros e em suas regiões pobres da periferia. Devemos respostas mais incisivas para a juventude, com ênfase para a juventude pobre. A questão da segurança pública é um complexo desafio que nos impõe novas reflexões. Esses e outros desafios compõem uma lista de questões e temos de pensar como será nosso acerto com o futuro. Como queremos chegar a 2022, ano do bicentenário de nossa independência, da formação de nossa nação? Desse modo, sabendo que nosso caminho ainda longo nos exige constantes reexames de consciência, podemos ter certeza de que já estamos vivendo realidades com as quais já sonhamos. Os nossos princípios que se mantêm vivos em muitas ações do governo do presidente Lula e em muitas outras administrações petistas indicam: a isso viemos. E em nome disso devemos prosseguir nosso caminho e aperfeiçoá-lo. Sempre.

Um ponto que impulsionou o crescimento do PT e que podemos identificar claramente no governo do presidente Lula é seu compromisso ético no sentido mais amplo. Ética traduzida como transparência e rigor no trato com a coisa pública. Mas também a ética na condução de políticas que defendem a vida, a ética que se traduz na dimensão social, no que chamamos de "inversão de prioridades": governar para todos, mas priorizando os recursos onde a vida humana esteja mais ameaçada.

As ações do governo Lula são pautadas por esses princípios. Princípios da transparência, o respeito rigoroso ao pacto federativo na condução de nossas políticas e programas, que chegam a todas as prefeituras e governos estaduais de maneira republicana e suprapartidária, sem discriminação partidária. A transparência das contas públicas expressas, por exemplo, no Portal Transparência, na valorização da Polícia Federal e da ControladoriaGeral da União (CGU). A participação popular é aliada do governo que mais estimulou a criação e funcionamento dos conselhos e a realização de conferências temáticas. De 2003 a 2009, foram 60 conferências, que mobilizaram aproximadamente 4 milhões de pessoas nas etapas municipais, estaduais e nacionais, dentro da boa tradição da democracia participativa, defendida pelo partido e valorizada desde as primeiras administrações petistas, como em Porto Alegre, que principiou no país as experiências de Orçamento Participativo, com bons desdobramentos em outras cidades.

Mas a ética defendida pelo partido se manifesta de forma ainda mais contundente na prioridade dada às políticas sociais, consolidando o que considero uma característica marcante de qualquer governo que se forma no campo democrático popular: o combate prioritário à desigualdade, em todas as suas dimensões. É a ética que se traduz na reorientação das políticas. Nesse sentido, não há dúvidas de que uma das marcas do governo do presidente Lula é a defesa de um projeto nacional pautado pelo conceito de justiça social, que promova a verdadeira conciliação com os pobres. O mesmo projeto que vemos se desenhar em torno de um conceito de desenvolvimento integral e integrado, com fortes impactos na realidade brasileira.

Continua

A ideia e a prática desse projeto têm nos permitido desvendar falsas dicotomias que por longos anos inviabilizaram a implantação de um projeto nacional inclusivo. Uma delas sustentava que o aumento do salário mínimo provocaria inflação. O governo do presidente Lula assumiu com os trabalhadores uma política de valorização permanente do salário mínimo, que acumulou ganho real de 53,46% entre 2003 e 2010, segundo cálculos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Tamanho crescimento, longe de abalar as estruturas da economia, foi justamente um dos fatores do desempenho exemplar do Brasil durante a crise econômica internacional, pois manteve aquecido o mercado interno.

Na mesma linha estão as políticas sociais, que em nosso projeto de desenvolvimento integral e integrado têm papel estratégico, e aí se manifesta um forte traço da alma petista do governo. Quando o presidente Lula apresentou, já no primeiro dia de seu primeiro mandato, o combate à fome como prioridade, fez mais do que uma promessa. Naquele momento, confirmou um desafio ético, moral e político que se impõe à nossa geração. Esse desafio, que está na origem da estratégia de articular ações e programas de governo em vários ministérios em torno do Fome Zero, desdobrou-se na forma de um vigoroso conceito de desenvolvimento social, que se firmou em seus mandatos. Estamos combatendo e vencendo a fome, a pobreza e a desigualdade, por meio de uma articulação de programas, políticas e ações, tendo o Bolsa Família como carro-chefe. O programa está presente em 12,5 milhões de lares pobres do país, com impactos positivos nos hábitos alimentares dessas famílias, na redução da taxa de desigualdade e na dinamização de economias regionais. Vamos perceber investimentos expressivos em todas as áreas sociais, em especial saúde e educação. Chamam atenção ações voltadas para valorização do ensino fundamental por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Básico (Fundeb), a retomada, em bases consistentes, do ensino médio profissionalizante e o aumento das vagas no ensino superior.

