Política

De novo a esperança venceu o medo: mais de 17 milhões de votos conquistados pelo PT em todo o país. No Pará, elegemos 23 prefeitos e 183 vereadores

A negação histórica da existência de um povo palestino, necessária para afirmar o status da terra como res nullius, como uma terra sem povo destinada ao povo a que fora prometida, mantém-se constante até hoje e é acompanhada da vilificação daqueles que estão “do outro lado”, daqueles menos civilizados, dos radicais, dos amantes da morte

Vista aérea do centro comercial e do Mercado Ver-o-Peso, em Belém (PA)

Vista aérea do centro comercial e do Mercado Ver-o-Peso, em Belém (PA). Foto: Flávya Mutran/Folhapress

A mais importante lição que o trabalhador brasileiro aprendeu em suas lutas é a de que a democracia é uma conquista que, finalmente, ou se constrói pelas suas mãos ou não virá. (Manifesto de Fundação do PT)

Para ressaltar o valor da democracia, devemos realizar o balanço das eleições de 2012. É fato público e notório que a elite deste grande país, através da velha mídia burguesa e do Judiciário, deixou de lado os valores democráticos. Todos os meios foram usados para macular, ameaçar, criminalizar, influenciar e mudar a opinião dos milhões de eleitores que acreditam e confiam no Partido dos Trabalhadores, em Lula e em Dilma.

Disputar a preferência de homens e mulheres com regras democráticas equânimes, com os meios de comunicação de massa e o Judiciário atuando de forma equilibrada, era o que se esperava. Mas vimos um verdadeiro massacre contra o PT, sua história e suas lideranças.

Nosso desempenho nas eleições, assim, ganha maior significado. Foi obtido pelo esforço e pela dedicação de nossa militância em meio a muitas dificuldades estruturais e com uma intensa campanha de criminalização do partido, promovida pela oposição de direita e pela mídia.

No Pará, a preocupação com o uso das forças de segurança pública para favorecer os tucanos nos levou a protocolar no TRE um alerta quanto à escalada da violência em razão da disputa eleitoral. Nossa preocupação tinha razão de ser. Não foram poucos os municípios onde ocorreu abuso de autoridade por parte de policiais e até de membros do Judiciário. E registre-se que somente contra as candidaturas do PT e de partidos que disputavam com os apoiados pelo tucanato.

As aves agourentas viram mais uma vez a esperança vencer o medo. Foram mais de 17 milhões de votos conquistados pelo PT em todo o país. Elegemos 635 prefeitos e prefeitas. Ampliamos nossa presença no Parlamento municipal. No Pará, elegemos 23 prefeitos, com total de 517.665 votos, e 183 vereadores, com 394.268.

A imprensa paraense ressaltou que a surpresa destas eleições ficou por conta do PT. Em sua análise, ao contrário do que se imaginava e apesar de ter perdido o governo em 2010, o partido sobreviveu às eleições e saiu do pleito garantindo espaço entre as grandes forças políticas do estado.

É verdade: sobrevivemos, e reconhecidos como principal força política de esquerda, que disputa hegemonia e pode aglutinar o campo de esquerda, democrático e popular para enfrentar o tucanato. Mas nosso desempenho em Santarém, Parauapebas e, sobretudo, em Belém e região metropolitana nos obriga, sem masoquismo, a identificar os erros e apontar caminhos que nos levem ao encontro do grande capital social e político nessas cidades e em todas as outras onde o povo deu seu recado por meio das urnas.

Como aprendizado pedagógico, é necessário avaliarmos o resultado das eleições municipais em nosso estado à luz dos objetivos construídos nos fóruns e instâncias partidários, para nos mantermos entre as três forças político-partidárias que vêm disputando a hegemonia política no estado nos últimos dezoito anos.

Entre outros objetivos, continuar comandando os municípios que o PT governa; voltar ao comando de municípios anteriormente governados pelo PT; disputar com candidatura própria em municípios-polo que apresentem viabilidade eleitoral; disputar cidades estratégicas com candidatura própria ou apoiando aliados; aumentar nossa presença nas câmaras municipais.

