Política

Teremos de ter um partido unido, com consciência de sua responsabilidade e capacidade de liderar o processo e mobilizar a sociedade

O PT precisa reforçar sua atuação partidária na defesa de bandeiras históricas, porque setores conservadores vão utilizar o que aconteceu na campanha eleitoral para fazer lobby no Congresso Nacional e brecar qualquer iniciativa mais progressista

Elegemos a primeira mulher presidente da República em um cenário que nossa candidatura era acompanhada – no final de 2009 e início de 2010 – por uma série de desconfianças de adversários e setores da mídia, que apontavam o encerramento da participação do PT no governo federal e a inevitável vitória da oposição. Apostaram no processo de desqualificação de nossa candidata, disseram que não seria aceita pelo PT, não andaria com pernas próprias, não seria capaz de fazer os debates, enfim, um conjunto de elementos apresentados pelos adversários e particularmente por setores da mídia.

Conseguimos superar as desconfianças e dificuldades e tivemos um resultado vitorioso. Ganhamos a Presidência da República e o PT mais uma vez foi o partido mais votado no Brasil. Elegemos a maior bancada de deputados federais e a segunda bancada do Senado, lançamos dez candidatos a governador e elegemos cinco. Também fizemos o maior número de deputados estaduais.

Mas a campanha, especialmente a presidencial, nos trouxe algumas lições. Cometemos equívocos no primeiro turno, que foram corrigidos no segundo, quando politizamos o debate, estabelecemos a diferença de projetos, recolocamos a questão das privatizações e conseguimos vencer a partir de um confronto mais ideológico.

Esse é um ponto sobre o qual precisamos refletir muito. Esta campanha estabeleceu um recrudescimento dos setores mais conservadores, particularmente na questão dos costumes. Isso pode dificultar avanços em nosso governo sobre determinados temas.

O PT precisa reforçar sua atuação partidária na defesa de bandeiras históricas, porque setores conservadores vão utilizar o que aconteceu na campanha eleitoral para fazer lobby no Congresso Nacional e brecar qualquer iniciativa mais progressista.

No campo político, teremos de ter um partido unido, com consciência de sua responsabilidade e capacidade de liderar o processo e mobilizar a sociedade. Temos ainda algumas tarefas fundamentais, entre elas a reforma política. Sempre fomos a favor, mas nunca tivemos a capacidade de mobilizar o conjunto da sociedade para a necessidade de mudança do modelo atual – cujos vícios têm, inclusive, contaminado as eleições internas do PT. Somente com mobilização social conseguiremos romper a inércia do Congresso sobre o tema.

Mas, quando falamos de reforma política, não podemos ficar apenas em nossas propostas já conhecidas, como voto em lista fechada, financiamento público de campanhas e fim das coligações para eleições proporcionais.

Precisamos discutir também uma série de outras questões, como a criação de mecanismos que reduzam a crescente judicialização da política. Isso é muito mais grave do que à primeira vista percebemos, pois se configura uma tentativa de tutela da cidadania.

Chegamos a uma situação em que dez ou onze pessoas se julgam no direito de determinar em quem o povo pode ou não votar. Há um movimento para que a vontade de procuradores, promotores e juízes se sobreponha à vontade soberana do povo. É uma visão elitista. Temos de lutar para restabelecer a cidadania sem tutela e a plena liberdade de escolha da população.

Precisamos ter coragem de colocar essas e outras questões – e esse é nosso principal desafio – sem nos render ao senso comum ou às pressões dos setores conservadores.

Durante a campanha, assumimos o compromisso de fazer mais e melhor.Por isso o povo brasileiro nos deu um terceiro mandato. Um novo período se inicia em 2011. E temos todas as condições de avançar na consolidação das bandeiras históricas do PT e da esquerda brasileira.

José Eduardo Dutra, presidente nacional do PT