Política

Disputamos e vencemos a retrógrada concepção de que “os jovens serão os futuros dirigentes do PT”

A garantia de participação de 20% de jovens nas chapas e direções do PT é resultado de esforço da militância, na base, nos movimentos, na sociedade, de maior participação na construção cotidiana

Juventude plural e na luta durante Congresso da UNE

Juventude plural e na luta durante Congresso da UNE. Foto: Valter Campanato/ABr

Há pouco tempo, falar de congresso partidário nos remetia a algumas imagens, como a do “coordenador de bancada”, do dirigente que “indicava” em que proposta votar, ou ainda das mesas de negociações bilaterais entre as forças, nas quais eram realizados os verdadeiros debates e acordos. Sem falar na dos plenários vazios e de debates amenos. Muitos esperavam que o 4º Congresso do PT fosse um momento de pequenas alterações no estatuto do partido, sem grandes surpresas.

Mas, felizmente, não serão essas as imagens que ficarão na memória e na história do Partido dos Trabalhadores.

Tivemos o privilégio de construir um momento de participação ativa de nossos(as) filiados(as), quando o que nos orientou foi nossa consciência militante. As forças políticas tiveram seu papel e não se sobrepuseram ao grito de pluralidade, de luta para que o PT seja cada vez mais forte, de massas e democrático.

O resultado desse processo transformará a atual forma de fazer política, pois avança na integração dos setores que historicamente foram excluídos e estabelece paradigmas para o avanço da democracia participativa.

De fato, a não permissão de mandatos eternos dentro e fora do partido, a garantia de participação dos negros(as), da juventude e a paridade entre os gêneros para ampliar a atuação das mulheres não são medidas pontuais, são acúmulos de um processo histórico, de uma revolução que está em curso no PT – e, se depender de nós, se alastrará pela sociedade.

Disputamos e vencemos a retrógrada concepção de que “os jovens serão os futuros dirigentes do PT”. Agora vamos ajudar a dirigir o PT. Apesar da sensibilidade e do compromisso de alguns dirigentes para com a temática, a garantia de 20% de jovens nas chapas e direções do partido é também resultado de esforço de nossa aguerrida militância, na base, nos movimentos, na sociedade, na luta, enfim de maior participação na construção cotidiana.

A notoriedade da temática é enorme, desse modo estamos em pleno Ano Internacional da Juventude, promulgado pela ONU. A efervescência política e mobilizações das juventudes ocorreram no Brasil no Fora Arruda, Fora Micarla, nas Marchas da Maconha, das Vadias, na Jornada de Lutas da UNE, e em países como Tunísia, Egito, Inglaterra, Espanha, Chile, Grécia, onde eclodiram grandes protestos por empregos, democracia e direitos sociais.

Somos no mundo contemporâneo demograficamente uma parcela significativa da sociedade, 50% no Egito e Bahrein, ainda mais na Argélia e Tunísia. No Brasil, em breve atingiremos um momento culminante na pirâmide etária. Provavelmente em curto espaço de tempo isso não se repetirá. Portanto, temos o dever de formar politicamente os atuais 52 milhões de jovens brasileiros.

É nosso dever contribuir para a edificação do desenvolvimento do país com justiça social e investimento geracional. Nos espaços institucionais já avançamos com os conselhos municipais, estaduais, com o Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), com as conferências, com o debate legislativo. Nesse período, temos ações prioritárias: a implementação dos marcos regulatórios, o Plano Nacional, o Estatuto e o Sistema Nacional de Juventude, bem como o fortalecimento da Secretaria Nacional de Juventude, do governo federal, e das PPJs.

De 2003 até 2010, muita coisa já foi feita, 863 mil jovens tiveram acesso à universidade com o ProUni, foram criadas 214 escolas técnicas, gerados mais de 15 milhões de empregos com carteira assinada. Entretanto, as tarefas que nos esperam são ainda maiores com o pré-sal, os eventos esportivos. Temos investimentos do PAC que carecem de uma concepção ampla de desenvolvimento que tenha um verdadeiro pacto entre as gerações. A juventude brasileira é hoje 58% das classes C, D e E. Pensar em emancipação de um povo sem oportunidades de mobilidade social para os mais jovens é criar um factoide, sem atingir o cerne do debate.

Para alcançarmos o objetivo de alteração dos eixos da sociedade com compromisso geracional, é necessário reaproximar os jovens da política, e o Partido dos Trabalhadores tem a obrigação de se constituir mais do que um instrumento, deve ser uma seara de formulação e formação política, que dialogue com a sociedade, com os movimentos, trazendo os(as) filiados(as) ao centro do processo ideológico e político, e que trate a juventude enquanto agente da transformação cultural e social do país.

As bandeiras da JPT clamam pela reforma política, pela democratização da comunicação, pelo Plano Nacional de Banda Larga, pelo acesso a cultura, emprego, lazer e educação. Nos renovamos, somos plural.

O II Congresso Nacional da JPT organizou mais de 1.500 municípios. São mais de 15 mil jovens petistas em todo o Brasil debatendo e declarando que nosso partido tem de assumir a vanguarda. O modelo de setorial não nos é suficiente. Fomos a primeira instância do partido a ter paridade entre os gêneros e critério étnico-racial na direção, com representatividade regional.

A Secretaria Nacional de Juventude do PT tem de ter um orçamento anual, aprovado pela Executiva Nacional do partido, para planejar e estabelecer metas e ações. O processo de eleição da JPT deve, inclusive, ser realizado no PED, com urna específica, massificando nossa ação e legitimando a presença e o voto da juventude na Executiva do PT.

Fortalecemos relação com movimentos, com a juventude negra do PT (JN13), as jovens feministas, a juventude trabalhadora e gestores de juventude. Temos uma intervenção nas relações internacionais, realizamos Caravana pelo Brasil, campanhas, debates e formação. Enfim, dedicamos preciosos anos de nossa jovem vida à construção do que acreditamos, “com a estrela no peito, e o Brasil no coração”, vivemos o sonho de contribuir para a construção de um mundo melhor!

Muito, muito mais temos pela frente. Grande parte de nossos avanços foi em nível nacional, com exceção de alguns estados. Ainda não temos a JPT funcionando bem e de forma estruturada. Os municípios, então, esses sim, são o nosso maior desafio, pois “uma cidade parece pequena, se comparada com um país, mas é na minha, na sua cidade que se começa a ser feliz”. É justamente nas cidades que há a possibilidade do debate em núcleos, do fortalecimento da identidade petista.

Veremos esses 20% mudar muita coisa. O estado de Pernambuco é hoje o único a ter cinco membros jovens na Executiva do PT, e por aqui posso testemunhar: muito já aprendemos e edificamos nessa benéfica dinâmica.

Vívian Farias é coordenadora Nacional de Organização da JPT e secretária Estadual de Comunicação PT-PE