Política

Persona Pablo Marçal e seus replicantes: homens de sucesso contra o sistema

Persona é a instância psíquica que se encarrega da interação entre o indivíduo e a comunidade. Na psicologia analítica de Jung, a persona é uma espécie de máscara que o indivíduo projeta para fazer uma impressão sobre os outros e dissimular a sua verdadeira natureza. A criação da persona é um dos primeiros passos numa estratégia de marketing, ela é uma representação fictícia do cliente ideal de uma empresa, criada a partir de dados reais sobre o comportamento e as características demográficas, sociais, culturais,isso ajuda a definir canais, linguagem e estabelecer uma boa comunicação.

Pablo Marçal entendeu esse conceito. Ele que veio de família pobre e vendia calça jeans em Goiânia, e de 2017 para cá, se transformou em um empreendedor milionário ao se tornar coach/ influencer nas redes sociais e trabalhar com marketing digital, criando uma persona de sucesso e ensinando aos seus apoiadores como seguir seu exemplo e se tornar bem-sucedido na vida, não só nos negócios. Marçal, que tem declarados mais de R$170 milhões de reais no imposto de renda, decidiu entrar para a política para “transformar” a vida das pessoas, tal qual ele fez em sua própria trajetória. Ele foi o candidato mais rico na disputa mais acirrada que a prefeitura de São Paulo já viu. Tornar as pessoas prósperas é o seu emblema.

Em 2022, Marçal se tornou pré-candidato à Presidência da República pelo Partido Republicano da Ordem Social (PROS). Na ocasião, a sigla decidiu retirar sua candidatura, contra a sua vontade, e apoiar a candidatura de Lula, o que fez com que Marçal decidisse apoiar o candidato Jair Bolsonaro. A mudança na presidência do comando do PROS foi fruto de uma disputa judicial, que substituiu Marcus Holanda e colocou Eurípedes Júnior em seu lugar. Essa dança das cadeiras fez com que o PROS retirasse a sua candidatura própria para apoiar a chapa Lula-Alckmin.

Marçal, no entanto, não desistiu do intento de se tornar político e decidiu, ainda assim, concorrer a uma vaga para a Câmara dos Deputados. Um mês antes da disputa ele teve seu pedido de registro de candidatura rejeitado pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) devido à falta de documentos, e pôde concorrer sub judice, situação em que sua votação (243.037 votos) não foi considerada para a definição dos eleitos. Decisão posterior da corte paulista deferiu a candidatura e Pablo Marçal passou a figurar entre os eleitos e com isso Paulo Teixeira, deputado federal do PT, saiu da condição de "eleito" para a de 1º suplente.

Foi a decisão do ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski, que negou o registro de candidatura de Pablo Marçal (PROS) devido à falta de documentos, que fez com que o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) que recebeu 122.800 votos fosse reeleito. Esta decisão foi suficiente para que prontamente Marçal estabelecesse uma narrativa antissistema.

Não foi preciso muito para que os seguidores de Marçal fizessem questionamentos: se ele teve mais votos e chegou a ter a candidatura deferida, por que ele não foi eleito? Logo o candidato do PT, que teve menos votos? Como assim? Lewandowski hoje é Ministro da Justiça do governo Lula. E Paulo Teixeira também. Marçal não foi eleito em 2022, segundo essa lógica, porque o sistema estava contra ele e contra Jair Bolsonaro, eles seriam uma ameaça ao status quo. Marçal quer ocupar o poder da máquina, para mudar a vida das pessoas, mas, infelizmente, “o sistema não deixa”.

Nas eleições de 2024, Marçal surge novamente, desta vez pleiteando o cargo de prefeito de São Paulo pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB). Marçal teve seus perfis nas redes sociais suspensos por decisão judicial, que entendeu haver indícios de que o empresário estaria cometendo abuso econômico ao promover com recompensas financeiras cortes de seus vídeos para as redes sociais produzidos por seus apoiadores. Imediatamente, Marçal utilizou a mesma estratégia de 2022: se posicionar como uma pessoa que enfrenta o sistema que o persegue, ao mesmo tempo que se coloca ao lado daqueles que também sofrem os efeitos de um sistema que não foi feito por eles e nem para eles.

O efeito do banimento das contas nas redes sociais de Pablo Marçal serviu como endosso à tese de que o sistema estava contra ele. Muito rapidamente perfis de apoio a Marçal foram criados, contas paralelas foram criadas e as redes sociais foram inundadas com a imagem de Marçal com a boca tampada por uma fita com a palavra "sistema". Desta vez Marçal não foi eleito, porque de acordo com ele, foi estabelecido um grande conchavo entre o candidato apoiado pelo PT, Guilherme Boulos (PSOL) e o candidato apoiado pelo PL, Ricardo Nunes (MDB), aqui os apoiadores do bolsonarismo passam a se dividir, pois a ofensiva feita por figuras da direita contra Marçal seria a prova cabal de que Jair Bolsonaro e seu entorno teriam se dobrado ao sistema.

A postura de Marçal durante toda a campanha foi propositalmente polêmica e gerou grandes embates e mobilização nas redes sociais, o que projetou sua figura para fora da internet. No último dia 16 de outubro, Marçal postou em seus stories no Instagram, que aceitou o convite para ser Secretário de Empreendedorismo em Barueri, São Paulo, “para ajudar o povo de Barueri a prosperar”.

Em 2026 toda a cena política já espera pelo retorno de Marçal, e está correta. Ele declarou em suas redes: “ eu defini que servirei doze anos na política e já se foram dois anos. Preciso servir o povo e aprender para amadurecer para o cargo de executivo que vou disputar em 2026. To pronto pra começar debaixo. Por isso eu aceitei o convite para servir na prefeitura e humildemente aprender o traquejo num cargo secretariado. Estou muito animado para começar a trabalhar trazendo empresas, renda e aumentando a arrecadação através de novas empresas para fazer o povo prosperar”.

Marçal se tornou multimilionário, mas se coloca “humildemente” a serviço daqueles que querem aprender com sua trajetória e mudar sua história de vida, e ele ensina como. O que explica seus anseios políticos, de acordo com ele, é um chamado, uma forma de retribuir, um serviço a ser prestado à Nação. A persona Marçal representa o arquétipo do herói, um homem de sucesso, que conseguiu vencer, mesmo com tudo jogando contra ele (o sistema), ele é o exemplo de superação das adversidades e da vitória. No marketing digital essa persona lidera pelo exemplo, motiva seu público a superar obstáculos em conjunto e vende uma oportunidade de chegar ao topo, seguindo a mesma “jornada” de sucesso.

Escalada rumo ao sucesso: empreendedores milionários, um modelo de negócio

Marçal é influencer, coach, empresário e milionário. Ele aplica táticas de marketing de influência e tráfego pago1 em diferentes negócios na internet e aplicou os mesmos métodos em suas campanhas. Nos últimos anos, Pablo Marçal virou uma celebridade nas redes sociais com a venda de palestras e produtos digitais de mentoria pessoal e profissional em que ele ensina a ter sucesso.

Em agosto de 2019, ele tinha 235 mil seguidores em seu perfil no Instagram. No início da campanha, tinha 12,7 milhões de seguidores na rede, após o bloqueio feito pela justiça, sua “conta reserva oficial" tem 5.6 milhões de seguidores que rapidamente se colocam à sua disposição para apoiá-lo, porque eles têm muito a ganhar com isso, literalmente. Marçal promete aos seus seguidores ajudá-los a enriquecer e a “prosperar” tal qual ele fez, basta seguir seus ensinamentos.

