Política

A operação concebida para atacar o PT, devidamente orientada pelo irmão do norte, precisava limpar a própria barra, demonstrar “imparcialidade” e, infelizmente, a vítima foi você, Serra

Pois é, Serra, mas a casa – ou a conta – caiu! E agora, Serra? Pegaram você como bode expiatório, Foto: Roque Sá/Agência Senado

Hoje pala manhã ouvia uma versão musicada do “E agora, José?”. Depois li a notícia das operações da Farsa a Jato – oh! desculpem o lapso – Lava a Jato, contra você, Serra. Que triste, hein!?

A Farsa a Jato foi concebida para estrepar o PT, devidamente orientada pelo irmão do norte; acabar com esse partido que só gosta de preto, pobre, puta e demais sem posses. Coisa boa é a elite, né? PSDB, claro, nunca foi visitado pela operação policial. Mas um dia eles precisaram de limpar sua própria barra, demonstrar “imparcialidade” e, infelizmente, você foi a vítima, Serra.

Pois é Serra. Fomos até amigos, ou pelo menos conhecidos. Você presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), eu vice-presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), ambos morando ali naquele prédio símbolo da resistência juvenil, Praia do Flamengo 132, Rio de Janeiro. Ai veio o golpe militar. Cada um tomou seu destino. Eu peguei minha primeira cana, lá no Piauí, onde estava naquele fatídico 1º de abril de 1964. Mais tarde outra, bem mais pesada. Fui fisgado pelo herói do Bozo, o então major Ustra, torturador sádico comandante da Operação Bandeirantes em São Paulo. Tortura, três anos e meio de cana. Mas fui vivendo. Nos presídios fiz minhas universidades: estudei, depois escrevi, ainda escrevo, sabe?!

Você tomou outro rumo. Exilou-se nos States, frequentou boas universidades, fez-se doutor, quem sabe vários “pós”, não digo que “selo Decotelli”, não se trata disso. Mas você se especializou, muito esperto que sempre foi. Chegou a ser ministro, governador de São Paulo, até candidato a presidente, bem votado, mas perdeu. Acho que foi para o Lula, né, aquele metalúrgico pau-de-arara que devia ter ficado no seu seco Nordeste.

Na sua esperteza você conseguiu fazer um bom pé de meia. Governador, ministro, bons amigos nos States, país que merece dominar o petróleo do nosso pré-sal. E abriu umas continhas... Esse negócio de guardar dinheiro por aqui, é coisa de pobre. Elite tem conta é na Suíça, país das contas secretas, inexpugnáveis!

Pois é, Serra, mas a casa – ou a conta – caiu! E agora, Serra? Pegaram você como bode expiatório – o Aécio, por exemplo, já teve o crime dele prescrito – mas era preciso de alguém para demonstrar a “isenção” da “Farsa a Jato”. E lhe pegaram! Não leve a mal não, Serra. Você conseguirá superar esse probleminha. Além disso, R$ 40 milhões não é tanto assim. Dá para mitigar a fome de apenas algumas milhares de pessoas, montar quem sabe algumas centenas de empregos, construir umas poucas escolas e hospitais neste sistema da propinocracia nacional.

E agora, Serra? Pois é Serra, complicado. Não dá pra morrer no mar, pois o mar secou. A noite esfriou e o dia não veio. Mas sabe, Serra, tem muita gente, creio que milhões e milhões, que ainda acreditam na utopia, que ela não morreu, que virá. Mas não virá pra você nem pro José membros das elites; virá para o nosso José, pra grande maioria que sofreu nas senzalas, subiu os morros, gritou das torturas, passou a fome dos desempregados, sofreu na carne o que é ser discriminado. Virá!

E agora você, Serra? Você tem nome, mas somos nós quem gritamos, protestamos. E agora, Serra. Pra onde ir, Serra? Serrar já não pode, Serra!

Roberto R. Martins  ([email protected]) Foi vice-presidente da Ubes 1963/64