Política

Markus Sokol escreve sobre o PT nos trinta anos do partido

"O PT surge da necessidade sentida por milhões de brasileiros de intervir na vida social e política do país para transformá-la", diz a primeira frase do Manifesto de Fundação, concluindo por "construir uma sociedade igualitária, onde não haja explorados nem exploradores".

Estavam certos os trabalhadores, muitos jovens, que se jogaram na fundação deste partido, inclusive da "esquerda" enfiada no MDB e PDT, parte da qual veio a se integrar ao PT, contra a ordem e o consenso bem-pensante da época. E, hoje, estão errados os que desertaram do PT, para proclamar partidos de costas para as necessidades da classe trabalhadora.

O PT é uma necessidade histórica. Uma prova vem do povo trabalhador, que em trinta anos lhe deu dois mandatos presidenciais.

Ao mesmo tempo, e por isso mesmo, a pergunta serena: quantos mandatos mais para responder às aspirações de "transformação"? Se nem mesmo os torturadores assassinos da ditadura foram investigados?! Quantos mais para o latifúndio ser erradicado, o trabalho garantido, as empresas reestatizadas, o petróleo recuperado e a Nação emancipada da dívida?

Quantos mandatos mais com o PMDB, o BC na mão dos banqueiros, o ministro da Agricultura contra a reforma agrária e o da Defesa que quer ficar mais cinco anos no Haiti!? Até quando conviver com as instituições corruptas, moldadas pela subordinação da elite ao capital internacional, e evitar a luta por sua reconstituição?

E, no entanto, o PT continua necessário.

Aí está a gigantesca crise do capitalismo, que continua ­ falência de Estados, bolha especulativa, desemprego mundial, guerras, exploração ­ rumo a uma verdadeira catástrofe planetária (em menos de trinta anos).

Tudo isso atualiza aquele PT. E alerta, se não descarta ­ vejam o percurso de Marina ­, os que se desorientam no caminho, buscando uma falsa "ética republicana" e uma certa ecologia como ideias substitutas do programa da fundação.

O deslumbramento com o G-20 (e emprestar para o FMI), o "acordo nacional com o PMDB" (Sarney seria o novo!), a substituição dos congressos de delegados pelo PED são políticas velhas apresentadas como "modernas". Assim, a cúpula se sobrepôs ao controle do trabalhador de base, cada vez mais afastado ­ um elemento da degeneração do partido.

De um jeito ou outro, os próximos anos serão de combate para preservar o PT da degeneração que o ameaça e de luta por um verdadeiro governo do PT.

Do PT "que nasce da vontade de independência política dos trabalhadores, já cansados de servir de massa de manobra para os políticos e os partidos comprometidos com a manutenção da atual ordem econômica, social e política", que "proclama que sua participação em eleições e suas atividades parlamentares se subordinarão ao objetivo de organizar as massas exploradas e suas lutas" (Manifesto de Fundação).

Markus Sokol, membro do Diretório Nacional do PT; Corrente O Trabalho