Pablo passou a empreender no universo digital aliando marketing de vendas à mudanças de mentalidade (mindset) e estilo de vida (lifestyle) que aliam ideias meritocráticas à teologia da prosperidade. Em seu site oficial e em suas redes sociais, Marçal afirma que "destravou os códigos da prosperidade e do governo da alma" e que tem "grande desejo de ajudar as pessoas a prosperarem em suas vidas ensinando os métodos e técnicas que desenvolveu e aplicou ao longo de sua vida". O sacrifício e o esforço se somam aos preceitos religiosos, em que a capacidade de superação vem da fé e de que todos devem viver por um propósito.

Pablo Marçal se tornou o mentor de muita gente na internet. Ele é o porta-voz de sucesso que é almejado por tantos. Tem preceitos cristãos como guia,família como base, corpo como instrumento para a escalada rumo à riqueza. Para cada uma dessas áreas há milhares de tutores, mentores,coaches nas redes sociais. No final a promessa é ser “forte/bonito” (dieta/treino/cirurgia plástica/harmonização facial), “amado” (se tornar um homem de valor, encontrar uma esposa, constituir família/casamento cristão) e “próspero” (fique rico investindo, trabalhe sem sair de casa, trabalhe na internet, trabalhe enquanto eles dormem, descubra seu propósito, tenha foco).

Marçal endossa a ideia de que qualquer contraponto a este discurso é uma desculpa dada pelos “perdedores”, é “mimimi”/vitimismo/preguiça, coisa de quem culpabiliza o outro e terceiriza as suas responsabilidades, é “típico de quem espera que o Estado faça tudo e que políticos sejam como um pai. A saída é você se mexer, se levantar e fazer algo a respeito.”

Há dezenas de influenciadores no Brasil que se colocam como “empreendedores” que rapidamente viraram milionários, como Érico Rocha (mentor de marketing digital) e Thiago Finch (“multimilionário antes dos 25”)2, assim como Pablo Marçal, eles também não tinham recursos, eram de classes sociais menos abastadas e conseguiram arrecadar milhões de reais com a venda de seus cursos e produtos por meio da internet.

E aqui é importante fazer uma ressalva: esses ditos empreendedores, não querem abrir um pequeno negócio, não. Não se trata disso. É ser uma autoridade, uma liderança em uma área,se tornar uma referência e se tornar milionário. A ideia não é faturar para pagar as contas do mês, a ideia é faturar para ser capaz de aposentar os pais e toda a família e talvez chegar a um dia em que a pessoa não vai mais precisar trabalhar, “o dinheiro trabalhará por você”.

Modelo de negócio: eu te ensino a chegar no topo.

O modelo de negócio funciona como uma espécie de instituição de ensino, em que influencers/gurus/coaches/mentores vendem conteúdo, no estilo passo a passo, com dicas, fórmulas e receitas para obter o sucesso em diferentes empreitadas. É possível encontrar cursos online para absolutamente tudo. Basta acessar uma plataforma e o conteúdo fica disponível por um período de tempo mediante o pagamento de uma assinatura.

Basicamente qualquer pessoa pode se descrever na rede social como mentor de qualquer área e utilizar plataformas para vender sua mentoria. Quanto mais seguidores conquistar, maior a chance de serem possíveis compradores de seu produto ou do produto de terceiros que você propagandear (e um dia, quiçá, serem seus eleitores também!). E se você tiver milhares de seguidores que geram engajamento nas redes, mais o seu perfil se torna relevante e você pode ganhar dinheiro com isso. Basta que você pague assinatura para META para ter uma conta verificada e transformá-la em um ativo comercial.

No X (twitter) é possível ganhar dinheiro apenas com suas postagens. A fórmula de remuneração não é clara, mas o piso é de US$ 10. Os valores pagos aos influenciadores que geram engajamento no X podem chegar a US$ 40 mil. Isso ajuda a explicar, por exemplo, a grande revolta com a derrubada do Twitter no Brasil e a ascensão de Elon Musk como herói. No Google a busca “como ganhar dinheiro na internet” devolve uma lista de possibilidades como:

Afiliado digital: Vender produtos de uma empresa em troca de uma comissão por cada venda realizada. Para isso, é preciso escolher uma plataforma de divulgação, como blogs, redes sociais ou lojas virtuais, e criar uma estratégia de marketing digital.

Influenciador digital: Promover ou recomendar produtos ou serviços em redes sociais ou YouTube. Para isso, é preciso escolher um nicho, como moda, viagens, tecnologia ou fitness, e construir um público.

Serviços remotos: Oferecer consultoria, aulas online ou assistência virtual a clientes em todo o mundo. Para isso, é possível utilizar plataformas como o Zoom e o Skype.

Criação de conteúdo: Escrever conteúdo para blogs e redes sociais, ou criar e vender cursos online.

Compra e venda de sites: Criar um site sobre um assunto em que se seja especialista, ganhar uma boa audiência e vendê-lo.

Revenda de produtos: Revender produtos ou vender itens usados

Resposta a pesquisas: Responder pesquisas para ganhar dinheiro.

Edição: Ganhar renda extra com a edição de imagens/vídeos

Tradução de textos: Trabalhar com a tradução de textos.

Um olhar rápido para a lista acima faz parecer relativamente fácil enriquecer sem sair de casa, trabalhando na internet. É uma oferta tentadora demais, ainda mais em um país extremamente desigual como o Brasil. Para um jovem então, a promessa é quase irresistível. Tem milhares de cursos e tutoriais que ensinam como fazer. Por que não tentar?

Esse é um movimento global. Pessoas que se tornam ou se auto intitulam coaches (treinadores em português) e vendem cursos online e estão em todos os lugares nas redes sociais. São perfis similares, replicantes de um modelo que segue uma mesma trajetória: usar estratégia de marketing digital para vender um produto valioso: informação, embalada como uma chave de ouro para destravar a escassez. É só clicar em “saiba mais” e pagar, é claro, que você terá acesso a todo conteúdo.

Um dos últimos vídeos postados por Pablo Marçal mostra imagens de figuras como Trump, Elon Musk, Jeff Bezos, atores de filmes de super-heróis, campeões olímpicos e a pergunta: o que esses homens têm em comum? Muitos seguidores responderam: eles não desistiram, eles criaram as próprias regras, eles enfrentaram o sistema. Mas não é só isso que esses perfis têm em comum, eles também estão à direita no espectro político.

RedPill: a pílula da direita antissistema

O influencer financeiro de direita, Andrew Tate é um dos principais representantes de um movimento crescente entre os homens, principalmente os jovens, que buscam sucesso na vida: ser antissistema, criar as próprias regras, resgatar uma masculinidade-raiz, reivindicar uma posição de liderança e sobretudo, ficar rico. Andrew Tate inspirou a estratégia de marketing do candidato à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal3.

Ex-lutador de kickboxing e quatro vezes campeão, Tate ganhou notoriedade nas artes marciais e também ficou conhecido em 2016, quando participou da edição britânica do Big Brother. Ele foi expulso do programa com o surgimento de um vídeo no qual ele batia em uma mulher com um cinto. Tanto ele quanto a mulher afirmaram que o vídeo era de uma relação sexual consentida. Tate ficou famoso por postar vídeos polêmicos nas redes sociais em que levanta abertamente discursos de ódio e comentários misóginos. Ele faz questão de gerar controvérsias e conquistou assim, uma grande base de fãs ávidos pelo debate de suas ideias e que geram contínuo engajamento em suas publicações.

