Mundo do Trabalho

A importância da incubadora da Universidade Federal da Paraíba como agente de crescimento regional, com enfoque na luta contra a desigualdade

A negação histórica da existência de um povo palestino, necessária para afirmar o status da terra como res nullius, como uma terra sem povo destinada ao povo a que fora prometida, mantém-se constante até hoje e é acompanhada da vilificação daqueles que estão “do outro lado”, daqueles menos civilizados, dos radicais, dos amantes da morte

Mandalla: projeto para melhorar a qualidade de vida de comunidades rurais

Mandalla: projeto para melhorar a qualidade de vida de comunidades rurais. Foto: Antonio Milena/ABr

A economia solidária é um conjunto de experiências coletivas de trabalho, produção, comercialização e crédito, organizadas por princípios solidários, espalhadas em diversas regiões do país, sob diversas formas, como define Paul Singer1. Ressurge como um resgate da luta histórica dos trabalhadores, como defesa contra a exploração do trabalho humano e como uma alternativa ao modo capitalista de organizar as relações sociais dos seres humanos entre si e destes com a natureza, propiciando a sobrevivência e a melhoria da qualidade de vida de milhões de pessoas em diferentes partes do mundo.

Os empreendimentos econômicos solidários podem explicar um novo e complexo tecido social, nos quais os setores populares desenvolvem suas atividades produtivas, cujo objetivo não é, prioritariamente, a acumulação de capital, mas a sobrevivência de quem neles trabalha2.

As incubadoras de empresas, por sua vez, são empreendimentos destinados a amparar o estágio inicial de empresas nascentes que se enquadram em determinadas áreas de negócios, de acordo com a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores. Nesse caso, podem ser compreendidas como um ambiente flexível e encorajador, em que são oferecidas facilidades para o surgimento e o crescimento de novos empreendimentos.

Sua origem aponta para o final da década de 1950, em Nova York, como consequência da proliferação dos parques tecnológicos nos Estados Unidos, com ênfase na incubação de empreendimentos solidários3. No Brasil, tiveram início em 1982, com a criação dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs), que objetivavam uma aproximação entre universidade e empresas privadas e a descentralização do desenvolvimento tecnológico, conforme França Filho. De lá para cá, já se contam mais de trezentas experiências espalhadas pelos estados brasileiros, que demonstram a inversão da lógica tradicional do direcionamento do investimento da pesquisa, antes voltada quase exclusivamente para o mercado e agora para o trabalho ou para a sociedade4.

Como o objetivo deste artigo está atrelado ao caso da Incubadora Universitária de Empreendimentos Solidários (Inceps), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), ressalta-se que a importância do desenvolvimento de ações com essa finalidade deve-se ao papel dado às incubadoras. Estas, servindo de agentes de crescimento econômico regional, têm em vista o enfoque da sociossustentabilidade de empreendimentos coletivos, cuja prioridade é a luta contra as desigualdades, orientada pela chamada economia solidária do trabalho.

A incubação de empreendimentos econômicos solidários, em grande parte realizada por incubadoras universitárias, tem algumas particularidades em relação àquela voltada para o mercado e assume, muitas vezes, funções de captação de recursos, busca de parcerias (e mediação dessas relações), desenvolvimento dos grupos e participação em sua organização, entre outra5.

História da Inceps

A Inceps nasceu da divisão da Incubadora de Empreendimentos Solidários (Incubes), criada em 2001, após um período de discussão entre professores da UFPB, e subordinada à Coordenação dos Programas de Ação Comunitária (Copac), órgão da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (PRAC/UFPB). Inicialmente foi instalada no Campus I da UFPB, em João Pessoa, e no Campus III, em Bananeiras. Em 2005, diante da necessidade de dar um salto de qualidade, separou-se a incubadora do Campus de Bananeiras, que passou a se chamar Inceps.

Seu objetivo geral é participar da educação política de trabalhadores para a promoção do trabalho e da renda. Entre os objetivos específicos estão incentivá-los, por meio de processos educativos e técnicos, para a superação da situação do não trabalho; contribuir para a organização de empreendimentos solidários e populares, promovendo a ocupação pelo trabalho e renda; efetivar procedimentos pela educação popular para o exercício da economia solidária e da autogestão; atuar na busca da auto-organização dos trabalhadores; valorizar ações práticas em empreendimentos que exercitem valores éticos voltados à justiça, à igualdade, à liberdade e à felicidade; exercitar seus membros na produção acadêmica, em campos da economia solidária e autogestão, da extensão universitária, dos movimentos sociais populares e da educação popular.

Mas, para pôr todos em prática, a Inceps, que será responsável pelo empreendimento, emprega uma metodologia de incubação em que primeiro se identifica a necessidade de organizar uma comunidade para a melhoria da qualidade de vida, tendo em vista o desenvolvimento de um empreendimento solidário e observando a realidade das demandas e as potencialidades do local se dará a atividade.

