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Em que pese toda esta enorme infraestrutura na área de PD&I do estado de São Paulo, ainda há muito a avançar no campo das políticas públicas e privadas

O sistema paulista de CT&I conta 64 instituições de pesquisa, 73 instituições do ensino superior, além de 12.831 empresas com atividades internas de P&D. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

O aprofundamento das políticas para o fortalecimento de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) tecnológica no estado de São Paulo é tema central para atores e instituições da economia do estado, bem como para a própria classe trabalhadora e os segmentos de menor renda da população paulista, especialmente porque desafios importantes para a redução da pobreza, melhoria da qualidade de vida e inclusão social, encontram suas soluções relacionadas a essas políticas.

De acordo com o IBGE, o estado de São Paulo representou 31,2% do PIB em 2020. Essa pujança é resultado histórico da capacidade do estado em posicionar-se no centro da dinâmica econômica nos diferentes momentos da história: entre o final do século 19 e início do século 20 com a economia cafeeira; de 1930 a 1980, com a indústria de transformação; e, de lá para cá, com a economia de serviços, com destaque para o setor financeiro, TI (tecnologia da informação) e Comunicação. Porém, com a globalização e o conjunto de mudanças estruturais que vieram juntas, São Paulo vem perdendo peso na economia nacional.

Nesse sentido, o estado vive a necessidade de dar resposta a grandes desafios: revitalizar e modernizar seu parque industrial, combatendo a desindustrialização e incrementando a competitividade desse segmento; manter e ampliar um agronegócio já de peso; estar na fronteira tecnológica das atividades de serviços, especialmente os que envolvem elevados volumes de recursos e largas cadeias de negócios como são os casos da saúde, educação, finanças, marketing entre outros.

Tudo isso conectado com os desafios da geração de empregos, inclusão social e combate à pobreza. Neste ponto, vale registrar que um dos debates importantes é: em que medida as transformações tecnológicas podem contribuir efetivamente para o desenvolvimento social. Tome-se o caso, por exemplo, do sistema financeiro. As fintechs – que são as atuais empresas inovadoras do setor – podem propiciar de fato maior acesso das pessoas à abertura de contas, pagamentos, crédito, investimentos, entre outros itens? Para diversos estudiosos, além de incrementar a produtividade e a eficiência dos serviços, a digitalização traz a possibilidade do aumento da inclusão social, mas isso requer que, em especial nos países emergentes, sejam enfrentados vários outros desafios, como a macroeconomia, a volatilidade política, a informalidade e as situações de fraude e violência.

Posta esta breve digressão específica do setor financeiro, retomemos para notar que uma solução que perpassa esses desafios econômicos do estado reside na construção de um grande programa de articulação de atores e instituições da área da PD&I, reunindo governos, setor produtivo, universidades, startups, laboratórios, centros de pesquisa, parques tecnológicos, sindicatos patronais e de trabalhadores, entre outros.

A maior densidade e articulação das instituições que compõem o ecossistema de inovação no estado permitirá que os desafios da indústria, do agronegócio e dos serviços possam ter respostas inovadoras advindas da área de PD&I.  Outro resultado dessa articulação, que deve ser posto até como meta, é a inclusão social, pois vários dos desafios sociais (habitação, alimentação, educação entre outros) podem ser objeto de soluções inovadoras sugeridas por estas instituições e empresas, sobretudo as startups. Essas empresas, que utilizam intensamente as novas tecnologias digitais, representam, nos dias de hoje, uma fonte potencial de inovações, já que desenvolvem soluções novas para produtos, processos e modelos de negócios. Além disso, as grandes empresas, ao implementarem inovação aberta, visando reduzir custos, veem as startups como um fator promotor de inovações. O caso da Califórnia mostra a importância desta relação de parceria entre as grandes empresas e as startups para o encontro de novas soluções, redução de custos e incremento da competitividade.

O estado agrega mais de dois terços dos investimentos em PD&I no país; e aglutina um quarto das instituições de educação superior do Brasil, com várias universidades públicas e privadas de ponta, bem como diversas escolas técnicas. No Brasil, mais de 30% das startups encontram-se no estado de São Paulo. Pesquisa da Fapesp/Seade mostra a preponderância do estado em termos de inovação. O Sistema Paulista de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) é composto por 64 instituições de pesquisa (40 públicas e 24 privadas sem fins lucrativos), 73 instituições do ensino superior (19 públicas e 54 privadas), além de 12.831 empresas com atividades internas de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). São dezenas de parques tecnológicos e institutos de pesquisa nas áreas das Ciências Agrárias, Ciências Biológicas, Ciências Exatas, Ciências Humanas, Ciências da Saúde, Ciências Sociais Aplicadas, Engenharias, entre outras.