Andrew Tate se declara misógino e levanta a bandeira de que as mulheres são propriedade masculina e que relacionamentos e “tudo o mais” só funcionam com homens no comando. Ele já afirmou que vítimas de abuso sexual devem ser culpadas, que em casos de traição da mulher ela deve ser estuprada e violentada e que a humanidade corre risco de sobrevivência com o avanço do “empoderamento feminino”.

Em pouco tempo Andrew Tate se tornou bilionário e passou a ser conhecido também por ser um influencer financeiro e a vender cursos na internet sobre “como enriquecer” em sua plataforma. O conteúdo feito por Tate, que basicamente fala sobre o domínio masculino, a submissão feminina e a riqueza, conquista números espantosos, com 12 bilhões de views em um só vídeo no TikTok4. No Twitter, ele tem 9,9 milhões de seguidores, e tinha 4,6 milhões no Instagram antes de ter sua conta banida5.

A partir do momento que passou a ser banido das redes em função de misoginia extremada,as postagens citando seu nome começaram a viralizar. As publicações, segundo noticiou o jornal britânico “The Guardian” em 2022, partiam de contas usando seu nome e foto feitas por seguidores seus que assinavam sua plataforma paga “The Real World” (O Mundo Real), em troca de incentivos financeiros a depender da propagação que conseguiam. Os seguidores de Marçal foram incentivados a fazer o mesmo. O usuário se cadastra, aprende a fazer as publicações e passa a obter visualizações e, a depender da quantidade, passa a ser remunerado. Marçal lançou um“concurso de cortes e de premiações”, o que foi dito abertamente por Marçal e sua equipe nas redes6.

Tem quatro mil pessoas que estão num campeonato de corte e eu pago um dinheiro até relevante por visualizações. Eu falei, vamos fazer isso aqui, porque eu modelei um americano que fez isso e explodiu na internet”, disse Marçal numa entrevista em março deste ano ao programa “Pânico”, da Jovem Pan, em que ele demonstra a influência de Tate.

Segundo Marçal, “ele foi o cara mais pesquisado do mundo na internet”. “Aí eu falei, ‘vamos fazer esse rolê’. Comecei a pagar as primeiras competições, só que só tinha vídeo bonzinho. Não viraliza, mas eu estava aparecendo em tudo, com pouco comentário e pouca curtida. Ai a galera começou a me perguntar: ‘Marçal, você vai pagar a gente por conta de você vai pagar a gente por conta dessas visualizações de coisas negativas?’. ‘O que é negativo?’, falei. Aí comecei a ver, a pancadaria, né. Chamei meu time e falei, é isso aqui que tenho que pagar, quero isso aqui, não o que estou bonzinho”.

Andrew Tate foi indiciado em junho desse ano, junto com seu irmão Tristan, na Romênia, sob a acusação de tráfico humano, estupro e formação de uma gangue criminosa para explorar sexualmente as mulheres. Promotores romenos alegaram que os irmãos Tate seduziram as vítimas mentindo que queriam um relacionamento ou casamento com elas. Eles negam as acusações. Andrew Tate continua sendo apoiado por uma base internacional de seguidores, ele é um dos maiores representantes internacionais do movimento RedPill. Ele diz ser perseguido pela "Matrix" que discorda de suas visões "revolucionárias”.

O movimento RedPill (em português, pílula vermelha) faz alusão ao filme Matrix, de 1999, em que o protagonista, Neo (personagem de Keanu Reeves) é um homem jovem que fica horas diante de um computador e é uma espécie de hacker que encontra uma falha no “sistema” e passa a ser perseguido por agentes da “Matrix”. Neo é salvo por um grupo “revolucionário” que, assim como ele, também enxergam as falhas do sistema, onde tudo é programado e feito para que você siga o que foi predeterminado.

A partir daí, Neo tem diante de si dois caminhos: tomar a pílula azul (BluePill) e seguir em seu mundo de ilusões feitos propositalmente e organizados pela “Matrix” (sistema) ou justamente optar pela pílula vermelha (RedPill), que lhe trará a compreensão nua e crua da realidade, o que exigirá dele renúncias e novos aprendizados, com uma nova roupagem, postura e novas habilidades, como ser capaz de lutar e usar armas.

O movimento RedPill e incel no Brasil: a adesão dos jovens à direita

Para os integrantes do movimento RedPill, muitos autointitulados coaches ou influencers da masculinidade, como Andrew Tate, o avanço de pautas liberais e progressistas deve ser contido, pois representam a destruição da figura tradicional do homem e a perda do domínio masculino, o que afetaria os rumos da “Nação”7.

É comum encontrar nesses perfis o provérbio: “Homens fortes criam tempos fáceis. Tempos fáceis geram homens fracos. Homens fracos criam tempos difíceis. Tempos difíceis geram homens fortes.”8 Inclusive, com reforço de que essa seria uma lição bíblica, com inúmeras passagens que aconselham a ser forte e corajoso nos momentos de dificuldade.

De acordo com esses perfis, não existe mais a valorização de homens de honra e é preciso resgatar a masculinidade-raiz, os homens “de verdade”9. Enquanto isso não acontecer o Brasil terá uma geração de vitimistas, uma geração do mimimi. Essa ideia é propalada também em perfis de políticos de direita no Brasil, sobretudo de apoiadores do bolsonarismo, inclusive de mulheres10.

Ao se depararem com perfil de Tate, homens, principalmente jovens, encontram uma inspiração sobre como devem fazer para chegar no topo. Apesar de ter sido preso por tráfico humano, estupro e abuso sexual, Tate continua sendo defendido por adeptos do movimento redpills, incels e jovens de direita. O contéudo RedPill têm imensa audiência (a hashtag alcançou 44 bilhões de visualizações)11 e é encontrado nas redes sociais em publicações, vídeos, podcasts, mas também em cursos, palestras e livros, como o Antiotário, de Rafael Aires12 e do coach de masculinidade Thiago Schutz13, dono da página do Instagram Manual Red Pill Brasil, um dos principais expoentes do movimento no país.

Incel: as desvantagens do jovem brasileiro na disputa da vida

Pesquisas realizadas na Austrália, nos Estados Unidos e no Reino Unido relataram que cerca de um quarto de jovens com idades entre 16 e 24 anos concordam com as ideias de Andrew Tate, muitos desses jovens se declaram como incel. A expressão incel vem da junção das palavras inglesas "involuntary celibates" e descreve homens que se definem como "celibatários involuntários" e que guardam mágoa, raiva e até ódio das mulheres por conta disso. A maioria é de adolescentes e jovens com pouco mais de 20 anos, que sofreram rejeição ou tiveram encontros ruins com mulheres e que visitam fóruns de discussão na internet e em comunidades que se desenvolveram em plataformas como Reddit, Facebook, 4chan e em sites administrados pelos próprios "incels" e que estão associados a atos de violência em diversos países14.

