Sociedade

Parcela considerável da sociedade com a qual o PT deve dialogar quer mais jovens, mulheres e negras(os) ocupando espaços de protagonismo político e de representação

 

 Coletivo Nós, eleito em São Luis, no Maranhão, nas eleições de 2020. Foto: Reprodução/PT

Algumas das maiores e mais importantes cidades de nosso país, todas com mais de 200 mil eleitores e mesmo com realidades bastante distintas, apresentam pelo menos uma característica em comum: elegeram jovens petistas como um(a) de seus(as) representantes ao parlamento nas eleições municipais de 20201. Mais do que isso, em relação ao pleito anterior, o número de candidaturas de jovens petistas que foram eleitas nos municípios a seguir dobrou, indo de 12 cadeiras em 2016 para 24 em 2020: Anápolis (GO), Belém (PA), Campinas (SP), Campo Grande (MS), Carapicuíba (SP), Cariacica (ES), Caxias do Sul (RS), Contagem (MG), Florianópolis (SC), Juiz de Fora (MG), Limeira (SP), Natal (RN), Olinda (PE), Paulista (PE), Porto Alegre (RS), Ribeirão das Neves (MG), Ribeirão Preto (SP), Santarém (PA), São Luís (MA), Uberlândia (MG), Vitória da Conquista  (BA) e Vitória (ES). Esses resultados nos instigaram a investigar um pouco mais sobre o resultado eleitoral da juventude do PT na eleição de 20202.

Tabela - Votação dos jovens petistas para vereança nos anos de 2016 e 2020

Porte dos Municípios Eleitos(as) 2016 Votação 2016 Eleitos(as) 2020 Votação 2020
Grande 12 222.303 24 233.795
Médio 61 198.485 53 217.639
Pequeno 516 378.866 496 399.653

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral. Elaboração própria.

A votação das juventudes petistas3

As jovens e os jovens petistas receberam, ao todo, 851.068 votos nas eleições legislativas municipais de 2020. Sendo que, dentre essas candidaturas, 573 foram eleitas. Esse número não é muito diferente comparado ao de 20164, em que as jovens candidaturas receberam 799.654 votos e elegeram 589 cadeiras5.

Entretanto, por trás da aparente estabilidade, podemos ver importantes e significativas mudanças no perfil das candidaturas eleitas. Primeiramente, os eleitores dos maiores municípios parecem ter priorizado jovens.  O número de jovens eleitas(os) pelo PT nos municípios grandes6, como dito anteriormente, saltou de 12 para 24, aumento de 100%. Comparativamente, nesses mesmos municípios, o partido perdeu uma cadeira entre os representantes não-jovens, indo de 108 eleitos em 2016 para 107 em 20207.

A mudança no perfil das candidaturas eleitas pelo PT nesses municípios faz-se ainda mais explícita quando olhamos para quem são essas pessoas.

O aumento de jovens mulheres eleitas nas maiores cidades é evidente. Se em 2016 apenas 4 candidatas com esse perfil ganharam eleições pelo partido, em 2020 o número saltou para expressivas 14 candidatas eleitas. Se em 2016 as jovens mulheres representavam apenas 3% da bancada petista nas grandes cidades (incluindo não-jovens), em 2020 este número subiu para mais de 10%8. Mesmo dentre a “bancada dos jovens”, é grande a mudança do perfil. Enquanto em 2016 as jovens mulheres eram minoria, com um terço das representações, em 2020 este quadro se inverteu, sendo as mulheres responsáveis por cerca de 60% das representações desta bancada9.

Quando olhamos para o número total de votos das jovens, somando as eleitas e não-eleitas, o crescimento se mantém forte. A votação das jovens mulheres do Partido dos Trabalhadores, nas grandes cidades, praticamente dobrou em 4 anos, subindo de 69.311 votos em 2016 para 130.196 votos em 2020. Esses resultados, a nosso ver, podem ser encarados como um indício de mudança no perfil de votação dos habitantes desses municípios, que estariam buscando por mais jovens mulheres como seus/suas representantes.

