Internacional

Em 2025, a tendência é que Cuba continue passando por grandes dificuldades. Com a volta de Trump à Casa Branca e a nomeação de Rubio como Secretário de Estado, a situação pode ficar ainda mais complicada.

Em 2024, a situação econômica em Cuba se agravou. O governo da ilha havia apresentado o chamado “programa de estabilização”, com o objetivo de lidar com o quadro precário em que se encontrava a economia local, mas os resultados não foram satisfatórios. O bloqueio imposto pelos Estados Unidos continuou a ser o principal fator para esta configuração. Segundo números apresentados pela ONU, as perdas do país podem ter chegado a US$ 5,5 bilhões em 2024 por causa desta variável. O fato é que Cuba passou por desastres naturais que pioraram o já fragilizado quadro financeiro interno, com dois furacões e dois terremotos, que causaram a destruição de pelo menos 46 mil moradias; afetaram duzentos quilômetros de linhas de alta voltagem; e danificaram 115 instalações do setor de saúde (incluindo hospitais), enquanto as perdas na agricultura chegaram a cerca de quarenta mil hectares de produção no campo, o equivalente a US$ 16 milhões. Os danos à infraestrutura, neste caso, são nítidos. Os apagões, por sua vez, foram extremamente prejudiciais. Houve, de fato, uma crise energética sem precedentes em relação à última década. Além dos três blecautes de grande magnitude, que deixaram a ilha no escuro por alguns dias, as suspensões ou interrupções parciais do fornecimento elétrico são frequentes. Em novembro, o Conselho de Ministros decretou que quaisquer novas empresas, estatais ou privadas, que sejam consideradas “altas consumidoras” terão de gerar pelo menos metade de sua energia a partir de fontes renováveis, enquanto as já existentes terão um período de três anos para se adequarem a estas normas. Isso para não falar num surto de febre de Oropouche. Detectado em maio de 2024, este vírus rapidamente se espalhou por diversas províncias, um acontecimento que atingiu um setor significativo da população no ano passado.

A inflação também é um dos elementos presentes no cotidiano dos cubanos. Esta variável, igualmente, precisa ser controlada com urgência pelo governo (a inflação anual foi de 27%). O aumento de 400% no preço dos combustíveis, por exemplo, é emblemático. O fato é que enquanto os preços no mercado formal têm apresentado altas constantes nos últimos anos (alimentos, bens e serviços), os salários não têm crescido na mesma proporção. Esta defasagem claramente gera insatisfação em boa parte da sociedade local. É nítida a falta de alimentos nas prateleiras, assim como de medicamentos (a cesta básica de remédios em Cuba, que tem em torno de 651 itens, não consegue suprir pelo menos 461 deles, que não estão disponíveis à população).

Produção agrícola afetada pela seca

De acordo com o diretor geral de Economia e Desenvolvimento Agropecuário do Ministério da Agricultura, Alexis Rodríguez Pérez, em relação à primeira metade do ano passado: “na produção pecuária, os índices de produção de carne bovina e suína têm sido afetados pelo deficiente trabalho organizacional entre as empresas e a indústria da carne para a contratação de produtores, a insuficiência no transporte dos animais para o matadouro por falta de combustível, o baixo peso dos animais abatidos devido ao déficit de ração e a seca em alguns territórios. De um plano acumulado de 20.400 toneladas dessa carne, apenas 15.200 toneladas foram produzidas”. E completa: “na carne suína, há evidências de uma diminuição de 1.800 toneladas no mesmo período de 2023. De um plano acumulado de 11.300 toneladas, apenas 3.800 toneladas foram produzidas no período analisado. No caso dos ovos, a situação é semelhante. Foram produzidas 231.900.000 unidades, 94.070.000 unidades a menos do que o planejado. Outros produtos também marcam a tendência de queda em relação ao plano: feijão, tabaco agrícola, leite, café, cacau e mel”.