Um herói do mundo "incel" é Elliot Rodger15. Em 2014, ele matou seis pessoas e atirou em si próprio. Em um manifesto feito em vídeo Rodger reclamou sobre o fato de que as mulheres não queriam fazer sexo com ele. Após a viralização do vídeo e do manifesto, Rodger virou celebridade nos fóruns virtuais, uma espécie de mártir de jovens solitários cujo acesso à sociedade e às relações amorosas foi negado por não se encaixarem em supostos padrões ideais de beleza, raça ou condições financeiras. Há outros exemplos de violência cometida por jovens que se consideram “incel” e um chamamento à uma espécie de rebelião contra o “sistema” que não os favorece.

No Brasil, o Massacre de Suzano, é o exemplo mais emblemático. Em 13 de março de 2019, Guilherme Taucci Monteiro e Luiz Henrique de Castro, amigos de infância e filhos de famílias de classe média baixa, entraram em sua antiga escola com uma pistola calibre 38, uma machadinha, uma besta e um arco. Após matarem sete pessoas dentro da escola terminaram o ato atirando em si da mesma forma que os atiradores do Massacre de Columbine, ocorrido nos EUA em 1999. A motivação era humilhar alunas na frente de todos e tornar seu atentado mais famoso.

Em um país notadamente machista como o Brasil, o movimento RedPill e incel encontram cada vez mais adeptos. O que se encontra nas redes sociais é um grupo cada vez maior de homens fortalecendo a ideia de que todas as mulheres só buscam dinheiro, são promíscuas e manipuladoras e que, portanto, são “perda de tempo” e podem ser um entrave para o sucesso. Somados ao fato de que o apelo estético e a riqueza são os símbolos máximos de sucesso, alardeados por influencers e celebridades na internet, a pressão sobre os jovens aumenta cada vez mais, se “nada mudar” e se eles “não fizerem nada”, seguirão solitários e pobres. A saída desse cenário estaria em enfrentar a “Matrix” que os desfavorece.

De acordo com a reportagem de Marie Declercq, feita em 2019, analisando jovens brasileiros que se consideram incels e que participam de grupos virtuais, concluiu que “nem todos são radicais extremos, e que não se trata necessariamente de jovens brancos e privilegiados. Muitos falam das dificuldades de arrumar emprego, conseguir estudar, se sustentar e sair da casa dos pais com o salário baixíssimo recebido em subempregos, isso quando não estão desempregados.”

No Brasil, essa cultura incel se desenvolveu especialmente através da seção “Vale Tudo” do fórum UOL Jogos, hospedado por um dos maiores portais brasileiros de jornalismo e entretenimento. Criado em 2002, foi desativado em dezembro de 2018, contabilizando milhões de postagens e milhares de usuários. Esse espaço gestou o que o jornalista Daniel Salgado, descreveu como a “cultura masculina adolescente cooptada pela nova direita brasileira”.

Salgado foi um adolescente que frequentava esse fórum, ele afirma que o que “cativava aqueles jovens reacionários era um ideal de aceitação. À medida que a rede era cada vez mais ocupada por pautas progressistas, eficiente que é como ferramenta de amplificação de vozes antes silenciadas, o fórum VT e seus similares se radicalizavam na direção oposta. Seus membros manifestavam ressentimento e desprezo por aqueles que, em seu entender, pareciam ocupar ilegitimamente um lugar que consideravam exclusivo e inexpugnável”.

Foi por meio deste fórum que Daniel Salgado e outros jovens ficaram próximos das ideias de Olavo de Carvalho, que se tornaria uma espécie de guru da nova direita brasileira. Segundo Salgado, para toda uma “legião de jovens pupilos, o raciocínio era irretocável – e, portanto, irresistível. Afinal de contas, as ideias de Olavo apelavam à “valorização de quem, em tese, se quis apagar da história. A promessa de revelar uma verdade oculta é, finalmente, tudo o que um jovem busca, a porta para um novo mundo de conhecimento que, de outra forma, lhe seria negado.”

Esse raciocínio é uma das explicações pelas quais também jovens estão cada vez mais interessados em adquirir os cursos que mostrem a eles a saída da Matrix e que os tornem capazes de mudar a própria realidade, ter acesso ao segredo do sucesso.

O homem sigma

Os adeptos do movimento RedPill empregam um emoji de taça de vinho acompanhado de uma escultura Moai, da Ilha de Páscoa, como marca registrada em seus perfis. Para eles, estes monumentos trazem traços masculinos a serem cultuados, como a mandíbula bem torneada e o queixo protuberante. O número crescente de cirurgias de harmonização facial em homens justamente para que seja projetada a mandíbula/queixo como marca de uma masculinidade forte também é um sinal dos tempos16.

A ideia do “macho alfa” assim vem sendo renovada. O perfil de homem que é líder, dominador, aquele que está no comando e gosta de exibir força, contrapõe-se ao perfil beta, tipo de homem que fala dos sentimentos e compartilha tarefas domésticas, é liderado e fraco. No movimento RedPill está em voga o perfil de homem sigma17: homens que cultuam mais o corpo, a aparência, mas que também buscam ser “refinados”, intelectuais e que são mais reservados e supostamente adorados por mulheres,o tipo irresistível que pode ter a mulher que quiser, ao passo que afirmam se comportar como lobos solitários.

Mais próximo do homem alfa, o homem sigma possui a mesma capacidade de liderar projetos e alcançar grandes coisas, mas sem ligar para as normas convencionais, seguem suas próprias regras. Não precisam de validação dos outros e preferem tomar decisões sozinhos, se dizem frequentemente “antissistema”. Cunhado pelo ativista da extrema direita americana Theodore Beale, em 2010, o termo sigma ajuda a definir o exército virtual que toca globalmente o RedPill.18

Theodore Beale é escritor de ficção científica e militante de extrema-direita e é conhecido como Vox Day, seu pseudônimo literário. Vox copiou os conteúdos da Wikipédia para um novo site, o Infogalactic* e “convida” os leitores a endireitarem os conteúdos. Ele defende que um apoiador de Trump, de extrema-direita, não deveria ter que ler os mesmos conteúdos que um marxista.19

Chamado de “Senhor das Trevas Supremo da Maligna Legião do Mal” pelos seus seguidores, ou seus “asseclas” como eles mesmos se descrevem, Vox Day encontrou “fama” propagando os seus discursos de ódio em meio a um público que frequentemente reclama de uma suposta influência progressista imposta a videogames e filmes de super-heróis e ficção científica. Day busca financiamento com os seguidores para produzir filmes de “heróis alternativos”, em 2019, por exemplo, o projeto de financiamento mostrava uma protagonista lutando contra uma “força policial global” que caçava “conservadores de pensamento livre”.

Não por acaso, esse público já financiou várias histórias em quadrinhos de tom similar e encabeça campanhas de ódio contra artistas negros escalados como protagonistas em produções de fantasia, por exemplo. O próprio Beale é integrante do movimento Gamergate (uma campanha sexista de assédio virtual na comunidade dos games) e, além de declarações racistas, já descreveu a homossexualidade como um “defeito de nascença”20.

Os representantes do RedPill sistematizam seu modo de viver em guias com dicas sobre como ser atraente fisicamente, como tratar a mulher no primeiro encontro, como dominar o jogo das relações, como ser um “homem de valor” e sobretudo, métodos e fórmulas de como ser “bem sucedido”. Para uma ala desses homens, tais conselhos se converteram em negócio e aqui começam a pulverizar nas redes sociais os chamados coaches, uma vastidão de perfis que dizem ter as mais distintas soluções para superar os obstáculos que estão na escalada rumo ao sucesso.