Em recente pesquisa acadêmica, defendida no ano de 2022 junto ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Urbanismo e Design do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Viviane Agostini Guimarães buscou mapear o sistema regional de inovação na cidade de São Paulo. Vamos, aqui, estender o mapeamento da autora para todo o estado. Assim, são inúmeros os atores envolvidos com essa temática.

Entre eles, estão os atores públicos de fomento em nível federal (BNDES e Finep), os atores que atuam somente em nível do estado (Desenvolve SP e Fapesp) e os atores de fomento privado (tais como investidores, empresas de venture capital, fundos, private equities).

Fazem parte do núcleo desse sistema os “habitats de inovação”, as aceleradoras, as incubadoras, os parques tecnológicos e os hubs de inovação. São membros também as universidades públicas e privadas; o Centro Paula Souza; as agências de inovação de universidades; os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo.

Sendo a indústria um dos locais por excelência em que ocorre a PD&I, instituições como Fiesp, Cieps, Sesi, Senai, CNI, Câmaras de Comércio e de Indústria, Emprapii, ABDI federações, sindicatos patronais e empresas são essenciais para o sistema regional de inovação. Nos segmentos de comércio e serviços, fazem parte do sistema as associações e federações comerciais, a Febraban, entre outras.

No ecossistema regional de inovação, destaque também para as instituições ligadas ao empreendedorismo, tais como o Sebrae, a Endeavor, a Rede Mulher Empreendedora, as entidades que trabalham com o afro-empreendedorismo, a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), a Associação Brasileira de Startups (ABStartups), a Associação Brasileira de Software (ABS).

São também muito importantes instituições com múltiplos papéis na PD&I, como o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. (IPT), o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), o Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), os Institutos (de Biologia, Geologia, Botânica, Saúde, entre outros).

No caso do governo, é crucial a participação de secretarias do estado e secretarias municipais vinculadas às políticas de inovação e empreendedorismo e com elas seus órgãos, equipamentos e programas relacionados ao fomento a PD&I. Entre as atividades abrigadas pelo Poder Público estão, entre outros, FabLabs, MobiLabs, telecentros, Centros de Inovação Tecnológica, Incubadoras, Institutos, Laboratórios e Parques Tecnológicos. No caso dos Parques Tecnológicos, destaque para os Parques de São José dos Campos, Sorocaba, Ribeirão Preto, Santos, Piracicaba, São Carlos, São José do Rio Preto, Botucatu, Santo André e Campinas.

Entendemos também que, se tratando de inovações, muitas delas relacionadas aos produtos, mercados e processos de trabalho, é fundamental a participação dos sindicatos de trabalhadores (seja de indústria, finanças, comércio, serviços, agricultura e outros), economia solidária e entidades da sociedade civil. Não raro, essas instituições trazem um outro olhar da realidade, de forma que de sua participação resulta uma melhor conexão entre a pesquisa, ciência e tecnologia com as reais necessidades do processo de produção, do mercado e da população em geral.

No entanto, em que pese toda esta enorme infraestrutura na área de PD&I do estado de São Paulo, bem como da existência de um grande contingente de recursos humanos qualificados, ainda há muito a avançar no campo das políticas públicas e privadas. Existe, há décadas, uma quase completa desarticulação dessa imensa infraestrutura e recursos humanos do estado.

A articulação da PD&I no estado de São Paulo permitirá: incrementar a competitividade regional e, assim, interromper a queda de participação do estado no PIB; atrair investimentos para o estado; integrar os diversos setores da economia do estado (indústria, educação, saúde, finanças, agronegócios, comércio, construção civil, entre outras); combinar as ações do estado com as do governo do presidente Lula na área de PD&I, que certamente será uma das prioridades do atual governo; gerar empregos de qualidade.

É nossa intenção contribuir para esta articulação de instituições, atores e parlamentares, especialmente por meio da constituição de uma frente, reunindo representantes dessas instituições, sociedade civil e órgãos públicos, para promover o debate referente às melhores políticas e ações públicas e privadas nesta área.

A ação conjunta e coordenada, em torno de uma frente, possibilitará:

  1. a) a interação com diversos setores da economia e da sociedade paulista, entre os quais: educação, saúde, finanças, comércio, indústria, agronegócios, construção civil, TI, entre outros.;
  2. b) o diálogo com os interesses e vocações de todas as regiões e cidades do estado de São Paulo;
  3. c) a construção de políticas de apoio a jovens empreendedores de base tecnológica, do tipo startups;
  4. d) encontro de soluções e políticas inovadoras na área da inclusão social, com o apoio da área de PD&I, favorecendo bairros e comunidades periféricas do estado de São Paulo.

Boa hora de arregaçar as magas e irmos à luta pela PD&I no estado de São Paulo.

 

Luiz Cláudio Marcolino é economista, ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo e deputado estadual eleito para legislatura 2023-2026

Ana Carolina Davanço é economista e mestra em Administração