Já em relação à produção de açúcar, o economista cubano Omar Everleny Pérez Villanueva lembra que “um dos problemas fundamentais é a falta de cana para a indústria e ela está diminuindo cada vez mais, devido a fatores diferentes: os recursos que não chegam a tempo e a desmotivação dos agricultores, devido ao preço ainda baixo pago pela tonelada de cana.” Ele indica diversas questões relacionados a esta área, como atrasos em investimentos e faltas de peças de reposição. Além disso, citando gestores do grupo Azcuba, ele aponta para aspectos como a pouca disponibilidade de lubrificantes, combustíveis e outros insumos, a falta de cumprimento do plano de produção indisciplinas e a ausência de exigência de presidentes de cooperativas e chefes de áreas na indústria. E garante: “Concretamente, as colheitas mal ultrapassam trezentas mil toneladas, valores de mais de cem anos atrás, quando não havia mecanização atual”. A crise pode ser encontrada também no setor manufatureiro (segundo especialistas, em franca deterioração e obsolescência tecnológica), na diminuição da produção de materiais de construção, no déficit habitacional (em torno de 850.000 moradias; na primeira metade de 2024 foram construídas apenas 4.159 moradias, ou 49% do projetado para o período), nos problemas no transporte público, na escassez de medicamentos e na carência crônica de divisas. O PIB da ilha, assim, se encontra em níveis inferiores aos de 2019.

O Executivo cubano tem comparado o que ocorre a Cuba na atualidade a uma “economia de guerra”. Em outras palavras, não há suficientes divisas nos cofres públicos para realizar importações significativas para abastecer seu mercado interno, tampouco para adquirir os insumos necessários para uma geração de eletricidade satisfatória para todo o país. Uma situação dramática.

O setor de turismo, por sua vez, ainda não retomou sua força. Só nos primeiros nove meses do ano passado, a ilha recebeu em torno de 1,7 milhão de turistas, 5,2% a menos que no mesmo período do ano anterior.

A emigração continua. São, em geral, jovens, muitos dos quais, bastante qualificados e com as melhores condições de contribuir com seu conhecimento e força de trabalho. A fuga de cérebros e de mão de obra é nítida. No último ano fiscal, entraram nos Estados Unidos em torno de 217 mil cubanos, quase 9% a mais que no ano anterior, além de 110 mil cidadãos da ilha que ingressaram de forma legal, com uma permissão de residência humanitária.

Em 2025, a tendência é que Cuba continue passando por grandes dificuldades. Com a volta de Donald Trump à Casa Branca e a nomeação de Marco Rubio como Secretário de Estado, a situação pode ficar ainda mais complicada. O governo cubano projeta para 2025 o crescimento de 1% do PIB, a elevação da produtividade do trabalho em 1%, um salário médio de 6.276 pesos (ou seja, 514 pesos a mais que em 2024) e uma inflação entre 25% e 30% aproximadamente. O objetivo para 2025 é tentar implementar a estabilização macroeconômica, aumentar o ingresso de divisas e a produção nacional, assegurar recursos para defesa e ordem interior, recuperar gradualmente o sistema energético, continuar atendendo às políticas sociais em educação e saúde, ampliar a incorporação de novas tecnologias, aumentar as exportações, incrementar o setor do turismo, elevar a produção agrícola, recuperar gradualmente o setor de transportes, buscar uma maior integração entre o setor estatal e privado e, finalmente, proporcionar melhores preços de produtos para a população. Os desafios, portanto, são enormes e vão exigir do governo soluções criativas e originais na economia, especialmente nos tempos atuais, de profunda instabilidade nas relações internacionais. O mais importante é romper o impasse econômico em que o país se encontra e conseguir manter, ao mesmo tempo, as conquistas da revolução.

Luiz Bernardo Pericás é professor de História Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP) e autor de Che Guevara e o debate econômico em Cuba (Boitempo, 2018) e Caio Prado Júnior: uma biografia política (2016), entre outros.