A maior parte dos cursos vende a realização das promessas: tenha o corpo perfeito, saiba aparentar refinamento e elegância; conquiste as mulheres, domine o jogo, aprenda a investir, fique rico. Basta clicar e você baixa primeiramente um arquivo pdf gratuito e te convidam a assistir uma masterclass grátis,uma palestra ao vivo na rede social onde serão passadas muitas “dicas” que são como iscas para que você adquira o curso completo, o manual, o livro, e tenha mentorias com coaches que te ensinarão como vencer na vida, em qualquer área.

Todo o “estilo” de Tate é embalado em vídeos exibindo carros de luxo, iates, aviões e a mensagem é que qualquer um pode ter acesso a isso tudo. Basta virar membro da “Hustler’s University”, um curso online que cobra mensalidades de US$ 50 nos Estados Unidos e 38 libras no Reino Unido onde Tate “ensina a enriquecer”. A “Hustler’s University” tem como um de seus pontos principais o pagamento de comissão para quem trouxer mais pessoas para o programa. E para gerar engajamento, Tate recomendava o compartilhamento de suas declarações mais preconceituosas, em geral, contra as mulheres.

O que você idealmente deseja é uma mistura de 60% a 70% de fãs e 40% a 30% de haters. Você quer discussão, você quer guerra”, afirma o manual enviado aos membros e recrutadores do curso de Andrew Tate,conforme reportagem do jornal The Guardian21. Até o início de 2022, Tate era uma celebridade de internet com milhões de visualizações. Mas hoje o britânico se tornou o maior fenômeno global da internet, atingindo o patamar dos bilhões. Em suma, Andrew Tate é sem dúvida um porta-voz da misoginia e do movimento RedPill, mas o seu real negócio é explorar as vulnerabilidades masculinas e lucrar com elas. A misoginia é a isca para gerar engajamento, é a forma de cooptar futuros compradores de suas ideias.

Casamento Próspero: Trad-Wifes (Esposas Tradicionais) e Esposas-Troféu

Um canal no TikTok chamado AndrewTateBrazil se dedica a pegar “cortes” famosos do influencer e colocar legendas em português, entre eles há vídeos como “Nenhuma mulher dirige meu carro, “cuidado com mulheres muito confiantes no primeiro encontro” e o mais compartilhado: um aconselhamento a quem não for milionário não cozinhar, pois o tempo gasto preparando a refeição pode ser usado em atividades que dão retorno financeiro.

Aqui outro movimento vem angariando força: o das trad-wifes22, termo inglês para “esposas tradicionais”, mulheres que seguem uma “cartilha” de casamento ideal, dedicadas ao lar, ao marido, às tarefas domésticas e à criação dos filhos, enquanto os homens ocupam-se em ser provedores e protetores. Esse seria o encontro ideal para aqueles homens que uma vez que tenham obtido sucesso e desfrutado a vida e que desejem constituir família, encontrem esse perfil de mulher, conservador e “antifeminista”. Esse movimento tem conquistado mulheres que também buscam sucesso, tornando-se ou mantendo-se como mulheres de valor, e aqui muitos coaches homens se debruçam a “ajudar” as mulheres a conquistar um homem de sucesso sendo a mulher ‘certa’ para ele,com dicas sobre como deve ser sua postura, comportamento, vestimenta, forma física, tudo que de fato faça com que um homem dê atenção e a “valorize”.

A defesa do “antifeminismo” cresce nas redes sociais diante do tsunami misógino. Ideias retrógradas de que lugar da mulher é dentro de casa, cuidando dos afazeres domésticos e da educação de seus filhos, têm crescido mesmo no contexto brasileiro, quando notadamente a família brasileira é, composta em sua maioria, por uma mãe solo que precisa sair do espaço doméstico para trabalhar e sustentar a casa e os filhos.

O discurso feito sobre a “retomada da masculinidade” sugere que os homens “de verdade” têm obrigação de sustentar sua família e que é vergonhoso que sejam sustentados por mulheres e que essa “inversão” de papéis de gênero é fruto do feminismo defendido pela esquerda, e que é por isso que os homens têm se tornado “fracos”, “gordos”, “gays” e o resultado disso é a perda do “futuro na Nação”. Muitas mulheres têm concordado com a ideia de que só depende dos homens retomarem esse lugar de protagonismo para que elas possam, enfim, descansar.

O reforço à retomada dessa masculinidade-raiz ressoa em mulheres que dizem realizarem o “sonho de ser esposa-troféu”, elas defendem serem sustentadas pelos maridos como forma de valorização e resolveram abraçar a terminologia que servia antes como crítica a este comportamento. Este caminho a ser seguido para encontrar a felicidade no amor é defendido não mais apenas dentro de modelos restritos religiosos, mas se encontra no “modo de vida” (lifestyle) exposto nas redes sociais com o dia a dia de mulheres que são sustentadas pelos parceiros, como é o caso de perfis como de Byanca Moraes, 29 anos e Amanda Okamoto, 26 anos, que viralizam em suas redes sociais, compartilhando vídeos em que contam "os luxos" que os maridos provedores e ricos proporcionam a elas.

Detalhe importante: estas mulheres se colocam como independentes, livres e podem usar o dinheiro como quiserem e só trabalham por escolha. Outras mulheres, que são mantidas pelos maridos e acreditam que esse estilo de vida corresponde ao de uma parceira amada e valorizada, têm exposto mais suas opiniões nas redes sociais. Enquanto algumas mulheres criticam a atitude como gananciosa ou submissa, outras dizem sonhar com o dia em que encontrarão um marido que as torne "esposas-troféu"23.

No Brasil isto reverbera em muitas mulheres que acabam encontrando nos perfis de mulheres conservadoras e de direita os ideários de beleza, amor e sucesso e que são consideradas belas, recatadas e do lar como Marcela Temer, elegantes como Michele Bolsonaro e inteligentes como Cintia Chagas, influencer e comunicadora que ganhou notoriedade nas redes sociais falando sobre o emprego correto da língua portuguesa, a postura da mulher elegante e o reforço a ideias de que em um casamento a mulher deve servir ao marido.

Cintia Chagas, inclusive, foi alvo de violência doméstica recentemente e ganhou notoriedade nas redes sociais, porque houve crítica à chamada indignação seletiva das “feministas” que não prestaram solidariedade à ela. Cintia tem publicação nas suas redes sociais criticando Janja, a esposa do Presidente Lula, por ter falado “cidadões” em um vídeo. Janja é representada como o estereótipo ligado à figura da mulher de esquerda: feminista, feia, promíscua e burra.

O retorno aos papéis tradicionais de gênero virou tendência em pleno 2024, em parte como resposta à múltipla jornada de trabalho enfrentada pelas mulheres nos dias de hoje, fruto de um avanço do feminismo que levou as mulheres para o mercado de trabalho em que elas passam a partilhar com os homens as responsabilidades financeiras pelo sustento domiciliar, enquanto que os homens, por outro lado, não fazem o mesmo no sentido de abraçarem as tarefas domésticas e do cuidado. A conta não fecha e muitas mulheres passam a se questionar se “vale a pena” casar e ter filhos.

É neste cenário que os perfis de coaches de masculinidade e redPill reforçam a ideia da ameaça feita à instituição familiar representada pelo “empoderamento feminino” promovido pelo feminismo que defende a mulher ser independente do homem e o aborto. Nesse jogo, o feminismo é defendido pela esquerda, logo, é a direita que defende a família.