A eleição de 23 prefeitos e prefeitas nos faz vitoriosos, devemos celebrar. Mas, das 56 candidaturas próprias, disputamos sem coligação em oito municípios, com êxito apenas em dois. Portanto, não ganhamos e não devemos governar sozinhos.

Agora, à luz das experiências, com acertos e erros dos nossos atuais gestores municipais, devemos aprofundar, atualizar e implementar o modo petista de governar, a partir do programa que apresentamos para cada cidade.

Merece destaque o exemplo de Paragominas, um município-polo e estratégico. Apesar do esforço para construir uma aliança em torno de um projeto político, o PT disputou a eleição sozinho, contra uma poderosa coligação de vinte partidos comandada pelo PSDB. Obteve 30% dos votos e elegeu o primeiro vereador petista do município.

Em Marabá, a engenharia política construída foi capaz de derrotar o mito Tião Miranda, candidato do governador. Agora, o PT precisa estar unificado e forte para dar sustentação ao governo João Salame e ser protagonista das transformações políticas, sociais e econômicas no município e na região.

Participamos ativamente da campanha em outros 85 municípios, seja com candidato a vice-prefeito, seja apoiando a candidatura majoritária. Saímos vencedores em 34. Em outros, o PT decidiu por uma tática eleitoral, e o grupo de filiados optou por caminhos diferentes. Em alguns casos, foram eleitos, portanto, seguindo decisão contrária à partidária.

A votação de nossas candidaturas proporcionais e na legenda é reveladora. Demonstra claramente uma dura disputa de hegemonia política entre PT, PSDB e PMDB. Na faixa até 10% de votos conquistados, o PT somou 99 municípios, seguido do PSDB, com 94, e do PMDB, com 81. Já na faixa entre 11% e 15%, o PMDB obteve 38 municípios, PSDB, 35, e PT, 23. De 16% a 20%, onze municípios para o PT, onze para o PSDB e dezessete para o PMDB. De 21 a 25%, o PT conquistou cinco, o PMDB, quatro, e o PSDB,  três. De 26% a 30%, o PT e o PMDB venceram em três municípios cada um e o PSDB, em apenas um. Dos três partidos, o PT foi o único com dois municípios na faixa de 33% a 43% dos votos para vereadoras e vereadores.

Nesse item, tínhamos por objetivo eleger candidatos, se possível, em todos os municípios. Ficamos no mesmo número da eleição passada, 98 – portanto, sem representação parlamentar em 46 câmaras municipais. Já o PMDB elegeu parlamentares em 108 municípios, ficando de fora em 36, e o PSDB em 111, sem representação em 33.

Um registro importante, nas eleições de 2008, é que todos os partidos que faziam parte da base de apoio do governo Ana Julia cresceram em número de prefeitos. Os mesmos partidos, hoje base de apoio dos tucanos, desta vez não puderam celebrar o mesmo sucesso. Isso significa que os tucanos usaram e abusaram de métodos nada republicanos, inclusive contra seus aliados.

O objetivo central – manter-se entre as três forças político-partidárias – revelou-se acertado, e isso se deve ao esforço coletivo da Executiva Estadual, das bancadas estadual e federal, do diretório estadual, com o referendo do encontro realizado em julho de 2011, e com a extraordinária capacidade de vários dirigentes municipais. Mas cometemos alguns erros de procedimento nos caminhos escolhidos.

Perdemos foco, quando deixamos que o processo em municípios superimportantes fosse conduzido apenas pela visão do grupo governante, da tendência, do mandato parlamentar ou, mais grave ainda, pela soberba e por vaidades de quem se acha o melhor dos estrategistas.

Governar bem os municípios em que estamos no comando, a partir dos princípios do modo petista de governar, e contribuir com ideias programáticas e quadros políticos naqueles que ajudamos a conquistar é essencial para projetarmos o PT paraense rumo a novas batalhas.

É urgente e imprescindível, desde já, dialogarmos com os partidos da base do governo Dilma para construir juntos uma plataforma política de oposição ao governo do PSDB no Pará e um projeto de desenvolvimento socialmente justo, economicamente viável e ambientalmente sustentável.

João Batista Barbosa da Silva é presidente Estadual do PT-PA