Especial

Homenagem de integrantes da Confraria dos Poetas Vermelhos a Alipio Freire

São Jorge e o Dragão, desenho de Rogério Mourtada.

Canção que tocava

Na parede da minha

memória

o quadro do Velho

sempre tem

gente jovem

reunida

Eduardo Campos Lima

 

Poema da continuidade

(de nossas conversas sobre Drummond)

 

Alguns anos convivi contigo.

De certo modo, renasci contigo.

Por isso estou triste mas sereno.

 

Não tem porcentagem

— o preço do feijão e do apreço não cabem no poema.

 

Esse alheamento

essa falta de comunicação

é dificuldade em aceitar tua morte.

 

A vontade de amar, de dizer-te

me paralisou o trabalho.

Hoje apenas.

 

Nossa amizade veio de noites vermelhas

sempre repletas de horizontes

mesmo sob o pior cenário.

 

Nunca tiveste o hábito de sofrer.

Agora, para desespero de teus inimigos, poderás escrever em tua lápide:

—Gostei, quero mais!

 

A diversão na adversidade é doce herança tua.

 

De ti carregarei prendas diversas:

o poema, terra maleável

a fotografia, exsicata dos fatos

a notícia, faca de dois gumes

—armas na luta do povo.

 

Não chorarei

nem te alçarei ao posto de santo ateu post mortem.

 

Dito isso

em respeito e saudade

hoje estou de cabeça baixa

Hoje.

 

Amanhã vai ser outro dia

e a luta continua.

Não caberão as lágrimas.

 

Entre nascermos nus e analfabetos

e morrermos despossuídos

um inventário de prazeres e sequelas

sou funcionário público

mas tu não serás apenas uma fotografia na parede.

 

Ah, meu camarada

como dói!

 

Filipe Peres

 

Um novo erro

Quando aquele 22 de abril chegou

debaixo duma bruta chuva

Levou o poeta

 

Que pena.

 

Fosse uma manhã de sol

o poeta montaria um elefante

desfilaria nas ruas

Punho esquerdo em riste

 

—Mais fortes são os poderes do povo.

 

Jonathan Constantino