Nas redes sociais é crescente o fenômeno da constituição de uma família próspera, especialmente no Brasil. Para isto, o homem de “valor”/sigma escolhe a mulher “ideal”/esposa tradicional para que juntos prosperem, não são poucos os perfis de aconselhamento para casamentos e relacionamentos (e mais uma porção de coaches e cursos).

Pablo Marçal tem um vídeo muito compartilhado24 no TikTok em diferentes perfis, em que ele fala do “compromisso” do homem no casamento. Ele diz assim: “Carol certa vez chegou em casa e falou eu não casei pra ficar pagando conta! Eu olhei pra ela e o meu desejo era falar: eu também não.(risos na plateia). Só que eu fiz um compromisso[...]Não largo essa mulher por nada. Eu vou restaurar esse casamento. Eu vou atrás dela, eu vou me f. , mas não abro mão dela. Sabe o que acontece? Sua mulher amadurece quando você é homem. O problema é que você tem 40 anos e se comporta como um pivete de 12. Vou lá pra casa da minha mãe! Que mãe! Fala assim comigo, só os homens: homem não tem mãe não, moço! Quem tem mãe é menino!O dia que você virar homem, cê vai entender o recado que acabei de dar!Tem coisa que só homem tem coragem de fazer, menino nunca vai ter coragem de fazer, porque encarar a verdade é dolorido demais”.

Pablo Marçal, assim como Andrew Tate, e outros tantos, enxergou uma forma de lucrar vendendo sua trajetória de sucesso na vida traduzida em curso nas redes sociais. O mais recente slogan do mais novo produto vendido por Marçal é: Você não tem culpa de não ter vindo de uma família rica, mas tem culpa se uma família rica não vier de você”. Marçal tem mais de 60 livros publicados, no estilo e-book, um dos seus best-sellers é o “código do milhão”, vendido frequentemente durante suas lives e palestras por módicos R$ 9,90. Sua audiência é em média de 50 mil pessoas, simultâneas.

Trajetória de sucesso: a ilusão da meritocracia e a teologia da prosperidade

Marçal, Tate e seus replicantes costumam utilizar métodos de “Programação Neurolinguística” (PNL). A expressão se tornou uma espécie de termo genérico de marketing, usado principalmente para vender cursos, seminários e processos de coaching. Em sua origem o termo foi adotado e criado na década de 1970, pelo linguista John Grinder e pelo psicólogo Richard Bandler, nos Estados Unidos. Eles propunham que deveria ser possível reproduzir o sucesso de figuras eminentes a partir da imitação de comportamentos superficiais (o modo de falar, pensar e agir) dessas pessoas.

Marçal encontrou uma fonte de ouro. Há um filão de pessoas, principalmente homens jovens, inundados pelos conteúdos embalados com uma estética de sucesso promovidos pelos movimentos de “resgate da masculinidade” que estão nas comunidades ‘gamers’ e em jogos online e dentro das redes sociais, onde mais da metade dos brasileiros passa em média nove horas por dia imersos25, sedentos por alcançarem o topo.

No discurso de Marçal entram componentes do ethos brasileiro: a família e a fé. Seus seguidores recebem o discurso de que se você mudar sua mentalidade, traçar metas e se esforçar o bastante, você vai conseguir! Nesse lugar não há espaço para reclamações, qualquer queixa ou questionamento é rechaçado e seriam demonstrações de fraqueza e o tal famoso “mimimi”. Em linhas gerais, a mensagem é para ser um vencedor você tem de fazer sacrifícios, ter foco e persistir enquanto os outros desistem, para isso é preciso ter um propósito e é aqui que a ilusão da meritocracia se une à teologia da prosperidade,a ideia de que a busca pela riqueza material é preconizada por Jesus Cristo, é um “desejo de Deus que você fique rico.” Todo fracasso é de sua inteira responsabilidade, não sendo permitido culpabilizar terceiros.

Em um de seus vídeos intitulados " Mentalidade pra ficar Rico” Marçal diz: riqueza não é ter dinheiro. Muitos de vocês tem casa, mas não tem lar. A mente é igual a paraquedas, depois que abre não fecha no ar. O que eu quero que você entenda é que a verdadeira riqueza está em todas esferas, mas ela tá dentro da sua casa, é lá que começa. O melhor emprego do mundo um dia acaba. A melhor empresa do mundo um dia acaba. A família ninguém nunca vai destruir. A família é o criador, Deus, Pai, Filho, Espírito Santo, antes da fundação da Terra. A sua família é essa representação aqui na Terra. É um quartel-general. Vocês querem vir aqui aprender a ganhar dinheiro. Dinheiro não é riqueza natural, é artificial. Se fosse natural tinha dinheiro no Éden. Não tem. Se você aplicar seu coração no lugar errado, você nunca vai conseguir. As riquezas estão escondidas, você precisa desenterrar sua casa”26.

Em outro vídeo, Pablo afirma que uma senhora disse que Deus fez ele e jogou a forma fora. Ele diz: “não, não vim de forma e ninguém vai me colocar nela. A sociedade é que quer colocar todo mundo dentro de uma forma. E eu não aceitei os padrões. Não aceitei ser colocado na “forma”. Não existe nenhum ser humano igual ao outro. A originalidade, a imagem que você carrega é sua. Por que você tá aí até agora? Medo, indisciplina, crenças limitantes. Eu tive que mudar a amizade, a cidade, a Igreja, é normal quando algo poderoso começa na sua vida, ninguém entende na hora, mas você rompe, hoje todo mundo me entende”27.

A influência política dos grandes pastores de igrejas evangélicas pentecostais e neopentecostais tem dado sinais de enfraquecimento diante do avanço dos discursos cristãos nas redes sociais, encabeçados por influenciadores digitais, a maioria sem ordenação formal de igrejas. Entre eles estão coachs, empresários e artistas, como é o caso de Marçal, que mostra o crescimento das “igrejas digitais”28.

Em 2022, o antropólogo, Juliano Spyer, autor de “O Povo de Deus:: Quem são os evangélicos e por que eles importam”, alertava para o fato de que fiéis anti-bolsonaristas, perseguidos e decepcionados buscam alternativas para manter sua prática religiosa e, com a ajuda das redes sociais, se encontram e formam agrupamentos informais. É um fenômeno que se fortalece desde a eleição de 2018 e que abre oportunidades para a esquerda disputar o terreno evangélico com a direita e se conectar com milhares de eleitores pobres moradores das periferias.

O antropólogo Flávio Conrado, pesquisador da religião evangélica no Brasil e assessor da Casa Galileia, explica que tanto o formato de células religiosas quanto as mensagens e cultos on-line se fortalecem diante da tendência do cristão “desigrejado”, aquele que não está mais sob autoridade de um pastor e não frequenta necessariamente um espaço físico. Marçal teve o apoio, por exemplo, do cirurgião plástico Stanley Bittar. Especializado em implantes capilares, o médico faz palestras motivacionais com dicas de negócios. Além disso, adotou discurso religioso nas suas redes sociais, só no Instagram ele tem quase um milhão de seguidores, e montou em sua empresa uma célula evangélica, a Culto Stanley, ligada à Igreja Batista Atitude, que promove cultos em casas ou em espaços particulares29.

