Internacional

“Esperamos que o ataque a Gaza e o êxito na ONU façam desaparecer os últimos obstáculos para a unidade nacional palestina”, afirma Fayez Saqqa

A negação histórica da existência de um povo palestino, necessária para afirmar o status da terra como res nullius, como uma terra sem povo destinada ao povo a que fora prometida, mantém-se constante até hoje e é acompanhada da vilificação daqueles que estão “do outro lado”, daqueles menos civilizados, dos radicais, dos amantes da morte

Utilizaremos a resolução da melhor maneira para libertar nosso povo

Utilizaremos a resolução da melhor maneira para libertar nosso povo. Foto: Daniel Cassol

Deputado pelo Fatah no Conselho Legislativo Palestino, Fayez Saqqa esteve em Porto Alegre para participar de uma das atividades do fórum sobre a questão palestina, o Fórum Parlamentar Palestina Livre, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Para o deputado, que estudou Geologia na Universidad Complutense de Madrid e fala perfeitamente castelhano, o reconhecimento da Palestina como Estado observador nas Nações Unidas tem uma importância simbólica, que deve ser revertida em novos passos concretos rumo à desocupação dos territórios e à criação do Estado palestino. O deputado também avalia o desafio da unidade política entre Hamas e Fatah, após os ataques de Israel a Gaza e a própria vitória na ONU, que teriam aproximado os dois grupos rivais. “Esperamos que o ataque a Gaza e o êxito na ONU façam desaparecer os últimos obstáculos para a unidade nacional palestina”, afirmou, em entrevista concedida durante o Fórum Social Palestina Livre.

O que muda, na luta pela criação da Palestina e pela desocupação do território, com o reconhecimento pela ONU como Estado observador?
A aprovação da resolução das Nações Unidas foi muito importante para o povo palestino, principalmente no aspecto moral, pois mostra que o mundo dá razão à nossa luta por liberdade e por nossos direitos. Demonstrou que a maioria dos países votou pela Palestina e por nossos direitos legítimos e somente nove países, infelizmente liderados pelos Estados Unidos, permaneceram em uma situação arcaica com respeito aos direitos humanos. Os EUA falam em direitos humanos na Líbia, na Síria, em qualquer país, mas, quando o tema é a Palestina, deixa Israel como um país acima do controle da legalidade internacional. É um fato que não pode ser justificado por uma grande potência. Os norte-americanos devem mudar sua política em relação ao Oriente Médio. Sabemos que com essa resolução não acabará a ocupação israelense imediatamente, devemos seguir lutando em todas as instâncias, para que se aproxime o dia do fim da ocupação. Para isso, seguiremos necessitando de apoio internacional. A recompensa que teremos neste momento é moral, mais do que nada, mas trabalharemos para utilizar essa resolução da melhor maneira para libertar nosso povo.

Continuará a pressão da Autoridade Nacional Palestina para o reconhecimento pelo Conselho de Segurança da ONU?
Com certeza. Em 2013 apresentaremos nova solicitação ao Conselho de Segurança da ONU, mas a Assembleia Geral já apresentará por nós. Infelizmente, temos a espada do veto norte-americano sobre nós. É terrível que os Estados Unidos venham se utilizando do veto dezenas de vezes para bloquear qualquer tipo de condenação a Israel. Mas ano que vem vamos apresentar, e se não for aprovado apresentaremos no ano seguinte. É nosso direito e vamos alcançá-lo. Sobretudo devemos lutar pelo fim da ocupação. Quando terminar a ocupação israelense, não haverá quem discuta nosso direito de ser um país soberano.

Como serão as negociações tendo em vista que o atual governo de Israel vem descumprindo acordos e mantendo a construção de assentamentos?
Este governo de extrema direita em Israel é incapaz de avançar até a paz e a convivência entre os dois Estados. É um governo que reflete claramente o afã colonial expansionista do Estado de Israel e do movimento sionista. Por isso, não nos enganamos. Mas Israel não poderá ficar por muito mais tempo acima da lei internacional. É um entre 194 países, não pode ignorar as solicitações da comunidade internacional. Se não este governo, algum que seja convencido a se sentar com os palestinos e definir um calendário para o fim da ocupação de todas as terras palestinas em 1967.

Em relação à unidade política entre Hamas e Fatah, o que acontecerá após a aprovação na ONU e o ataque de Israel a Gaza?
Realmente tivemos muitas dificuldades internas. A ocupação israelense cria, inclusive, um mau ambiente entre irmãos. A opressão que sofremos durante décadas traz a ideia de que nenhum critério trouxe resultados ao povo palestino. Em definitivo, a diversidade não é negativa se soubermos manejá-la. Todos os países do mundo têm diferentes partidos políticos, das mais variadas correntes. Precisamos aprender a conviver, respeitando a Constituição palestina. O Hamas deveria voltar ao braço cálido da constitucionalidade palestina. Estamos negociando há anos. Esperamos que o ataque a Gaza e o êxito na ONU façam desaparecer os últimos obstáculos para a unidade nacional palestina.

 

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Daniel Cassol é jornalista