Internacional

Tem algum sentido, depois do final da “guerra fria”, manter e expandir a máquina de guerra chamada Otan? Tem algum sentido, buscar se afirmar novamente como potência por meio do recurso à guerra?

Explosão é vista na capital ucraniana de Kiev no dia 24/2/22. Foto: Gabinete do Presidente da Ucrânia

Mais guerra produzida pelas potências imperiais, seus senhores das guerras e produtores das armas. Agora uma guerra de risco maior. Ela arisca envolver os principais arsenais nucleares existentes, com potencial de destruir muitas vezes o planeta terra. As agências de “notícias” e a “grande” imprensa em lugar de veicular informações e análises plurais, com deveriam, cobrando sensatez e paz, antes mobilizam o ódio de países e de pessoas, inclusive distantes dos interesses em disputa, para transformá-los irresponsavelmente em perigosas massas de manobra intolerantes na defesa intransigente de um dos lados do conflito, muitas vezes sem sequer saber explicar as razões para tal atitude.

Os motivos reais que mobilizam as grandes potências se escondem em desculpas, como bem lembrou Eduardo Galeano, pretensamente humanitárias, na defesa da civilização, da democracia e outras mui nobres intenções. Lindos discursos para legitimar a barbárie, as matanças de homens, mulheres e crianças, que perdem vida e partes de seus corpos apenas pela ganância das grandes potências, senhores de guerras e armas, que lucram bilhões de dólares com assassinatos, mortes, sequelas e destruição de vidas. O cinismo e a hipocrisia proliferam junto com a demolição da vida. Vamos embarcar e ficar prisioneiros do ódio produzido por interesses mais que escusos?

O que fazer no mundo em que as potências imperiais e seus porta-vozes buscam de todos os modos nos obrigar a tomar partido pela guerra, sobre assuntos tão distantes, odiando inimigos fabricados, antes desconhecidos. O que fazer: ser mera massa de manobra e passar a odiar intransigentemente os outros ou tomar atitude firme em defesa da paz, contra a guerra como resolução de conflitos? Tem algum sentido, depois do final da “guerra fria”, manter e expandir a máquina de guerra chamada Otan? Tem algum sentido, buscar se afirmar novamente como potência por meio do recurso à guerra? Tem algum sentido produzir mais uma guerra na Europa de tantas guerras?

Nossa atitude deveria ser um rotundo não à guerra e a defesa intransigente da paz, conjugadas com a luta incessante pelo desarmamento geral, pela limitação efetiva das armas nucleares ou não, pelo fim de organizações militares internacionais, pela destinação destes enormes recursos para cuidar da humanidade e pela prevalência efetiva da resolução de conflitos por meios políticos e diplomáticos. Afinal de contas, para que serve falar tanto em civilização e em democracia, se as potências imperiais só enxergam seus interesses geopolíticos, nem que para isto aniquile a vida de populações inteiras nas zonas de guerra e mesmo coloque em risco nossa existência no planeta terra.

Antonio Albino Canelas Rubim é pesquisador do CNPq e professor da UFBA