Conforme dito por Christina Vital da Cunha, antropóloga, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e autora de “Oração de Traficante: uma Etnografia”, O caso Marçal é útil para refletir sobre diversos aspectos, como o poder das mídias sociais nas novas formas de empreendedorismo e sobre o discurso do mérito que ressoa emocionalmente entre muitos brasileiros.

Marçal é um dos principais expoentes de uma transformação sociocultural significativa no Brasil. Essa transformação se baseia na difusão de valores morais de referência, de expressões pentecostais usadas no cotidiano, de uma visão da vida fundada na confissão positiva, que prega o poder da palavra em nome de Jesus e que busca por prosperidade em todas as áreas da vida, não apenas na financeira.”

Um vídeo que circula no TikTok no perfil “O poder das Metas”30 que viralizou diz em sua legenda: Repita essas palavras poderosas pelo menos uma vez por dia e você com certeza não será a mesma pessoa depois de algum tempo. Transforme seus sonhos em Metas e suas Metas em Realidade! O vídeo mostra um homem de terno e gravata falando em inglês com força e paixão o seguinte texto em forma de mantra-oração: “Eu sou abençoado, próspero, resgatado, perdoado, saudável, completo, talentoso, criativo, confiante, seguro, disciplinado, focado, preparado, qualificado, motivado, valioso, livre, determinado, equipado, capacitado, ungido, aceito e aprovado. Não sou só mais um, não sou medíocre, sou um filho do Deus Altíssimo. Eu vou ser tudo que fui criado para ser em nome de Jesus”.

A audiência de Pablo Marçal segue em plena expansão. Cada vez mais pessoas querem a “forma”. Os seguidores de Maçal compram seus cursos, difundem seu conteúdo e se interessam cada vez mais pela trajetória percorrida por Pablo. O seu discurso está difundido em todas as redes sociais, são outros perfis,outros canais, outra pessoas que replicam o seu conteúdo. Ele é um novo “heroi”. Esta persona lhe rende autoridade suficiente para engajar e promover seus conteúdos que enriquecem, na verdade, seu criador.

Marçal na Política: direita bolsonarista versus direita antissistema

Uma pesquisa publicada em 2020 feita por Diogo Britto, Alexandre Fonseca, Paolo Pinotti, Breno Sampaio e Lucas Warwar por meio do Gappe (Grupo de Avaliação de Políticas Públicas e Econômicas) da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), em parceria com a unidade de análise econômica do crime da Universidade de Bocconi, na Itália, concluiu que as desigualdades sociais, regionais e de renda no Brasil contribuem para perpetuar uma estrutura de baixa mobilidade social no país, que dificulta a ascensão dos mais pobres e assegura a permanência dos mais ricos no topo.

Filhos de famílias pobres têm só 2,5% de chance de chegar ao topo no Brasil, segundo levantamento. Ser mulher, preto ou pardo também diminui as chances de ascensão, assim como viver nas regiões Norte e Nordeste, segundo os resultados encontrados pelos pesquisadores. Esta realidade do cotidiano da maioria dos brasileiros é o que clama por mudanças urgentes. Influencers antissistema e que ensinam a enriquecer, como Marçal, tem um grande nicho a ser explorado.

A direita bolsonarista que outrora se elegeu como voto antipolítico, antissistema e se promoveu contra “tudo que esta aí”, se instrumentalizou e amadureceu nos últimos anos. Ao perder a disputa em 2022, mesmo tendo a máquina, Bolsonaro e seu entorno político e ideológico entendeu que o discurso de ódio dava sustentação nas redes sociais e conseguia projetar figuras para política, mas que uma vez eleitas não tinham exatamente um projeto concreto para apresentar para a vida dos brasileiros. Esta avaliação foi feita por Eduardo Bolsonaro, dia 13 de outubro, após o 1º turno das eleições municipais em participação no programa no canal do YouTube, Estúdio 5º elemento31.

Ao avaliar as disputas nos Estados e capitais, Eduardo Bolsonaro ressalta o crescimento do centro e centro-direita e comemora a perda de espaço da esquerda nas cidades, como Araraquara de Edinho Silva. A direita bolsonarista abrigada hoje no PL de Valdemar da Costa Neto se voltou a fazer o trabalho de “formiguinha”, como dito por Eduardo Bolsonaro, fizeram “política”, mandaram emendas e tiraram fotos com vereadores, fizeram comícios, Bolsonaro correu o país e tiveram vitórias importantes.

Agora, Eduardo pretende disputar a Fundação do partido,para fazer,segundo ele, o trabalho de base, de formação política, vis a vis o que faz a fundação Perseu Abramo do PT, para que a direita tenha um projeto de país para a disputa de 2026. A presidência do partido, que ele abriu mão de disputar, ficará com Rogério Marinho, hoje líder da oposição no Senado Federal.

Perguntado sobre uma suposta divisão da direita tendo em vista a disputa da prefeitura de São Paulo, Eduardo Bolsonaro afirmou que é preciso fazer uma distinção entre o voto de máquina e o voto de opinião. O voto de opinião, segundo ele, foi o que fez Bolsonaro e outros parlamentares serem eleitos, a defesa das pautas e valores de direita, mas que uma vez que tenham assumido seus mandatos faltava a boa parcela de eleitos uma dose de realidade e conhecimento da máquina.

Segundo ele, a “lacração” do voto de opinião serve para engajar nas redes mas não se traduz em “política” como o voto de máquina, que é o que possibilita fazer política real que muda a vida das pessoas. Como exemplo, Eduardo Bolsonaro, citou o fato de que a militância reclamou que Bolsonaro não havia se manifestado pró-anistia de 8 de janeiro em uma mobilização, mas não entenderam que ele estava fazendo comício para conseguir eleger prefeitos que darão sustentação em 2026. Outro exemplo é a decisão que será tomada pela bancada do PL sobre a sucessão na presidência da Câmara dos Deputados, Eduardo questiona: é mais válido apoiar candidatura viável e conquistar espaço de poder ou lançar candidatura própria como quer o Novo? Há uma direita “limpinha” que não tem nada a oferecer.

Segundo ele, a postura dos parlamentares tem que mudar. Quando está em campanha, na militância, você está na torcida, xingando e gritando nas redes sociais. Mas, uma vez que foi eleito, você põe a camisa do time, entra em campo e aí não dá pra xingar o juiz, se comportar como torcida.É melhor nesse sentido uma deputada como Julia Zanatta (PL/SC) que tem apresentado projetos na Câmara dos Deputados do que um hypado da internet. Outro ponto levantado por ele é de que a disputa da Presidência da República tem que ser avaliada, afinal, quem no fim das contas tem o poder mesmo é o legislativo.

A posição de Eduardo Bolsonaro é comemorada por outros influencers e apoiadores da direita-raiz que é bolsonarista, como o historiador e jornalista Kim Paim e Arthur Machado. Eles entendem que a direita precisa ter projeto, um norte a ser perseguido,tal qual Trump tem construído em sua campanha para poder antagonizar com projetos da esquerda, e do liberalismo progressista da agenda woke que na opinião de Kim Paim é uma excelente “distração” para o PT que deixa de fazer a disputa da realidade dos brasileiros. De forma similar, a pauta estridente da direita radical propalada pelas redes, afasta o bolsonarismo da vida real das pessoas. “Quem ganhou nas cidades não foi quem ficou batendo no STF, foi quem bateu na esquerda”.