Entretanto, essa metodologia, que atua na realidade para a produção voltada para o mercado, será uma atividade de constante renovação de análises e atualização em seus encaminhamentos devido à complexa rede de relações entre a incubadora, os processos educativos e a educação popular, a produção acadêmica, o mercado, os aspectos econômicos gerenciais, os serviços prestados, a autogestão e os valores éticos e o acompanhamento, a avaliação e o apoio6.

Nesse caso, cabe à Inceps apresentar e sensibilizar os atores envolvidos, por meio de discussões dos temas que poderão ser trabalhados no empreendimento, demonstrar as alternativas para a geração de trabalho e renda na comunidade e formar e consolidar o grupo de incubadores que atuará no empreendimento. O processo de incubação prevê três fases:

- A pré-incubação engloba a aglutinação da comunidade para voltar-se à ocupação e renda por meio de reuniões informais e sistemáticas, dinâmicas de grupo, dramatizações, brainstorming, seminários para a criação do espírito de equipe e socialização dos conhecimentos; o diagnóstico da situação por meio da pesquisa-ação, a escolha da atividade econômica, o estudo da viabilidade, a capacitação técnica e a mobilização e organização dos membros da comunidade.

- A incubação envolve a elaboração do plano de negócio por meio de pesquisas e da elaboração do projeto, a organização do empreendimento e do cenário da produção, a negociação do projeto, a análise da qualidade da matéria-prima e do produto a ser trabalhado, o desenvolvimento do treinamento por imersão e a implantação do empreendimento.

- A desincubação compreende a inserção e a atuação da comunidade no mercado; a assessoria para a implementação das atividades realizadas; a avaliação do grau de autonomia da comunidade, considerando o planejamento, a organização, a direção e o controle do empreendimento, a disposição da ajuda coletiva, a formação de parcerias, de convênios e a definição de quando e como realizar suas atividades produtivas; e, por fim, a retirada do grupo da Inceps do empreendimento.

Essa metodologia foi aplicada com êxito na Associação dos Moradores de Samambaia (AMS), na Associação de Piscicultores de Bananeiras (Aspib), na Colônia de Pescadores de Bayeux e na Escola de Tecnologia de Mandalas, da UFPB.

Sistema Mandalla

O Sistema de Produção Mandalla é um exemplo dos projetos que a Inceps desenvolve, na Escola de Tecnologia de Mandalas, para melhorar a qualidade de vida de comunidades rurais da região. Foi criado para unir o que há de melhor em matéria de tecnologia ao atendimento dos interesses econômicos, sociais e ambientais da agricultura familiar no Brasil. Um dos segmentos da economia popular solidária, essa modalidade de agricultura é definida como o conjunto de unidades econômicas organizadas pelos setores populares que apresentam as seguintes características: pequena escala de produção, tecnologia artesanal, mercado consumidor predominantemente local ou regional, dependência das grandes empresas para a compra de matérias-primas e venda dos produtos e relações de trabalho não institucionalizadas7.

Com relação às ações de incubação de empreendimentos solidários da Inceps, verifica-se a eficácia do processo devido aos critérios de avaliação de empreendimentos solidários propostos por Claudio Cunca Bocayuva8, que são os indicadores de sustentabilidade organizacional e técnica relacionados com o ambiente de aprendizagem, os de autogestão, os de desenvolvimento sócio-técnico e os da relação das dimensões anteriores com os pactos, acordos e compromissos firmados enquanto objetivos das políticas.

Constata-se, assim, a viabilidade econômica e social da incubação de empreendimentos solidários, uma alternativa para a melhoria da qualidade de vida das pessoas tidas como excluídas do sistema capitalista, bem como a incorporação dessa metodologia por outras incubadoras, auxiliando no processo de inclusão social.

Cláudio Ruy Portela de Vasconcelos é professor na UFPB, Centro de Tecnologia, do Departamento de Engenharia de Produção ([email protected])

Paulino José Dália Torres é estudante do ensino médio, membro voluntário de pesquisa ([email protected])

Raissa Dália Paulino é professora UFPB, Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas, Grupo de Pesquisa Getec ([email protected])

Wellington Alves é mestrando em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Referências

ANPROTEC. Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas. Disponível em: www.anprotec.org.br  Acesso em: 10 nov. 1998.

DORNELAS, J.C.A. Planejando Incubadoras de Empresas: como Desenvolver um Plano de Negócios para Incubadoras. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

FRANÇA FILHO, G.C. de. “Teoria e prática em economia solidária: problemática, desafios e vocação”. Civitas - Revista de Ciências Sociais, v. 7, n. 1, jan-jun. 2007. p. 155-174.

INCEPS. Disponível em: www.cft.ufpb.br/inceps. Acesso em: 22 ago. 2007.

NADAS, G.; NORDTVEDT, E.; VINTURELLA, J. Business Incubation and the Small Business Institute: a Case Study. JEDCO Enterprise Center, 1991.