Política

Esse é o desafio que o governo Lula, as esquerdas brasileiras, os partidos de centro e mesmo os setores conservadores não golpistas: defender a institucionalidade democrática, defender a soberania nacional diante desse ataque inaceitável e avançarmos nas conquistas sociais e ambientais alcançadas a partir da posse do Presidente Lula em janeiro de 2023.

Ao longo de sua carreira, o ex-capitão aprendeu a identificar as brechas da institucionalidade, a contar com a conhecida leniência das elites brasileiras, seja na caserna, seja nos espaços civis e esgueirar-se por elas para escapar da punição pelos crimes que cometeu.

Construiu a partir daí um projeto político familiar que em nada o diferencia da cultura do submundo das milícias por onde se move. Nesse aspecto, reproduz no Brasil um século depois o tradicional vínculo que verificamos entre o lumpem e a emergência das experiências nazifascistas europeias da primeira metade do século 20.

A ascensão do clã ao poder no turbulento pleito de 2018 à presidência da república, ancorado pelos setores conservadores da direita tradicional oligárquica – remember “A escolha difícil” – para se contrapor ao retorno do Partido dos Trabalhadores ao governo central contribuiu para reforçar a convicção entre eles de “com a gente não acontece nada” expressa na frase emblemática: “Para fechar o STF, basta um cabo e um soldado”.

Essa segurança da impunidade – como ocorreu com os carniceiros da ditadura – acabou por se constituir numa cultura de atropelo das regras institucionais – ao contrário do discurso “sempre dentro das quatro linhas” –, em que os membros do clã e seu entorno agiram durante o período de governo como produtores de provas abundantes contra si mesmos.

Ao se confirmar a denúncia, o clã entrou em pânico diante da circunstância concreta de uma Procuradoria Geral da República que se dispôs a cumprir seu papel institucional de defesa da sociedade, diferentemente da flagrante conivência observada nos anos anteriores e de um Judiciário alvo de ataques contínuos, determinado a fazer justiça e defender a Constituição liberal-democrática de 1988.

As medidas cautelares adotadas nos últimos dias pelo Supremo Tribunal Federal contra o ex-capitão agora réu, com o claro propósito de não ser colhido de surpresa como no caso Zambelli, despertou reações enfurecidas de neo-defensores de direitos humanos no Parlamento, nos meios de comunicação e nas redes sociais em defesa do líder que não faz muito tempo proclamava em alto e bom som nos meios de comunicação: “Eu sou a favor da tortura! Tu sabe disso”! O mesmo que liderou o golpe de Estado que buscava reverter pela força os resultados das eleições presidenciais de outubro/novembro de 2022. E se materializou no desastre e na derrota em 8 de janeiro de 2023. Neste momento esse personagem sinistro aguarda julgamento, a partir de agora, com limitadas possibilidades de fuga.

Num passado recente – pós-Segunda Guerra Mundial – a CIA estendeu sua rede pelo continente, conspirou e derrubou governos democráticos legítimos e impôs regimes ditatoriais por décadas. Naquele período os agentes recrutados pela CIA eram remunerados. Agora, aparentemente adotou o sistema de trabalho voluntário. O que vemos nos últimos dias é que a CIA utiliza os serviços de agentes a troco de casa e comida. Mais precisamente, oferecem cidadania americana e escola para os filhos dos traidores recrutados, como ocorre com o deputado foragido, em véspera de perder o mandato. Como se sabe as lutas políticas não dispensam a traição, mas não perdoam (no tempo devido) os traidores.

A ação insidiosa dos membros do clã com audiência no comando da Internacional neofascista e interlocução com a Casa Branca resulta, neste momento, na ofensiva em curso contra o Brasil anunciada por Trump, impondo tarifas de 50% sobre os produtos comercializados com os Estados Unidos a partir de 1º de agosto. Com a condição do país suspender IMEDIATAMENTE o processo contra o líder da fracassada tentativa de golpe de Estado consumada no 8 de janeiro de 2023.

O governo dos Estados Unidos não convidou o governo brasileiro para uma negociação em torno de tarifas.

Nos impôs um ultimato político pelas redes sociais.

Esse é o desafio que o governo Lula, as esquerdas brasileiras, os partidos de centro e mesmo os setores conservadores não golpistas: defender a institucionalidade democrática, defender a soberania nacional diante desse ataque inaceitável e avançarmos nas conquistas sociais e ambientais alcançadas a partir da posse do Presidente Lula em janeiro de 2023.

Os setores organizados da sociedade brasileira, os sindicatos, as associações profissionais, os movimentos comunitários, populares e culturais, os setores empresariais comprometidos com a soberania nacional, as igrejas, as universidades e centros de pesquisa, a intelectualidade são chamados a ocupar as redes e as ruas numa campanha organizada a partir de comitês populares, nos moldes das “Diretas Já” em defesa da dignidade do Brasil, de sua independência como nação diante do avanço do projeto neocolonialista em curso apoiado por um clã de escroques que trama à luz do dia contra os interesses do povo brasileiro.

SOBERANIA SEMPRE!

Brasília, 20 de julho de 2025.

Pedro Tierra é poeta. Ex-Presidente da Fundação Perseu Abramo