A ala mais radical da direita bolsonarista, por sua vez, entendeu que Bolsonaro deveria apoiar a candidatura de Pablo Marçal, ele era quem mais representava os anseios desta militância. Porém, o PL decidiu apoiar Ricardo Nunes na disputa e esse ato foi considerado uma “traição” de Bolsonaro, o abandono da pauta da direita, a rendição ao sistema.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, se reuniu três vezes com Pablo Marçal para tentar atraí-lo ao Partido Liberal. A ideia era convencer o influenciador a desistir da disputa para sair candidato ao Senado em 2026. Marçal rejeitou a proposta por não ter interesse no legislativo e disse que : “um partido grande demais manda no candidato. Aí tem que fazer igual o [Jair] Bolsonaro está fazendo. Tem que seguir o que o Valdemar quer em São Paulo. Desculpa aí, capitão. Não dá pra apoiar esquerdista não”, disse Marçal a Revista Veja32 para justificar a rejeição.

A ofensiva contra Marçal feita pelo bolsonarismo rendeu uma cizânia. Nikolas Ferreira, um dos mais jovens eleitos na esteira do bolsonarismo, fenômeno nas redes sociais, apoiou Pablo Marçal em suas redes sociais e em diferentes ocasiões deixou claro que Ricardo Nunes não representava a direita no Brasil e que Marçal, que não estava sendo apoiado por ninguém do sistema. A fala de Nikolas viralizou entre os perfis e canais de direita33. Bolsonaro, por sua vez, refutou Marçal publicamente, por tentar se colocar como o candidato do bolsonarismo.

Os apoiadores mais radicais do bolsonarismo estão convencidos de que Bolsonaro foi cooptado pelo sistema e agora esperam o retorno de Marçal, um representante mais fidedigno da direita redpill, a direita antissistema.

Mariana Jacob é assessora da Liderança do PT no Senado Federal.

Notas

1  Marketing de Influência é uma abordagem de marketing que consiste em praticar ações focadas em indivíduos que exerçam influência ou liderança sobre potenciais clientes de uma marca. Como benefício, os influenciadores interferem nas decisões de compra dos clientes a favor de uma determinada marca. O tráfego pago é a estratégia de investir em anúncios publicitários na internet por meio de plataformas para atrair visitantes até um site, loja ou landing page. Pode ser cobrado do anunciante por clique (CPC) ou impressões, por exemplo. https://influency.me/blog/o-que-e-marketing-de-influencia/

 

4  Inside the violent, misogynistic world of TikTok’s new star, Andrew Tate https://www.theguardian.com/technology/2022/aug/06/andrew-tate-violent-misogynistic-world-of-tiktok-new-star

 

5  Andrew Tate: quem é o influencer financeiro que se promove com polêmicas e tem 12 bilhões de views no TikTok https://portaldobitcoin.uol.com.br/andrew-tate-quem-e-o-influencer-financeiro-que-se-promove-com-polemicas-e-tem-12-bilhoes-de-views-no-tiktok/

 

8 Kaka Diniz - empreendedor/ Instagram https://www.instagram.com/kakadiniz/

 

9 Tallis Gomes - Empreendedor/Instagram https://www.instagram.com/tallisgomes/reel/CpwCsOlAdVQ/

 

10  Ana Campagnolo/Instagram - Deputada Estadual (PL/SC) , Presidente PL Mulher SC/ autora antifeminista https://www.instagram.com/anacampagnolo/reel/Cz6XIdNAnkm/

 

11  A iniciativa de cunho misógino reverbera planeta afora em onda cuja hashtag alcançou inacreditáveis 44 bilhões de visualizações. Movimento Red Pill revela a face cruel e reacionária do machismo nas redes. https://veja.abril.com.br/comportamento/movimento-red-pill-revela-a-face-cruel-e-reacionaria-do-machismo

 

12 Rafael Aires - influencer/Instagram https://www.instagram.com/rafael.airess/

 

13 Thiago Schutz - coach/Instagram https://www.instagram.com/thiagoschutzoficial/

 

14 O mundo sombrio dos 'incels', celibatários involuntários que odeiam mulheres https://www.bbc.com/portuguese/geral-58300599

 

15  O mundo sombrio dos 'incels', celibatários involuntários que odeiam mulheres. https://www.bbc.com/portuguese/geral-58300599

 

16 A ferramenta de busca Google registrou só em 2020 um aumento de 540% na pesquisa sobre Harmonização facial. Harmonização facial cresce cada vez mais no Brasil e no mundo. https://www.metropoles.com/dino/harmonizacao-facial-cresce-cada-vez-mais-no-brasil-e-no-mundo

 

17 Homens sigma, tendência no TikTok, espalham misoginia na redehttps://www1.folha.uol.com.br/blogs/hashtag/2023/02/homens-sigma-tendencia-no-tiktok-espalham-misoginia-na-rede.shtml

 

18 Movimento Red Pill revela a face cruel e reacionária do machismo nas redes. https://veja.abril.com.br/comportamento/movimento-red-pill-revela-a-face-cruel-e-reacionaria-do-machismo

 

19 Welcome to the Wikipedia of the Alt-Right. https://www.wired.com/story/welcome-to-the-wikipedia-of-the-alt-right/

 

 

21 Yes, Andrew Tate is a misogynist, but his real game is exploiting men´s vulnerabitilities for cash. https://www.theguardian.com/commentisfree/2024/oct/04/andrew-tate-misogynist-real-game-exploiting-men

 

22 Entenda a tendência das mulheres que optaram por ser ‘esposas tradicionais https://istoe.com.br/entenda-a-tendencia-das-mulheres-que-optaram-ser-esposas-tradicionais/
 
 
23 'Nasci para ser esposa troféu': as mulheres que defendem serem sustentadas como forma de valorizaçãohttps://www.bbc.com/portuguese/articles/cg6dywxwzz7o
 

24 Compromisso do homem no casamento/Sabedoria de Valor - TikTok https://www.tiktok.com/@sabedoriadevalor/video/7232007219867438341

 

25 Brasileiros passam em média 56% do dia em frente às telas de smartphones e computadores.  https://jornal.usp.br/atualidades/brasileiros-passam-em-media-56-do-dia-em-frente-as-telas-de-smartfones-computadores/

 

26 Pablo Marçal | A MENTALIDADE PARA FICAR RICOhttps://www.youtube.com/watch?v=pJAeloRzQ00
 

27 SÓ VAI FICAR RICO NOS PRÓXIMOS 6 MESES QUEM ENTENDER ISSO HOJE | Pablo Marçal  https://www.youtube.com/watch?v=e_qrdYf_BnE

 

 
 
30 Repita essas palavras poderosas pelo menos uma vez por dia e você com certeza não será a mesma pessoa depois de algum tempo / Poder das Metas/ TikTok
https://www.tiktok.com/@opoderdasmetas/video/7279969116297956613
 

31 Dividindo a Direita? (Part. Eduardo Bolsonaro) | PUXANDO O FIO https://www.youtube.com/watch?v=7Z1MO4O4Wxs&t=1s

 

33 NIKOLAS FERREIRA COMPROU A BRIGA DO PABLO MARÇAL E ATACOU PESADO O RICARDO NUNES! FALOU TUDO QUE EU PENSO! VALE VER ESSE VÍDEO / CANAL PILHADO/ INSTAGRAMhttps://www.instagram.com/thiago_asmar/reel/DAea4OxJgNC/