É preciso garantir as condições necessárias para que de fato a igualdade de gênero aconteça no mundo do trabalho e em todos os espaços de representação
É preciso garantir as condições necessárias para que de fato a igualdade de gênero aconteça no mundo do trabalho e em todos os espaços de representação
Quanto mais mulheres estiverem no movimento sindical, mais teremos possibilidade de trazer para dentro do movimento históricas bandeiras das mulheres que só estarão incluídas na pauta geral da classe trabalhadora se nós estivermos presentes. Não existe possibilidade de aprender a fazer política se não for fazendo política
A luta por uma sociedade justa e igualitária passa necessariamente por romper com as desigualdades históricas entre homens e mulheres. Em um país que cada vez mais tem mostrado suas marcas de autoritarismo, privatismo, racismo, homofobia e machismo, a CUT demonstra o seu protagonismo sindical na luta por uma sociedade baseada em valores como solidariedade e igualdade.
Nessa perspectiva a CUT, nos últimos anos, aglutinou em torno da proposta da paridade todas as forças e instâncias políticas que possibilitaram que no seu 12º Congresso Nacional consolidasse a paridade na composição da direção da maior central sindical do Brasil e a quinta do mundo.
A conquista da paridade foi o resultado de longos anos de uma presença organizada e qualificada das mulheres em todos os processos políticos que contaram com a participação direta na CUT em nosso país. Desde a construção das oposições sindicais passando pelas greves gerais dos anos 1980 até a Constituinte, na qual foram conquistados importantes direitos para a classe trabalhadora, em sua diversidade, as mulheres estiveram presentes escrevendo sua história.
A participação da mulher no sindicalismo cutista possibilitou repensar a política sindical de modo que fossem incorporadas também a luta e as demandas das mulheres. A auto-organização das mulheres na central e a atuação à frente de várias secretarias serviram de base para que as mulheres conseguissem mobilizar esforços e fortalecer o debate acerca da condução paritária da CUT.
A paridade de gênero na direção da central, aprovada no 11º Congresso Nacional da CUT (Concut) de 2012, a democratização do poder representativo, uma maior participação das mulheres nas decisões da CUT representam mais que um número, são uma política.
Dessa forma configurou-se uma estratégia política e organizativa muito importante das e para as mulheres. Os caminhos trilhados possibilitam a participação igualitária de homens e mulheres nos postos de direção, cargos políticos e de representação, sendo essa participação igualitária uma questão de justiça social e de qualidade da democracia interna.
A partir da paridade, se sustenta o princípio de justiça democrática de modo que o sexo não seja critério para discriminar as mulheres no acesso ao poder político. A conquista e a implementação da paridade no 12º Concut, em 2015, significa mudar a conformação das estruturas de poder e democratizar as práticas políticas.
A aplicação do princípio da paridade significa, ainda, a garantia de que as mulheres tenham o mesmo acesso ao poder político em todos os seus níveis, a começar pela própria organização sindical, garantindo que elas estejam representadas da mesma maneira que os homens em todos os âmbitos da vida social, econômica e cultural.
Queremos ainda incorporar a pauta da igualdade e fortalecer a prática antidiscriminatória na agenda política. Dessa forma, as mulheres estando presentes nos espaços de direção, temos a garantia de que avançaremos mais rapidamente no reconhecimento das desigualdades de gênero e na elaboração de propostas para superar as iniquidades históricas existentes no mundo do trabalho, como por exemplo salários mais baixos, ausência de determinados direitos, como salário-maternidade, acesso a creche, direito ao tempo para amamentar e a subvalorizaração dos trabalhos realizados pelas mulheres no mundo sindical.
Com a presença das mulheres de forma igualitária no movimento sindical, há o fortalecimento da pauta das mulheres trabalhadoras, pois, apesar de haver companheiros solidários na defesa dessas pautas, que se empenham em incluir e defender as propostas nas negociações coletivas que impactam diretamente a vida das mulheres, são as próprias mulheres que têm a autoridade política e legitimidade enquanto sujeito histórico para explicitar e dar voz às suas próprias demandas.
Como estratégia política, a paridade altera a lógica do exercício do poder representativo nas direções estaduais e nacional da CUT. Essa mudança vai além dos números, e precisa de ações concretas para sua real implementação. É necessário que as mulheres tenham condições objetivas para exercer seus mandatos de forma satisfatória. Isso significa, entre outras questões, garantia de infraestrutura, liberação para desempenhar seu papel político e participação efetiva nas mesas de negociação.
Com o exercício democrático e paritário os/as sindicalistas terão o desafio de mudar essa realidade, praticando, no seu dia a dia, a divisão de tarefas domésticas e compartilhamento das responsabilidades pelos cuidados com os/as dependentes e aprofundar o debate pela melhoria da qualidade de vida e das condições de trabalho.
A paridade também tem como estratégia política buscar alterar as condições de desigualdades entre homens e mulheres e acrescentar ao debate interno temas como: a luta pela implementação das políticas públicas, o direito a creches públicas, lavanderias coletivas e ampliação do direito à licença-paternidade, além de promover o debate com relação a mudança nos horários de trabalho e a redução da jornada de modo a contribuir para a inclusão das mulheres de forma igualitária.
Ela provoca uma discussão na sociedade sobre o que é a desigualdade entre homens e mulheres e sobre o que fazer para superá-la, além de promover a consciência da necessidade de alterar as relações cotidianas, que ainda são marcadas por um forte viés patriarcal e machista, que subjuga a capacidade das mulheres.
A participação da mulher de forma paritária possibilita a garantia da transversalidade de gênero em todas as políticas, atividades e espaços da CUT, refirmando assim o conjunto das demandas da classe trabalhadora. Assim, será possível exercer a representação sindical com foco no desenvolvimento de um país mais justo, com geração de renda, valorização do trabalho, autonomia e liberdade sindical com a participação igualitária de mulheres e homens.
O cumprimento da paridade na CUT nacional e nas estaduais representa um reflexo absolutamente positivo nos sindicatos, nos ramos e em várias categorias, o que significa maior presença e qualificação, porque não existe possibilidade de aprender a fazer política se não for fazendo política.
É fazendo política, é estando na militância e dirigindo os sindicatos, dirigindo as centrais, dirigindo importantes ramos e categorias que vamos fazer com que esses 32 anos de acúmulo nos dê a possibilidade de fazer da CUT uma outra CUT.
Quanto mais mulheres estiverem no movimento sindical, mais teremos possibilidade de trazer para dentro do movimento históricas bandeiras das mulheres que só estarão incluídas na pauta geral da classe trabalhadora se nós estivermos presentes.
O aprendizado só é possível a partir da prática, da vivência cotidiana. Temos certeza que há muita luta e muitos desafios pela frente, mas compreendemos que a construção de práticas que reconhecem a importância da igualdade de gênero é imprescindível para a consolidação da democracia e o desenvolvimento econômico com inclusão e justiça social em nosso país e no mundo.
É, portanto, nessa perspectiva que compreendemos que é preciso garantir as condições necessárias para que de fato a igualdade de gênero aconteça no mundo do trabalho e em todos os espaços de representação.
Carmen Foro é vice-presidenta Nacional da CUT