As jovens candidaturas negras também apresentaram números bastante expressivos. Se em 2016 apenas 6 dessas candidaturas foram eleitas pelo partido, em 2020 foram eleitas 17 candidaturas negras nas maiores cidades do país. Um crescimento de 283%. Se as representações jovens negras eram apenas 5% da bancada petista em 2016, em 2020 este percentual mais do que dobrou, indo para cerca de 13%10. Dentre a “bancada jovem” do PT nestes municípios, se em 2016 as representações negras eram 50% do total, em 2020 este número saltou para mais de 70%11.

A votação total das jovens candidaturas negras, nas grandes cidades, também apresentou números que poderiam ser indícios de que seus eleitores, cada vez mais, buscam por representantes negras e negros nos parlamentos municipais. Esses votos, em quatro anos, subiram cerca de 60%, indo de 85.624 votos em 2016 para 135.537 votos em 2020.

Essa mudança do perfil das jovens candidaturas eleitas não é verificada no cômputo geral das jovens candidaturas eleitas. Ou seja, o padrão de mudança verificado nas jovens bancadas do PT não é encontrado nas jovens bancadas eleitas pelos partidos em geral, nas mesmas eleições municipais.

As vozes das ruas

Os dados eleitorais, ao longo dos últimos 20 anos, têm apontado para uma redução dos votos do PT nas maiores cidades e nos grandes centros metropolitanos, em especial nas regiões Sul e Sudeste do país. É notória a queda dos votos nesses municípios, mesmo antes da “crise política” que perpassou/perpassa o PT desde 2015. Tal fato indica que esse movimento pode ter raízes mais profundas, o que é passível de ser verificado por meio de diversos estudos político-eleitorais, dentre os quais se destaca o livro Os Sentidos do Lulismo, de André Singer (2012).

Considerando o que foi apresentado acima, é possível uma reflexão por meio de um duplo movimento: De um lado, podemos pensar que o PT acerta ao incentivar e dar condições de que as jovens candidaturas, em especial de mulheres e de negras(os), se coloquem. Os jovens que o PT elegeu na última eleição são mais representativos da população. Nesse sentido, as políticas de incentivo a estas candidaturas promovidas pelo partido, como por exemplo as propostas pelo movimento Representa, precisam de ser continuadas e fortalecidas, tendo em vista que temos elementos indicando resultados positivos das candidaturas priorizadas por esta política, em especial nos maiores municípios.

De outro lado, podemos pensar que pode existir, por parte dos eleitores dessas cidades, um movimento de escolha por representatividade, ou de escolha por um determinado perfil que privilegie candidaturas jovens, de mulheres e de negras e negros. Ao menos no eleitorado que se coloca ideologicamente num campo mais à esquerda. O incentivo à construção dessas candidaturas caminha ao encontro do que quer e do que busca este eleitor, o que reforça a necessidade estratégica de termos políticas ativas do partido nesta direção.

Mesmo não sendo eleitas, dezenas de candidaturas jovens foram muito bem votadas nas últimas eleições. Esses resultados indicam que, com o acúmulo de experiência e de capital político, elas apresentam um enorme potencial eleitoral para as próximas disputas, além de um considerável saldo político que pode reverberar na organização partidária e na construção das políticas que o PT defende.

O partido precisa de mais jovens, de mais mulheres e de mais negras e negros ocupando espaços de protagonismo político e de representação. A sociedade, ou pelo menos uma parcela considerável dela e com a qual o PT deve buscar dialogar, também pede por mais jovens, mais mulheres, e mais negras e negros ocupando espaços de protagonismo político e de representação. A última eleição mostrou que o Partido dos Trabalhadores tem capacidade de responder a essas demandas. Cabe ao partido conectar-se aos diversos territórios e às diversas realidades para não só retomar o número de representantes de antes do golpe de 2016, como para superá-lo a partir de novos nomes, caras, cores e corpos.

Obs.: O roteiro codificado utilizado para a compilação das informações pode ser acessado aqui.

Alexandre Freitas é bacharel em Administração Pública pela Fundação João Pinheiro, mestrando em Sociologia pela UFMG e militante do PT

João Vítor Rodrigues é economista e mestrando em Geografia, pela UFMG, e militante do PT