Política

O PT tem de inverter a política desenvolvida pelo governo e praticar uma política de luta contra o capital e a favor das reivindicações populares

Serge Goulart é fundador do PT e da CUT, foi dirigente do partido em Santa Catarina e atualmente é membro do Diretório Nacional do PT. Em 2002, iniciou o movimento das Fábricas Ocupadas, no Brasil, e foi eleito coordenador do Conselho de Fábrica da Cipla e da Interfibra, fábricas ocupadas pelos trabalhadores. Coordenou o Movimento Nacional das Fábricas Ocupadas e dirigiu a articulação internacional das fábricas ocupadas na Venezuela, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Argentina. É da direção internacional da campanha “Tirem as mãos da Venezuela” e da Corrente Marxista Internacional.

Dirigente da Esquerda Marxista (www.marxismo.org.br), Serge é autor de Devolvam a Nossa Previdência, Racismo e Luta de Classes, Alca, Nafta, Mercosul e Tratados de Livre Comércio,  diretor do Jornal Luta de Classes e da revista marxista América Socialista.

Sua candidatura à Presidência Nacional do PT é apoiada pela chapa "Virar à Esquerda! Reatar com o Socialismo!"

Serge Goulart é candidato à Presidência Nacional do PT no PED 2013

Serge Goulart é candidato à Presidência Nacional do PT no PED 2013. Foto: Mário Agra Jr.

Quais os objetivos estratégicos do PT?

Segundo a Carta de Princípios do PT, deveria ser: “Numa sociedade como a nossa, baseada na exploração e na desigualdade entre as classes, os explorados e oprimidos têm permanente necessidade de se manter organizados à parte, para que lhes seja possível oferecer resistência séria à desenfreada sede de opressão e de privilégios das classes dominantes”.

Ou conforme seu Manifesto de Fundação: “O PT pretende ser uma real expressão política de todos os explorados pelo sistema capitalista. Somos um Partido dos Trabalhadores, não um partido para iludir os trabalhadores. Queremos a política como atividade própria das massas que desejam participar, legal e legitimamente, de todas as decisões da sociedade. O PT quer atuar não apenas nos momentos das eleições, mas, principalmente, no dia a dia de todos os trabalhadores, pois só assim será possível construir uma nova forma de democracia, cujas raízes estejam nas organizações de base da sociedade e cujas decisões sejam tomadas pelas maiorias”.

É nisso que a chapa “Virar a Esquerda, Reatar com o Socialismo” e eu continuamos acreditando.

Politicamente, quem são nossos principais inimigos?

Nossos inimigos são todos os partidos do capital, que defendem as classes dominantes e buscam preservar o sistema capitalista. Esses partidos hoje vão do PSDB, DEM, PPS ao PMDB, PP, PDT, PSB, PR, PTB, PSD, Rede (não formalizado), entre outros.

Como tratar os adversários secundários e possíveis alianças pontuais com eles? O que é inegociável?

Nossos possíveis aliados poderiam ser PCdoB, PSol, PCB e PSTU. Mas isso depende da discussão de um programa. O que torna muito difícil essas alianças é o fato de que o PCdoB é um partido tremendamente oportunista e sem princípios. Ele se alia até com o DEM. Já os outros são em geral um poço de sectarismo e não compreendem nem o significado e o caráter do PT, nem o que significa disputar combatendo frontalmente os partidos da direita ou do capital. Exceção pode ser feita, parcialmente para o PCB, que se renovou e no segundo turno apoiou Dilma contra Serra. Já o PSol e o PSTU se aliam com o STF para comemorar a condenação farsesca de dirigentes do PT.

Em todo caso, o inegociável seria o atendimento das reivindicações dos trabalhadores e da juventude, a organização independente dos trabalhadores, a liberdade total de crítica, a ruptura com o capital.

Quais táticas devem ser adotadas para garantir a vitória de Dilma em 2014?

Parar de privatizar, reverter as privatizações, revogar as reformas da Previdência, cancelar os leilões de petróleo, parar de pagar as dívidas e pôr todo o dinheiro em educação, saúde e transporte públicos e gratuitos para todos, fazer a reforma agrária, estatizar os bancos. Romper com o PMDB, PSB, PP, PDT etc. Isso transformaria Dilma em uma candidata imbatível e soldada com as massas.

Como reatar os laços do partido com a base da sociedade?

Em vez de anunciar em 7 de setembro o maior pacote (em valores) de privatizações da história do Brasil, o que significa menos serviços públicos, demissões e entrega do patrimônio público, Dilma deveria de fato ouvir a voz das ruas e da juventude e governar para o povo trabalhador, e não para o grande capital. O capitalismo fracassou em tudo o que prometeu e em tudo o que fez. É hora de reatar com o socialismo ou teremos, em determinado momento, um choque das massas com o PT.

Quais as táticas mais acertadas para o PT disputar as manifestações que ocorrem desde junho?

