Cultura

Foram por volta de cinco horas buscando acolher a diversidade cultural e social brasileira, tão vilipendiada nos tempos sombrios do vampiro e do genocida

“Vi de perto toda a destruição, todo o descaso e todo o ódio desse governo”, disse a ativista indígena Txai Suruí. Foto: Reprodução/RBA

As campanhas político-eleitorais ainda comportam novidades na era das proliferantes redes digitais e de um marketing eleitoral muitas vezes homogeneizador. No dia 26 de setembro floresceu uma dessas iniciativas inovadoras: a superlive do Brasil da Esperança.

A novidade era tanta que o profissionalismo inibidor do marketing ficou meio deslocado e, felizmente, deixou brechas e espaços generosos para a espontaneidade, o improviso, os erros dos humanos amadores, a começar pelo longo tempo da superlive. Também aqui ela foi super. Foram por volta de cinco horas buscando acolher a diversidade cultural e social brasileira, tão vilipendiada nos tempos sombrios do vampiro e do genocida. As lágrimas generosas da apresentadora, constantemente, choraram emoções, sem medo de ser feliz.

Diversidade em horizonte quase universal. Artistas reconhecidos e desconhecidos. Fazedores de cultura de ambientes, ritmos e espectros simbólicos variados e misturados. Gente de latitudes múltiplas. Representantes das culturas que tecem Brasil. Culturas, amadoras e profissionais, de criação e preservação. Culturas com dinâmicas diferenciadas e transversalidades necessárias. Diversidades e intensas interfaces com manifestações e culturas identitárias, que floresceram no país, apesar do clima de hostilidades geradas cotidianamente pelo inominável.

Quase à exaustão, todos, todas e todes celebraram a esperança, o Brasil do amor e dos livros tomando o lugar das armas e do ódio. Amor e esperança foram signos onipresentes nas falas e nas imagens que embalaram a superlive. As culturas chegam vigorosas às eleições, ocupando como nunca agendas, espaços, mobilizações, conversas, atenções.

Discursos justos, mas também por vezes alongados e demasiados. Ainda falta aprender a falar mensagens fortes em estilo distante do velho discurso. Mesmo assim, diversos empolgaram. Inovadoras e potentes maneiras de expressar sentidos do mundo e da política ainda lutam para nascer. As mensagens mais contundentes tiveram outras formatações.

O poeta pernambucano Antonio Marinho, com versos animados e vivos, empolgou brasileiros, gregos e troianos. Ele recitou viva emoção e tocou as fibras de corações e mentes.

O diálogo livro-leitor virou página de encontros, que superam adversidades. O texto expressivo de Itamar Torto Arado Vieira Júnior encontrou com Lula preso, mas livre para rememorar passados vividos e ler o Brasil, que ele ama profundamente. A prisão não se mostrou capaz de impedir o livre voo de Lula em seu encontro torto e arado.

Intenso panorama do Brasil e de sua rica diversidade cultural, mesmo nos altos e baixos na amadora pretensão de acolhimento de todas as diversidades. Culturas de amadores e profissionais da cultura, mulheres, povos originários, negros, comunidades LGBTQIA+, deficientes, youtubers, de culturas canônicas e daquelas à margem e discriminadas. Encontro das diversidades culturais brasileiras perseguida pelas violações dos tempos genocidas e sombrios.

Energia pura. Festa com novas plasticidades inacabadas e incompletas, mas vivas e sem modelagens prefixadas para aprisionar a vida e suas exigências. Em comum, canto ao amor e à esperança, encanto com a possibilidade de um novo Brasil.

Ao final, que não queria chegar, duas presenças vitais. O sóbrio, curto e preciso discurso do companheiro Alckmin e a sempre transbordante e viva conversa de Lula. Afirmação do novo Brasil, democrático, plural, diverso, possível, em fala permeada de deliciosos e risonhos sotaques humanos, demasiadamente humanos, que ativa o mundo cotidiano dos comuns, com os quais Lula compartilha identidades e universos emocionais e simbólicos.

Enfim, uma teia plena de sentidos, afetos, sensibilidades, argumentos, esperanças e responsabilidades cidadãs e políticas compartilhadas por todos os presentes ao vivo e à distância. Todos que no dia 02 de outubro vão votar para libertar o Brasil do autoritarismo, da mediocridade, da incivilidade e da barbárie.

Viva o povo e as culturas brasileiras.

Antonio Albino Canelas Rubim é pesquisador e professor da UFBA