Política

Foi determinante para a vitória a entrada em cena da militância, reagindo à ofensiva dos representantes diretos do imperialismo

Entre o primeiro e o segundo turno das eleições presidenciais, foi determinante, para a vitória do PT, a entrada em cena da militância petista e dos trabalhadores, reagindo à ofensiva dos representantes diretos do imperialismo, com a bênção do papa Bento XVI.

Espontaneamente, como em Canindé (CE), um padre e os fiéis rechaçaram a manipulação de setores da Igreja, com a conivência da cúpula, em favor do candidato do PSDB, ou no episódio da gráfica do Cambuci, cercada por militantes em vigília para impedir o sumiço do panfleto encomendado pelo bispo de Guarulhos.

Manifestações organizadas, como a do sindicato dos trabalhadores, de agentes de Saúde, no Rio, a registrada no Partido Alto Bolinha de Papel, um manifesto de sambistas em apoio à candidatura Dilma, ou a passeata impulsionada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), que reuniu milhares para reafirmar a defesa do petróleo para a nação brasileira.

Isso contrastava com a orientação do comando da campanha. Na questão da descriminalização do aborto, por exemplo, a cada nova ofensiva se davam garantias a bispos e pastores que não havia “esse perigo”. Aliás, aí está um desafio colocado para o PT. Foi notável o silêncio do partido no combate àquela odiosa ofensiva contra a vida de centenas de milhares de mulheres, em especial das classes trabalhadoras, que morrem vítimas de abortos feitos em condições precárias. A posição do PT é uma conquista da luta em favor da democracia e da vida – e deve ser retomada.

Foi a entrada em cena da militância e dos trabalhadores que garantiu a vitória do PT, e não o acordo nacional com o PMDB, que se diga, só traz danos. Danos ao partido, como ficou patente nos casos do Maranhão e Minas Gerais. Danos aos trabalhadores, pois não será governando com os latifundiários do PMDB que poderá ser realizada, por exemplo, a reforma agrária.

Eleita, Dilma, no primeiro discurso, reafirmou “acima de tudo” o “compromisso com a estabilidade da economia e das regras econômicas, dos contratos firmados”.

A continuidade da política que subordina as necessidades do povo ao superávit primário, para pagar juros da dívida, permite resolver o problema de vida e emprego dignos, terra e serviços públicos à maioria oprimida da nação? Oito anos depois, a experiência com o governo Lula mostra que não.

Em um mundo atravessado pela crise do capitalismo, hoje podemos ver as consequências da política aplicada na Europa, muitas vezes por governos socialistas, para seguir o receituário do FMI, vitaminado pelo G-20, para salvar bancos e multinacionais. Daí a “grita geral”, no Brasil, que não é uma ilha na tormenta da crise, pelo corte de gastos ou exigências de reformas para retirar direitos e abaixar o “custo Brasil”.

Eis um grande desafio para o PT: como partido dos trabalhadores, ser um instrumento de luta para que o governo eleito atenda às reivindicações da maioria oprimida, para conquistarmos nossa soberania. O que começa por respeitar a soberania de todos os povos.

Seis anos de ocupação da ONU, comandada pelas tropas brasileiras, a cada dia se comprova que ela nada tem de humanitária. Até quando o partido vai seguir calado diante das atrocidades a que está submetido o povo do Haiti?

Uma carta à presidenta Dilma, pela retirada das tropas brasileiras, foi entregue ao governo de transição. Essa carta, saudada com entusiasmo pelos 400 delegados dos 52 países, incluindo delegados do Haiti, reunidos na Conferência Mundial Aberta contra a Guerra e a Exploração (Argélia, 27 a 29 de novembro de 2010), deveria receber o apoio de todo o partido.

Misa Boito, membro o Diretório Estadual do PT-SP