O PT tem de inverter a política desenvolvida pelo governo e praticar uma política de luta contra o capital e a favor das reivindicações populares. Aí, poderá convocar o povo que sempre o apoiou para dirigir manifestações de protesto, mas então elas serão de milhões em luta contra o Congresso reacionário, o Judiciário que criminaliza as lutas sociais, contra a mídia burguesa e seus partidos capitalistas e todos que tentarem impedir o progresso social.

Como recompor o PT política e organizativamente para enfrentar os desafios atuais?

Politicamente é rompendo com o capitalismo e a colaboração de classes. Obviamente isso implica eleger uma outra direção. As atuais conduziram o PT a essa situação de aliança subserviente. Muitos militantes têm vergonha de como age a direção. Exemplo: o PSB sai do governo federal e entrega os cargos. Sai do governo do Rio Grande do Sul e entrega os cargos. O PT deveria ter feito o mesmo e de imediato no governo de Eduardo Campos.

Organizativamente deveria acabar com o PED e voltar a discutir política e eleger dirigentes em encontros militantes. Uma política socialista de verdade e democracia interna militante reativariam os núcleos de base do PT, os militantes pagariam suas cotizações e fariam finanças para sustentar de forma independente seu partido, o PT.

As manifestações de junho sinalizam a necessidade de renovação na política brasileira. O congresso do PT aprovou 20% de jovens nos cargos de direção. Com relação à juventude, o que o partido pode fazer para acelerar esse processo de renovação?

Mudar de política. Parar de bancar os tubarões da educação com todo tipo de subsídio e financiamentos, dinheiro para as universidades privadas, e dar educação pública e gratuita em todos os níveis para todos. Isso traria ao PT milhões de jovens que seriam educados politicamente nas lutas. O que vimos em junho foi que as juventudes do PT praticamente não existem. E onde tentaram estar junto das mobilizações tiveram problemas, como em Pernambuco e São Paulo, por exemplo.

No governo, como administrar o capitalismo em uma perspectiva socialista?

Não tem de administrar o capitalismo. Tem de lutar contra ele adotando todas as medidas para proteger o povo, atender a suas reivindicações, desenvolver a mobilização e a consciência de classe socialista para chegar a expropriar o capital e começar a construir o socialismo. Salvar e desenvolver o capital não vai levar ao socialismo. Nunca levou.

Qual a tática mais apropriada para reformar o Estado brasileiro num sentido democrático?

Não há como reformar este Estado bastardo herdado da covarde burguesia do Brasil, ressoldado e reorganizado pela ditadura militar a serviço do imperialismo, que mantém todas as suas instituições repressoras e corruptas intactas. Nossa luta democrática e socialista se choca de frente com este paquiderme deformado construído na medida para manter a exploração e a opressão, assim como o privilégio de uma minoria que tudo usurpa.

Há décadas, o PT tem como principais bandeiras algumas reformas que, em dez anos de governo petista, não avançaram. Qual sua opinião sobre a viabilidade das reformas política, tributária e agrária, bem como a regulamentação dos meios de comunicação?

Não avançam e não vão avançar enquanto o PT se aliar com os que desejam manter tudo como está. O problema é a política da direção. Reclamam dos meios de comunicação burgueses, mas não param de financiá-los com milhões de reais das empresas estatais e do governo. Reclamam da Globo, mas foram chorar no enterro de Roberto Marinho, dono da Globo. Reclamam, mas não param de dar concessões e manter as atuais nas mãos de burgueses reacionários. A CUT, os sindicatos não recebem nem rádio, nem TV. O partido poderia ter, mas não tem, um jornal nacional diário e as rádios populares são perseguidas pela Polícia Federal.

Como fazer reforma agrária com a senadora ruralista Kátia Abreu (PSD-TO) na base “aliada” ou um ministro da Agricultura que é latifundiário?

Em relação ao Parlamento, como restabelecer uma ação conjunta em que prevaleçam os princípios e decisões partidários?

Isso é muito difícil. Por exemplo, quem acha que o deputado Cândido Vaccarezza fez o que fez agindo só pela própria cabeça? Ele tem gente importante no partido que o empurrou para lá.

Mas essa não foi a primeira vez que os parlamentares agiram cada um como se fosse ele próprio um partido. E governador, então? Cada um governa como quer. Olha o Jacques Wagner defendendo seu subsecretário que atirou no MST! O PT apoia oficialmente o Piso Nacional dos Professores e Tarso Genro não paga e acabou-se!

E a presidenta? Não só não segue nenhuma orientação partidária como nem consulta o Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores. Quando esteve no DN, falou e foi embora. Ela fala com alguns dirigentes, não com o partido.

Para estabelecer unidade e disciplina partidárias é preciso muita democracia interna, discussão política não baseada em interesses particulares ou fracionais e uma política de luta real pelo socialismo, vontade de organizar e mobilizar a classe trabalhadora e a juventude para arrancar suas reivindicações e enterrar de vez o falido regime da propriedade privada dos grandes meios de produção. Lutando pelo socialismo.