Acredito que a inversão de prioridades expressa-se na destinação de recursos, mas sobretudo na concepção mais integrada das políticas. A própria criação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome sinaliza fortemente nessa direção, porque ele surge a partir da integração de três áreas: segurança alimentar, assistência social e transferência de renda. São muitas as áreas com programas voltados aos mais pobres. Na agricultura familiar, uma área forte no governo do presidente Lula, destaca-se o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que já atingiu o orçamento de R$ 13 bilhões. Temos o Luz para Todos, os Territórios da Cidadania, que articulam ações e programas na região do semiárido, entre outros. Até mesmo as ações de infraestrutura guardam forte interlocução com a questão social ao enfatizar investimentos que beneficiam os mais pobres, como o programa Minha Casa, Minha Vida. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), além de promover geração de trabalho e emprego, as obras de saneamento, transporte, melhoria em vilas e favelas estão voltadas para que haja mais qualidade de vida para todos.

O econômico se integra com o social, no governo do presidente Lula, ao contrário do que vinha sendo pregado ao longo de nossa história. Superamos mais esse dualismo. Por muito tempo quiseram nos fazer acreditar que era necessário fazer o bolo crescer para depois dividir. Mas, na verdade, como conseguimos comprovar, o bolo, para crescer com consistência, precisa estar dividido.

Mas há outros traços da alma petista que se fazem forte no governo do presidente Lula. O PT tem uma forte tradição internacionalista, e isso se expressa na vigorosa política internacional do governo, que reposicionou o Brasil no cenário internacional, pondo fim a uma posição submissa e estabelecendo uma nova pauta baseada na solidariedade entre os povos. O Brasil assume uma posição de destaque na América Latina, com reconhecimento nos outros continentes, e tem o que dizer e o que apresentar em processos de negociação de políticas para construir a paz no mundo.

O PT também é o PT plural, que sempre discutiu e incorporou direitos de setores e segmentos mais marginalizados da sociedade, e isso tem repercussão no governo do presidente Lula. A questão da mulher e a do negro, por exemplo, estão tratadas em secretarias especiais, com status de ministério. Mas também as questões indígena, das populações ribeirinhas, entre outras, encontram representatividade e estão incorporadas nas discussões das políticas públicas.

Temos ainda muitos desafios, como os que já citei, além de tantos outros. Entre eles, posso destacar, por exemplo, a tarefa de fortalecer, de maneira mais veemente, o conceito de desenvolvimento ambiental, incorporando-o às outras áreas. Mas acredito que já reunimos condições para isso, porque está na base de nosso projeto nacional o conceito de desenvolvimento sustentável, que implica trabalhar o desenvolvimento em cinco dimensões: econômica, social, ambiental, cultural e regional. Essa preocupação está presente no governo do presidente Lula, como esteve em todas as administrações petistas. O que fizemos no passado tem reflexos no presente e se projeta no futuro. Recentemente, a World Future Council Award, uma ONG da Alemanha, premiou a experiência de segurança alimentar que implantamos em Belo Horizonte nos anos 1990. Reconheceram nessas políticas o embrião do Fome Zero e de programas que hoje estão sendo implementados em escala nacional.

Trabalhos assim nos fizeram crescer, mostraram nossa capacidade de governar e de governar com o povo. Não foi um começo fácil para o partido, que teve de enfrentar muitas dificuldades e até mesmo descrédito. Lembro-me em Minas, na eleição de 1982, quando fizemos apenas 14 vereadores. Nenhum prefeito. Só um deputado estadual e outro federal. Mas o partido seguiu em frente, marcado pela esperança e pela perseverança. Hoje, são 559 prefeitos, cinco governadores, as assembleias legislativas somam 131 deputados petistas e no Congresso nossos 87 parlamentares formam uma bancada plural, multifacetada, representando a sociedade no que tem de mais vivo. E, finalmente, em dois mandatos do presidente Lula, preservamos essa história, também dentro de um governo plural e multifacetado, no qual a alma petista ampliase, desdobra-se e aponta caminhos novos e revigorados.

Patrus Ananias é ministro do desenvolvimento social e combate à fome.