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A elite empresarial nacional fica plenamente satisfeita com um mercado restrito a cerca de 35% da população, de modo que a classe política conservadora esteja sempre no comando

Ainda está viva na memória nacional, o protagonismo de entidades, como a Fiesp, na promoção do golpe de 2016. Foto: Júnior Ruiz/Fiesp

Recentes posicionamentos divulgados pela elite empresarial brasileira reúnem especificidades que diferenciam o sistema capitalista brasileiro em relação ao observado no resto do mundo. Líderes, tanto dos agronegócios, quanto de setores industriais, do comércio, dos serviços e, principalmente, das finanças, mostram que expandir seus tamanhos de mercado não está entre suas principais prioridades.

Acreditam que, ao expandirem, podem proporcionar o surgimento de lideranças entre trabalhadores que pertençam e fortaleçam organizações sindicais ligadas a partidos políticos progressistas.

A elite empresarial nacional fica plenamente satisfeita com um tamanho de mercado restrito a cerca de 35% da população, de modo a garantir que o governo esteja sempre sob o comando da classe política conservadora.

Em outras palavras: para a elite empresarial brasileira não vale a pena elevar o tamanho de mercado diante do risco de que o processo de inclusão social envolva maior participação e/ou influência dos trabalhadores no processo de tomada de decisões pelo governo como resultado de avanços progressistas, como ocorrido durante os governos Lula e Dilma, e até mesmo Itamar e FHC, sem maior ousadia.

Os recentes manifestos da Febraban, da Fiesp e de associações que representam os agronegócios, deixam claro seus princípios e interesses.

Aparentemente, mas midiaticamente, defendem princípios democráticos. No entanto, ainda está muito viva na memória nacional, o intenso protagonismo das referidas entidades na promoção e na operacionalização do golpe de 2016, sem qualquer delito de responsabilidade da presidenta Dilma e na prisão ilegal do ex-presidente Lula, vítima do criminoso julgamento pela República de Curitiba, tardiamente anulado pelo Supremo Tribunal Federal.

Na realidade, o que incomoda as elites empresariais e protagonistas acima apontados são benefícios gerados para as classes E, D e C, bem como o processo de prestígio internacional conquistado pelo Brasil durante o período Lula/Dilma.

O pano de fundo do golpe, sob o comando americano contou com a elite político empresarial e com a participação efetiva da mídia, do Judiciário, das Forças Armadas e de lideranças religiosas, visando afastar progressistas e, particularmente o PT, do poder governamental.

O mais grave: o movimento, péssimo para o Brasil em toda sua história, patrocinou a eleição do monstro que ocupa o poder que, em pouco tempo já está sendo acusado pelo Congresso, pela Justiça e, mais importante, pela própria população, dos crimes que vem cometendo contra nação brasileira.

Profundo estudo realizado por um grupo de notáveis juristas, entregue em 14/09/2021, aos membros da CPI da Covid-19, aponta que Bolsonaro cometeu crimes de responsabilidade, contra a saúde, contra a administração pública e contra a humanidade. Entre os mais graves: infrações de medidas sanitárias preventivas, de charlatanismo, de incitação ao crime e prevaricação.

O Brasil experimenta, portanto, desde 2016, retrocessos econômicos, sociais, ambientais, jurídicos, político-institucionais, e em suas relações internacionais quanto a soberania, que vem sendo impulsionados pela grande mídia, pelas Forças Armadas, pelo Judiciário e, recentemente também, por lideranças religiosas.

É importante ressaltar, em síntese, a responsabilidade do golpista Temer e do governo Bolsonaro pelos referidos retrocessos que, na verdade, alienam a população e anulam os avanços e benefícios alcançados pelas classes E, D e parcela da C, desde a nova Constituição de 1988, principalmente a partir dos governos Itamar, FHC, Lula e Dilma.

Os recentes indicadores referentes aos aumentos das desigualdades sociais e regionais são resultantes, portanto, das reformas trabalhista e da previdência social acompanhadas do desmonte do sistema político-institucional-governamental e do comprometimento do Brasil junto às grandes potências; às multinacionais, principalmente do complexo petrolífero; ao sistema financeiro internacional e à submissão do país aos interesses dos EUA. Tudo isso orientado pelo sistema judiciário daquele país através do controle sobre a República de Curitiba (Moro/Dellagnol).

O Brasil está sendo condenado a um novo processo de subdesenvolvimento.

Cézar Manoel de Medeiros é economista, doutor pelo IE/UFRJ